A produção de leite no Brasil apresentou uma quebra estrutural do crescimento observado entre os anos 2000 e 2014. Nesse período a média das taxas de crescimento foi de 5,3% ao ano. De 2015 em diante, a média de crescimento foi de apenas 0,3%, ou seja, a produção ficou praticamente estabilizada nos últimos 10 anos.
Até aqui, não contei nenhuma novidade, pois já é notória essa estabilização da produção entre os agentes da cadeia. Neste ponto, eu gostaria de destacar que o crescimento recente da produção registrada nos anos de 2023 (+2,87%) e 2024 (+3,14%), foram os maiores desde 2017 (+5,07%), resultando em 25,4 bilhões de litros, representando o segundo maior volume desde o início da série histórica (Gráfico 1)
Gráfico 1. Volume adquirido de leite pelos laticínios no Brasil e taxa de variação anual, entre os anos de 2000 e 2024.
Fonte: IBGE, Pesquisa Trimestral do Leite, 2025.
Recentemente, um dado importante repercutiu sobre o crescimento da produção de leite dos 100 maiores produtores do Brasil. Segundo o levantamento TOP 100 MilkPoint/ABRALEITE de 2025, essa “tropa de elite” do leite nacional produziu em média 32.555 litros por dia, representando um aumento de 13,2% em relação ao ano anterior - o maior crescimento anual dos últimos 20 anos.
Apesar do destaque deste grupo de maiores produtores, um aumento expressivo na produção também foi observado em produtores que atuam de forma profissionalizada no setor leiteiro. Segundo o Relatório Analítico de desempenho do projeto Educampo do SEBRAE/MG de 2025, os produtores com uma escala de produção entre 1.000 e 4.000 litros diários aumentaram a produção, em média, mais de 8%, enquanto aqueles com produção superior a 4.000 litros cresceram cerca de 11% em 2024.
Esses dados são referentes a um grupo de 502 produtores pertencentes uma mesma amostra e que recebem assistência técnica e gerencial a mais de 5 anos. Essa comparação é importante pois revela para uma parcela importante de produtores que é possível ter o mesmo desempenho proporcional aos maiores do Brasil.
Gráfico 2. Taxa de crescimento da produção de leite dos produtores do Projeto Educampo do SEBRAE/MG, por extrato de tamanho, entre os anos de 2020 a 2024.
Fonte: Educampo | Sebrae MG
Além disso, os dados do Educampo também apresentam uma tendência de concentração da produção, ou seja, uma parcela cada vez menor de produtores produzindo uma fração maior do volume total de leite.
Gráfico 3. Proporção do número de propriedades por faixa de produção, entre os anos de 2019 a 2024
Fonte: Educampo | Sebrae MG
Gráfico 4. Proporção da produção de leite por faixa de produção por faixa de produção, entre os anos de 2019 a 2024
Fonte: Educampo | Sebrae MG
Desta forma, concluo esse breve artigo com três pontos de reflexão:
- Ainda é cedo para afirmar que a produção de leite no Brasil retomou a tendência de alta observada da década ada;
- Uma transformação importante está ocorrendo na forma de se produzir leite no Brasil e isso não está explícito nas estatísticas oficiais;
- É possível que uma grande parcela de produtores consiga crescer sua produção com taxas semelhantes às obtidas pelos maiores do Brasil, no entanto, isso demanda profissionalismo técnico e gerencial.
Agradeço ao Sebrae Minas Gerais pela cedência dos dados do Educampo-Leite. O Educampo é um projeto que oferece assistência gerencial e técnica a grupos de produtores de leite e café. Com o objetivo de melhorar a gestão dos negócios, o projeto promove capacitação e assessoria mensal para os participantes, focando no controle de custos e eficiência na produção. Desde sua criação, o Educampo já beneficiou milhares de produtores, contribuindo para a integração da cadeia produtiva e o aumento da rentabilidade das propriedades rurais.