cao-brasileira-de-gado-holandes/como-decidir-a-condicao-ideal-para-utilizar-semen-de-corte-em-vacas-leiteiras-229452/" />

Estudo de caso: decisão sobre qual condição deve ser usado sêmen de corte em vacas leiteira

Um estudo de caso traz resultados que podem ajudar na decisão sobre qual a condição ideal para usar sêmen de corte em vacas leiteiras. Acompanhe aqui!

Publicado em: - Atualizado em: - 8 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 6
Ícone para curtir artigo 3

Assim como já citado no artigo anterior, o momento de preços altos do boi e da carne, trouxe a discussão sobre as vantagens e desvantagens do uso dessa estratégia em rebanhos leiteiros. Com preços tão atrativos, qual a melhor decisão a fazer? 

Trazemos alguns pontos abaixo para auxiliar os produtores nessa dessa decisão.

O Dr Victor Cabrera modelou um sistema produtivo virtual para analisar de forma abrangente uso de sêmen específico para gado de corte em diferente desempenho reprodutivo nas atuais condições de mercado, focando na parte econômica de fazendas leiteiras.
 

O Modelo da Fazenda

Com base em uma simulação de rebanho utilizando um método probabilístico de Cadeias markov 17, uma fazenda com 1.000 vacas holandesas foi simulada para a produção mensal de leite e partos. Foram executados dois modelos: Vaca e Novilha, considerando a venda de animais, com 7% de desconto de mortalidade e manutenção de tamanho constante do rebanho 17.
 

O Modelo Econômico

Seguindo López-Gatius et al., (2017), foi ajustado um modelo econômico para avaliar a renda dos bezerros sobre os custos de sêmen (ICOSC) Assumiu-se que,  para manter o tamanho do rebanho de vacas adultas, os bezerros fêmeas precisavam ser comprados fora do mercado se as fêmeas nascidas na fazenda seriam abaixo das necessidades de substituição. Da mesma forma, se as fêmeas nascidas na fazenda fossem em excesso, estas seriam vendidas por uma renda. Assim, o modelo econômico foi calculado como:

Figura 1


Variáveis

A taxa de serviço 21-d foi fixada em 75% para novilhas e 60% para vacas em todos os níveis reprodutivos. A fertilidade do sêmen convencional  foi  fixada  em  80%, para leite e corte 18. Já para sêmen sexado foi de 70% (10 % menor que o sêmen convencional, de acordo com a mesma referência). Os percentuais bezerras foram fixados em 47% e 90%, convencional e sexado respectivamente.

 

Cenários

Cinco estratégias de utilização do sêmen de corte foram combinadas com 6 estratégias de utilização de sêmen sexado utilizando preços variáveis. Consistente com o manejo, a utilização do sêmen de corte restringiu-se às vacas adultas.

As estratégias foram de:

1) 0,
2) 25,
3) 50,
4) 75 e
5) 100 animais elegíveis recebendo sêmen de corte.

Os cenários de sêmen sexado incluíam:

1) Não uso (NS);
2) 1º serviço em novilhas (1H);
3) 1  e  2º  serviços em novilhas  (2H);  
4) 1  e  2º  serviços em  novilhas e 20%  vacas em cada serviço (TOP);
5)  1º e 2º  serviços em novilhas e 1º serviço em vacas com 1 parto (1C); e
6) 1e  2º  serviços em  novilhas e 1º serviço primeiro e segundo (2C).

Foram 90 cenários básicos resultantes de 5 cenários de sêmen para corte, 6 cenários de sêmen sexado em 3 níveis de qualidade reprodutiva. 

O primeiro cenário iremos apresentar o resultado encontrado para alta, média e baixa eficiência reprodutiva com o uso zero de sêmen para corte, verificados no preço atual da carne.

ICOSC negativo era esperado porque o preço relativamente baixo dos bezerros holandeses em comparação com os custos relativos de sêmen. Consistentes com maior desempenho reprodutivo, rebanhos com melhor desempenho têm sempre maior ICOSC (Figura 1a) e saldo de bezerros femininos mais positivos (Figura 1b).

Figura 2
 

No segundo momento apresentamos a estratégia de utilização do sêmen de corte. Quando a utilização de sêmen sexado aumenta, o ICOSC gradualmente diminuiu. O uso máximo de sêmen de corte resultou no maior ICOSC, mas ainda assim, quase metade dos cenários permaneceu negativo (Figura 2a).

Continua depois da publicidade

Como esperado, as curvas de equilíbrio de reposição de fêmeas apresentaram direção oposta da estratégia de sêmen 100% para corte resultando no balanço de fêmeas para reposição e venda (Figura 2b). Como o sêmen sexado é relativamente caro, o aumento da utilização diminuiu o ICOSC.

Figura 3

 

ICOSC mais alto e ICOSC ótimo

Foram definidos dois critérios para avaliar a melhor estratégia, o ICOSC mais alto e o ICOSC ideal definido como o ICOSC mais alto com Reposição de fêmeas >= 0.

A maioria dos casos de maior ICOSC apresentou Reposição de fêmeas negativa (Tabela  4), o que indica deficiência de substituição. Considerando essa deficiência onipresente para o ICOSC mais alto, a melhor estratégia poderia ser o ICOSC ideal.

Para ilustrar esse dilema, apresentamos a Figura 3 simulando o caso atual de uma fazenda de  desempenho reprodutivo médio. 

Supondo que o produtor precisará produzir substituições suficientes  na fazenda, ele irá selecionar estratégias na área circulada na Figura  3 como um subconjunto de possíveis estratégias. Dentro dessas estratégias, é provável que queira maximizar o ICOSC, o que acontecerá ao usar uma combinação de sêmen sexado máximo (2C) com uso máximo de sêmen bovino (100%), resultando no  ICOSC  máximo de US $ 2.001 com 2 substituições extras  (FCB=2).

Teoricamente, poderia ter maior ICOSC usando menos sêmen sexado (máximo de US $ 7.150 quando  NS e 100% inseminação para corte em vacas), mas isso implicaria uma grande deficiência de substituição.

A suposição de que seria capaz de comprar novilhas no mercado conforme necessário pode não ser realista, prático ou viável em todos os casos. No cenário padrão do preço do sêmen, usar sêmen caro para fornecer reposição de fêmeas de menor valor genético pode não ser sustentável

Figura 3. Uso de sêmen para corte, ICOSC e equilíbrio de reposição de fêmeas (FCB) para nível reprodutivo médio nas condições atuais do mercado de Wisconsin. A esfera sólida representa FCB positiva (quanto maior a esfera, maior a FCB positiva); o cubo representa FCB negativo (quanto maior o  cubo, maior o FCB negativo). 

Figura 4
 

Aumento do preço do bezerro mestiço para corte

O ICOSC mais alto (independentemente da FCB) nas condições atuais do mercado de Wisconsin, é o NS (não sexado) com sêmen 100% corte em vacas adultas, enquanto o com ICOSC mais baixo é NS (não sexado) com 0% de uso de sêmen de corte. O uso de estratégias de sêmen sexado não melhorou o ICOSC. Por outro lado, na maioria das situações o saldo da reposição foi positivo.

Em todas as estratégias com sêmen 100% corte em vacas adultas indicaram que as fazendas de menor desempenho reprodutivo poderiam de certa medida, diminuir esse efeito negativo aumentando os seus resultados financeiros com essa estratégia.

Figura 4. ICOSC de diferentes estratégias de sêmen usando 100% sêmen para corte em vacas adultas.

Figura 5

 

Mudando o preço do sêmen

Como esperado, a redução do preço do sêmen sexado fez com que as fazendas de baixo e médio desempenho reprodutivo usufruíssem mais dessa estratégia e em seguida, mais bezerros cruzados. O aumento do preço do sêmen corte interrompeu o uso em fazendas de baixo e médio desempenho reprodutivo e diminuiu o ICOSC ideal para todos os níveis reprodutíveis.

A diminuição do preço do sêmen convencional, das fazendas de baixo e médio desempenho de reprodução tendem a usar menos sêmen sexado e corte. Por outro lado, fazendas com alta eficiência reprodutiva foram pouco sensíveis as variações de preço do sêmen.

 

Conclusões

Dadas as circunstâncias atuais do mercado, as fazendas em todos os cenários poderiam se beneficiar do uso de sêmen de corte e venda de bovinos mestiços cruzados. Com o preço mais alto do bezerro mestiço em comparação com o preço dos bezerros holandês as fazendas com eficiência reprodutivas baixas poderiam obter ICOSC muito mais elevados, reduzindo sua oferta de reposição e comprando. No entanto, a disponibilidade de reposição no mercado deve ser elevada.

O desempenho da reprodução torna-se a principal limitação para o uso de sêmen de corte e a capitalização dos ganhos dos bezerros de raça cruzada.

Gostou do conteúdo? Deixe seu like e seu comentário, isso nos ajuda a saber que conteúdos são mais interessantes para você.
 

 

Referências

1.        López-Gatius, F., Andreu-Vázquez, C., Mur-Novales, R., Cabrera, V. E. & Hunter, R. H. F. The dilemma of twin pregnancies in dairy cattle. A review of practical prospects. Livest. Sci. 197, 12–16 (2017).

2.        Tversky, A. & Kahneman, D. Judgment under uncertainty: Heuristics and biases. Science (80-. ). 185, 1124–1131 (1974).

3.        Von Ketteler, L. Factors influencing farmer’s decision-making and resilience. The case of banana production in Amubri, Costa Rica. 73 (2018).

4.        Vavra, P. Milk quota systems?: Considerations of market and welfare effects Milk quota systems?: Considerations of market and welfare effects. (2006).

5.        Bello, N. M., Stevenson, J. S. & Tempelman, R. J. Invited review: Milk production and reproductive performance: Modern interdisciplinary insights into an enduring axiom. J. Dairy Sci. 95, 5461–5475 (2012).

6.        Tsuruta, S., Misztal, I., Huang, C. & Lawlor, T. J. Bivariate analysis of conception rates and test-day milk yields in Holsteins using a threshold-linear model with random regressions. J. Dairy Sci. 92, 2922–2930 (2009).

7.        Berry, D. P. et al. Genetic parameters for body condition score, body weight, milk yield, and fertility estimated using random regression models. J. Dairy Sci. 86, 3704–3717 (2003).

8.        Soares, S. R. V., Reis, R. B. & Dias, A. N. Fatores de influência sobre o desempenho reprodutivo em vacas leiteiras. Arq. Bras. Med. Veterinária e Zootec. 73, 451–459 (2021).

9.        Sampaio Baruselli, P. et al. Evolução e perspectivas da inseminação artificial em bovinos Evolution and perspectives of timed artificial insemination in cattle. An. do XXIII Congr. Bras. Reprodução Anim. (2019).

10.      Bustos, C. & Soares, F. C. Dominanceanalysis: Dominance Analysis. (2019).

11.      Pryce, J. E., Royal, M. D., Garnsworthy, P. C. & Mao, I. L. Fertility in the high-producing dairy cow. Livest. Prod. Sci. 86, 125–135 (2004).

12.      Sawa, A., Bogucki, M. & Neja, W. Dry period length and performance of cows in the subsequent production cycle. Arch. Anim. Breed. 55, 140–147 (2012).

13.      Drackley, J. K. & Cardoso, F. C. Prepartum and postpartum nutritional management to optimize fertility in high-yielding dairy cows in confined TMR systems. Animal 8, 5–14 (2014).

14.      De Vries, A., Risco, C. A. A., Vries, A. De & Risco, C. A. A. Trends and seasonality of reproductive performance in Florida and Georgia dairy herds from 1976 to 2002. 88, 3155–3165 (2005).

15.      Pinedo, P., Risco, C. & Melendez, P. A retrospective study on the association between different lengths of the dry period and subclinical mastitis, milk yield, reproductive performance, and culling in Chilean dairy cows. J. Dairy Sci. 94, 106–115 (2011).

16.      Teixeira, A. A. Impacto da inseminação artificial em tempo fixo na eficiência reprodutiva de vacas de leite de alta produção. (2011) doi:10.11606/D.10.2010.TDE-16022011-150133.

17.      Giordano, J. O., Kalantari, A. S., Fricke, P. M., Wiltbank, M. C. & Cabrera, V. E. A daily herd Markov-chain model to study the reproductive and economic impact of reproductive programs combining timed artificial insemination and estrus detection. J. Dairy Sci. 95, 5442–5460 (2012).

18.      Seidel, G. E. Update on sexed semen technology in cattle. Animal 8, 160–164 (2014).

 

Ícone para ver comentários 6
Ícone para curtir artigo 3

Material escrito por:

TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA

TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA

ar todos os materiais

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

Tiago Mantovani
TIAGO MANTOVANI

SANTO ANTÔNIO DA PLATINA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/03/2022

Esquece de por na previsão da virada do ciclo pecuário que ocorrerá ano que vem aonde haverá desvalorização do bezerros
TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA
TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA

CASTRO - PARANÁ

EM 29/03/2022

Então, quando virar o ciclo e cair o preço do gado de corte, teremos um efeito interessante, pois não teremos matriz leiteiro também... acho que teremos um pico de preço de leite e carne, principalmente devido a problemas de logística mundial e alta dos preços... acredito em um efeito rebote do mercado.
Duarte Vilela
DUARTE VILELA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 25/03/2022

Parabéns pelo artigo Thimotheo, pertinente e atual em um país em que os bezerros machos de origem de rebanho de leite são considerados como um problema e, na grande maioria das propriedades, são descartados ou sacrificados após o nascimento. Essa situação contrasta com a realidade mundial que busca nesses animais uma saída para ampliar a oferta de produção de carne, agregar renda à atividade leiteira e reduzir impacto negativo ao meio ambiente.
Acredita-se ser importante aprofundar nos estudos para melhor o aproveitamento de machos em rebanhos de leite para produzir carne com qualidade. É com esse objetivo que a Embrapa Gado de Leite e seus parceiros, propõem para breve um Workshop numa tentativa de delinear ações futuras de pesquisa e desenvolvimento de atividades demonstrativas junto a fazendas particulares que possam comprovar a curto e médio prazo a viabilidade técnica e econômica de aproveitar machos em rebanhos de leite em função das diferentes opções disponíveis.
TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA
TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA

CASTRO - PARANÁ

EM 25/03/2022

Bom dia Duarte, obrigado pelo comentário! Encaminhe as informações do Workshop que será um prazer participar. Acredito que o Vinicius Guimarães deve estar trabalhando em algo parecido. Abraço
Duarte Vilela
EM RESPOSTA A TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA DUARTE VILELA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 25/03/2022

Ótimo Timotheo, poderíamos unir esforços se o Vinicius Guimarães assim o desejar. Por favor, não tenho o contato dele, mas o meu é o da Embrapa duarte.vilela@embrapa.br
MARCO TULIO LOPES SERRANO
MARCO TULIO LOPES SERRANO

DIOGO DE VASCONCELOS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/03/2022

Muito interessante o artigo, parabéns pela escolha do tema. A muito vemos a dificuldade do produtor de leite em viabilizar seus projetos, acredito que no momento atual brasileiro muitos podem se beneficiar da técnica.
Pertinente estudos utilizando touros de raças de corte na simulação, principalmente em fazendas com baixos índices reprodutivos, provavelmente a relação de ganho financeiro pode aumentar, pelo aumento do número de bezerros nascidos.

Marco Tulio Lopes Serrano
Médico Veterinário
Fazenda Araras - MG
Qual a sua dúvida hoje?

Estudo de caso: decisão sobre qual condição deve ser usado sêmen de corte em vacas leiteira

Um estudo de caso traz resultados que podem ajudar na decisão sobre qual a condição ideal para usar sêmen de corte em vacas leiteiras. Acompanhe aqui!

Publicado em: - Atualizado em: - 8 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 6
Ícone para curtir artigo 3

Assim como já citado no artigo anterior, o momento de preços altos do boi e da carne, trouxe a discussão sobre as vantagens e desvantagens do uso dessa estratégia em rebanhos leiteiros. Com preços tão atrativos, qual a melhor decisão a fazer? 

Trazemos alguns pontos abaixo para auxiliar os produtores nessa dessa decisão.

O Dr Victor Cabrera modelou um sistema produtivo virtual para analisar de forma abrangente uso de sêmen específico para gado de corte em diferente desempenho reprodutivo nas atuais condições de mercado, focando na parte econômica de fazendas leiteiras.
 

O Modelo da Fazenda

Com base em uma simulação de rebanho utilizando um método probabilístico de Cadeias markov 17, uma fazenda com 1.000 vacas holandesas foi simulada para a produção mensal de leite e partos. Foram executados dois modelos: Vaca e Novilha, considerando a venda de animais, com 7% de desconto de mortalidade e manutenção de tamanho constante do rebanho 17.
 

O Modelo Econômico

Seguindo López-Gatius et al., (2017), foi ajustado um modelo econômico para avaliar a renda dos bezerros sobre os custos de sêmen (ICOSC) Assumiu-se que,  para manter o tamanho do rebanho de vacas adultas, os bezerros fêmeas precisavam ser comprados fora do mercado se as fêmeas nascidas na fazenda seriam abaixo das necessidades de substituição. Da mesma forma, se as fêmeas nascidas na fazenda fossem em excesso, estas seriam vendidas por uma renda. Assim, o modelo econômico foi calculado como:

Figura 1


Variáveis

A taxa de serviço 21-d foi fixada em 75% para novilhas e 60% para vacas em todos os níveis reprodutivos. A fertilidade do sêmen convencional  foi  fixada  em  80%, para leite e corte 18. Já para sêmen sexado foi de 70% (10 % menor que o sêmen convencional, de acordo com a mesma referência). Os percentuais bezerras foram fixados em 47% e 90%, convencional e sexado respectivamente.

 

Cenários

Cinco estratégias de utilização do sêmen de corte foram combinadas com 6 estratégias de utilização de sêmen sexado utilizando preços variáveis. Consistente com o manejo, a utilização do sêmen de corte restringiu-se às vacas adultas.

As estratégias foram de:

1) 0,
2) 25,
3) 50,
4) 75 e
5) 100 animais elegíveis recebendo sêmen de corte.

Os cenários de sêmen sexado incluíam:

1) Não uso (NS);
2) 1º serviço em novilhas (1H);
3) 1  e  2º  serviços em novilhas  (2H);  
4) 1  e  2º  serviços em  novilhas e 20%  vacas em cada serviço (TOP);
5)  1º e 2º  serviços em novilhas e 1º serviço em vacas com 1 parto (1C); e
6) 1e  2º  serviços em  novilhas e 1º serviço primeiro e segundo (2C).

Foram 90 cenários básicos resultantes de 5 cenários de sêmen para corte, 6 cenários de sêmen sexado em 3 níveis de qualidade reprodutiva. 

O primeiro cenário iremos apresentar o resultado encontrado para alta, média e baixa eficiência reprodutiva com o uso zero de sêmen para corte, verificados no preço atual da carne.

ICOSC negativo era esperado porque o preço relativamente baixo dos bezerros holandeses em comparação com os custos relativos de sêmen. Consistentes com maior desempenho reprodutivo, rebanhos com melhor desempenho têm sempre maior ICOSC (Figura 1a) e saldo de bezerros femininos mais positivos (Figura 1b).

Figura 2
 

No segundo momento apresentamos a estratégia de utilização do sêmen de corte. Quando a utilização de sêmen sexado aumenta, o ICOSC gradualmente diminuiu. O uso máximo de sêmen de corte resultou no maior ICOSC, mas ainda assim, quase metade dos cenários permaneceu negativo (Figura 2a).

Continua depois da publicidade

Como esperado, as curvas de equilíbrio de reposição de fêmeas apresentaram direção oposta da estratégia de sêmen 100% para corte resultando no balanço de fêmeas para reposição e venda (Figura 2b). Como o sêmen sexado é relativamente caro, o aumento da utilização diminuiu o ICOSC.

Figura 3

 

ICOSC mais alto e ICOSC ótimo

Foram definidos dois critérios para avaliar a melhor estratégia, o ICOSC mais alto e o ICOSC ideal definido como o ICOSC mais alto com Reposição de fêmeas >= 0.

A maioria dos casos de maior ICOSC apresentou Reposição de fêmeas negativa (Tabela  4), o que indica deficiência de substituição. Considerando essa deficiência onipresente para o ICOSC mais alto, a melhor estratégia poderia ser o ICOSC ideal.

Para ilustrar esse dilema, apresentamos a Figura 3 simulando o caso atual de uma fazenda de  desempenho reprodutivo médio. 

Supondo que o produtor precisará produzir substituições suficientes  na fazenda, ele irá selecionar estratégias na área circulada na Figura  3 como um subconjunto de possíveis estratégias. Dentro dessas estratégias, é provável que queira maximizar o ICOSC, o que acontecerá ao usar uma combinação de sêmen sexado máximo (2C) com uso máximo de sêmen bovino (100%), resultando no  ICOSC  máximo de US $ 2.001 com 2 substituições extras  (FCB=2).

Teoricamente, poderia ter maior ICOSC usando menos sêmen sexado (máximo de US $ 7.150 quando  NS e 100% inseminação para corte em vacas), mas isso implicaria uma grande deficiência de substituição.

A suposição de que seria capaz de comprar novilhas no mercado conforme necessário pode não ser realista, prático ou viável em todos os casos. No cenário padrão do preço do sêmen, usar sêmen caro para fornecer reposição de fêmeas de menor valor genético pode não ser sustentável

Figura 3. Uso de sêmen para corte, ICOSC e equilíbrio de reposição de fêmeas (FCB) para nível reprodutivo médio nas condições atuais do mercado de Wisconsin. A esfera sólida representa FCB positiva (quanto maior a esfera, maior a FCB positiva); o cubo representa FCB negativo (quanto maior o  cubo, maior o FCB negativo). 

Figura 4
 

Aumento do preço do bezerro mestiço para corte

O ICOSC mais alto (independentemente da FCB) nas condições atuais do mercado de Wisconsin, é o NS (não sexado) com sêmen 100% corte em vacas adultas, enquanto o com ICOSC mais baixo é NS (não sexado) com 0% de uso de sêmen de corte. O uso de estratégias de sêmen sexado não melhorou o ICOSC. Por outro lado, na maioria das situações o saldo da reposição foi positivo.

Em todas as estratégias com sêmen 100% corte em vacas adultas indicaram que as fazendas de menor desempenho reprodutivo poderiam de certa medida, diminuir esse efeito negativo aumentando os seus resultados financeiros com essa estratégia.

Figura 4. ICOSC de diferentes estratégias de sêmen usando 100% sêmen para corte em vacas adultas.

Figura 5

 

Mudando o preço do sêmen

Como esperado, a redução do preço do sêmen sexado fez com que as fazendas de baixo e médio desempenho reprodutivo usufruíssem mais dessa estratégia e em seguida, mais bezerros cruzados. O aumento do preço do sêmen corte interrompeu o uso em fazendas de baixo e médio desempenho reprodutivo e diminuiu o ICOSC ideal para todos os níveis reprodutíveis.

A diminuição do preço do sêmen convencional, das fazendas de baixo e médio desempenho de reprodução tendem a usar menos sêmen sexado e corte. Por outro lado, fazendas com alta eficiência reprodutiva foram pouco sensíveis as variações de preço do sêmen.

 

Conclusões

Dadas as circunstâncias atuais do mercado, as fazendas em todos os cenários poderiam se beneficiar do uso de sêmen de corte e venda de bovinos mestiços cruzados. Com o preço mais alto do bezerro mestiço em comparação com o preço dos bezerros holandês as fazendas com eficiência reprodutivas baixas poderiam obter ICOSC muito mais elevados, reduzindo sua oferta de reposição e comprando. No entanto, a disponibilidade de reposição no mercado deve ser elevada.

O desempenho da reprodução torna-se a principal limitação para o uso de sêmen de corte e a capitalização dos ganhos dos bezerros de raça cruzada.

Gostou do conteúdo? Deixe seu like e seu comentário, isso nos ajuda a saber que conteúdos são mais interessantes para você.
 

 

Referências

1.        López-Gatius, F., Andreu-Vázquez, C., Mur-Novales, R., Cabrera, V. E. & Hunter, R. H. F. The dilemma of twin pregnancies in dairy cattle. A review of practical prospects. Livest. Sci. 197, 12–16 (2017).

2.        Tversky, A. & Kahneman, D. Judgment under uncertainty: Heuristics and biases. Science (80-. ). 185, 1124–1131 (1974).

3.        Von Ketteler, L. Factors influencing farmer’s decision-making and resilience. The case of banana production in Amubri, Costa Rica. 73 (2018).

4.        Vavra, P. Milk quota systems?: Considerations of market and welfare effects Milk quota systems?: Considerations of market and welfare effects. (2006).

5.        Bello, N. M., Stevenson, J. S. & Tempelman, R. J. Invited review: Milk production and reproductive performance: Modern interdisciplinary insights into an enduring axiom. J. Dairy Sci. 95, 5461–5475 (2012).

6.        Tsuruta, S., Misztal, I., Huang, C. & Lawlor, T. J. Bivariate analysis of conception rates and test-day milk yields in Holsteins using a threshold-linear model with random regressions. J. Dairy Sci. 92, 2922–2930 (2009).

7.        Berry, D. P. et al. Genetic parameters for body condition score, body weight, milk yield, and fertility estimated using random regression models. J. Dairy Sci. 86, 3704–3717 (2003).

8.        Soares, S. R. V., Reis, R. B. & Dias, A. N. Fatores de influência sobre o desempenho reprodutivo em vacas leiteiras. Arq. Bras. Med. Veterinária e Zootec. 73, 451–459 (2021).

9.        Sampaio Baruselli, P. et al. Evolução e perspectivas da inseminação artificial em bovinos Evolution and perspectives of timed artificial insemination in cattle. An. do XXIII Congr. Bras. Reprodução Anim. (2019).

10.      Bustos, C. & Soares, F. C. Dominanceanalysis: Dominance Analysis. (2019).

11.      Pryce, J. E., Royal, M. D., Garnsworthy, P. C. & Mao, I. L. Fertility in the high-producing dairy cow. Livest. Prod. Sci. 86, 125–135 (2004).

12.      Sawa, A., Bogucki, M. & Neja, W. Dry period length and performance of cows in the subsequent production cycle. Arch. Anim. Breed. 55, 140–147 (2012).

13.      Drackley, J. K. & Cardoso, F. C. Prepartum and postpartum nutritional management to optimize fertility in high-yielding dairy cows in confined TMR systems. Animal 8, 5–14 (2014).

14.      De Vries, A., Risco, C. A. A., Vries, A. De & Risco, C. A. A. Trends and seasonality of reproductive performance in Florida and Georgia dairy herds from 1976 to 2002. 88, 3155–3165 (2005).

15.      Pinedo, P., Risco, C. & Melendez, P. A retrospective study on the association between different lengths of the dry period and subclinical mastitis, milk yield, reproductive performance, and culling in Chilean dairy cows. J. Dairy Sci. 94, 106–115 (2011).

16.      Teixeira, A. A. Impacto da inseminação artificial em tempo fixo na eficiência reprodutiva de vacas de leite de alta produção. (2011) doi:10.11606/D.10.2010.TDE-16022011-150133.

17.      Giordano, J. O., Kalantari, A. S., Fricke, P. M., Wiltbank, M. C. & Cabrera, V. E. A daily herd Markov-chain model to study the reproductive and economic impact of reproductive programs combining timed artificial insemination and estrus detection. J. Dairy Sci. 95, 5442–5460 (2012).

18.      Seidel, G. E. Update on sexed semen technology in cattle. Animal 8, 160–164 (2014).

 

Ícone para ver comentários 6
Ícone para curtir artigo 3

Material escrito por:

TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA

TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA

ar todos os materiais

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

Tiago Mantovani
TIAGO MANTOVANI

SANTO ANTÔNIO DA PLATINA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/03/2022

Esquece de por na previsão da virada do ciclo pecuário que ocorrerá ano que vem aonde haverá desvalorização do bezerros
TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA
TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA

CASTRO - PARANÁ

EM 29/03/2022

Então, quando virar o ciclo e cair o preço do gado de corte, teremos um efeito interessante, pois não teremos matriz leiteiro também... acho que teremos um pico de preço de leite e carne, principalmente devido a problemas de logística mundial e alta dos preços... acredito em um efeito rebote do mercado.
Duarte Vilela
DUARTE VILELA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 25/03/2022

Parabéns pelo artigo Thimotheo, pertinente e atual em um país em que os bezerros machos de origem de rebanho de leite são considerados como um problema e, na grande maioria das propriedades, são descartados ou sacrificados após o nascimento. Essa situação contrasta com a realidade mundial que busca nesses animais uma saída para ampliar a oferta de produção de carne, agregar renda à atividade leiteira e reduzir impacto negativo ao meio ambiente.
Acredita-se ser importante aprofundar nos estudos para melhor o aproveitamento de machos em rebanhos de leite para produzir carne com qualidade. É com esse objetivo que a Embrapa Gado de Leite e seus parceiros, propõem para breve um Workshop numa tentativa de delinear ações futuras de pesquisa e desenvolvimento de atividades demonstrativas junto a fazendas particulares que possam comprovar a curto e médio prazo a viabilidade técnica e econômica de aproveitar machos em rebanhos de leite em função das diferentes opções disponíveis.
TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA
TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA

CASTRO - PARANÁ

EM 25/03/2022

Bom dia Duarte, obrigado pelo comentário! Encaminhe as informações do Workshop que será um prazer participar. Acredito que o Vinicius Guimarães deve estar trabalhando em algo parecido. Abraço
Duarte Vilela
EM RESPOSTA A TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA DUARTE VILELA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 25/03/2022

Ótimo Timotheo, poderíamos unir esforços se o Vinicius Guimarães assim o desejar. Por favor, não tenho o contato dele, mas o meu é o da Embrapa duarte.vilela@embrapa.br
MARCO TULIO LOPES SERRANO
MARCO TULIO LOPES SERRANO

DIOGO DE VASCONCELOS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/03/2022

Muito interessante o artigo, parabéns pela escolha do tema. A muito vemos a dificuldade do produtor de leite em viabilizar seus projetos, acredito que no momento atual brasileiro muitos podem se beneficiar da técnica.
Pertinente estudos utilizando touros de raças de corte na simulação, principalmente em fazendas com baixos índices reprodutivos, provavelmente a relação de ganho financeiro pode aumentar, pelo aumento do número de bezerros nascidos.

Marco Tulio Lopes Serrano
Médico Veterinário
Fazenda Araras - MG
Qual a sua dúvida hoje?