O sistema de manejo de alimentação de bezerras mais comumente empregado por produtores de leite baseia-se no fornecimento de leite integral, normalmente leite descarte, ou substituto de leite (sucedâneo) diluído a 12,5% de MS, fornecidos no volume de 10% do peso vivo da bezerra (normalmente 2 litros), em duas refeições. Entretanto, esta quantidade padronizada, muitas vezes atende apenas as exigências de manutenção, não permitindo altas taxas de crescimento.
Estudos recentes mostraram que o crescimento de bezerras no período de aleitamento pode ser melhorado quando os animais são alimentados com maiores quantidades de dieta líquida durante este período. Entretanto, o fornecimento de maiores volumes de dieta líquida reduz o consumo de ração concentrada o que pode atrasar o desenvolvimento ruminal, transformando o desaleitamento em um desafio. Pesquisas mostram que neste tipo de manejo alimentar, o desaleitamento gradual é mais indicado, permitindo bom desempenho animal na fase subseqüente.
O fornecimento de volumosos na fase de aleitamento tem sido desencorajado devido à possibilidade de substituição do consumo de concentrado e a falta de efeitos diretos no desenvolvimento ruminal. Como os dados encontrados na literatura referem-se à animais que recebem feno e ingerem quantidades entre 4 e 5L de leite/dia, pesquisadores canadenses realizaram estudo com animais recebendo leite na proporção de 20% do peso ao nascer (em média 8L/ dia), concentrado e feno, objetivando-se o maior desenvolvimento ruminal destes animais através do estímulo mecânico.
Neste estudo foram utilizados 30 animais (20 fêmeas e 10 machos), alojados em abrigos individuais, por um período de 70 dias (o desaleitamento ocorreu aos 56 dias). Os animais receberam leite em um sistema programado de aleitamento (4L leite/dia nos dois primeiros dias de vida, 8L leite/dia do 3º ao 35º dia de vida, 4L leite/dia do 35º ao 53º dia de vida e 2L leite/dia do 54º ao 56º dia de vida), para encorajá-los a consumirem concentrado durante o período de aleitamento. Os animais foram divididos em dois tratamentos:
1) Controle: Sem o a feno
2) Feno: o livre a feno.
Todos os animais tiveram o livre ao concentrado e água. Os animais foram avaliados quanto ao peso e medidas corporais, assim como consumo de concentrado e feno. Aos 70 dias, os machos foram sacrificados e o aparelho digestório avaliado.
As Figuras de 1 a 3 mostram o consumo de concentrado, feno e de matéria seca total, respectivamente, durante as primeiras 10 semanas de vida. Conforme pode ser observado, o consumo de concentrado foi similar entre os tratamentos até a 5ª semana, havendo uma tendência de maior consumo para os animais sem o a feno. No entanto, devido ao consumo de feno, os animais com o ao volumoso apresentaram maior consumo total de matéria seca a partir da 6ª. semana. Esta tendência também foi observada no peso vivo dos animais (Figura 4). No entanto, nenhuma diferença foi observada nas medidas corporais.

Figura 1. Consumo de concentrado por bezerros em aleitamento intensivo sem (C) e com o livre a feno (F) durante as 10 primeiras semanas de vida.

Figura 2. Consumo de feno por bezerros em aleitamento intensivo durante as 10 primeiras semanas de vida.

Figura 3. Consumo de matéria seca total por bezerros em aleitamento intensivo sem ou com o livre a feno durante as 10 primeiras semanas de vida.
As diferenças observadas a partir da 5ª semana de vida estão associadas ao manejo alimentar, com redução no volume de dieta líquida fornecida, garantindo bom consumo de concentrado por ocasião do desaleitamento. De maneira oposta ao observado em outros estudos, os animais não substituíram o consumo de concentrado pelo consumo de feno, o que muitas vezes pode reduzir o desempenho animal devido ao menor valor nutritivo do volumoso. No presente trabalho, o alto fornecimento de dieta líquida garante o atendimento da exigência dos animais fazendo com que os animais não dependam tanto do consumo de dieta sólida durante as 5 primeiras semanas. Assim, o consumo de feno não interfere de forma negativa no desempenho animal.

Figura 4. Peso vivo de animais em aleitamento intensivo sem ou com o a feno durante as 10 primeiras semanas de vida.
Quanto as avaliações do trato digestório superior, não foram observadas diferenças a não ser por retículo-rúmen mais pesados em animais com o livre a feno. Peso corporal sem a digesta foi similar em ambos os tratamentos, contraria a idéia de que os maiores pesos observados para animais com o a feno fossem resultado de enchimento do trato com o volumoso consumido. O consumo de feno é sempre responsabilizado por reduzir o ganho de peso dos animais tendo em vista seu menor valor nutritivo. Entretanto, este estudo mostra que o fornecimento de feno, para animais recebendo maiores volumes de leite, não afeta de forma negativa o desempenho ou o desenvolvimento ruminal.
A média de pH ruminal foi maior nos bezerros que receberam feno, devido ao aumento no consumo de feno entre as semanas 6 e 10 (Tabela 1). Os parâmetros metabólicos indicativos de desenvolvimento ruminal também não foram afetados pelo o a feno por bezerros em aleitamento intensivo.
Tabela 1. Dados de ingestão, desempenho e parâmetros ruminais de bezerros em aleitamento intensivo alimentados com ou sem feno picado.

Como conclusão, o fornecimento de feno picado para bezerros alimentados com altos volumes de leite pode promover a ingestão de alimentos sólidos e ser benéfico ao desenvolvimento ruminal, sem afetar o ganho de peso vivo.
Referências:
M. A. Khan , D. M. Weary , and M. A. G. von Keyserlingk. Hay intake improves performance and rumen development of calves fed higher quantities of milk. J. of Dairy Science, n.94, p.3547-3553, 2011.
Comentários
Embora a recomendação atual de manejo alimentar de bezerras seja o não fornecimento de feno, vimos neste trabalho que em sistemas de aleitamento intensivo os animais podem se beneficiar quando tiverem o livre ao feno. O trabalho mostra que em sistemas de aleitamento programado, uma vez que a manutenção é atendida plenamente, sobrando ainda energia e proteína para garantir bom desempenho, o consumo de feno só é significativo a partir da 6ª. semana. Nesta situação, o feno só a a fazer parte considerável da dieta do animal quando o fornecimento deleite é reduzido. Assim, com o aumento de consumo de concentrado e de feno, resultando em maior consumo de matéria seca total, os animais acabam apresentando algum aumento no peso corporal. Além disso, é provável que o o a feno possa auxiliar na saúde ruminal, principalmente quando o concentrado fornecido tem alto teor de amido e baixo teor de fibra. Os efeitos do fornecimento de feno para animais em aleitamento intensivo precisam ser mais estudados, mas caso seja adotado lembre-se que este deve ser de alta qualidade.