A transferência de imunidade iva é considerada adequada quando o animal apresenta pelo menos 13,5 mg/dL de IgG circulando em sua corrente sanguínea. Quando esta meta é alcançada se observa menores taxas de mortalidade até os 60 dias de vida (NAHMS, 1993). Para isso, os protocolos de colostragem devem estar baseados no tripé: qualidade do colostro a ser fornecido; volume fornecido; e tempo para fornecimento. Quando um desses aspectos não é considerado, ocorre falha na transferência de imunidade iva. O fornecimento deve ser controlado e o colostro de alta qualidade fornecido o mais cedo possível após o nascimento, uma vez que a animal vai perdendo a capacidade de absorver os anticorpos com o tempo. A avaliação da qualidade de colostro pode ser realizada através de colostrômetro (Figura 1), sempre devendo ser considerada a temperatura do mesmo no momento da medida. O uso de um densímetro é possível uma vez que existe alta correlação entre a densidade do colostro e sua concentração de IgG. Assim, de maneira bastante simples e rápida podemos classificar o colostro como de alta, média ou baixa qualidade.
Recentemente uma outra ferramenta, de uso rápido e fácil, foi também validada para a avaliação da qualidade do colostro. O refratômetro de Brix, muito utilizados na indústria canavieira para estimar açúcares solúveis, estão também sendo utilizados para estimar a concentração de anticorpos no colostro. Tanto os refratômetros ópticos quanto os digitais tem sido eficientes nesta avaliação (Figura 2). O colostro de alta qualidade é aquele que apresenta pelo menos 22% de brix, conforme validação do método em vários trabalhos de pesquisa (Quigley et al., 2013).
O controle de qualidade do colostro deve ser realizado não só para o fornecimento ao bezerro recém-nascido, mas também para tomada de decisão de armazenamento, quando houver volume excedente. A formação de banco de colostro garante sua disponibilidade em situações em que a recém-parida não produz colostro em volume (muito comum em novilhas) ou com qualidade adequada. O armazenamento em freezer deve ser realizado de maneira a facilitar o descongelamento, sem que ocorra perda na qualidade devido ao super aquecimento em banho-maria. Assim, o melhor método é o uso de sacos plásticos, que acomodados em bandejas, formarão placas de fácil armazenamento em freezer e rápido descongelamento devido a maior área de superfície (Figura 3).
Nos últimos 10 anos surgiu uma série de suplementos e substitutos de colostro no mercado internacional, os quais estão entrando agora no mercado nacional. Enquanto os suplementos fornecem <100g de IgG/dose, os substitutos fornecem >100 g IgG/dose, além de outros nutrientes e fatores de crescimento presentes no colostro. Enquanto os substitutos vem para dispensar a formação de banco de colostro e controlar a disseminação de doenças no rebanho, os suplementos vem auxiliar em situações em que o colostro produzido é de baixa qualidade. A suplementação de Ig para animais que recebem colostro de média/baixa qualidade reduz as taxas de mortalidade e morbidade nos bezerreiros. Estes produtos são produzidos com Ig de colostro, de sangue bovino/suíno e ainda de gema de ovos de galinhas imunizadas contra patógenos que acometem bovinos jovens.
O sucesso da colostragem pode ser avaliado a partir de medidas rápidas no sangue dos animais, sendo possível a utilização do refratômetro de brix ou de proteína (Figura 4). A concentração de proteína sérica em bezerros com até 48h de vida tem alta correlação com concentração de IgG plasmático, sendo possível sua estimativa indireta. Quando se utiliza o refratômetro de proteína considera-se que a transferência de imunidade iva foi adequada quando a leitura é > 5,5g/dl; marginal quando entre 5,0-5,4 g/ dl; e inadequada quando < 5,0 g/dl. Já no caso da utilização de refratômetro de brix, valores acima de 8,4% são considerados como adequados. Embora não exista nada que possa ser feito para alterar a condição de um bezerro que teve falha na transferência de imunidade iva, este monitoramento auxilia o produtor a corrigir problemas no protocolo de colostragem ou ainda entender se o tratador precisa de maior treinamento para a realização desta tarefa. Muitos dos problemas com colostragem são resposta de falha humana, como a falta de controle de qualidade e volume do colostro fornecido ao recém-nascido ou ainda pelo atraso no fornecimento.
Assim, temos hoje novas ferrramentas para o monitoramento da qualidade do colostro, assim como produtos comerciais que podem substituir o seu fornecimento ou ainda suplementar colostro de média/baixa qualidade. Monitorar o sucesso da transferência de imunidade iva nos bezerros, através de leituras de proteína sérica ou brix, também auxilia na eficiência do processo. O primeiro dia de vida do recém-nascido terá influência marcante no seu desempenho e na ocorrência e na severidade de doenças não só durante o período de aleitamento, mas também na sua vida produtiva futura. Bezerras saudáveis respondem a diferentes manejos alimentares!
No próximo Radar Técnico vamos tratar dos diferentes manejos alimentares que vem sendo utilizados, tendo como foco os efeitos dos maiores volumes de dieta líquida fornecida no consumo de concentrado por estes animais.