A agricultura orgânica é um mercado inovador e cheio de desafios. Atender a demanda da sociedade com produtos de qualidade, produzidos de maneira sustentável, mas eficiente, são parte dos desafios que o produtor orgânico enfrenta. Devido a maior preocupação pela preservação ambiental surge a necessidade de modificar os processos produtivos atuais. Com a produção de leite orgânico é possível amenizar as consequências da produção convencional e também atender a demanda crescente por um alimento de alto valor biológico, com grande valor agregado. O leite orgânico é produto de um sistema de produção que além de criar o animal de forma saudável, se preocupa também com os recursos naturais e a responsabilidade social. As práticas de manejo são priorizadas, evitando condições artificiais de criação e levando sempre em consideração a adaptação dos sistemas às condições regionais.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estabelece procedimentos que regulamentam a alimentação, as instalações e cuidados com os animais para que o leite seja considerado orgânico. Segundo estas normas, recomenda-se uma alimentação equilibrada que supra todas as exigências dos animais, o que não é diferente dos sistemas de produção convencionais. Entretanto, de acordo com as empresas certificadoras, 85% da matéria seca consumida devem ser de origem orgânica. Para isso recomenda-se realizar o consórcio de gramíneas e leguminosas, aumentando a diversificação de espécies vegetais. Os animais jovens permanecem com a vaca durante a ordenha até aproximadamente 3 meses de idade, conforme as recomendações previstas na regulamentação.
Para o manejo alimentar os bezerros podem permanecer em um bezerreiro próximo ao estábulo durante o período noturno, mas durante o dia devem ser manejados soltos em uma área de pastagem, podendo também receber suplementação alimentar por meio do fornecimento de feno, cana de açúcar, gramíneas ou leguminosas picadas no cocho diariamente. Este sistema de criação é completamente diferente do sistema convencional, onde os animais são separados de suas mães ao nascer e aleitados com volumes controlados de dieta líquida, que nem sempre é o leite de sua mãe. Além disso, os bezerros recebem alimento concentrado de alta qualidade, sem o a alimentos volumosos na maior parte dos sistemas de produção. Ainda, o alojamento nos sistemas convencionais são na maioria individuais, reduzindo a transmissão de doenças. Pode-se perceber que os sistemas convencionais de criação de bezerras estão bem distantes daquilo que se considera como criação orgânica.
Outra condição que regulamenta a produção orgânica é a não utilização suplementos com antibióticos, hormônios, vermífugos, aditivos de crescimento, estimulantes de apetite, alimentos obtidos de organismo geneticamente modificados ou mesmo vacinas fabricadas com a tecnologia da transgenia. Muitas destas tecnologias são comumente utilizadas na criação de bezerros em sistemas de produção convencionais. Por outro lado, diferente do que muitos pensam, no sistema orgânico são obrigatórias todas as vacinas estabelecidas por lei e recomenda-se vacinações e exames para doenças mais comuns de cada região. Este aspecto é de extrema importância já que a vacinação das vacas auxilia no controle das doenças que acometem os bezerros, uma vez que os anticorpos gerados pela vacinação serão transferidos ao colostro. Neste sistema, a aquisição de imunidade iva, aquela obtida através do consumo de colostro, a a ser ainda mais importante que nos sistemas de produção convencional.
Figura 1. Aleitamento de bezerros nos sistemas de produção orgânico e convencional.
As medidas preventivas contra parasitas indicadas nos sistemas orgânicos são a rotação de pastagens e a utilização de compostos de ervas medicinais. A não utilização de medicamentos químicos faz com que o produtor foque na prevenção de doenças e no tratamento com métodos naturais através da homeopatia e fitoterapia, mas é necessário sempre verificar o registro dos medicamentos no Mapa. Estas recomendações vem de encontro com pesquisas recentes que buscam alternativas ao uso de antibióticos com o fornecimento de probióticos, prebióticos, compostos fitoterápicos, óleos essenciais e acidificantes na dieta de bezerros em aleitamento.
Muitos produtores orgânicos criam seus bezerros machos considerando a necessidade da presença do bezerro como estímulo para a liberação do leite durante a ordenha. Muitos destes atendem uma eventual procura por machos reprodutores criados em sistemas orgânicos de produção, uma vez que o sistema de monta natural é estimulado, ainda que a inseminação artificial seja permitida. As instalações devem ser adequadas de maneira que o número de animais por área não afete os padrões de comportamento, devem possuir espaço adequado para a movimentação e o confinamento, assim como o isolamento e reclusão de animais jovens, não deve ser realizado.
Assim, os sistemas de produção orgânico tem muitas diferenças com relação aos sistemas de produção convencional no que se refere a criação de bezerros em aleitamento. A pesquisa com comportamento e nutrição animal tem auxiliado no entendimento de alguns fatores que serão alterados com a adoção deste sistema quando comparado com o sistema convencional. Mas ainda são necessárias muitas pesquisas para melhor compreender como a criação se insere de maneira eficiente neste contexto, com adequadas taxas de crescimento e baixa mortalidade.
Quanto ao desempenho econômico, o sistema orgânico pode trazer vantagem econômica, pois o leite apresenta uma remuneração maior que no sistema convencional, o que pode fazer com que muitos agricultores se convertam. Mesmo com a diminuição da produção leiteira, ocorre a diminuição de gastos com insumos externos, o que faz com que o produtor economize e aumente a rentabilidade do sistema. Apesar de ainda constituir um pequeno nicho, é um mercado de alimentos que vem crescendo e depende de políticas públicas que incentivem esse sistema de produção, a conscientização do consumidor e pesquisas que auxiliem esses produtores.
Criação de bezerros em sistema de produção orgânico
Seção Animais Jovens: "O leite orgânico é produto de um sistema de produção que além de criar o animal de forma saudável, se preocupa também com os recursos naturais e a responsabilidade social. As práticas de manejo são priorizadas, evitando condições artificiais de criação e levando sempre em consideração a adaptação dos sistemas às condições regionais", por Giovana Slanzon e Carla Bittar, da ESALQ/USP.
Publicado em: - 4 minutos de leitura
Deixe sua opinião!

QUATRO BARRAS - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO
EM 24/10/2016
O RA produz a cinco anos leite orgânico certificado, caso tenha interesse meu email é mrichter@ra.pr.gov.br

FLORIANÓPOLIS - SANTA CATARINA - ESTUDANTE
EM 19/10/2016
PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO
EM 06/07/2016
Com certeza o entorno afeta todo o sistema de produção, principalmente quando se pensa em aplicação de herbicidas e qualidade da água.
Abs.,
Carla.

CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 02/07/2016
PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO
EM 01/07/2016
obrigada pelo input! devemos começar trabalhos nesta área em breve de forma a aumentar as possibilidades na criação de bezerros.
Abs.,
Carla

QUATRO BARRAS - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO
EM 29/06/2016
Um adendo no comentario do André , aleitamento artificial não é com sucedaneos do leite , o que a normativa do MAPA não permite.
RIO DE JANEIRO - RIO DE JANEIRO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 28/06/2016