A criação eficiente de fêmeas de reposição tem grande impacto na planilha de custos dos rebanhos assim como no potencial de produção destes animais na vida adulta. Muito se tem estudado sobre nutrição e manejo de bezerras em aleitamento e avançamos bastante. No entanto, ainda temos muito para fazer na fase de crescimento mais longa no ciclo de produção: do desaleitamento até o primeiro parto. Embora se busque altas taxas de crescimento para que a idade à puberdade e, consequentemente, a idade ao primeiro parto seja reduzida, deve-se ter cautela para que o potencial de produção não seja afetado negativamente.
A eficiência do sistema é desafiada constantemente. Primeiro na fase de aleitamento, quando os animais são mais susceptíveis as doenças e podemos ter altas taxas de mortalidade e/ou morbidade. Assim, podemos ter um menor número de animais em crescimento ou ainda animais desaleitados mais leves. A fase logo após o desaleitamento também está relacionada a reduções nas taxas de ganho, principalmente devido à ocorrência de problemas respiratórios e tristeza parasitária bovina.
De novo, quando o animal não morre, acaba apresentando menores taxas de crescimento. adas estas duas fases mais complicadas o animal segue seu crescimento e agora pode ter suas taxas de ganho menores em função de menor investimento em nutrição. Muitos dos problemas com a eficiência na criação de novilhas de reposição se deve ao fato destes animais ainda não serem produtivos e, portanto, serem considerados como custo e não como investimento. Quem investe em nutrição e manejo de fêmeas de reposição tem ganhos no potencial de produção do rebanho adulto.
Basicamente podemos abordar a questão de custos (ou investimentos!) de duas formas no que se refere a nutrição dos animais após o desaleitamento. Uma abordagem é trabalhar com dietas de custo mínimo para um determinado desempenho. Este desempenho deve ser tal que permita a entrada do animal em produção em idade adequada considerando o sistema de produção. A idade ao primeiro parto recomendada é de 23-24 meses, o que significa que este animal tem que ser inseminado por volta dos 14-15 meses.
Uma outra abordagem é a formulação de dietas para máximo desempenho ou altas taxas de ganho. Nesta abordagem as novilhas alcançam o peso para a puberdade mais cedo e, portanto, entram em lactação também em idades mais jovens. Isso faz com que se reduza os dias de criação de um animal e o número de animais em crescimento no rebanho (diminuindo custos com animais que não trazem retorno financeiro imediato), mas pode reduzir também o potencial de produção de leite.
O desaleitamento de bezerras é grande fonte de estresse para os animais que devem se adequar à nova dieta, que a a ser somente sólida. O estresse pode ser ainda maior quando o produtor aproveita o desaleitamento para realizar outras práticas de manejo como a descorna, a mudança de instalação e a mudança da formulação da dieta sólida. No entanto, a interrupção do fornecimento de leite é a principal fonte de estresse para os animais, especialmente àqueles que recebem elevados volumes de dieta líquida e ainda não apresenta consumo de concentrado adequado para o desaleitamento.
Muitos sistemas têm problemas para o desaleitamento adequado dos animais, principalmente aqueles que adotam os sistemas intensivos de aleitamento. Uma vez que o consumo de dieta líquida está negativamente relacionado ao consumo de concentrado, quanto maior o volume de fornecimento, menor será o consumo da dieta sólida, atrasando o desenvolvimento ruminal. Assim, quando se fornece grande volume de dieta líquida é importante se utilizar de estratégias adequadas para o desaleitamento, caso contrário o animal terá redução no ganho de peso ou até mesmo perda de peso.
Neste cenário, todo o investimento realizado com o aleitamento intensivo é perdido pelo desaleitamento inadequado. O desaleitamento gradual a a ser ainda mais importante nestes sistemas. O consumo de concentrado pode aumentar rapidamente com o desaleitamento gradual, permitindo que o rúmen se desenvolva permitindo que o animal mantenha suas taxas de ganho adequadas no período seguinte. De acordo com a literatura, o consumo em torno de 800 g/d dia por três dias consecutivos sinalizam que o animal está pronto para ser desaleitado pois seu rúmen apresenta desenvolvimento suficiente (Figura 1) para assumir a nova dieta e manter as taxas de ganho.
Figura 1. Alterações no retículo-rúmen em função do consumo de concentrado, mostrando o adequado desenvolvimento ruminal.
Outro importante desafio para os animais recém-desaleitados é a alteração no tipo de alojamento. A maior parte dos produtores hoje utiliza instalações individualizadas durante a fase de aleitamento, sendo crescente o uso de baias suspensas. Este tipo de alojamento reduz o contato dos animais com carrapatos, resultando em maior ocorrência de tristeza parasitária bovina quando os animais são desaleitados e transferidos para piquetes (Figura 2).
Figura 2. Exemplos de alojamento de bezerras em aleitamento.
Em alguns sistemas de produção a mortalidade nesta fase pode ser bastante alta por este motivo. Além de trazer prejuízos enormes devido à mortalidade de animais já desaleitados, traz também o custo com tratamentos e mão de obra para tal. Quando os animais não morrem, apresentam menores taxas de crescimento, trazendo também prejuízos ao sistema. O monitoramento dos animais quanto a apatia, febre e anemia deve ser diário e o tratamento realizado o mais cedo possível, evitando-se procedimentos mais caros como a transfusão de sangue (Figura 3).
Figura 3. Animais acometidos por tristeza parasitária bovina apresentando anemia e sendo tratados com auxílio de transfusão de sangue.
Outro desafio importante é a adequação ao alojamento coletivo. Os animais agora saem do sistema individualizado, tendo que aprender a competir por recursos como alimento, água e sombra. Assim, além do aspecto sanitário, existe o aspecto comportamental que pode ser bastante desafiador para os animais, principalmente se os lotes não forem bastante homogêneos. Embora a hierarquia social não seja tão forte como em lotes de animais adultos, ela também ocorre em animais mais jovens. É comum a observação de animais que demoram mais tempo para se incluir socialmente em lotes pré-formados, o que resulta em menor tempo no cocho e consequentemente menor ganho de peso. A sugestão é que os animais se inseriram em lotes aos pares de forma que a inclusão social seja mais rápida.
Assim, o desaleitamento é um dos pontos de grande importância no manejo de bezerras e sucesso para obtenção de animais produtivos. Fornecer altos volumes de dieta líquida aos animais, mas realizar o desaleitamento de forma inadequada, resulta em perdas no investimento feito em nutrição. Além dos aspectos nutricional, a sanidade e o comportamento animal devem ser considerados para definição da melhor estratégia de manejo durante e logo após o desaleitamento.