Assim, o produtor muitas vezes acaba por reduzir ao máximo os gastos com animais em crescimento, principalmente em nutrição, reduzindo seu potencial de produção. No entanto, estes animais podem ser obtidos utilizando-se dietas de custo mínimo, para crescimentos adequados, principalmente com a substituição econômica de ingredientes da dieta. A eficiência técnica desta estratégia deve ser avaliada por índices zootécnicos como as taxas de morbidade e mortalidade, taxas de crescimento, idade a puberdade e ao primeiro parto, além do potencial de produção destes animais.
Os custos de produção de uma novilha pronta para parir podem ser calculados de formas variadas, considerando-se desde o custo da terra e o custo oportunidade, até os custos com a mão de obra, alimentação e até a água utilizada no sistema de criação. Com isso, embora diferentes valores possam ser obtidos, de maneira geral os custos com alimentação perfazem 70-80% do custo total. Assim, parece razoável que estratégias para redução do custo com alimentação possam ser eficientes em reduzir o custo de produção destas novilhas.
A primeira estratégia é a de se adotar práticas de aleitamento convencional associada ao desaleitamento precoce. Neste sistema de aleitamento os animais recebem 4L/d de dieta líquida, o que estimula o consumo de concentrado em idades mais jovens, permitindo seu desaleitamento. Muito embora a literatura venha mostrando que o aleitamento intensivo pode resultar em aumentos no potencial de produção deste animal na sua primeira lactação, o fornecimento de grandes volumes de dieta líquida (>8L) ainda não é uma realidade para o produtor brasileiro. Isso por que durante o período de aleitamento, o custo com a dieta líquida é o que mais onera o custo final da bezerra desaleitada. Planilhas de custo do Depto. de Zootecnia da ESALQ mostram que em um sistema convencional (4L/d) a dieta líquida representa 70% do custo final, enquanto que a mão de obra representa somente 4%.
Outras duas estratégias que podem ser utilizadas para a redução no custo de produção se referem a alimentação na fase pós-desaleitamento. Uma vez que a dieta representa entre 70-80% do custo do animal, a adoção de dietas de custo mínimo e a eficiência em manejar estes animais pode reduzir o custo final. Mas, é importante que estas dietas de custo mínimo resultem em ganhos de peso adequados pensando em eficiência técnica, principalmente no que se refere a idade ao primeiro parto. Assim, pensando em curvas de crescimento bastante factíveis para os sistemas de produção nacionais, na sua maioria baseados em pastagens com suplementação concentrada, é possível obter animais com idade ao primeiro parto de 24 meses, conforme mostra a Figura 1.
Figura 1. Exemplo de curva de crescimento de fêmeas de reposição.
Do lado oposto, a outra estratégia que pode ser adotada está baseada em máximo desempenho e não mais em dietas de custo mínimo. A alimentação de novilhas para máximo desempenho pode resultar na redução da idade a puberdade, e consequentemente ao primeiro parto; na redução do número de animais em crescimento na propriedade, os quais oneram o custo total do sistema, já que não trazem retorno financeiro imediato; além de alterações no potencial de produção destes animais, normalmente de forma negativa.
A nutrição destes animais pode, em diferentes fases do crescimento, afetar seu potencial de produção. Enquanto no período de colostragem e no período de aleitamento a superalimentação aumenta o potencial de produção dos animais, a fase pré-púbere tem efeito contrário. Sabe-se que as taxas de crescimento durante a fase pré-púbere são determinantes para o adequado desenvolvimento da glândula mamária, sendo recomendadas taxas de ganho de peso diário em torno de 800g/d para animais da raça Holandesa. Embora esta seja uma preocupação, já que altas taxas de crescimento nesta fase podem reduzir o potencial de produção de leite destes animais, esta é uma realidade ainda distante da maior parte dos produtores brasileiros.
Os nossos sistemas têm como índices recorrentes as baixas taxas de crescimento e alta idade a puberdade e ao primeiro parto, muitas vezes por que estes animais são mantidos em pastagens de baixa qualidade e/ou baixa produtividade. Esta “economia” com a criação de animais, pelo simples fato de que não trazem retorno financeiro imediato, acaba por aumentar o número de animais em crescimento, porque levam mais tempo para iniciar sua primeira lactação, aumentando consequentemente o custo de produção total do sistema de produção.
Investimentos na nutrição de novilhas devem ser considerados de forma a manter adequados índices de eficiência de produção. Quando animais são alimentados para baixas taxas de crescimento, têm sua idade a puberdade aumentada, aumentando também sua idade ao primeiro parto. Por outro lado, investindo em nutrição durante a fase pré-púbere pode-se reduzir a idade a puberdade e assim a idade ao primeiro parto, de forma que o investimento traga retorno financeiro em um prazo mais curto. É importante o produtor entender que a criação de novilhas é um investimento que pode ter retorno em prazo mais longo ou mais curto de acordo com o nível de investimento. Lembrando também os efeitos no potencial de produção além da vida útil deste animal no rebanho.
A Figura 2 mostra que animais na fase pré-púbere alimentados para ganhos de 450 g/d entram em puberdade por volta dos 16,5 meses, quando alcançam o peso determinante de puberdade (250-280 kg). Já animais alimentados para ganhos em torno de 830 g/d alcançam esse peso mais cedo, entrando em puberdade aos 9 meses. Mantendo-se estas taxas de crescimento estes animais estariam com peso para inseminação (350 kg) aos 21,5 ou aos 11 meses, resultando em idades ao primeiro parto de 29,5 e 20 meses, respectivamente. No entanto, 20 meses é uma idade bastante precoce de idade para o primeiro parto, exigindo grande investimento em nutrição. Taxas mais moderadas de 700 g/d, como o exemplo do gráfico na Figura 1, são mais adequadas para os nossos sistemas de produção e garantem idade ao primeiro parto de 24 meses.
Figura 2. Efeito de diferentes taxas de crescimento na idade a puberdade de novilhas da raça Holandesa (adaptado de Foldager, apud Sejrsen & Purup, 1997).
Na segunda lactação os animais terminaram seu crescimento, alcançando seu peso adulto, de forma que podem utilizar todos os nutrientes para sua mantença e produção de leite. Para animais da raça Holandesa são sugeridos peso ao parto em torno de 550 kg e escore de condição corporal de 3,75. Outras recomendações de acordo com o porte da raça podem ser observadas na Tabela 1.
Tabela 1. Recomendação de peso a inseminação e ao parto de acordo com o porte da raça leiteira (adaptado de Bittar, 2005).
O crescimento dos animais e a dinâmica relacionada a sua inserção no sistema produtivo mostram que embora sejam feitas diversas recomendações, não existem receitas. A identificação e o ajuste dos principais pontos críticos devem ser realizados dentro de cada sistema de produção, considerando características como clima, tipo de animal explorado, proximidade a produção de insumos, sistema de alimentação, entre outros. A rentabilidade destes sistemas, e da criação de novilhas de reposição propriamente, depende não só de eficiência produtiva, mas também de eficiência técnica e boa gestão. Estas eficiências devem sempre permear as práticas para adequado manejo de fêmeas de reposição, considerando técnicas para redução de mortalidade, adequados desempenhos e maximização da produção de leite.
Referências bibliográficas
BITTAR, C.M.M. Crescimento. In: Criação de bezerras em rebanhos leiteiros. 1 ed. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2005, p. 33-51.
SEJRSEN, K.; PURUP, S. Influence of prepubertal feeding level on milk yield potential of dairy heifers: a Review. Journal Anim. Sci., Champaign, v.75, n.3, p.828-835, 1997.