Em campo, observamos desempenhos diferentes em sistemas de produção muito semelhantes em termos de colostragem, manejo sanitário, nutrição e instalações. A diferença nestes sistemas está no tratador, no seu comprometimento e entendimento da importância de cada uma das tarefas no dia a dia do bezerreiro e no efeito que isso tem no bem estar e no crescimento dos animais. Sem um tratador treinado a anotar, monitorar e avaliar juntamente com o técnico o trabalho que vem sendo feito, não existe sucesso. Assim, temos como primordial a busca por uma pessoa treinada, que se sinta parte do processo e que seja reconhecida pelo seu trabalho.
O treinamento de funcionários de bezerreiros é mandatório para o sucesso. Funcionários treinados sabem a importância de cada uma das etapas do processo de criação e seus impactos no desempenho dos animais. O treinamento também pode resultar em aumento no comprometimento e este talvez seja o maior diferencial entre tratadores e resultados obtidos pelos mesmos. Quando o tratador é bem treinado e entende o porquê de cada etapa, também a a estar comprometido com a realização de todas as tarefas.
O treinamento básico de um tratador deve ar obrigatoriamente pela importância da colostragem e da rotina diária com o trato dos animais. Realizar tarefas juntamente com o tratador, fazendo correções, parece ser a melhor forma de treinamento. Isso também a a ideia de que aquele trabalho é extremamente importante, ou então você não estaria ali “gastando tempo” com ele. Infelizmente o treinamento não é rápido, é um processo lento e que muitas vezes requer reciclagem. O tratador bem treinado deve ser capaz de diagnosticar problemas rapidamente, de forma que a solução também seja rápida, e afete minimamente o desempenho dos animais. Observar os animais e aprender seu comportamento dá ao tratador vantagens no que diz respeito à velocidade de diagnóstico, mas isso muitas vezes é uma habilidade que somente alguns tratadores vão desenvolver com o tempo.
Na correria da rotina diária de um bezerreiro, muitas vezes os animais am a ser vistos como mais um item no ambiente e não como indivíduos. A transformação de bezerreiros em linhas de produção, onde o tratador realiza tarefas de forma mecânica, tem trazido sérios problemas e prejuízos a bezerreiros com a redução no desempenho e aumento no custo com medicamentos. Alguns tratadores olham, mas não enxergam o problema. Falta sensibilidade! E isso faz com que o diagnóstico seja tardio. Durante o treinamento chame atenção para alguns aspectos que vão além da colostragem, da importância da rotina de alimentação e da limpeza, como por exemplo:
1. Observar o aspecto geral dos animais: olhos, posição das orelhas, pelagem;
2. Escore fecal;
3. Presença de descarga nasal;
4. Odores desagradáveis no animal ou nas instalações;
5. Velocidade com que consomem a dieta líquida;
6. Comportamento após o fornecimento da dieta líquida.
Alguns trabalhos de pesquisa sugerem que, assim como ocorre nas salas de ordenha pelo mundo, os melhores bezerreiros também são aqueles conduzidos por mulheres. Exceções a parte, a maior preocupação com limpeza e organização, aliada a grande sensibilidade no entendimento de alterações de comportamento animal, fazem com que os bezerreiros conduzidos por mulheres apresentem, por exemplo, menor ocorrência e de diarreias, resultando em melhor desempenho animal. No entanto, com adequado treinamento e motivação, homens também podem ser tratadores exemplares.
Figura 1. Tratadora do bezerreiro da Fazenda Agrindus durante o fornecimento de leite.
Figura 2. Tratador de fazenda leiteira no Uruguai durante fornecimento de dieta líquida em sistema coletivo
Outro aspecto importante é a inclusão do tratador no sistema de produção. Tenho observado em algumas visitas na presença de veterinários e outros técnicos, que poucas vezes o tratador é chamado a participar. Como técnica, entendo que o tratador é a peça mais importante no diagnóstico de problemas no bezerreiro, sendo que muitas vezes ele mesmo é o problema! Conversar com o tratador sobre o dia a dia já dá ao técnico uma idéia do trabalho que vem sendo realizado, como é realizado e com qual comprometimento e atitude. Muitos trabalhos de pesquisa mostram que a atitude positiva do tratador em relação aos animais melhora o desempenho de bezerros em aleitamento. Só conseguimos entender a atitude do tratador conversando e trabalhando junto com o tratador. Incluir o tratador no processo com a participação ativa em visitas - assim como a apresentação de resultados, de forma que ele saiba como sua ação juntamente com a nutrição, manejo sanitário, etc, vem afetando o desempenho dos animais - é também uma forma de reconhecimento. A conversa com o tratador juntamente com a avaliação de resultados pode sugerir que o tratador precise de mais treinamento ou que simplesmente precise ser mais incluído e reconhecido como parte do processo.
O último aspecto que afeta o desempenho do tratador é o reconhecimento pelo seu trabalho. O reconhecimento verbal aumenta a auto-estima e acaba por motivar ainda mais o tratador. Tenho escutado opiniões bastante diferentes com relação ao estabelecimento de prêmios em função do alcance de determinadas metas. Algumas propriedades dão prêmios para funcionários quando, por exemplo, a taxa de mortalidade permanece dentro do limite estabelecido para aquele sistema de produção. Em outras situações, prêmios em função do peso ao desaleitamento. No entanto, alguns estudiosos dizem que a premiação é inadequada já que o alcance destas metas deve fazer parte do trabalho do tratador.
Neste início de ano, reavalie o treinamento de seu tratador. Aproveite o novo ano para reciclar o conhecimento do mesmo, aumentando o comprometimento e a motivação, aliada à atitude positiva. E lembre-se de agradecer pelo trabalho realizado durante o ano que ou. Reconheça não só os erros, mas também todos os acertos!
Feliz 2014! Que nossos bezerreiros tenham mais bezerros e tratadores felizes!