A carência de informações sobre até que ponto o tamanho de um lote de animais em produção pode afetar o desempenho e rendimento dos mesmos é uma questão interessante, com poucos resultados esclarecedores em termos de pesquisa no Brasil e mesmo no exterior.
A recomendação tradicional é que os grupos de animais sejam divididos em lotes de 40 a 100 animais. A justificativa para tal é permitir maior controle e ajustes apurados no que se refere ao manejo nutricional (fornecimento e controle da alimentação), além facilitar a observação dos animais.
Segundo pesquisadores ingleses, o limite numérico máximo em que ocorre o reconhecimento e dominância sobre as demais companheiras de grupo é 70 a 80 (ou seja, quando em número não muito grande). Alguns especialistas em estudo de comportamento animal relatam que acima de 100 animais a capacidade das vacas em reconhecerem uma às outras pode diminuir.
Pesquisadores americanos têm relatados mudanças no comportamento padrão de animais holandeses nos últimos anos em relação a décadas adas como, por exemplo, nos anos 50. Havia uma quantidade grande de animais com chifres, que apresentavam comportamento bem mais agressivo que os atuais animais sem chifre. Tais relatos foram observados em grandes fazendas com cerca de 2500 animais. Hoje em dia, segundo os mesmos pesquisadores, não é tão comum encontrarmos constante agressividade como padrão de comportamento de rebanhos leiteiros. Qual (is)seria (am) a (s) possível (eis) causa (s) para tal (is) mudança (s) de comportamento ?. Pode um lote exceder a quantia de 240 a 320 animais ?
Procedimentos diários relacionados ao manejo de ordenha como limpeza de úberes, possibilidade do uso de extratores automáticos de teteiras, tipo de ordenha (espinha de peixe, tandem, carrossel, paralela), são importantes componentes que podem influenciar na determinação do tamanho dos lotes. A partir do momento em que 50% da mão de obra da fazenda está envolvida com a ordenha, a preocupação com o número de animais e critérios de divisão dos mesmos devem ser revistos, especialmente em locais onde o custo de mão-de-obra é significativo.
Os estudos têm atribuído o fato de que animais mochados são mais sociáveis e menos agressivos. Além disso, o uso de canzis associados à grande quantidade de alimento distribuídos durante o dia e o correto dimensionamento da área disponível por animal confinado (45 a 55m2/animal, em piquetes sombrados) são fatores referentes ao manejo que devem ser considerados como motivos para atenuação de alterações comportamentais nos rebanhos.
Existe a possibilidade de quebra da estrutura social dos rebanhos sendo constituídos por lotes grandes ou pequenos ?
Um grande trabalho, com intuito de responder a questão acima, foi conduzido nos EUA em 1995, para determinar os efeitos do tamanho dos lotes. Foram selecionadas diversas áreas e fazendas em diferentes regiões, e número de animais. Houve a divisão de lotes quanto ao tamanho, que foram classificados como:
* pequenos (50 a 99 vacas por lote)
* médios (100 a 199 vacas por lote)
* grandes (200 ou mais vacas por lote).
Os padrões comportamentais avaliados nos animais foram:
* descansando ou parados
* permanência em sombra ou não
* consumo de alimento
* consumo de água
* envolvimento em brigas
* ocorrência de cios
* comportamento durante ordenha
De acordo com os resultados, o tamanho dos lotes, aparentemente, não é um problema quando os rebanhos são manejados corretamente. A seguir, problemas comuns de manejo que podem afetar negativamente o comportamento dos animais:
* Superpopulação e número insuficiente de canzis ou espaçamento de cocho causam maior número de brigas. Exemplo: caso relatado na pesquisa acima, uma fazenda com 150 vacas em 120 canzis disponíveis apresentou o número de 12 brigas por minuto durante o período de fornecimento de alimento.
* Freqüência irregular de alimento (fornecimento)
* Excessiva metragem gasta por dia com idas e retornos das ordenhas
Podemos dizer que as vacas leiteiras de alta produção são animais sensíveis às bruscas mudanças de manejo, porém com elevada capacidade de adaptação. Comportamentos típicos como animais líderes, aglomeração, brigas e disputas devem ser avaliadas constantemente. Em função da diminuição do número de fazendas e aumento do número de animais presentes nas remanescentes, existe uma tendência natural de lotes cada vez maiores o que, novamente ressaltando opinião de especialistas, não representa maiores problemas. Devemos, então, atentar nos detalhes referentes às instalações, visando o correto dimensionamento das mesmas, visando a maximização da produção em função do bem estar social dos animais.
Comentário MilkPoint: quanto maior o número de animais por lote, melhor devem ser as instalações, o ambiente, o manejo e a mão-de-obra, pois perde-se gradativamente o conhecimento da individualidade dos animais, além do aspecto de quebra da dominância social apontada pelo autor. O artigo é correto ao notar que, ao longo das décadas, o animal utilizado para a exploração de leite em países especializados é cada vez menos agressivo, fruto da seleção genética, do regime de alimentação e manejo e da retirada dos chifres. Convém notar que, no Brasil, onde grande parte do rebanho tem sangue azebuado, a agressividade é bem maior e, neste caso, lotes muito grandes podem ter quebrada a hierarquia social, aumentando a agressividade e, com isto, afetando negativamente o desempenho. A lição aqui é que, quanto maior o lote, melhor precisa ser o manejo.
fonte: Hoard’s Dairyman, 25 maio 2000