Quais são os índices ou indicadores que devemos analisar quando avaliamos programas de criação de bezerras e novilhas em fazendas? Como saber se um determinado sistema de criação está apresentando bons resultados? Quais são os cuidados que devemos tomar, o que devemos controlar e porquê devemos controlar e levantar determinados dados?
Sabemos que sistemas de produção de leite intensivos, a pasto ou confinamento em condições de ambiente tropical são sempre desafiadores para nossos animais. Quanto mais apurado for o grau de sangue para raças europeias, mais sensíveis são os animais e maiores são os desafios em termos de longevidade. Sistemas de produção a pasto, com duas ordenhas diárias costumam ser menos desafiadores do que sistemas confinados com animais de alta produção, submetidos à rotina diária de três ordenhas. Sistemas intensivos costumam apresentar uma elevada taxa de descarte e/ou perdas de animais por diferentes problemas oriundos da rotina de produção. Merecem destaque doenças envolvendo saúde dos cascos, glândula mamária (mastite) ou mesmo a incidência de distúrbios metabólicos pós-parto.
Para sistemas intensivos de produção é comum nos depararmos com descartes anuais e/ou perdas superior a 30% dos animais em produção. Essa taxa elevada indica a necessidade de um excelente manejo reprodutivo e uma recria (reposição) muito eficiente para que haja crescimento do rebanho. É necessário ter sempre animais jovens e sadios entrando no sistema para que as contas se equilibrem.
Na pecuária de leite, tradicionalmente, as atenções são voltadas para as fêmeas lactantes, uma vez que são a fonte de receita da propriedade. É comum encontramos falta de cuidado ou mesmo situações negligentes em relação ao manejo de vacas secas (e período de transição). Vale lembrar que toda boa lactação tem início no correto escore de condição corporal (ECC) no momento da secagem e de um bom manejo de pré e pós-parto. Um bom manejo da alimentação neste período implica não somente na correta alimentação destes animais, mas sim proporcionar condições, efetivas (conforto) para que haja um adequado consumo de matéria seca (CMS) neste período. O correto manejo no período seco e de transição é fundamental para obtenção de bons partos (baixos índices de partos distócicos) e nascimento de bezerros sadios (baixos índices de natimortos).
Em muitas fazendas de leite a criação de animais jovens é um grande desafio e, geralmente, o momento em que ocorrem os maiores índices de mortalidade por diferentes motivos e erros de manejo e cuidados na criação de bezerras, principalmente nos primeiros 10 a 45 dias de vida (maiores incidências de mortalidade). Altas taxas de mortalidade nos primeiros dias de vida refletem erros que vão desde o fornecimento irregular de colostro ou mesmo cuidados no aleitamento, principalmente em relação à quantidade e qualidade do leite fornecido para as bezerras (ou sucedâneo) e cuidados com higienização de mamadeiras e/ou baldes utilizados para fornecimento de leite e água para estes animais.
Para produção de leite, esperamos trabalhar sempre com uma taxa de mortalidade abaixo de 5%, ou seja, para cada 100 animais nascidos vivos no ano, apenas 5 mortes. Na maioria das propriedades que visitamos esse índice é bem mais elevado, apesar de algumas (poucas propriedades) apresentarem índices de excelência com 1 a 2% de mortalidade.
O objetivo deste artigo não é detalhar aspectos ou a forma correta de se criar e manejar animais jovens, mas sim focar em quais ferramentas em termos de manejo o produtor deve se preocupar para controlar e prevenir problemas.
Controle do ganho de peso diário:
Por mais rudimentar que seja o controle de ganho de peso dos animais são muitas as propriedades que não realizam este controle ou controlam o crescimento por meio de pesagens irregulares (pouco conclusivas). Uma das perguntas básicas que a COWTECH realiza em suas visitas, para pecuaristas ou responsáveis por sistemas de produção é: “O Sr. tem balança para pesar os animais?” Em muitos a resposta é negativa e, em outros positiva. Quando positiva perguntamos: “O Sr. realiza pesagens mensais?” “Faz controle de ganho de peso?” Em muitos casos a resposta é negativa.
Os motivos são diversos: falta de informação, orientação e cuidados ou problemas operacionais com balanças (chama atenção o número de propriedades que possuem balanças não operacionais por problema de regulagem, quebra ou mesmo capacitação da mão-de-obra para operar balanças digitais mais modernas).
O primeiro indicador que devemos atentar é para o peso ao nascimento. Muitas propriedades sequer anotam o peso de bezerras no momento do nascimento. Este deveria ser o primeiro dado e controle a ser anotado numa ficha individual de animais. O peso ao nascimento entre raças bovinas varia de acordo com a raça. Animais com sangue mais zebu apresentam peso ao nascimento menor (entre 30 a 40 kg) enquanto que o padrão para raças europeias (exceto Jersey) é maior (entre 40 a 45 kg). Um programa de alimentação e crescimento de animais jovens deve levar em consideração o peso objetivo ou peso alvo no momento da cobertura.
Quando trabalhamos com programas de recria, mas importante do que o fator idade é o fator peso. Nas fazendas assistidas pela COWTECH, gerenciamos as categorias por ganho de peso e divisões de lotes são realizadas por peso e não por idade. Por mais absurdo que seja o conceito existem propriedades que realizam a transição de animais entre lotes por tempo de permanência em cada categoria. A primeira conta que o produtor deve fazer é a taxa de ganho de peso diária. Para cada raça temos uma taxa de ganho de peso diário ideal, de modo que não haja o comprometimento do desenvolvimento do tecido mamário. Uma taxa de ganho de peso muito acelerada pode fazer com que o tecido mamário oriundo da diferenciação do tecido adiposo seja comprometido.
Para ilustrar nosso raciocínio, apresentamos o exemplo da raça holandesa. Em outras palavras, ao invés do animal desenvolver esse tecido acaba havendo uma deposição de gordura nesse local e esse processo é irreversível, comprometendo o potencial de produção deste animal ad eternum. De acordo com estudos, para esta raça uma boa taxa de ganho de peso diário é de 750 gramas/cabeça/dia, que corresponde a um ritmo médio de crescimento que não comprometeria o desenvolvimento da glândula mamária. A tabela abaixo ilustra nosso raciocínio:
Critérios de divisão de categorias:
Quando avaliamos sistemas de recria, encontramos diferentes critérios para divisão de categorias. Não há regra inconteste para divisão de lotes destes animais, sendo que cada produtor pode adotar um critério próprio, desde que respeite alguns conceitos importantes. O primeiro é ter em mente que a divisão de categorias e lotes, como mencionado anteriormente, deve respeitar faixas ou amplitudes de peso. Devemos ter em mente que a subdivisão de categorias pós-desmama merece mais cuidado. Um grande erro que encontramos em propriedades é o critério temporal, ou seja, lotes agrupados por idade e não por peso ou quando agrupadas por peso, amplitudes muito amplas, permitindo termos num único lote animais com maior estrutura e peso corporal que outros, comprometendo o ganho de peso.
Abaixo segue tabela/referência com divisão de categorias, comumente utilizada pela COWTECH:
Critérios e importância da apartação de lotes:
A separação por peso é muito importante, porém é necessário capacitar quem realiza a divisão e apartação de lotes, numa propriedade. Em muitos casos, encontramos animais pesados, mas em situação de baixo ECC. É o caso de animais que desenvolveram alguma doença no decorrer do caminho ou animais que sentiram a competição num determinado lote. Um animal só deve mudar de categoria se ultraar o peso preconizado nas divisões e se estiver “estruturado e com caixa”. Em alguns sistemas esse cuidado não é observado. Em outras palavras, a divisão e apartação de lotes é teórica (feita na caneta), mas precisa ter bom olho clínico e cuidado, na prática. Se um animal estiver com 205 kg, por exemplo, ele sairia da Desmama 2 para a Recria 1. No entanto, ele pode estar “fino” e “caixudo”, utilizando a linguagem usual, popular em fazendas. Significa que cresceu muitas vezes em estrutura óssea e altura, ganhando peso, mas não necessariamente está roliço e com bom acabamento de gordura. Pelos critérios da divisão acima, mudaria de lote. Pelo critério de apartador experiente, muitas vezes esse animal é mantido por mais um mês na mesma categoria para “ar forte” e mais pesado para o lote subsequente. Este é um cuidado mais abstrato e difícil de ser realizado, entretanto, muito importante para bons resultados.
João Paulo V. Alves dos Santos
Engenheiro Agrônomo (ESALQ-USP)
Sócio-Diretor
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