Logo após a ordenha, a síntese de leite é intensa, diminuindo gradativamente quando nos aproximamos a 36 horas da mesma. A partir deste intervalo, naturalmente, a secreção de leite tende a cessar. Mais recentemente, a redução da síntese de leite vem sendo associada com um mecanismo de "" através de um hormônio conhecido como "inibidor da lactação" (FIL - inhibitor of lactation). Quando o úbere está cheio, este hormônio é secretado em maior quantidade, suprimindo a produção de leite. À medida que a pressão na glândula mamária é aliviada, os níveis deste hormônio tendem a cair, também. Quanto mais vezes uma vaca é ordenhada, mais baixa tende a ser tal atuação hormonal (menor pressão = menor secreção hormonal).
Segundo pesquisas, o aumento de duas para três ordenhas diárias pode promover um acréscimo na produção diária/vaca de até 3,5 litros. O grande dilema envolvendo o aumento do número de ordenhas numa fazenda é a questão custo/benefício, ou seja: quando vale a pena aumentar de duas para três ordenhas, por exemplo? Trata-se de um assunto um pouco complexo, uma vez que cada propriedade possui determinado tipo de equipamento (diferentes rendimentos), diferentes funcionários (tanto no aspecto quantitativo como qualitativo), diferentes rebanhos (potencial genético) e diferentes manejos, principalmente o nutricional. Para poder tomar esta decisão (aumento do número de ordenhas), é necessário que o produtor tenha em mãos a distribuição do seu custo de produção para que possa projetar possíveis benefícios da ordenha adicional.
Recentemente foram publicados trabalhos envolvendo aumentos na freqüência de ordenha e resultados em termos de produção de leite. Num estudo realizado em Israel, um grupo de vacas foi ordenhado 6 vezes/dia durante os primeiros 42 dias de lactação, sendo comparado com um tradicional grupo de 3 ordenhas diárias. De acordo com o esperado, a produção dos animais submetidos a maior número de ordenhas foi superior, em média, 7 kg em relação ao grupo de 3 ordenhas diárias. Entretanto, apesar da significativa diferença apresentada nas primeiras semanas de lactação, o maior benefício promovido foi o aumento na persistência de lactação, conforme o quadro abaixo:

Em outro estudo, realizado nos EUA, resultados semelhantes foram obtidos. O experimento foi conduzido da mesma maneira, ou seja, o período avaliado também foi de 42 dias comparando a produção de leite entre 2 grupos de animais (3 ordenhas xs 6 ordenhas). As vacas que foram ordenhadas 6 vezes apresentaram, em média, produção superior em 2,7 kg leite/vaca/dia do início ao final da lactação. O quadro abaixo resume resultados:

Maior persistência de lactação
Dentre os diversos fatores associados à freqüência de ordenha e produção de leite, além do "hormônio inibidor da lactação" (FIL), a prolactina (hormônio responsável pela manutenção da lactação) merece atenção especial. A persistência de lactação está associada à sensibilidade da glândula mamária para este hormônio. A circulação de prolactina após a ordenha aumenta. Um aumento nos níveis da mesma no início da lactação pode aumentar o número de receptores deste hormônio nas células epiteliais (células responsáveis pela síntese de leite). Conseqüentemente, este aumento de receptores promove uma maior sensibilidade das células epiteliais à prolactina, promovendo também um aumento na quantidade, atividade e desenvolvimento das mesmas durante a lactação, gerando um aumento na persistência de lactação.
Manejo na fazenda
Um dos grandes entraves, conforme mencionado no início deste texto, no emprego de maior número de ordenhas é justamente o fator econômico. Não podemos, em hipótese alguma, associar o simples incremento no número de ordenhas a um aumento de produção como um fator isolado. Ao armos de 2 para 3 ordenhas, podemos ter um acréscimo de até 25% na produção de leite. Entretanto, 2/3 deste aumento é devido à melhor alimentação e manejo e 1/3 é devido à menor pressão do úbere MEYER (1998). De qualquer forma, a maior dúvida em questão está associada ao período que os animais devem ser submetidos a um maior número de ordenhas. De acordo com resultados das mais recentes pesquisas, este "estímulo" a glândula pode ser feito durante apenas os primeiros 21 dias pós-parto, com resultados satisfatórios. A recomendação para quem realiza 2 ordenhas é que e a ordenhar vacas recém-paridas 4 vezes ao dia e para 3 ordenhas, 6 vezes ao dia. A maneira prática para o emprego deste manejo seria apartar os animais em início de lactação de modo que sejam os primeiros a serem ordenhados, retornando à sala de espera, para serem ordenhados novamente no final de cada ordenha.
Comentário do autor: apesar dos resultados positivos apresentados nas pesquisas acima mencionadas, devemos ter cautela com possíveis modificações envolvendo maior número de ordenha. Os resultados acima foram obtidos em condições experimentais ideais e com animais de elevado potencial leiteiro, não retratando a nossa realidade. Não podemos associar maior freqüência de ordenha com maior produção de leite como um fator isolado numa fazenda. É necessário, antes de tudo, que a propriedade tenha um bom manejo nutricional e condições adequadas em termos de conforto animal. Não podemos nos esquecer que o maior número de ordenhas pode ser benéfico à saúde da glândula mamária, porém exige mais do animal que apresentará um balanço energético negativo mais acentuado e conseqüentemente um maior consumo de matéria seca. Logo, o custo da alimentação é também um fator importante a ser considerado bem como a análise de todos os insumos que serão consumidos em função da ordenha adicional. Um outro detalhe bastante importante que deve ser objeto de maiores estudos seria os possíveis efeitos de uma segunda agem dos animais na ordenha, sendo uma recomendação bastante polêmica.
Fonte: Journal of Dairy Science 78:2726-2736, Journal of Dairy Science 83 (suppl 1):242, Hoards Dairyman (julho 2002)