As vacas leiteiras vêm sendo criadas nos últimos séculos para produzir mais leite, resultando em muitos problemas de saúde diferentes nos rebanhos leiteiros. Dentre eles está a autossucção, que é quando uma vaca chupa os próprios tetos e geralmente inclui a deglutição de leite.
Figura 1: Vaca fazendo autossucção. (Fonte da foto: http://g1.globo.com/goias/jornal-do-campo/videos/v/pecuarista-quer-saber-o-que-fazer-para-que-vaca-pare-de-mamar-nela-mesma-em-goias/4910090/ )
O ato de sugar os próprios tetos é um problema comportamental entre as vacas leiteiras que resulta em perdas econômicas severas para o produtor devido à redução da produção de leite e ao aumento da necessidade de cuidados veterinários.
Esse comportamento pode causar grandes quantidades de perda de leite, lesões nos tetos, defeitos de formato e como resultado disso, levar a casos de mastite. Às vezes, quando isso acontece nas vacas e novilhas durante o último período da gestação, provoca a formação de colostro precoce, que acabará faltando aos bezerros. Além disso, muitas fazendas fazem descarte precoce de vacas e novilhas devido a esse tipo de defeitos comportamentais.
Tem sido relatado que a grande maioria dos casos de autossucção em gado são observados entre as novilhas. Alguns estudos mostram que as novilhas compreendem 69% dos casos encontrados.
Alguns pesquisadores afirmaram que os animais que fazem autossucção ou mamam em outras vacas do rebanho (outro tipo de problema comportamental encontrado em vacas leiteiras) absorvem cerca de 40 ou 60 litros de leite por dia. De acordo com os dados obtidos neste estudo, determinou-se que, no caso das vacas que fazem autossucção, a absorção normalmente é de pelo menos 32% do seu leite diário.
Como vacas que fazem autossucção aplicam muito mais pressão sobre o úbere por um longo tempo durante a sucção, isso leva a lesões nos úberes. Além disso, como o teto é aspirado em intervalos frequentes, o orifício do úbere permanece sempre aberto, permitindo que os microrganismos entrem no teto, levando a casos graves de mastite.
Figura 2: Lesão nos tetos por causa de autossucção.
Outra questão a ser considerada é que a autossucção leva a uma assimetria nos tetos, o que pode prejudicar a ordenha desse animal. Os úberes expostos à autossucção também ficam com tetos mais espessos e defeituosos.
Figura 3: Assimetria nos tetos por autossucção.
Figura 4: Deformação dos tetos por autossucção.
Até agora, os estudos não conseguiram determinar a principal razão que leva a esses comportamentos nas vacas. No entanto, há uma visão comum de que pode ter muitas causas diferentes, de forma que, normalmente, a ênfase é dada no tratamento dos sintomas, em vez de remover a razão real na cura da doença.
O que fazer?
Independentemente das causas do comportamento de autossucção, os animais afetados moldam sua língua como um copo e chupam seus próprios tetos. Esse comportamento anormal resulta em várias complicações sérias no animal afetado.
Várias abordagens estão disponíveis para tratar esta condição. Embora os estudos mostrem que essa é uma condição rara, em fazendas onde o comportamento de autossucção é extensivamente encontrado deve-se procurar um tratamento definitivo e confiável.
Tratamentos conservadores incluem a aplicação de anéis no nariz com pontas, anéis fixados ao freio lingual e aplicação de talas no pescoço.
No entanto, alguns pesquisadores argumentam que tratamentos conservadores não resolvem a condição. Algumas lesões podem resultar de dispositivos aplicados para controlar a autossucção. Um anel no nariz com pontas pode causar ferimentos graves ao animal afetado e a outros animais. As talas do pescoço também causam lesões no pescoço do animal afetado. Além disso, o animal com dispositivo de prevenção de autossucção é facilmente reconhecido e acaba perdendo valor de mercado.
Figura 5: Anel com pontas (Fonte da foto: http://zephyrhillfarm.blogspot.com/2014/03/the-saga-of-my-self-sucking-cow-and-how.html).
Tratamento cirúrgico
Em termos de resultado, a intervenção cirúrgica oferece uma abordagem mais eficaz para a prevenção do comportamento de autossucção do que o uso de tratamentos conservadores, afirmam alguns estudos. Técnicas cirúrgicas incluem glossectomia parcial, transecção da mucosa lingual ventral e glossectomia de espessura total.
A glossectomia parcial envolve a transecção de aproximadamente 5 centímetros de uma porção de espessura total da língua, da ponta ou do aspecto lateral, seguida de incisões de sutura para preservar a forma da língua.
A glossectomia ventral envolve uma incisão elíptica que tem aproximadamente 5 cm na sua parte mais larga, começa rostral à inserção do freio na língua e se estende rostralmente 2,5 cm caudal até a ponta da língua. Ao suturar a elipse, a superfície dorsal da língua torna-se convexa e é incapaz de formar a forma “U” necessária para a autossucção do teto.
A glossectomia de espessura total envolve a remoção de uma área de espessura total elíptica do aspecto ventral da língua. Este método forneceu resultados semelhantes à glossectomia ventral.
As técnicas de glossectomia mencionadas anteriormente requerem excisão cirúrgica de espessura variável da língua, a fim de romper seu contorno e evitar que a língua se enrole para que a sucção não seja possível. Tais técnicas podem exigir anestesia geral, consomem tempo e envolvem danos nos tecidos com sangramento e riscos de infecção subsequentes.
Técnicas cirúrgicas pontuam alto quando comparadas com as técnicas conservadoras, mas, novas técnicas menos invasivas estão sendo estudadas.
Caso você esteja tendo esse problema em sua fazenda, consulte um médico veterinário para discutir qual a melhor solução no seu caso.
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Referências:
El-Sherif MW. Tongue reshaping: a new surgical method to prevent self-sucking in dairy cows. Open Veterinary Journal. 2018;8(2):140-143. doi:10.4314/ovj.v8i2.4.
The Effects of Self-Sucking on Daily Milk Product, Udder Health and the Form of the Teats of Dairy Cows, Jan 2007Journal of Animal and Veterinary Advances.