“Não se gerencia o que não se mede”. Essa foi uma das frases mais famosas de William Edwards Deming, o guru da istração da área de qualidade. Esse conceito se aplica a qualquer processo, como por exemplo, ao de produção de silagem de milho. É indispensável elegermos alguns indicadores para que possamos avaliar se estamos produzindo uma silagem como deveríamos, bem como identificar as áreas de oportunidade.
Conhecidamente fazemos o uso de alguns indicadores “chave”, como por exemplo, produtividade, custo de produção e qualidade nutricional. Todos eles são importantes e devem ser avaliados de forma conjunta. Porém, nesse artigo vamos destacar a qualidade nutricional, obtida a partir das análises laboratoriais realizadas pela ESALQLab e que possuem grande impacto no desempenho animal e consequentemente no custo de produção de leite ou carne.
Avaliar a qualidade da silagem de milho é relativamente fácil e rápido, graças ao avanço da tecnologia analítica (infravermelho). Por exemplo, hoje conseguimos analisar uma amostra em menos de 24 horas, para quase 50 variáveis e por um custo de duas a três vezes inferior ao da análise química tradicional.
Para a construção desse “Raio X” utilizamos resultados obtidos entre os meses de Outubro/17 a Fevereiro/18, de amostras recebidas dos estados de MG, SP, MS, GO, PR e RS. Como critério de avaliação, utilizaremos o IQS (Índice de Qualidade da Silagem de Milho). Como já abordamos em artigo anterior, o IQS é um indicador que leva em consideração cinco variáveis:
- teor de matéria seca;
- teor de amido;
- teor de FDN;
- digestibilidade da FDN;
- KPS (índice de processamento de grãos).
Assista o vídeo aqui:
Calculado com base nessas variáveis, o IQS pode variar de 50 a 100 pontos.
Vamos aos resultados?
No infográfico abaixo, temos duas informações. A primeira delas é a distribuição das amostras de acordo com o IQS. Vale lembrar aqui que silagem com IQS entre 50 e 70 pontos é classificada como “Bronze”, 70 a 80 como “Prata”, de 80 a 90 como “Ouro” e acima de 90 pontos como “Diamante”. Observa-se que a maioria das amostras (41,5%) foi classificada como “Ouro”, e apenas 6% delas recebeu o título de “Diamante”. Por outro lado, uma a cada quatro amostras (25%) apresentou baixa qualidade sendo classificada como “Bronze”. O IQS médio do período foi de 79 pontos.
Uma segunda informação é o desempenho dessas silagens em relação às cinco variáveis que compõe o IQS. No gráfico de alvo, fica evidente que os fatores mais limitantes foram o teor de MS e o KPS, com 71 e 77 pontos de média para cada um.
Explorando um pouco mais o banco de dados, temos abaixo outro infográfico que caracteriza melhor a distribuição das amostras em função dessas cinco variáveis que compõe o IQS. Por exemplo, no caso da MS notamos um valor médio de 30% (sendo que consideramos como alvo 35%). O que preocupa, é o fato de que 15% das silagens apresentam MS abaixo de 26%, valor extremamente baixo, e por outro lado outros 15% com MS acima de 35%.
O outro fator considerado como limitante foi o KPS, com valor médio de 61%, sendo 15% das silagens com KPS abaixo de 47% e somente 15% acima de 75%, valor considerado ótimo. Como já abordamos neste artigo sobre o KPS, imaginar que apenas 15% das silagens estão com o processamento adequado, é algo preocupante, pois parte do grão está indo para as fezes.
Cabe destacar aqui, que tanto a MS quanto o KPS, são variáveis “mais facilmente controladas”, pois dependem basicamente em colher no momento certo e da maneira correta (processamento). Certo, sabemos que nem sempre é fácil cortar e processar da maneira que gostaríamos, ainda mais quando contamos com a terceirização. Às vezes o terceiro tem somente uma determinada janela de corte disponível e é “pegar ou largar”.
O KPS também requer monitoramento durante a coleta, pois as vezes o cracker é ajustado para aumentar a eficiência de coleta (rapidez) em detrimento do processamento do grão. Por outro lado, é evidente o crescimento que o “negócio de colheita de forragens” vem vivenciando. A cada ano que a, aumenta-se o nível de profissionalização e, com novos fornecedores.
Em relação às demais variáveis de qualidade apresentadas no raio X, cabe aqui ressaltar o teor de amido médio de 27%, com apenas 15% das silagens com amido acima de 33% (que é o valor médio da silagem americana, monitorada pelo nosso parceiro DairyOne). Vale a pena conferir esse outro artigo em que abordamos qual deveria ser o teor de amido. Se acertarmos o ponto de colheita, levando a MS de 30 para 35%, certamente teremos um impacto no aumento do teor de amido e valor nutricional da silagem.
Ainda, é importante destacar que não podemos simplesmente ignorar as demais características como, por exemplo, a digestibilidade da fibra. Existe muito trabalho de pesquisa e desenvolvimento por parte das empresas e a escolha do melhor híbrido para as características do “seu negócio” não pode ser negligenciada. Esse é um tema importante e em breve abordaremos com maiores detalhes.
Novamente, fica evidente que grande parte do resultado final está em nossas mãos. Palavra chave para termos uma silagem “Diamante”? Planejamento.