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Impactos negativos do parto distócico no desempenho de bezerras leiteiras

A distocia, dificuldade de um bezerro se apresentar ao nascimento de maneira natural, é um evento preocupante que pode ter consequências para a bezerra. Entenda

Publicado por: MilkPoint

Publicado em: - 6 minutos de leitura

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O nascimento e as primeiras horas de vida são essenciais para a saúde e sobrevivência subsequentes da bezerra. A distocia, definida como dificuldade ou incapacidade de um bezerro se apresentar ao nascimento de maneira natural, é um evento preocupante que pode ter consequências significativas para o bezerro neonato.

A ocorrência de distocia é influenciada por diversos fatores, incluindo a genética da mãe, tamanho e conformação do bezerro, condição de saúde da vaca e manejo do parto. Quando uma distocia ocorre, tanto a mãe quanto o bezerro estão em risco, e é essencial compreender os efeitos dessa condição no recém-nascido.

A incidência de distocia tem aumentado nas fazendas leiteiras, e bezerras com baixa vitalidade geralmente nascem de mães que tiveram distocia. Os efeitos fisiológicos são amplamente conhecidos. Bezerros que am por estresse grave no parto, frequentemente sofrem de hipóxia prolongada e acidose significativa, o que pode resultar em natimorto imediato ou reduzir sua sobrevivência a longo prazo.

Os bezerros que sobrevivem após uma hipóxia prolongada geralmente são fracos e demoram a se levantar e mamar. Essas deficiências não apenas afetam negativamente a absorção de imunoglobulinas colostrais, mas também prejudicam a regulação da temperatura corporal, o que os torna mais susceptíveis a doenças nessa fase inicial.

A distocia também pode causar traumas físicos nos bezerros, especialmente quando ocorre força excessiva durante o parto, que pode afetar a função do sistema cardiopulmonar dos bezerros e causar danos internos. Esses traumas podem ter consequências a longo prazo e impactar negativamente o desenvolvimento e a saúde geral dos bezerros.

Existem escores para avaliar o grau de distocia e o principal modelo utilizado é adaptado de Mee (2004), que é estimado em uma escala de 0 (parto sem assistência) a 4 (parto extremamente complicado, com intervenção grave), levando em conta a facilidade de parto, o número de pessoas que ajudaram no parto e o atraso da segunda etapa do trabalho de parto. Durante a pontuação, foram considerados de acordo com Mee (2004) os seguintes aspectos:

  •  Escore 1 = nenhum auxílio necessário durante o parto (eutocia),
  • Escore 2 = atraso (de 60 a 90 min após o aparecimento da bolsa amniótica) na segunda etapa do trabalho de parto (entre o aparecimento da bolsa amniótica e o parto da bezerra) ou parto assistido por uma pessoa sem o uso de tração mecânica (distócia leve)
  • Escore 3 = tração mecânica de uma bezerra com um puxador de bezerra ou assistência de 2 ou mais pessoas com força considerável (distocia grave) e;
  • Escore 4 = distocia grave, intervenção cirúrgica necessária.

Os efeitos fisiológicos da distocia, como já citado anteriormente, são: hipóxia prolongada e acidose, em bezerras que apresentaram dificuldade prolongada ou grave no parto. Isso pode ser imediatamente fatal (natimorto) ou reduzir a sobrevida a longo prazo. Essas deficiências afetam negativamente a absorção de imunoglobulinas colostrais, mas também prejudicam a regulação da temperatura. As bezerras que experimentam hipóxia prolongada e sobrevivem geralmente são fracas e lentas para se levantar e mamar. Reforçando que essas deficiências afetam negativamente a absorção de imunoglobulinas colostrais, e também prejudicam a regulação da temperatura.

Além disso, a distocia é uma fonte potencial de trauma que afeta a função do sistema cardiopulmonar, especialmente quando força excessiva é aplicada durante o parto. Repetindo, o potencial da distocia afeta negativamente a sobrevivência da bezerra e pode ocorrer por meio de múltiplos mecanismos.  

A captação de imunoglobulina é menor em bezerras oriundas de partos distocicos, sendo que em grande parte desses nascimentos, é diagnosticado falha absoluta ou parcial de transferência iva, o que os proporciona proteção reduzida contra doenças neonatais. Acidose, estado hipóxico e redução do vigor em bezerras distocicas, possivelmente levam à diminuição da absorção de imunoglobulinas colostrais, provavelmente pelo seu atraso na capacidade de sucção e ingestão de colostro.

Bezerras distocicas que estavam vivas ao nascer experimentaram maior estresse fisiológico, redução da transferência de imunidade iva, bem como maior morbidade e mortalidade. As que se apresentavam em posição errada durante o parto, exigem mais tratamentos do que outras as outras e têm maiores taxas de mortalidade.

O bem-estar de bezerras distócicas nascidas vivas é uma causa significativa de preocupação no período neonatal. Além do impacto negativo no bem-estar, aumenta os custos de criação dessas bezerras (principalmente por meio de maior morbidade e mortalidade).

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Em estudo realizado por Barrier et al. (2012), bezerros de partos assistidos foram mais lentos para expressar a maioria dos comportamentos neonatais em comparação com bezerros nascidos naturalmente. Alguns deles nem sequer se levantaram durante o período de observação. Eles também aram mais tempo deitados no flanco e tiveram mais episódios desse comportamento, que é uma posição que não exige muito esforço para ser mantida.

Lombard et al. (2007) mostraram que os efeitos da distocia podem ser aparentes imediatamente após o parto e podem influenciar a saúde da bezerra até pelo menos 30 dias de idade. Alguns dos fatores que podem ter influenciado a saúde das bezerras oriundas de partos distócicos nos primeiros dias de vida inclui a falta de anticorpos colostrais maternos.

A estação do nascimento também afetou a saúde da bezerra. Os bezerros nascidos durante o inverno e a primavera tiveram maior probabilidade de sofrer um evento de saúde ou morrer entre o nascimento e os 120 dias de idade, enquanto as novilhas nascidas durante o verão tiveram menor probabilidade de ter um dos eventos.

Como muitos bezerros nascidos em temperaturas frias podem sofrer hipotermia e subsequente estresse, especialmente aqueles que também foram expostos à distocia, sua capacidade de combater efetivamente os patógenos pode ser comprometida. Nesse mesmo estudo, os autores identificaram que os bezerros expostos a extrações forçadas tiveram maiores chances de morrer dentro de 21 dias após o nascimento.

A prevenção e redução de partos distócicos pode, portanto, beneficiar o bem-estar e a produtividade da fazenda, bem como otimizar o desempenho tanto da vaca quanto da cria. Medidas preventivas potenciais podem incluir a melhoria do ambiente periparto e nutrição da mãe, aumento da seleção genética para facilidade de parto e criação otimizada de novilhas.

Além disso, a assistência qualificada e higiênica oportuna da vaca, bem como o cuidado personalizado e intensivo da bezerra são essenciais para minimizar os efeitos adversos da distocia na bezerra.

As recomendações atuais sugerem que a primeira refeição de colostro deve ocorrer nas primeiras 2 horas de vida (Padrão Ouro de Criação de Bezerras e Novilhas Leiteiras, 2022), a fim de assegurar a transferência de imunidade iva e condições para que a bezerra recém-nascida consiga lidar com os desafios ambientais.

 

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Autores

Rayce Ferreira - Mestranda do Departamento de Medicina Veterinária da UFV
Polyana Pizzi Rotta - Professora do Departamento de Zootecnia da UFV

 

Referências

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