O fornecimento de dietas com reduzido teor de proteína bruta (PB) para vacas leiteiras vem ganhando espaço como estratégia para melhorar a eficiência de uso do N, e diminuir sua excreção, visto que a pauta ambiental é cada vez mais presente no meio agropecuário. Porém, a redução do teor proteico dietético acarreta menor aporte de proteína metabolizável (PM) e possível deficiência nutricional de aminoácidos essenciais (AAE).
Basicamente a proteína metabolizável é oriunda da proteína microbiana verdadeiramente digestível (Pmicvd), da proteína não degradável no rúmen digestível (PNDRd), e do N endógeno, e possui maior similaridade com o perfil aminoacídico dos tecidos corporais e do leite, sendo, portanto, facilmente aproveitada pelo organismo do animal no intestino delgado. Neste sentido, diversas pesquisas correlacionam a redução do teor da PB da dieta com a queda no consumo de matéria seca (CMS), digestibilidade da fibra, produção leiteira (PL), teor de proteína do leite, status sanitário e reprodução (Sinclair et al., 2013).
Dessa forma, para que possamos trabalhar com redução da PB dietética sem acarretar prejuízos produtivos é recomendado a suplementação com AAE via dieta. Sabe-se que a metionina e a lisina são os principais aminoácidos limitantes para vacas leiteiras, e recentemente alguns pesquisadores mencionam a histidina como sendo o terceiro AAE limitante para essa categoria (Appuhamy, 2019), principalmente em dietas onde o volumoso é proveniente de gramíneas, como é o caso do Brasil.
Contudo, é necessário que esses AAE se encontrem na forma “protegida” para que em inertes pelo rúmen sem sofrer ação da microbiota e assim, chegarem ao intestino delgado. Todavia, o elevado custo e disponibilidade dos produtos comerciais pode inviabilizar o fornecimento desses aminoácidos.
Giallongo et al. (2016) testaram a suplementação de metionina, lisina, e histidina protegidas do rúmen para uma dieta deficiente em PM, divididos em 6 tratamentos: PM adequada (PMA), PM deficiente e sem suplementação (PMD), ou suplementado com metionina (PMDM), lisina (PMDL), histidina (PMDH), ou suplementado com os três AAE (PMDMLH). A dieta controle (PMA) continha 16,8% de PB, enquanto as demais 14,8%, e deficientes entre 5 e 10% da exigência de PM.
No início do estudo, os animais apresentavam PL média de 40,8 ± 6,80 kg/dia e 32 ± 30 dias em lactação (DEL). Foi observada maior PL e CMS para o tratamento PMA em relação aos demais, independentemente do tipo de suplementação. Os valores são apresentados na Figura 1.
Figura 1. Consumo de matéria seca e produção de leite de vacas em diferentes estratégias nutricionais variando a proteína e aminoácido.
Adaptado de Giallongo et al. (2016). *P valor <0,05.
Van den Bossche et al. (2013) avaliaram o desempenho de vacas leiteiras produzindo inicialmente 32,7 ± 5,75 kg/leite/dia e DEL médio de 116 ± 29,3. Neste estudo, todas as vacas encontravam-se inicialmente consumindo uma dieta de 16,5% PB durante a fase de pré-experimental e sem qualquer suplementação de aminoácido. Em seguida foram submetidas a uma dieta com 14,5% PB, diferindo em 3 tratamentos: dieta controle sem suplementação de aminoácido (CTRL), suplementação com metionina e lisina protegidas (ML), e suplementação com metionina, lisina e histidina protegidas (MLH). Neste estudo os autores relataram redução da PL ao reduzir o teor de PB da dieta após a fase de adaptação, mas sem resultados significativos para as suplementações com AA (Figura 2).
Figura 2. Efeitos da suplementação com AA protegidos em resposta a dietas com PM deficiente.
Adaptado de Van den Bossche et al. (2013)
Com o lançamento do NASEM (2021), a recomendação nutricional para suprir a exigência de proteína do animal diferiu da versão anterior. Na atualização, os recomendam de 10 a 12% de proteína degradável no rúmen (PDR) de modo a otimizar a produção de proteína microbiana, visto que é a principal fonte de PM, mas sugerem que o foco não seja apenas a PM, e sim que o suprimento de aminoácidos seja atendido, justificando que esses parâmetros possuem maior influência sobre o desempenho animal do que os valores de PB da dieta.
Ainda, segundo o NASEM (2021), apesar de existir uma ordem de AAE limitantes, é importante que as exigências nutricionais de todos os demais sejam supridas de forma balanceada, visto que o desbalanço de AA na dieta pode causar o catabolismo destes componentes e comprometer a produção leiteira.
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Referências bibliográficas
APPUHAMY, R. Beyond lysine and methionine: what have we learned about histidine? DIM, v. 82, n. 35, p. 179, 2019.
GIALLONGO, F.; HARPER, M.T.; OH, J.; LOPES, J.C.; LAPIERRE, H.; PATTON, R.A.; PARYS, C.; SHINZATO, I.; HRISTOV, A.N. Effects of rumen-protected methionine, lysine, and histidine on lactation performance of dairy cows. Journal of Dairy Science, v. 99, n. 6, p. 4437-4452, 2016.
NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, ENGINEERING AND MEDICINE (NASEM), 2021. Nutrient Requirements of Dairy Cattle, 8th revised edition. NationalAcademic Science,Washington, DC, USA480 p.
SINCLAIR, K.; GARNSWORTHY, P.; MANN, G.; SINCLAIR, L. Reducing dietary protein in dairy cow diets: Implications for nitrogen utilization, milk production, welfare and fertility. Animal, v. 8, n. 2, p. 262-274, 2014.
VAN DEN BOSSCHE, T.; GOOSSENS, K.; AMPE, B.; HAESAERT, G.; DE SUTTER, J.; DE BOEVER, J. L.; VANDAELE, L. Effect of supplementing rumen-protected methionine, lysine, and histidine to low-protein diets on the performance and nitrogen balance of dairy cows. Journal of Dairy Science, v. 106, n. 3, p. 1790-1802, 2023.