As leveduras vêm sendo utilizadas para a formulação de dietas de vacas leiteiras com o objetivo de alterar o perfil bacteriano, prevenindo distúrbios ruminais e aumentando a produtividade das vacas e sua eficiência alimentar. Experimentos com bezerras já foram realizados e a revisão desses estudos demonstrou que oito relataram diminuição nos índices de diarreia e três não demonstraram efeito desse aditivo (Alugongo et al., 2017).
Estudos com leveduras em novilhas são recentes, sendo que a maioria dos experimentos feitos com animais jovens ocorreram durante a fase de cria. Entretanto, um estudo recente utilizou 45 novilhas associando levedura ou não a três tipos de volumosos: silagem de milho (SM), pré-secado de alfafa (PA) e feno de gramínea (FG) (Mitchell e Heinrichs, 2020). Os animais foram desmamados às 6 semanas de idade e alojados individualmente. O período de avaliação do experimento foi da sétima à décima sexta semana de idade, sendo que da sétima à nona semana o concentrado foi fornecido separado do volumoso, e da nona semana ao final do experimento, a dieta foi fornecida totalmente misturada. A composição das dietas encontra-se na Tabela 1. O experimento avaliou consumo, desempenho, parâmetros de saúde, digestibilidade e fermentação ruminal das diferentes dietas.
O enchimento ruminal dos animais é controlado principalmente pela quantidade de amido e fibra ingeridos. No caso da dieta SM, que possuía o maior nível de amido, o consumo de matéria seca (CMS) foi controlado pela maior glicose circulante. A alta concentração de glicose sanguínea aumenta a disponibilidade desse metabólito para a oxidação no fígado, estimulando negativamente o consumo (Silva et al., 2020). Apesar das dietas do experimento terem sido balanceadas para possuir a mesma quantidade de FDN, os tipos de fibra de cada volumoso eram distintos fazendo com que as diferentes dietas tivessem digestibilidades e taxas de agem distintas.
Os animais que receberam as dietas PA e FG tiveram o consumo limitado pelo enchimento ruminal da fibra, mas como a FDN da alfafa possui alta digestibilidade, a taxa de agem foi maior, e consequentemente o CMS dessa dieta também. Dessa forma, o consumo total das dietas foi menor para FG e não houve diferença entre SM e PA (sendo de 2,90, 2,68 e 2,93 kg/dia para SM, FG e PA, respectivamente). O motivo para o menor consumo da dieta FG está relacionado com a menor taxa de agem no trato gastrintestinal.
Já o uso ou não de levedura não alterou o CMS da dieta. A revisão de Alugongo et al. (2017) sobre o uso de levedura em dietas de bezerras demonstrou uma melhor ação do tratamento em animais que estavam em situação de estresse (transporte, mudança de dietas, mochação ou diarreia). Possivelmente o aumento no CMS não foi observado já que as novilhas do experimento não estavam em estresse. Isso foi constatado pela quantidade de haptoglobina circulante nos animais e pelos escores de fezes avaliados.
Em relação ao desempenho das novilhas, o peso final e o ganho médio diário foram maiores para a dieta SM em relação a FG. Já animais da dieta PA obtiveram valor intermediário nos dois parâmetros, que foi estatisticamente similar aos dois outros tratamentos. O escore fecal das novilhas também não diferiu com o uso ou não de levedura. Apesar de oito experimentos na literatura demonstrarem o efeito da levedura na diminuição de diarreia durante a fase de cria, o sistema imunológico dos animais já era mais desenvolvido na fase avaliada por esse experimento. Além disso, os desafios e níveis de estresse dos animais nesse experimento eram baixos.
A digestibilidade da matéria seca foi igual para todas as dietas, porém houve uma diminuição com o aumento da idade das novilhas, atingindo o valor de 73,5% com 11 semanas e de 71,2% com 15 semanas de idade. Esse resultado é esperado, pois a quantidade ingerida pelas novilhas aumenta com a idade, e esse fator aumenta a taxa de agem do alimento no trato gastrintestinal, o que resulta em menores digestibilidades.
Demais estudos demonstraram que a levedura aumenta a digestibilidade da dieta, principalmente pelo estímulo do crescimento de bactérias ruminais fibrolíticas, que aumentaram a degradabilidade da FDN e FDA (Lascano et al., 2012). Entretanto, esse efeito não foi observado nesse experimento, acredita-se que isso foi motivado pelo baixo teor de FDN nas dietas, em torno de 20%.
O pH ruminal não foi afetado com a inclusão de levedura e nem pelo tipo de forragem utilizada. Porém o pH foi alterado com a idade das novilhas, sendo menor quando esses animais eram mais jovens. Uma possível explicação para isso seria o aumento do consumo, que estimula a ruminação e a maior salivação, o que resultaria em maior capacidade tamponante do rúmen (McBurney et al., 1983). Outra explicação seria que a produção de ácidos graxos voláteis (AGV) por animais jovens ultraou sua capacidade absortiva do rúmen (Williams et al., 1987).
Contudo, Mitchell e Heinrichs (2020) demonstraram que as dietas a base de SM, PA e FG podem ser usadas com sucesso na fase de recria, gerando ganhos entre 0,75 e 1,03 kg/dia. A utilização de FG reduziu o CMS, o que levou a menor valor de GMD, mas apenas uma tendência na redução do peso final dos animais. Os maiores pesos finais foram para as dietas SM. Isso pode ser atribuído ao maior ganho numérico de SM, apesar desse ganho não ser estatisticamente diferente de PA. Entretanto, todas as dietas geraram um ganho desejável, permitindo que as novilhas entrem na fase reprodutiva por volta de 13-15 meses e que o primeiro parto das novilhas ocorra entre 23 e 25 messes.
O fornecimento de leveduras não influenciou no consumo, GMD e digestibilidade para novilhas entre 7 e 16 semanas. Entretanto, ocorreu uma interação entre o tipo de forragem e a utilização de levedura na fermentação ruminal e na produção de AGVs, indicando que a levedura influencia distintamente a fermentação ruminal para cada tipo de volumoso, sendo que influenciou positivamente as dietas SM e PA. Esse é o primeiro trabalho publicado utilizando leveduras para novilhas de leite. Devido a isso, mais trabalhos com novilhas em diferentes condições precisam ser realizados para que mais conclusões sobre o assunto sejam feitas.
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Referências
Alugongo, G.M., J. Xiao, Z. Wu, S. Li, Y. Wang, and Z. Cao. 2017. Review: Utilization of yeast of Saccharomyces cerevisiae origin in artificially raised calves. J. Anim. Sci. Biotechnol. 8:1–12. doi:10.1186/s40104-017-0165-5.
McBurney, M. I., P. J. Van Soest, and L. E. Chase. 1983. Cation exchange capacity and buffering capacity of neutral-detergent fibres. J. Sci. Food Agric. 34:910–916. https://doi.org/10.1002/jsfa .2740340903.
Mitchell, L.K., and A.J. Heinrichs. 2020. Feeding various forages and live yeast culture on weaned dairy calf intake, growth, nutrient digestibility, and ruminal fermentation. J. Dairy Sci. 103:8880–8897. doi:10.3168/jds.2020-18479.
Lascano, G.J., A.J. Heinrichs, and J.M. Tricarico. 2012. Substitution of starch by soluble fiber and Saccharomyces cerevisiae dose response on nutrient digestion and blood metabolites for precision-fed dairy heifers1. J. Dairy Sci. 95:3298–3309. doi:10.3168/jds.2011-5047.
Silva, B., M.V.C. Pacheco de Castro, L.A. Godoi, H.M. Alhadas, J.M.V. Pereira, L.N. Rennó, E. Detmann, P.V.R. Paulino, J.P. Schoonmaker, and S. de Campos Valadares Filho. 2020. Reconstituted and ensiled corn or sorghum grain: Impacts on dietary nitrogen fractions, intake, and digestion sites in young Nellore bulls. PLoS One 15:1–17. doi:10.1371/journal.pone.0237381.
Williams, P. E. V., R. J. Fallon, G. M. Innes, and P. Garthwaite. 1987. Effects on food intake, rumen development and live weight of calves of replacing barley with sugar beet-citrus pulp in a starter diet. Anim. Sci. 44:65–73. https://doi.org/10.1017/S0003356100028075.