No úlitmo artigo publicado em minha coluna, entitulado "Utilização de resíduos como fertilizantes: é possível?", abordei como o conceito do balanço de nutrientes é válido para fazer com que utilizemos os resíduos como fertilizante com segurança ambiental e benefícios econômicos e agronômicos.
Neste artigo apresento um caso prático de como aplicarmos o conceito de balanço de nutrientes para o uso do dejeto leiteiro em uma área de pastagem.
A realidade da fazenda:
*A quantidade de efluente gerado por vaca em lactação por dia (55 L) é resultado do monitoramento de hidrômetro instalado na sala de ordenha e que mede os consumos de lavagem de pisos, equipamento de ordenha e tanques de leite. Na lavagem dos pisos não é feita a raspagem antes para retirada do esterco e é utilizada água com pressão na lavagem.
O cálculo da quantidade de dejeto disponível a cada 60 dias é:
- 1 Vaca em Lactação = 55 L de efluente/dia
- 40 Vacas em Lactação = 2.200 L de efluente/dia
- A cada 60 dias de armazenamento na lagoa/esterqueira se têm disponível: 2.200 L x 60 dias = 132.000 L ou 132 m3
- Em um ano se tem disponível: 132 m3 x 6* (vezes de descarga da lagoa/esterqueira no ano) = 792 m3
- Disponibilidade anual de dejeto por hectare de pastagem: 792 m3 / 18 ha = 44 m3 de dejeto/ha/ano
O produtor realizou a análise do dejeto em laboratório antes da aplicação, tendo os seguintes resultados:
Considerando disponibilidade de 200 mg/L de N (= 0,2 kg/m3) e eficiência de uso do nitrogênio de 25% (a perda do N por volatilização é um processo natural quando se faz a aplicação superficial do dejeto no solo e depende das condições climáticas e do solo).
44 m3/ha/ano = carga aproximada de 2,2 kg de nitrogênio/ha/ano
Considerando disponibilidade de 30 mg/L de P2O5 (= 0,03 kg/m3) e eficiência de uso do fósforo de 80%
44 m3/ha/ano = carga aproximada de 1,05 kg de P2O5/ha/ano
Considerando disponibilidade de 400 mg/L de K2O (= 0,4 kg/m3) e eficiência de uso do potássio de 100%
44 m3/ha/ano = carga aproximada de 17,6 kg de K2O/ha/ano
Considerou-se, de acordo com a classificação do Manual de Recomendação para o Uso de Fertilizantes em Minas Gerais, que o nível tecnológico da área de pastagem é Médio.
Considerando esta classificação e os níveis de fósforo e potássio avaliados na análise de solo, a recomendação de adubação para área é:
Economia pelo uso do dejeto em substituição ao fertilizante químico
O cálculo do valor do nutriente foi feito com base no preço médio de mercado dos fertilizantes equivalentes pagos pelo produtor em 2021 em Minas Gerais, segundo a Conab (2021).
Utilizou-se: Ureia (45% de N) como fonte de nitrogênio (média de R$ 3.634/Ton.), Superfosfato simples (18% P2O5) como fonte de fósforo (média de R$ 115 sc. 50 kg), Cloreto de potássio (60% K2O) como fonte de potássio (média de R$ 78 sc. 25 kg).
A economia de R$ 2.210,50 equivale à compra de 609 kg de ureia. O produtor tem que comprar 2.660 kg de N (150 kg de N/ha*18 ha – 1,5% via dejeto) para suprir a necessidade de adubação nitrogenada.
Então a economia pelo uso do resíduo como fertilizante possibilita comprar 10,3% da necessidade de nitrogênio na forma de ureia.
Quantidade de Nitrogênio e Fósforo disponível no Solo no Segundo e Terceiro Ano:
Por ser um sistema semi-confinado, sabemos que os animais em lactação irão ter o à área de pastagem por algumas horas do dia. Essa área receberá fezes e urina. Estes resíduos são distribuídas de forma desigual na área de pastagem. Há tendência das fezes e urina estarem concentradas nas áreas onde há a oferta de água e alimento. A contribuição em nutrientes das fezes e urina não foi considerada no Balanço de Nutrientes.
No próximo artigo veremos uma recomendação prática de como utilizar o dejeto para adubação de uma área de milho silagem. Até lá!