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Saúde única na pecuária

Saúde Única: conceito não tão novo e na moda, mas fundamental se realmente quisermos ter uma produção de alimentos sustentável. Leia mais!

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Vivemos uma “tempestade imperfeita” de conceitos no mundo agropecuário. Termos como: economia circular, bioeconomia, ASG (Ambiental-Social-Governança), agricultura regenerativa, NetZero, sequestro de carbono, etc.

Dizemos que a tempestade é imperfeita porque estes termos estão presentes nas narrativas cotidianas dos atores agropecuários, mas poucos sabem o real significado do termo que estão utilizando e, ainda mais preocupante, como aplicar o conceito no dia-a-dia dos sistemas de produção e das cadeias agroindustriais.

Neste texto iremos abordar um destes termos, o de Saúde Única. Conceito não tão novo e na moda, mas fundamental se realmente quisermos ter uma produção de alimentos sustentável. E iremos destacar duas dimensões do conceito e suas aplicabilidades, o bem-estar animal e o manejo dos resíduos dos animais.

 

Saúde Única

O conceito de Saúde Única foi sendo elaborado por décadas. Entende-se que a primeira iniciativa neste sentido foi feita pelo médico veterinário Calvin Schwabe em 1964 que estabeleceu na Universidade da Califórnia-Davis um Departamento para tratar conjuntamente das questões das ciências da saúde animal e humana. A partir deste momento, o conceito é discutido em várias conferências, até que em 2012 na primeira Conferência de Saúde Única realizada em Davos-Suíça é apresentada uma primeira definição do conceito (CDC, 2023).

Em Maio de 2021 quatro agências da Organização das Nações Unidas (ONU) Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambient (PNUMA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS)] que têm relação direta com a aplicação do conceito de Saúde Única estabeleceram o de Especialistas de Alto Nível em Saúde (OHHLEP, sigla em inglês).

O identificou que o conceito vinha tendo diferentes definições e formas de aplicação. Portanto, estabeleceu como prioridade imediata propor uma definição de entendimento comum entre os membros do e as organizações parceiras, bem como para o público mais amplo.
 

O que é saúde única?

A definição de Saúde Única proposta pelo OHHLEP foi: Saúde Única é uma abordagem integrada e unificadora que visa equilibrar e otimizar a saúde das pessoas, animais e ecossistemas. Reconhece-se que a saúde dos humanos, animais domésticos e selvagens, plantas e o ambiente (incluindo ecossistemas) estão intimamente ligados e são interdependentes (Adisasmito et al., 2022).

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Os especialistas destacam que a definição deve ser considerada como um conjunto abrangente de princípios orientadores que podem ser adaptados às realidades de cada local, região e país.

Os princípios que baseiam a abordagem de Saúde Única adaptado de Adisasmito et al. (2022) são:

  1. Equidade, entre setores e disciplinas;
  2. Igualdade, todas as pessoas são iguais e merecem direitos e oportunidades iguais e devem ser incluídas no processo;
  3. Equilíbrio entre humanos–animais-ambiente, reconhecendo o valor intrínseco de todos os seres vivos dentro do ecossistema;
  4. Responsabilidade, dos seres humanos para mudar o comportamento e adotar soluções que reconhecem a importância do bem-estar animal e da integridade de todo o ecossistema;
  5. Transdisciplinaridade e Colaboração.

 

Bem-Estar Animal

O Bem-Estar animal é um conceito discutido desde a década de 60. Apesar das diversas definições que foram estabelecidas ao longo dos anos, atualmente, a definição utilizada pelo Conselho de Bem-Estar Animal (FAWC, sigla em inglês) é baseada nas cinco liberdades:

  1. Liberdade de fome e de sede;
  2. Liberdade de desconforto;
  3. Liberdade de dor, doença e injúria;
  4. Liberdade para expressar o comportamento;
  5. Liberdade de medo e estresse.

Também há autores que o caracterizam como uma adaptação bem-sucedida ao ambiente ou uma disposição mental e física positiva.

O bem-estar dos animais no sistema de produção é influenciado pelo contexto em que se inserem e pela percepção pelo animal do ambiente. Um nível elevado de bem-estar tem benefícios visíveis, tanto na produtividade do rebanho, como nos índices de mortalidade e morbidade, redução das respostas de estresse nos animais, etc.

Um dos fatores que influencia o bem-estar dos animais é a qualidade da interação que estabelecem com os seres humanos. Estudos comprovam que o bem-estar dos trabalhadores e dos animais está interligado. Uma saúde humana mental pobre irá afetar a qualidade de vida dentro e fora do trabalho e irá gerar um ciclo de estresse aos humanos e nos animais, maior negatividade ao trabalhador e mais exaustão na sua vida pessoal.

As medidas de segurança no trabalho também são importantes. Os trabalhadores devem tomar todos os cuidados como: lavar as mãos com frequência, utilizar vestuário apropriado, utilizar os instrumentos corretos para desempenhar determinada tarefa, etc.

Um nível elevado de bem-estar está relacionado a um elevado nível de sanidade. A biossegurança nas explorações é à base para a sanidade, por exemplo, ao evitar a entrada de novos micro organismos patogénicos, ao fazer a correta limpeza e desinfecção das instalações de forma frequente etc.

Para garantir o bem-estar animal é imprescindível o profissional ser responsável por tudo o que lhe compete (esteja ou não numa posição de autoridade). É também imprescindível possuir valores morais e profissionais. Sem estes dois atributos não há uma garantia de preocupação com o animal e com o ambiente. O profissional deve ter consciência para mudança e para realizar o que é correto, mesmo quando ninguém vê e quando não se tem reconhecimento pessoal.

Vários são os desafios que existem e, muitos destes, não estão sob o controle dos profissionais, como as obrigações legais que as empresas têm que respeitar, além das limitações que podem eventualmente ter. Estas irão impactar a forma de gestão dos animais e do ambiente.

Outro desafio é manter uma constante atualização de conhecimentos, não só através da participação em congressos e uma rede de contatos, mas também de revistas ou sites de qualidade dedicados aos assuntos.

Não menos importante, é a conscientização dos problemas que as fazendas podem ter na manutenção da saúde animal-humana-ambiental e do impacto que todas as ações humanas podem ter nos animais, no ambiente, nos colaboradores, na empresa, no local onde se inserem e no mundo.

 

Manejo de Dejetos

Definimos o manejo dos dejetos como: o uso cotidiano de conhecimentos, práticas e tecnologias que reduzem o impacto ambiental da atividade e melhorem a eficiência de uso de nutrientes. Vê-se que manejar os dejetos animais não é simples, pois envolve ao conhecimento de várias disciplinas (ex. física, química, matemática, biologia, etc.) e várias áreas do conhecimento (ex. hidrologia, microbiologia, uso do solo e da água, etc.). Além do conhecimento da legislação ambiental.

O manejo dos dejetos dos animais por si só já é uma ação de amplo espectro e, quando relacionado ao conceito de Saúde Única, a complexidade disso tudo ainda é maior. Alguém já disse que não há soluções simples para questões complexas. Se alguém lhe promete uma solução simples, desconfie! Fórmulas mágicas só existem no imaginário humano. No dia-a-dia resolvemos os problemas complexos com o que há de melhor em termos de conhecimento.

Vamos partir do manejo de dejeto mais simples e comum que encontramos nas propriedades pecuárias, o uso destes como fertilizante. É sabido que os dejetos são fontes de água e nutrientes, recursos indispensáveis para todas as culturas vegetais. Mas os dejetos também podem ser fonte de resíduos de antibióticos excretados pelos animais por suas fezes e urina.

Dependendo de uma série de condições produtivas e ambientais da área de aplicação dos dejetos, os resíduos de antibióticos podem atingir os corpos d´água superficiais e subterrâneos. Estes corpos d´água são fontes de água para humanos e animais. Estes, ao consumirem estas águas, podem desenvolver resistência aos antibióticos que, quando istrados, não terão efeito de tratamento.

Vê-se que uma prática corriqueira na produção animal, o uso de antibióticos, está relacionada a outra prática corriqueira que é o uso dos dejetos como fertilizante e, que ambas, podem afetar as saúdes humana, animal e ambiental.

Outro exemplo que podemos citar se relaciona as mudanças climáticas e o potencial de aquecimento do planeta. Os animais são emissores de gases do efeito estufa (metano, no caso de ruminantes), bem como os dejetos de todos os animais também emitem estes gases (metano e óxido nitroso). Uma prática nutricional errada, que determine maior emissão de metano pelo animal ou o incorreto manejo do sistema de tratamento do dejeto ou de seu uso como fertilizante, que determinem maiores emissões de metano e óxido nitroso, irão contribuir para o processo de aquecimento do planeta e este irá afetar a saúde humana, animal e ambiental.

 

Considerações finais

Entendemos que os desafios para que o conceito de Saúde Única seja aplicado, de fato, no cotidiano das produções animais em suas dimensões de bem-estar animal e manejo dos resíduos, envolvem:

  • Necessidade de conhecimento das interações, dos fluxos e das sinergias do sistema de produção nas dimensões humana, animal e ambiental. Só com base neste conhecimento é possível propor ações que promovam a Saúde Única;
     
  • Necessidade de capacitações de pesquisadores, extensionistas, profissionais agropecuários, atores agroindustriais e colaboradores da fazenda em como identificar e aplicar o conceito da Saúde Única nas rotinas e práticas produtivas;
     
  • Necessidade de pesquisas transdisciplinares e multi institucionais, integrando informações e conhecimentos, para aplicação do conceito de forma sistêmica, menos compartimentada;
     
  • Necessidade de esforços colaborativos que incluam o envolvimento da medicina humana e animal com as ciências ambientais, bem como com profissionais das ciências de saúde humana com as ciências agrárias e ambientais;
     
  • Necessidade de mudança do paradigma produtivo onde a rentabilidade econômica não seja o único objetivo, mas sim o equilíbrio do sistema de produção nas suas dimensões humana, animal e ambiental, pois é isso que garantirá a perenidade da rentabilidade econômica.
     

Gostou do conteúdo? Deixe seu like e seu comentário, isso nos ajuda a saber que conteúdos são mais interessantes para você.
 

 

Bibliografia Consultada

Adisasmito, W.B., Almuhairi, S., Behravesh, C,B,, Bilivogui, P., Bukachi, S.A. et al. 2022. One Health: A new definition for a sustainable and healthy future. PLoS Pathog 18(6): e1010537. https://doi.org/10.1371/journal.ppat.1010537

Centers for Disease Control and Prevention (CDC). One Health: History. 2023.

https://www.cdc.gov/onehealth/basics/history/index.html#:~:text=February%2019%2D22%2C%202012%2C,on%20food%20safety%20and%20security

Farm Animal Welfare Council. Farm Animal Welfare in Great Britain: Past, Present and Future. 2009. http://www.fawc.org.uk

 

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Material escrito por:

Julio Cesar Pascale Palhares

Julio Cesar Pascale Palhares

Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste

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Vivemos uma “tempestade imperfeita” de conceitos no mundo agropecuário. Termos como: economia circular, bioeconomia, ASG (Ambiental-Social-Governança), agricultura regenerativa, NetZero, sequestro de carbono, etc.

Dizemos que a tempestade é imperfeita porque estes termos estão presentes nas narrativas cotidianas dos atores agropecuários, mas poucos sabem o real significado do termo que estão utilizando e, ainda mais preocupante, como aplicar o conceito no dia-a-dia dos sistemas de produção e das cadeias agroindustriais.

Neste texto iremos abordar um destes termos, o de Saúde Única. Conceito não tão novo e na moda, mas fundamental se realmente quisermos ter uma produção de alimentos sustentável. E iremos destacar duas dimensões do conceito e suas aplicabilidades, o bem-estar animal e o manejo dos resíduos dos animais.

 

Saúde Única

O conceito de Saúde Única foi sendo elaborado por décadas. Entende-se que a primeira iniciativa neste sentido foi feita pelo médico veterinário Calvin Schwabe em 1964 que estabeleceu na Universidade da Califórnia-Davis um Departamento para tratar conjuntamente das questões das ciências da saúde animal e humana. A partir deste momento, o conceito é discutido em várias conferências, até que em 2012 na primeira Conferência de Saúde Única realizada em Davos-Suíça é apresentada uma primeira definição do conceito (CDC, 2023).

Em Maio de 2021 quatro agências da Organização das Nações Unidas (ONU) Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambient (PNUMA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS)] que têm relação direta com a aplicação do conceito de Saúde Única estabeleceram o de Especialistas de Alto Nível em Saúde (OHHLEP, sigla em inglês).

O identificou que o conceito vinha tendo diferentes definições e formas de aplicação. Portanto, estabeleceu como prioridade imediata propor uma definição de entendimento comum entre os membros do e as organizações parceiras, bem como para o público mais amplo.
 

O que é saúde única?

A definição de Saúde Única proposta pelo OHHLEP foi: Saúde Única é uma abordagem integrada e unificadora que visa equilibrar e otimizar a saúde das pessoas, animais e ecossistemas. Reconhece-se que a saúde dos humanos, animais domésticos e selvagens, plantas e o ambiente (incluindo ecossistemas) estão intimamente ligados e são interdependentes (Adisasmito et al., 2022).

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Os especialistas destacam que a definição deve ser considerada como um conjunto abrangente de princípios orientadores que podem ser adaptados às realidades de cada local, região e país.

Os princípios que baseiam a abordagem de Saúde Única adaptado de Adisasmito et al. (2022) são:

  1. Equidade, entre setores e disciplinas;
  2. Igualdade, todas as pessoas são iguais e merecem direitos e oportunidades iguais e devem ser incluídas no processo;
  3. Equilíbrio entre humanos–animais-ambiente, reconhecendo o valor intrínseco de todos os seres vivos dentro do ecossistema;
  4. Responsabilidade, dos seres humanos para mudar o comportamento e adotar soluções que reconhecem a importância do bem-estar animal e da integridade de todo o ecossistema;
  5. Transdisciplinaridade e Colaboração.

 

Bem-Estar Animal

O Bem-Estar animal é um conceito discutido desde a década de 60. Apesar das diversas definições que foram estabelecidas ao longo dos anos, atualmente, a definição utilizada pelo Conselho de Bem-Estar Animal (FAWC, sigla em inglês) é baseada nas cinco liberdades:

  1. Liberdade de fome e de sede;
  2. Liberdade de desconforto;
  3. Liberdade de dor, doença e injúria;
  4. Liberdade para expressar o comportamento;
  5. Liberdade de medo e estresse.

Também há autores que o caracterizam como uma adaptação bem-sucedida ao ambiente ou uma disposição mental e física positiva.

O bem-estar dos animais no sistema de produção é influenciado pelo contexto em que se inserem e pela percepção pelo animal do ambiente. Um nível elevado de bem-estar tem benefícios visíveis, tanto na produtividade do rebanho, como nos índices de mortalidade e morbidade, redução das respostas de estresse nos animais, etc.

Um dos fatores que influencia o bem-estar dos animais é a qualidade da interação que estabelecem com os seres humanos. Estudos comprovam que o bem-estar dos trabalhadores e dos animais está interligado. Uma saúde humana mental pobre irá afetar a qualidade de vida dentro e fora do trabalho e irá gerar um ciclo de estresse aos humanos e nos animais, maior negatividade ao trabalhador e mais exaustão na sua vida pessoal.

As medidas de segurança no trabalho também são importantes. Os trabalhadores devem tomar todos os cuidados como: lavar as mãos com frequência, utilizar vestuário apropriado, utilizar os instrumentos corretos para desempenhar determinada tarefa, etc.

Um nível elevado de bem-estar está relacionado a um elevado nível de sanidade. A biossegurança nas explorações é à base para a sanidade, por exemplo, ao evitar a entrada de novos micro organismos patogénicos, ao fazer a correta limpeza e desinfecção das instalações de forma frequente etc.

Para garantir o bem-estar animal é imprescindível o profissional ser responsável por tudo o que lhe compete (esteja ou não numa posição de autoridade). É também imprescindível possuir valores morais e profissionais. Sem estes dois atributos não há uma garantia de preocupação com o animal e com o ambiente. O profissional deve ter consciência para mudança e para realizar o que é correto, mesmo quando ninguém vê e quando não se tem reconhecimento pessoal.

Vários são os desafios que existem e, muitos destes, não estão sob o controle dos profissionais, como as obrigações legais que as empresas têm que respeitar, além das limitações que podem eventualmente ter. Estas irão impactar a forma de gestão dos animais e do ambiente.

Outro desafio é manter uma constante atualização de conhecimentos, não só através da participação em congressos e uma rede de contatos, mas também de revistas ou sites de qualidade dedicados aos assuntos.

Não menos importante, é a conscientização dos problemas que as fazendas podem ter na manutenção da saúde animal-humana-ambiental e do impacto que todas as ações humanas podem ter nos animais, no ambiente, nos colaboradores, na empresa, no local onde se inserem e no mundo.

 

Manejo de Dejetos

Definimos o manejo dos dejetos como: o uso cotidiano de conhecimentos, práticas e tecnologias que reduzem o impacto ambiental da atividade e melhorem a eficiência de uso de nutrientes. Vê-se que manejar os dejetos animais não é simples, pois envolve ao conhecimento de várias disciplinas (ex. física, química, matemática, biologia, etc.) e várias áreas do conhecimento (ex. hidrologia, microbiologia, uso do solo e da água, etc.). Além do conhecimento da legislação ambiental.

O manejo dos dejetos dos animais por si só já é uma ação de amplo espectro e, quando relacionado ao conceito de Saúde Única, a complexidade disso tudo ainda é maior. Alguém já disse que não há soluções simples para questões complexas. Se alguém lhe promete uma solução simples, desconfie! Fórmulas mágicas só existem no imaginário humano. No dia-a-dia resolvemos os problemas complexos com o que há de melhor em termos de conhecimento.

Vamos partir do manejo de dejeto mais simples e comum que encontramos nas propriedades pecuárias, o uso destes como fertilizante. É sabido que os dejetos são fontes de água e nutrientes, recursos indispensáveis para todas as culturas vegetais. Mas os dejetos também podem ser fonte de resíduos de antibióticos excretados pelos animais por suas fezes e urina.

Dependendo de uma série de condições produtivas e ambientais da área de aplicação dos dejetos, os resíduos de antibióticos podem atingir os corpos d´água superficiais e subterrâneos. Estes corpos d´água são fontes de água para humanos e animais. Estes, ao consumirem estas águas, podem desenvolver resistência aos antibióticos que, quando istrados, não terão efeito de tratamento.

Vê-se que uma prática corriqueira na produção animal, o uso de antibióticos, está relacionada a outra prática corriqueira que é o uso dos dejetos como fertilizante e, que ambas, podem afetar as saúdes humana, animal e ambiental.

Outro exemplo que podemos citar se relaciona as mudanças climáticas e o potencial de aquecimento do planeta. Os animais são emissores de gases do efeito estufa (metano, no caso de ruminantes), bem como os dejetos de todos os animais também emitem estes gases (metano e óxido nitroso). Uma prática nutricional errada, que determine maior emissão de metano pelo animal ou o incorreto manejo do sistema de tratamento do dejeto ou de seu uso como fertilizante, que determinem maiores emissões de metano e óxido nitroso, irão contribuir para o processo de aquecimento do planeta e este irá afetar a saúde humana, animal e ambiental.

 

Considerações finais

Entendemos que os desafios para que o conceito de Saúde Única seja aplicado, de fato, no cotidiano das produções animais em suas dimensões de bem-estar animal e manejo dos resíduos, envolvem:

  • Necessidade de conhecimento das interações, dos fluxos e das sinergias do sistema de produção nas dimensões humana, animal e ambiental. Só com base neste conhecimento é possível propor ações que promovam a Saúde Única;
     
  • Necessidade de capacitações de pesquisadores, extensionistas, profissionais agropecuários, atores agroindustriais e colaboradores da fazenda em como identificar e aplicar o conceito da Saúde Única nas rotinas e práticas produtivas;
     
  • Necessidade de pesquisas transdisciplinares e multi institucionais, integrando informações e conhecimentos, para aplicação do conceito de forma sistêmica, menos compartimentada;
     
  • Necessidade de esforços colaborativos que incluam o envolvimento da medicina humana e animal com as ciências ambientais, bem como com profissionais das ciências de saúde humana com as ciências agrárias e ambientais;
     
  • Necessidade de mudança do paradigma produtivo onde a rentabilidade econômica não seja o único objetivo, mas sim o equilíbrio do sistema de produção nas suas dimensões humana, animal e ambiental, pois é isso que garantirá a perenidade da rentabilidade econômica.
     

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Bibliografia Consultada

Adisasmito, W.B., Almuhairi, S., Behravesh, C,B,, Bilivogui, P., Bukachi, S.A. et al. 2022. One Health: A new definition for a sustainable and healthy future. PLoS Pathog 18(6): e1010537. https://doi.org/10.1371/journal.ppat.1010537

Centers for Disease Control and Prevention (CDC). One Health: History. 2023.

https://www.cdc.gov/onehealth/basics/history/index.html#:~:text=February%2019%2D22%2C%202012%2C,on%20food%20safety%20and%20security

Farm Animal Welfare Council. Farm Animal Welfare in Great Britain: Past, Present and Future. 2009. http://www.fawc.org.uk

 

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