cos. Produzir alimento é uma atividade intensiva no uso da água, tanto em quantidade como em qualidade. Os padrões de qualidade de água para o consumo de animais são semelhantes ao de humanos. No Brasil esses padrões são regulados pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama)." />

Uso da água e produção animal

A crise da água está presente nos noticiários. Na apresentação do problema é comum dizer que a agropecuária é a grande consumidora de água no Brasil. Isso é um fato, não só para o Brasil, mas para todos os países que têm nas atividades agropecuárias um de seus pilares econômicos. Produzir alimento é uma atividade intensiva no uso da água, tanto em quantidade como em qualidade. Os padrões de qualidade de água para o consumo de animais são semelhantes ao de humanos. No Brasil esses padrões são regulados pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).

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A crise da água está presente nos noticiários. Na apresentação do problema é comum dizer que a agropecuária é a grande consumidora de água no Brasil. Isso é um fato, não só para o Brasil, mas para todos os países que têm nas atividades agropecuárias um de seus pilares econômicos. Produzir alimento é uma atividade intensiva no uso da água, tanto em quantidade como em qualidade. Os padrões de qualidade de água para o consumo de animais são semelhantes ao de humanos. No Brasil esses padrões são regulados pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).
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Frequentemente, são divulgados números mostrando a relação entre a quantidade de água necessária para se produzir um quilograma de soja, uma xícara de café, um pão francês ou um litro de leite. Esses números espantam devido a sua grandeza e levantam questionamentos.

Divulga-se que para produzir um quilograma de carne bovina consome-se 15,5 mil litros de água. Esse número não representa a quantidade consumida pelo animal durante seu ciclo produtivo, mas a pegada hídrica da carne bovina. Nesse cálculo são considerados os seguintes consumos de água: para produção dos alimentos fornecidos aos animais; dessedentação e serviços; diluição dos efluentes da produção; e a consumida no transporte, processamento e abate dos animais. Estudos da Embrapa Pecuária Sudeste para produção de bovinos em confinamento indicam um consumo médio de 38 litros de água por animal diariamente.

A pegada hídrica é uma métrica ambiental composta por componentes indiretos (água utilizada na produção dos alimentos) e diretos (água consumida na dessedentação e serviços). O cálculo pode ter como “fronteira” uma fazenda, região, Estado ou país. Portanto, na interpretação do valor deve estar claro o que foi considerado e qual a “fronteira”. Por exemplo, pode-se ter uma pegada de 150 litros por quilo de carne. Neste caso, certamente a “fronteira” utilizada foi reduzida, limitando-se a uma fazenda, por exemplo. Sem esses esclarecimentos a interpretação do valor conduz a erros.

O valor de 15,5 mil litros por quilograma de carne bovina é uma média mundial, calculada a partir de um sistema de produção de referência. Para se chegar a esse número o sistema estabelecido foi o industrial, com uma média de três anos para o animal ser abatido e produzir 200 kg de carne. Nesse sistema o animal consome cerca de 1,3 mil quilos de grãos, 7,2mil quilos de volumosos, 24m3 de água de bebida e 7m3 de água para serviços. Vê-se que o sistema tido como padrão não representa o brasileiro. Os autores do método sempre reforçam que os valores obtidos com o cáculo da pegada hídrica não devem ser comparados, pois a água tem um forte componente local. O entendimento do valor deve estar relacionado a oferta hídrica da região produtora. Assim, a pegada hídrica da carne produzida em uma região que não a por um momento de escassez do recurso, terá um impacto reduzido frente a uma região na qual há conflito pelo uso.Os valores da pegada hídrica variam muito entre países e sistemas de produção. Cabe aos especialistas gerarem valores que reflitam a realidade brasileira.

O cálculo é uma ferramenta técnica, como tal, pode ser utilizada de forma errada e ser mal interpretada. Isso não invalida seu uso para auxiliar na geração de conhecimentos e proposição de manejos que dêem maior eficiência hídrica às produções.

O foco da discussão sobre água e produção de alimentos hoje é a crise hídrica. Mas o fim da discussão não deve ocorrer com o término da crise. Para isso, o manejo hídrico deve ser internalizado nos sistemas de produção. Praticando esse manejo, os riscos serão menores, a segurança hídrica será maior e o recurso será utilizado com maior eficiência.

A pecuária do futuro se fará com visão sistêmica e mudanças culturais. O foco não é mais o produto. O foco é o produto com valores ambientais, sociais e culturais.

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Material escrito por:

Julio Cesar Pascale Palhares

Julio Cesar Pascale Palhares

Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste

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Celso Fernando Veiga
CELSO FERNANDO VEIGA

BARREIRAS - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/03/2015

Quando será discutido a capacidade deste planeta comportar a nossa espécie?

Creio que o maior problema é a quantidade de recurso natural destinado a 7,5 bilhões de humanos, e não o impacto causado pela produção deste ou daquele alimento.

Temos que em tempo curtíssimo repensar o nosso crescimento demográfico.
Qual a sua dúvida hoje?

Uso da água e produção animal

A crise da água está presente nos noticiários. Na apresentação do problema é comum dizer que a agropecuária é a grande consumidora de água no Brasil. Isso é um fato, não só para o Brasil, mas para todos os países que têm nas atividades agropecuárias um de seus pilares econômicos. Produzir alimento é uma atividade intensiva no uso da água, tanto em quantidade como em qualidade. Os padrões de qualidade de água para o consumo de animais são semelhantes ao de humanos. No Brasil esses padrões são regulados pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).

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A crise da água está presente nos noticiários. Na apresentação do problema é comum dizer que a agropecuária é a grande consumidora de água no Brasil. Isso é um fato, não só para o Brasil, mas para todos os países que têm nas atividades agropecuárias um de seus pilares econômicos. Produzir alimento é uma atividade intensiva no uso da água, tanto em quantidade como em qualidade. Os padrões de qualidade de água para o consumo de animais são semelhantes ao de humanos. No Brasil esses padrões são regulados pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).
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Frequentemente, são divulgados números mostrando a relação entre a quantidade de água necessária para se produzir um quilograma de soja, uma xícara de café, um pão francês ou um litro de leite. Esses números espantam devido a sua grandeza e levantam questionamentos.

Divulga-se que para produzir um quilograma de carne bovina consome-se 15,5 mil litros de água. Esse número não representa a quantidade consumida pelo animal durante seu ciclo produtivo, mas a pegada hídrica da carne bovina. Nesse cálculo são considerados os seguintes consumos de água: para produção dos alimentos fornecidos aos animais; dessedentação e serviços; diluição dos efluentes da produção; e a consumida no transporte, processamento e abate dos animais. Estudos da Embrapa Pecuária Sudeste para produção de bovinos em confinamento indicam um consumo médio de 38 litros de água por animal diariamente.

A pegada hídrica é uma métrica ambiental composta por componentes indiretos (água utilizada na produção dos alimentos) e diretos (água consumida na dessedentação e serviços). O cálculo pode ter como “fronteira” uma fazenda, região, Estado ou país. Portanto, na interpretação do valor deve estar claro o que foi considerado e qual a “fronteira”. Por exemplo, pode-se ter uma pegada de 150 litros por quilo de carne. Neste caso, certamente a “fronteira” utilizada foi reduzida, limitando-se a uma fazenda, por exemplo. Sem esses esclarecimentos a interpretação do valor conduz a erros.

O valor de 15,5 mil litros por quilograma de carne bovina é uma média mundial, calculada a partir de um sistema de produção de referência. Para se chegar a esse número o sistema estabelecido foi o industrial, com uma média de três anos para o animal ser abatido e produzir 200 kg de carne. Nesse sistema o animal consome cerca de 1,3 mil quilos de grãos, 7,2mil quilos de volumosos, 24m3 de água de bebida e 7m3 de água para serviços. Vê-se que o sistema tido como padrão não representa o brasileiro. Os autores do método sempre reforçam que os valores obtidos com o cáculo da pegada hídrica não devem ser comparados, pois a água tem um forte componente local. O entendimento do valor deve estar relacionado a oferta hídrica da região produtora. Assim, a pegada hídrica da carne produzida em uma região que não a por um momento de escassez do recurso, terá um impacto reduzido frente a uma região na qual há conflito pelo uso.Os valores da pegada hídrica variam muito entre países e sistemas de produção. Cabe aos especialistas gerarem valores que reflitam a realidade brasileira.

O cálculo é uma ferramenta técnica, como tal, pode ser utilizada de forma errada e ser mal interpretada. Isso não invalida seu uso para auxiliar na geração de conhecimentos e proposição de manejos que dêem maior eficiência hídrica às produções.

O foco da discussão sobre água e produção de alimentos hoje é a crise hídrica. Mas o fim da discussão não deve ocorrer com o término da crise. Para isso, o manejo hídrico deve ser internalizado nos sistemas de produção. Praticando esse manejo, os riscos serão menores, a segurança hídrica será maior e o recurso será utilizado com maior eficiência.

A pecuária do futuro se fará com visão sistêmica e mudanças culturais. O foco não é mais o produto. O foco é o produto com valores ambientais, sociais e culturais.

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BARREIRAS - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/03/2015

Quando será discutido a capacidade deste planeta comportar a nossa espécie?

Creio que o maior problema é a quantidade de recurso natural destinado a 7,5 bilhões de humanos, e não o impacto causado pela produção deste ou daquele alimento.

Temos que em tempo curtíssimo repensar o nosso crescimento demográfico.
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