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Produção de alimentos: existe alternativa para o modelo atual?

A busca por uma produção de alimentos em sinergia com o meio ambiente aumentou o interesse por formas de produção de alimentos alternativas. Saiba os caminhos!

Publicado por: vários autores

Publicado em: - 3 minutos de leitura

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A Revolução Verde, deflagrada no pós II Guerra Mundial, possibilitou à sociedade desenvolver novas formas de produção agropecuária, caracterizadas especialmente pela monocultura, melhoramento genético, uso de agrotóxicos, produção em larga escala – que vem culminando com a concentração de terras –, corrida tecnológica e utilização intensiva de insumos.

Esse modelo de produção, o qual ficou conhecido como “agropecuária ou agricultura industrial”, gera diversos impactos ambientais, como lixiviação (carreamento de substâncias químicas pela água através do solo em direção ao lençol freático), perda de biodiversidade, elevada poluição do solo, da água e do ar, além de impactos sociais e econômicos como concentração de renda. A busca por uma produção de alimentos em sinergia com o meio ambiente aumentou o interesse por formas de produção de alimentos com vistas à sustentabilidade, conhecidas genericamente como “produções agroecológicas”.

Desde 1920, sistemas agroecológicos alternativos à agricultura industrial, como a agricultura orgânica, biodinâmica, regenerativa, natural, permacultura, entre outras, foram pensados e executados em pequena escala ao redor do mundo. Neste contexto, a agroecologia surgiu como a ciência que busca base teórica para possibilidades da agricultura não-industrial dependente de insumos.

A agroecologia, portanto, visa compreender o funcionamento dos agroecossistemas e possui como princípios a conservação e a ampliação da biodiversidade dos sistemas agrícolas. A variedade de culturas dentro de uma mesma propriedade permite a auto-regulação e o aumento da probabilidade de permanência na atividade, afinal uma fonte de renda diversificada reduz o risco e gera maior resiliência no mercado. Além disso, a economia circular permitida pelos sistemas não-industriais é necessária para a ciclagem de recursos, aumentando a sustentabilidade da produção.

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Os sistemas produtivos agroecológicos, apesar de parecerem diferentes do que conhecemos habitualmente, resgatam as práticas e conhecimentos das sociedades camponesas tradicionais, em geral desprezados pela agricultura industrial.

Contudo, vale ressaltar que a agroecologia não nega a utilização de tecnologias e técnicas modernas, mas entende que sua adoção deve ocorrer conforme a realidade produtiva de cada fazenda, evitando uma padronização excessiva das propriedades agrícolas.

A homogeneização das produções agropecuárias, a qual intensifica sua vulnerabilidade, é, em parte, responsável pelo aumento dos níveis de insegurança alimentar no Brasil, fazendo-o retornar ao mapa da fome, fato exacerbado durante a pandemia da COVID-19. Além disso, a fome e a pobreza estão mais amplamente presentes no meio rural do que no meio urbano, ou seja, quem produz o alimento nem sempre tem o a ele. Esses dados permitem questionar a real contribuição do sistema agrícola vigente no histórico combate à fome mundial (Gráfico 1). 

Gráfico 1. Evolução da insegurança alimentar grave no Brasil e Grandes Regiões (A) e por situação urbana x rural do domicílio (B). Proporções relativas ao total de domicílios.

Figura 1
Fonte: Observatório das Desigualdades - Máquina do tempo: o Brasil volta ao mapa da fome (boletim nº 14 - fevereiro de 2022).
 

Este artigo não tem como objetivo restringir opções ou determinar o que está ou não correto. O objetivo, ao contrário, é mostrar que existem outras possibilidades de produção, visto que geralmente nos mostram somente um caminho para ela, e, como observado, um caminho que não tem sido eficiente no combate à fome, insegurança alimentar e busca pela sustentabilidade.

Tudo é construído no seio da sociedade. Nossos pensamentos, personalidades, opiniões, decisões, forma de nos comunicarmos, de nos transportarmos, alimentarmos, vestirmos e produzirmos: tudo é construído socialmente. Aprendemos que as coisas devem ser de tal forma e muitas vezes não questionamos porque, parece algo muito natural; mas não é. Naturalizamos a pobreza, a fome, a tragédia. E é importante que tenhamos consciência disso.

Assim, entendemos que podemos (e devemos) questionar tudo o que e como fazemos, possibilitando compreender os motivos dos manejos e buscar formas cada vez melhores de fazermos o que fazemos, com menos impacto negativo ambiental, social e econômico, melhorando a nossa vida, a vida dos animais, do planeta e das gerações futuras.

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Autores

Juliana Vieira Paz
Lucca Denucci Zanini
Augusto Hauber Gameiro

 

 

Referências

https://uenf.br/portal/wp-content/s/2022/02/Boletim-14-O-Brasil-de-volta-ao-Mapa-da-Fome.docx-1.pdf

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Material escrito por:

Juliana Vieira Paz

Juliana Vieira Paz

Médica Veterinária pela USP.

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Augusto Hauber Gameiro

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Lucca Denucci Zanini

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Lucca Denucci

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Esse modelo de produção, o qual ficou conhecido como “agropecuária ou agricultura industrial”, gera diversos impactos ambientais, como lixiviação (carreamento de substâncias químicas pela água através do solo em direção ao lençol freático), perda de biodiversidade, elevada poluição do solo, da água e do ar, além de impactos sociais e econômicos como concentração de renda. A busca por uma produção de alimentos em sinergia com o meio ambiente aumentou o interesse por formas de produção de alimentos com vistas à sustentabilidade, conhecidas genericamente como “produções agroecológicas”.

Desde 1920, sistemas agroecológicos alternativos à agricultura industrial, como a agricultura orgânica, biodinâmica, regenerativa, natural, permacultura, entre outras, foram pensados e executados em pequena escala ao redor do mundo. Neste contexto, a agroecologia surgiu como a ciência que busca base teórica para possibilidades da agricultura não-industrial dependente de insumos.

A agroecologia, portanto, visa compreender o funcionamento dos agroecossistemas e possui como princípios a conservação e a ampliação da biodiversidade dos sistemas agrícolas. A variedade de culturas dentro de uma mesma propriedade permite a auto-regulação e o aumento da probabilidade de permanência na atividade, afinal uma fonte de renda diversificada reduz o risco e gera maior resiliência no mercado. Além disso, a economia circular permitida pelos sistemas não-industriais é necessária para a ciclagem de recursos, aumentando a sustentabilidade da produção.

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Contudo, vale ressaltar que a agroecologia não nega a utilização de tecnologias e técnicas modernas, mas entende que sua adoção deve ocorrer conforme a realidade produtiva de cada fazenda, evitando uma padronização excessiva das propriedades agrícolas.

A homogeneização das produções agropecuárias, a qual intensifica sua vulnerabilidade, é, em parte, responsável pelo aumento dos níveis de insegurança alimentar no Brasil, fazendo-o retornar ao mapa da fome, fato exacerbado durante a pandemia da COVID-19. Além disso, a fome e a pobreza estão mais amplamente presentes no meio rural do que no meio urbano, ou seja, quem produz o alimento nem sempre tem o a ele. Esses dados permitem questionar a real contribuição do sistema agrícola vigente no histórico combate à fome mundial (Gráfico 1). 

Gráfico 1. Evolução da insegurança alimentar grave no Brasil e Grandes Regiões (A) e por situação urbana x rural do domicílio (B). Proporções relativas ao total de domicílios.

Figura 1
Fonte: Observatório das Desigualdades - Máquina do tempo: o Brasil volta ao mapa da fome (boletim nº 14 - fevereiro de 2022).
 

Este artigo não tem como objetivo restringir opções ou determinar o que está ou não correto. O objetivo, ao contrário, é mostrar que existem outras possibilidades de produção, visto que geralmente nos mostram somente um caminho para ela, e, como observado, um caminho que não tem sido eficiente no combate à fome, insegurança alimentar e busca pela sustentabilidade.

Tudo é construído no seio da sociedade. Nossos pensamentos, personalidades, opiniões, decisões, forma de nos comunicarmos, de nos transportarmos, alimentarmos, vestirmos e produzirmos: tudo é construído socialmente. Aprendemos que as coisas devem ser de tal forma e muitas vezes não questionamos porque, parece algo muito natural; mas não é. Naturalizamos a pobreza, a fome, a tragédia. E é importante que tenhamos consciência disso.

Assim, entendemos que podemos (e devemos) questionar tudo o que e como fazemos, possibilitando compreender os motivos dos manejos e buscar formas cada vez melhores de fazermos o que fazemos, com menos impacto negativo ambiental, social e econômico, melhorando a nossa vida, a vida dos animais, do planeta e das gerações futuras.

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https://uenf.br/portal/wp-content/s/2022/02/Boletim-14-O-Brasil-de-volta-ao-Mapa-da-Fome.docx-1.pdf

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