O segundo episódio do Leite Futuro, uma iniciativa do MilkPoint que tem a participação de Marcelo P. Carvalho, Paulo do Carmo Martins e Ricardo Cotta Ferreira, contou em sua segunda edição, cujo tema é a discussão sobre a competitividade internacional do leite brasileiro, com dois convidados ilustres: Caio Vianna, presidente da CCGL e Carla Bittar, professora da ESALQ/USP.
O primeiro episódio, “O que acontece no leite Brasileiro?”, que tratou sobre as transformações estruturais do setor lácteo , teve mais de 1100 visualizações no Youtube, e dezenas de comentários. O objetivo do programa é pensar o leite de uma forma diferente, abrindo espaço para o contraditório e aprofundando as análises, algo relativamente raro nos dias de hoje.
Brasil exportador de lácteos?
Em um momento como o de hoje, em que os dados consolidados de Maio/23 indicam que cerca de 8% do nosso consumo está sendo suprido por leite importado, nos fazendo lembrar uma realidade de 20 anos atrás, levantar um questionamento que envolve a exportação de lácteos parecer soar até como piada de mau gosto: “Onde esses caras vivem?”
É válido ressaltar, porém que o sempre presente risco das importações está atrelado à falta de competitividade crônica do leite brasileiro. Portanto, no longo prazo, se quisermos que importações sejam coisa do ado, o caminho sustentável é produzir com competitividade internacional. Falar é fácil, mas a realidade é bem mais complicada. E esse foi o assunto do segundo episódio do Leite Futuro.
Caio ressaltou que outras áreas do agronegócio já foram grandes importadoras e hoje são players importantes no setor de exportação. “Já fomos importadores de milho há não muito tempo, já tivemos grandes quantidades de carne bovina importada, e hoje somos um dos grandes players de exportação. Então não acredito que em algum momento o Brasil não possa se posicionar como exportador de lácteos..., mas a distância entre a média geral de eficiência é muito distante da média dos grandes produtores. Temos que pensar em como encurtar essa distância para nos tornarmos mais eficientes e ocupar o lugar de exportador assim como outras áreas que o agro brasileiro ocupa”.
Temos que nos tornar um país exportador?
“Mas é mesmo necessário se tornar um país exportador? O que isso agrega para o setor? Com o nosso amplo mercado (grande e crescente população) não poderíamos estruturar o nosso mercado de uma forma melhor para abastecer o consumo interno, protegendo as fronteiras e deixando para lá a competitividade?” Essas foram provocações levantadas por Marcelo, dando uma de advogado do diabo.
“Temos que exportar para aprender a ser competitivo, porque se a gente não exporta não aprendemos a ganhar eficiência. Só ganhamos eficiência quando temos desafios”, respondeu Paulo.
Política publica e setor lácteo
“A coordenação de cadeia é essencial. Enquanto nós tivermos o que tivemos ano ado, onde o preço saiu de R$2,40 para o produtor e foi para R$4,40, e, em 90 dias retornou aos R$2,40, a gente não tem coordenação. Esses 8% que vem sendo importado, não sei realmente se é necessário. Então, enquanto não resolvermos essa questão de coordenação de cadeia, que a pela indústria brasileira, onde muito laticínios estão tomando decisões próprias, fica muito difícil ser competitivo”, salientou Paulo.
Cotta destaca que a aproximação entre o setor e o governo é um tema que assusta. “Todo setor que a gente pede intervenção pública, a chance de piorar é muito maior do que de melhorar”, segundo ele, usando de exemplo a situação atual da Argentina que teve intervenções governamentais seguidas, que pioraram o país.
O que tem de novo no Leite?
Um novo bloco do programa Leite Futuro traz o que tem de novo acontecendo no setor. No segundo episódio, a participação é da professora Carla Bittar, especialista em criação de bezerras.
A professora Carla apresentará no Interleite Brasil o tema “Beef on Dairy”, prática que vem sendo crescentemente utilizada nos EUA desde 2010, assunto que também abordou em um artigo de sua coluna no MilkPoint. Carla ressaltou a importância de outros destinos para os machos leiteiros que não o abate. “O fato de abater os machos leiteiros me incomoda desde sempre. Acredito que isso seja incompatível com a produção animal, então temos que aproveitar os machos de alguma forma”.
A prática consiste em utilizar o sêmen – geralmente de touro angus - em vacas leiteiras. A professora ressalta a importância da estratégia. “O Beef on Dairy foi uma estratégia muito comercial devido a demanda da melhoria na qualidade da carne associado ao fato de que os animais leiteiros puros são mais lentos em crescimento. E quando associamos o sêmen de angus com o macho leiteiro, melhora a qualidade da carne e acelera o desempenho do animal”.
Confira alguns destaques do deste episódio do Leite Futuro:
- Precisamos mesmo exportar leite ou devemos proteger nosso mercado?
- O que falta para o Brasil atingir um patamar de eficiência para se tornar exportador de lácteos?
- Políticas públicas são necessárias para alcançarmos a competitividade no setor?
- Se somos competitivos nos insumos para a produção de leite, por que o leite ainda não é competitivo mundialmente?
- A transformação já está em curso. O futuro nos aguarda e seremos exportadores de leite. Mas talvez demore.
Você pode clicar aqui para assistir no Youtube, ouvir no Spotify ou confira no vídeo abaixo:
Sobre os participantes
Marcelo P. Carvalho é Engenheiro agrônomo formado pela ESALQ/USP em 1992, com Mestrado em Ciência Animal e Pastagens também pela ESALQ/USP, em 1998. Fundador e CEO da MikPoint Ventures e Co-fundador da AgTech Garage (hoje, pertencente à PwC).
Paulo do Carmo Martins é Economista pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Mestre em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Doutor em Economia Aplicada pela USP/Esalq. Atualmente é Professor da FACC/UFJF.
Ricardo Cotta Ferreira, é Economista com Mestrado em Economia Aplicada pela ESALQ/USP e MBA pela Fundação Dom Cabral (FDC) com mais de 20 anos de experiência em Agronegócios e Indústria de Alimentos.
Caio Cezar Fernandes Vianna, é diretor-presidente da Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL).
Carla Maris Bittar, é professora do Depto. de Zootecnia da ESALQ/USP. Formou-se em 1994 em Eng. Agronômica pela ESALQ/USP, obteve seu Master of Science pela University of Arizona em 1997 e concluiu o doutorado em Ciência Animal e Pastagens na ESALQ/USP.
Essa foi só uma amostra desse rico episódio, que conta ainda com dicas de leitura e de podcast, comentários sobre notícias relevantes e os sorteados que ganharam o livro “A desRazão Laticinista”, de Almir Meireles.
E você, o que achou dessa conversa? Participe conosco e até o próximo Leite Futuro!