A produção de leite é uma atividade muito conhecida e praticada nos quatro cantos do mundo e o Brasil é o terceiro maior produtor nessa escala, atrás somente dos EUA e Índia (FAO, 2017). Mas, como são esses dados em Portugal?
De acordo com um levantamento de 2017 da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), a produção de Portugal estava em 1.962.494 toneladas de litros de leite bovino, o que dava para o país a 16ª posição no ranking da União Européia (UE).
Apesar do baixo volume absoluto, comparado com o Brasil e outros países, esses números de produção representam uma média de 190 litros/habitante no país, o que é significativo, uma vez que o Brasil tem como média 160.
Com intuito de saber um pouco mais como funciona a prática de uma parcela que ajuda nesses números de produção para o país, entramos em contato com Luzimaro Alves Ribeiro, responsável pela alimentação dos animais na fazenda Herdade do Casão, dos produtores Gerda Van Der Geest e Willen Leendert ter Haar, que tem como atividade principal a produção de leite.
Luzimaro é natural de Teófilo Otoni – Minas Gerais, e já teve sua produção de leite aqui no país. Ele conta que a principal diferença entre produzir leite no Brasil e em Portugal, consiste na tecnificação da produção. “Aqui tudo é mecanizado e informatizado, além de a maioria usar assistência técnica especializada.”
A fazenda, localizada na Cidade Montemor-O-Novo, Distrito de Evora, região do Alentejo, possui 180 hectares e tem um rebanho de 900 animais da raça holandesa, sendo, desses, cerca de 500 em lactação. A produção da propriedade consiste em 17.500 litros por dia.
Os animais são separados em 4 grupos: pós parto, primíparas, alta e baixa produção, a baixa produção são vacas em fim de lactação e vacas para descarte. Todo o rebanho é confinado e a propriedade conta com o sistema free stall, com camas de areia.
O bem-estar dos animais é um ponto importante na propriedade. Dessa maneira, o manejo é minucioso em relação ao conforto do rebanho. As camas são limpas a cada ordenha e, de 15 em 15 dias, é adicionada uma nova camada de areia limpa. A instalação conta com ventiladores para resfriamento em dias quentes, evitando o estresse térmico, e cortinas nas laterais para dias de chuva, evitando com que as camas fiquem molhadas.
A tecnologia e a informatização da produção são de alto padrão: os animais que entram na fase de reprodução recebem uma pulseira eletrônica que auxilia na detecção do cio e acompanha sua vida produtiva. A pulseira registra todas as vezes que o animal a pela sala de ordenha, e encaminha para o computador informações como: tempo de espera, tempo que levou para ser ordenhada, quantidade de leite, alteração do fluxo de leite, entre outros. As informações são importantes e indicam algum sinal de mastite, ajudando no controle e prevenção.
São realizadas 3 ordenhas por dia e a média de produção por vaca é de 35 litros. São ordenhadas 40 vacas simultaneamente, 20 de cada lado do fosso. Na ordenha, é feito o teste de jato para identificação de mastites e realizado o pré e pós dipping.
Os ordenhadores utilizam luvas para higiene e realizam a limpeza dos equipamentos. Após as duas primeiras ordenhas do dia, os equipamentos são lavados com produtos alcalino clorada, e após a última, ordenha com produtos alcalino ácido e o tanque resfriador é lavado a cada dois dias.
Todas essas medidas, embora deveriam ser o mínimo a ser feito em toda e qualquer propriedade do mundo, são mais que necessárias, uma vez que a legislação de qualidade do leite é muito mais rígida em Portugal do que no Brasil. Lá a contagem de células somáticas (CCs) deve ser inferior à 200 mil céls/mL e, contagem bacteriana total (CBT), inferior à 30 mil UFC/mL enquanto no Brasil, os limites são de 500 mil cél/mL e 300 mil UFC/mL, respectivamente; além de ocorrerem penalizações quando há detecção de inibidores ou outras substâncias no leite.
A dieta dos animais é feita totalmente na fazenda, que conta com o plantio de azevém e milho. A última colheita gerou 7 mil toneladas de silagem de milho. Os animais comem uma média de 50kg/dia, e a dieta é composta por: concentrado (núcleo, farinha de milho, soja, e melaço de cana), silagem de azevém e silagem milho. A formulação para atender a 10 animais é:
- 100ks concentrado;
- 50kgs silagem azevém;
- 350kgs silagem milho
Luzimaro informou que, quanto às questões nutricionais, não há muita diferença da produção no Brasil, contando inclusive com ingredientes vindos daqui.
Porém, quando o assunto é incentivo do governo, algumas diferenças são notáveis. Existem auxílios e eles englobam tanto os animais quanto as terras – esses auxílios e incentivos não foram expostos a fundo por regras da propriedade.
Quanto ao preço e mercado, Portugal tem o quarto menor preço da União Europeia. Não existem bônus por parte da indústria que beneficiem o produtor pela qualidade do leite, em contrapartida, a quantidade pode ser beneficiada. O preço médio de 2020 do leite em Portugal, foi de 0,3047 centavos de euros/litro; e produtores que fornecem uma maior quantidade chegam a receber 0,35.
A produção de leite em Portugal conta com uma quantidade de pequenos produtores baixa, tendo em sua maioria produtores de médio e grande porte. As fazendas vizinhas da região citada, produzem mais de 3 mil litros diários e têm uma média superior a 25 litros/animal.
Você é produtor de leite ou trabalha em alguma fazenda fora do Brasil? Conte sua experiência para nós! Envie um e-mail para contato@milkpoint.com.br.