O consumo de leite A2A2 já é uma realidade no mercado brasileiro, sendo possível encontrar esse produto em diversos pontos de venda em todo o Brasil (CNA, 2023). O leite A2A2 é uma opção que atende principalmente os indivíduos que apresentam má digestão ou até mesmo alergia à proteína do leite.
Você conhece esse tipo de leite?
O leite A2A2 é obtido de animais selecionados que produzem exclusivamente a beta-caseína A2, uma das frações proteicas do leite. Em contraste, o leite bovino comum, amplamente comercializado, geralmente contém uma mistura das variantes A1 e A2 de beta-caseína (Mendes et al., 2019). De maneira geral, o leite A2A2 tende a não causar desconforto digestivo em indivíduos mais sensíveis, uma vez que esses sintomas estão normalmente relacionados à presença da beta-caseína A1 (CNA, 2023).
O que difere as beta-caseínas A1 e A2?
A principal diferença entre as β-caseínas A1 e A2 está na composição dos aminoácidos na posição 67: a A1 possui histidina, enquanto a A2 apresenta prolina (Xiao et al., 2022). Essa distinção estrutural faz com que o leite A2A2 libere até quatro vezes menos Beta-Casomorfina-7 (BCM-7) em comparação com o leite proveniente de vacas com o alelo A1. O peptídeo BCM-7 está associado ao desencadeamento de reações alérgicas e desconfortos abdominais em alguns indivíduos, o que explica o crescente interesse no leite A2A2 nos mercados nacional e internacional (Mendes et al., 2019).
Qual a importância desse leite na indústria leiteira?
Para produtores e indústrias, o leite A2 oferece uma oportunidade de agregar valor à matéria-prima e se diferenciar no mercado.
Quais são os desafios para os produtores de leite A2A2?
Para alcançar um rebanho que produza exclusivamente leite A2A2, é necessário selecionar animais com esse genótipo. Isso requer a implementação de um sistema de genotipagem em todo o rebanho, visando identificar com precisão os animais portadores do gene A2A2. Esse processo de análise e seleção visa aumentar a frequência do alelo A2 no rebanho, demandando investimentos dos produtores (Santos, 2020). Além disso, há desafios comerciais, como a necessidade de informar e conscientizar os consumidores sobre os benefícios do leite A2A2.
E como é emitida a certificação do leite A2A2?
A certificação do leite A2A2 é garantida através de um processo rigoroso que assegura o cumprimento dos padrões genéticos específicos. O processo começa com a coleta de amostras de leite ou DNA das vacas, enviadas a laboratórios especializados, onde são realizados testes genéticos para identificar as variantes da β-caseína e confirmar se os animais produzem apenas a β-caseína A2. Alternativamente, existem testes rápidos que, com o devido investimento, podem ser realizados na própria fazenda, oferecendo praticidade ao produtor. Após a confirmação, os produtores são oficialmente certificados como produtores de leite A2A2.
Para garantir que os padrões sejam mantidos, análises regulares são realizadas nos animais e no leite dos produtores certificados, assegurando que o leite continue livre de β-caseína A1. O leite que atende aos requisitos de certificação é rotulado com um selo indicando que é A2A2, facilitando a identificação pelos consumidores.
Mas afinal, como é o mercado de leite A2A2 no Brasil?
O mercado brasileiro de leite A2A2 tem crescido rapidamente, com o interesse tanto de consumidores quanto de produtores aumentando consideravelmente. O Brasil se destaca por suas fazendas com alta capacidade de produção de leite A2, com alguns produtores atingindo volumes superiores a 65 mil litros diários. Esse nível de produção posiciona o país de forma estratégica para expandir rapidamente a produção e comercialização do leite A2A2 (Rentero, 2023).
Considerações finais
O leite A2A2 pode ser uma opção interessante para incluir na dieta de pessoas com alergia à proteína do leite ou que apresentam desconforto abdominal após o consumo. Com o aumento de iniciativas voltadas à produção de leite A2A2, o Brasil tende a expandir ainda mais sua participação nesse mercado. Nesse cenário, a divulgação de informações e o desenvolvimento de estratégias de marketing serão fundamentais para impulsionar as vendas de produtos A2A2 no país.
Autores
Isabela Soares Magalhães (Nutricionista, Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos e membro do Laboratório de Inovação no Processamento de Alimentos- LIPA/DTA/UFV).
Danielly Aparecida de Souza (Bacharel Ciência e Tecnologia de Laticínios, Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos e membro do Laboratório de Inovação no Processamento de Alimentos- LIPA/DTA/UFV).
Kamila Brunele Barbosa Maurilio (Graduanda em Engenharia de Alimentos e membro do Laboratório de Inovação no Processamento de Alimentos- LIPA/DTA/UFV)
Profa. Dra. Érica Nascif Rufino Vieira (Professora do Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFV e coordenadora do Laboratório de Inovação no Processamento de Alimentos- LIPA/DTA/UFV)
Prof. Dr. Bruno Ricardo de Castro Leite Júnior (Professor do Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFV e coordenador do Laboratório de Inovação no Processamento de Alimentos- LIPA/DTA/UFV).
Agradecimentos
Os autores agradecem a CAPES - Código Financiamento 001; à Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) (APQ-00388-21/ APQ 00785-23/RED 00157-23) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Referências
CNA. Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Protocolo vacas A2A2, 2023. Disponível em: https://milkpoint-br.informativomineiro.com/protocolo-vacas-a2a2-2. o em: 06 set. 2024.
MENDES, M. O. et al. A2A2 milk: Brazilian consumers’ opinions and effect on sensory characteristics of Petit Suisse and Minas cheeses. LWT, v. 108, p. 207-213, 2019.
RENTERO, N. Um mercado que cresce e aparece. In: Anuário Leite 2023: leite: baixo carbono. EMBRAPA Gado de Leite. p. 77-79. Juiz de Fora, 2023.
SANTOS, B. M. Beta-caseína A1 e A2 no leite bovino: implicações para a saúde humana. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Medicina Veterinária) – Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos, Brasília, 2020. Disponível em: https://dspace.uniceplac.edu.br/bitstream/123456789/2768/1/Bruna%20Mendon%C3%A7a%20dos%20Santos.pdf. o em: 6 set. 2024.
XIAO, S., WANG, Q., LI, C., WENJU LIU, W., ZHANG, J., FAN, Y., SU, J., WANG, H., LUO, X., ZHANG, S. 2022. Rapid identification of A1 and A2 milk based on the combination of mid-infrared spectroscopy and chemometrics. Food Control, v.134, p.108659. https://doi.org/10.1016/j.foodcont.2021.108659.