Nos sistemas de produção em pastagem, é evidente que o uso correto do solo deve ser eficiente para que, ao menos na parte de nutrição, as forrageiras tenham seu melhor desempenho e aflorem seu potencial.
Um solo bem manejado, seja pela baixa ou nula infestação de pragas, plantas invasoras ou pelo aporte de nutrientes, atua de forma direta sobre o sucesso da pastagem. Como diziam nossos avós... “uma criança bem alimentada não adoece” ou ainda, “um pasto bem manejado, dura quase que eternamente”.
Também já escrevi por aqui que “tudo que começa bem, termina bem, ou ainda, começando bem tudo corre bem”. O investimento na formação ou implantação de pastagem pode ser considerado uma das atividades mais importantes sob o ponto de vista econômico. Esta prática é tão importante que deve ser considerada como um plantio semelhante a outras culturas, e, como tal, o produtor deve procurar, da melhor maneira possível, as técnicas mais recomendadas à formação da pastagem em sua propriedade.
Em relação ao local de plantio, deve-se considerar que as altas produções são obtidas em solos de maiores fertilidade. A escolha do lugar para as pastagens depende da topografia, das aguadas e das facilidades de se realizar a construção de cercas. A maioria das espécies forrageiras não tolera solos encharcados.
O preparo do solo em si se caracteriza palas arações e gradagens nas áreas, quantas vezes forem necessárias. É fato que áreas que contenham mais invasoras, ou ainda que possuam outra forrageira implantada, possuem grandes quantidades de sementes oriundas das plantas que a compunham, formando no solo o que chamamos de banco de sementes.
Por que a braquiária brota em outros pastos?
Este assunto com certeza deixa os produtores de cabelo em pé: quando são abordados por técnicos que dizem que a nova pastagem a ser implantada em áreas remanescentes de outras pastagens –principalmente as do gênero Brachiaria – terá um custo mais alto em função dos brotos da antiga forrageira. Uma vez até me perguntaram como é possível uma forrageira rebrotar tanto depois de destruída.
Bom, segundo a literatura, ao longo dos anos da implantação de uma forragem, se considerarmos que esta pastagem foi manejada corretamente, respeitando-se todo o manejo de altura de entrada e saída dos animais do piquete, bem com períodos de descanso, subentende-se que esta forragem não irá florescer de forma descontrolada e desta forma teremos uma área de pastagem menos infestada por estas sementes.
É claro que aqui deixo uma informação importante: por mais perfeito o manejo, sempre teremos sementes na área, principalmente as do gênero Brachiaria que florescem quase que o ano todo, excetuando-se algumas espécies. E isso é bom. Sementes na área podem vir a germinar e perpetuar a espécie da forrageira em questão. Diga-se de agem, que é uma estratégia de sobrevivência da planta.
Porém, quero afirmar que não precisamos deixar florescer e sim, manejar o pasto para que ele não floresça e cresça de forma eficiente produzindo massa de forragem ao longo de toda vida (perene). O florescimento significa, dentre outras coisas, diminuição no valor nutritivo da forrageira.
Levando-se em consideração que todo pasto floresce (ao menos um pouco) temos ao longo de anos o que chamamos de “banco de sementes”. Com certeza um problema quando pensamos em reformar a pastagem, alterando a forrageira da área. Considera-se, em algumas áreas nas quais a forrageira anterior era a Braquiária são necessárias até oito gradagens para acabar com este banco de semente.
Como eliminar a braquiária nos pastos?
Em áreas em que o plantio será feito sobre uma forragem, aconselha-se primeiramente exterminar a forragem que está vegetando (plantas visíveis ao olho nu) para que ao entrarmos na área com um controle mecânico (aração, gradagem) essas plantas não rebrotem.
Sendo assim, recomenda-se que na área seja aplicado um agente dessecante para “matarmos” toda a forragem que cobre o solo. Esta dessecação às vezes não é bem vista pelos pequenos produtores pela impossibilidade de aplicação em função de falta de pulverizador. Em áreas pequenas e localizadas, um pulverizador costal pode ser utilizado.
Após isto feito, a segunda etapa enfatiza que ao revirarmos o solo, expomos o chamado banco de semente presente na área. Segundo a literatura, em alguns casos, a quantidade de semente presente neste banco de semente pode ser suficiente para plantar 1 a 3 vezes o tamanho da área original.
A pergunta que me fazem é o porquê esta semente não germina de forma descontrolada e germina quando revolvemos o solo? Toda semente que fica no solo, está onde chamamos de zona de dormência, ou ainda, em temperatura abaixo da ideal para germinação. Assim, quando revolvemos o solo, é quebrada esta dormência pela maior exposição dela e aumento de sua temperatura e assim iniciando o processo de germinação, dentre outros.
Uma vez este processo iniciado, precisamos agora não mais acabar com as plantas em fase vegetativa oriundas na área e temos um grande potencial de germinação de sementes originando novas plantas. Assim, neste processo, temos basicamente uma alternativa sendo o controle mecânico por meio de duas arações e duas gradagens para o novo plantio.
Em muitos casos, recomenda-se uma segunda gradagem (após 20 dias da primeira), para eliminar o restante das ervas daninhas e no máximo três dias antes do plantio para que o solo esteja pulverizado para receber a semente, se este plantio for feito a lanço em cobertura.
É importante salientar que o número de arações e/ou gradagens está na dependência do banco de sementes da área, sendo este correlacionado com a duração da pastagem antiga, manejo adotado e as condições favoráveis para que este banco de sementes germine ou ainda boas condições para que a nova forrageira se estabeleça rapidamente a fim de reinar na área de forma rápida e se preserve exclusivamente.
Naturalmente que objetivamos uma nova área muito bem implantada quando pensamos em trocar a forrageira. Naturalmente que deixo aqui uma ideia que se conseguirmos não revolver o solo, com certeza não despertaremos o banco de semente. Sendo assim, e logicamente, que se não revolvermos o solo, não conseguiremos plantar a forrageira a lanço sendo necessário a utilização de uma máquina para plantio direto.
Neste caso, alteramos o solo somente na linha de plantio e as chances de estabelecimento da nova forrageira perante a velha é muito mais fácil, considerando uma boa eficiência de máquina e reduzido espaço entre linhas (ao redor de 30 a 40 cm). Se pensarmos em plantio de capim por muda, todo o solo terá que ser revolvido e ainda sulcos ou escarificações deverão ser feitas para o enterrio das mudas que com certeza irão promover uma maior competição com o banco de sementes também, em função do que foi dito anteriormente.
Logicamente, que a luta ainda não terminou. Após a implantação, presumimos que foi feito corretamente todo o processo de plantio, quantidade de sementes, adubos e corretivos, bem como época correta de plantio para a nova forragem, com o intuito de favorecer a nova forrageira. Mas ainda, após a emergência da nova forrageira e manejo da mesma o controle mecânico ou por meio de herbicidas, de forma localizada, pode ocorrer uma vez que manchas da antiga forrageira poderão ocorrer e tirar o sono de muito produtor.
Enfim, plantar um novo capim em terras de braquiária é possível sim desde que o processo seja bem feito. Nada na vida, e principalmente na produção agropecuária pode ser feito de forma descontrolada, fora de época ou sem planejamento. O pasto é uma cultura. Este pode e deve ser respeitado desde o começo, principalmente quando já existia outro no lugar dele.