Olá pessoal, tudo bem? Espero que sim. Hoje vamos falar um pouquinho sobre sazonalidade do preço do leite e, consequentemente, sobre os momentos mais favoráveis de se investir na produção.
Primeiramente precisamos entender sobre o que determina a produção. Em tese, toda produção de leite deve ser voltada para a máxima produção pelo maior tempo possível. Traduzindo em miúdos, a produção de leite deve ocorrer durante todo o ano, levando em consideração que devemos sempre ter vacas entrando e saindo da lactação, de forma coordenada, para que possamos produzir efetivamente com uma média alta.
Abaixo temos descrito a curva de lactação de uma vaca leiteira, com um pico de produção por volta de 60 dias (60-90 dias), onde o animal apresenta sua máxima produção de leite. Isso acontece normalmente com qualquer fêmea que produza leite, pois o bezerro aumenta sua demanda, e em seguida vai diminuindo sua dependência do leite e da mãe, por começar a comer. Depois de algum tempo acontece o desmame e por aí se vão dias afora....
Dentro da curva de lactação, temos uma demanda muito importante denominada atendimento de exigências. Essas exigências começam primeiro pela vaca, que, ao longo da lactação (0 a 9 meses aproximadamente) necessita de alimentos suficientes para atender suas exigências para a mantença corporal e produção leiteira. Isso influencia o ganho ou a perda de peso, associado à prenhez (até por volta de 3 meses de lactação), para um novo parto, idealmente cerca de 365 dias aproximadamente após o parto anterior. Tudo isso, de forma simplificada, está relacionado à curva de lactação.
Outro ponto importante que quero aqui ressaltar, não é o gráfico de lactação, mas sim o gráfico de produção de alimentos durante o ano. Podemos destacar, na figura abaixo, que existe uma sazonalidade de produção de alimentos que ocorre de forma natural durante o ano. Para alguns estados brasileiros o gráfico pode ser diferente, em função do clima da região. Porém, no estado de São Paulo pode ser muito bem explicado pela figura abaixo.
Ao observarmos este gráfico, notamos nitidamente que, ao longo do ano, a maior disponibilidade de forragem (como pastagens) acontece no verão, havendo então grande disponibilidade de alimento. Alimento farto e abundante significa animais melhor alimentados, mesmos naqueles sistemas em que o produtor rural não planeja muito bem a alimentação dos animais. Com isso, o excesso de alimento, sem a preocupação em guardar, apresenta uma maior produção de comida e consequentemente maior produção de leite.
Agora, vamos analisar outro gráfico, que mostra a variação de preço do leite ao longo do ano, tomando como exemplo os dados do CEPEA (Esalq/USP), nos anos de 2017 a 2019. Na figura abaixo podemos notar que a variação do preço ao longo do ano não sofre tanta influência pelo preço de insumo, mas sim pelo oferta e demanda. Em período de maior quantidade produzida, há um menor preço (verão – novembro a maio) e em períodos de menor quantidade produzida, maior preço (inverno – junho a outubro). Imaginem tudo isso associado ao consumo de leite que é, de maneira geral, constante durante o ano.
Fonte: CEPEA (Esalq/USP)
Quando as condições climáticas variam em algum ano específico, ou surgem fatores político-econômicos de importação ou exportação de leite, ou ainda influências pontuais, o preço do leite tende a respeitar esta demanda de produção versus preço.
Sob um visão zootécnica, quando temos o verão, o alimento é mais facilmente produzido, temos safras de grãos e consequentemente a produção aumenta. Quando temos inverno, o pasto diminui e normalmente o preço de insumos aumenta. Então a produção fica difícil.
Falando agora como uma visão de gestor e zootecnista: uma boa compra vale mais que uma boa venda. Uma produção planejada e uma reserva estratégica de alimentos para o rebanho ajudam a enfrentar essas variações climáticas. Quem planeja, ganha mais e gasta menos. É evidente, pelos simples dados que trouxemos aqui, que se um produtor planeja investir deve ser na época em que o preço do leite é menor. Porém, cabe ressaltar que o preço para o produzir também é maior. Isso porque a vaca sai do pasto e come no cocho, para os sistemas de produção de leite em pasto (sistema adotado pela maioria dos pequenos produtores). Sendo assim, a vaca deixa de ser sua própria "garçonete" para ser servida por nós, o que naturalmente gera gastos.
É claro que, quando vendemos um leite mais caro, se eu me planejar, eu ganharei mais. Simples assim. Porém, deve ser planejado. Caso haja a necessidade de investir, invista antes do problema acontecer. Seja preventivo, não curativo. Planeje a comida, mas não deixe para comprar comida quando o rebanho já estiver com fome. Comprar vaca em períodos do preço do leite em alta é pagar mais caro pelo animal. Da mesma forma, realizar a manutenção da ordenhadeira quando a produção é máxima é erro na certa.
Um ponto muito interessante que vocês podem estar se perguntando é: será que eu posso conduzir minhas vacas a ficarem prenhas no verão para parirem próximo ao inverno, garantindo o pico de produção no período de maior preço do leite no ano? Minha resposta é não. Infelizmente, para decepção de muitos, não é vantajoso e, muito menos, competitivo produzir leite em apenas uma época do ano.
A uniformidade da produção diária deve acontecer, pois somente assim, o produtor conseguirá ser competitivo durante o ano. Isso é fundamental não apenas para alcançar melhores preços nos laticínios, mas também para construir confiança e respeito no mercado. Resumindo, temos que ter produtividade, qualidade e regularidade de oferta.
Quero finalizar fazendo uma proposta: seja o melhor, mas busque ser melhor ainda produzindo bem, comprando bem, na hora certa e do jeito certo. É indispensável que tanto as máquinas quanto as vacas estejam em perfeito funcionamento. O investimento antecipado em infraestrutura, nutrição e manejo é fundamental para evitar problemas que possam afetar a produtividade.
Por exemplo, ao investir em melhorias na alimentação do rebanho, no controle sanitário ou na genética do plantel antes de enfrentar uma queda na produção, garantimos a estabilidade do negócio. Dessa forma, o investimento preventivo ajuda a manter a produção estável, reduz custos, imprevistos e garante que o produtor esteja preparado para responder às variações do mercado sem comprometer a lucratividade.
Para finalizar, o preço do leite sempre será mais caro no momento em que falei, salvo raras exceções. Por isso, planeje-se para ser bom o ano inteiro e ser melhor quando o preço estiver em alta, fazendo boas e antecipadas compras, trabalhando com o menor custo possível, tudo isso associado a maravilhosas vendas. Pensem nisso.