Como as influências sociais interferem nos tratamentos de mastite clínica?
A influência social é entendida como o ato de levar alguém ou um grupo de pessoas a pensar, sentir ou fazer algo, em princípio, desconhecido. As pessoas são constantemente influenciadas umas pelas outras, pelas suas atitudes e seus pensamentos. As normas e uniformidades sociais de um grupo surgem do relacionamento e da interação entre seus membros. Assim, se um grupo de pessoas acredita e concorda com uma determinada atitude, esta possui confiabilidade.[...]
A influência social é entendida como o ato de levar alguém ou um grupo de pessoas a pensar, sentir ou fazer algo, em princípio, desconhecido. As pessoas são constantemente influenciadas umas pelas outras, pelas suas atitudes e seus pensamentos. As normas e uniformidades sociais de um grupo surgem do relacionamento e da interação entre seus membros. Assim, se um grupo de pessoas acredita e concorda com uma determinada atitude, esta possui confiabilidade.
A mastite bovina na grande maioria dos casos está associada a um agente bacteriano. Portanto, o tratamento deve ser efetuado com o uso de antimicrobianos. As bulas dos medicamentos trazem recomendações gerais sobre como aplicar o medicamento, a dosagem e a duração. Entretanto, muitas vezes, os produtores ou veterinários prolongam os tratamentos, ou seja, aumentam o período de aplicação recomendado pelo fabricante por acreditarem na maior eficácia da terapia estendida.
Ao relacionar as interações sociais à produção leiteira, em especial à mastite bovina, pesquisadores da Holanda e da Alemanha estudaram como os produtores de leite são influenciados (por outros produtores, veterinários, vendedores, governos e a sociedade) na decisão quanto ao período de tratamento da mastite bovina. Para isso, 17 rebanhos holandeses (com média de 89 vacas) e 21 rebanhos alemães (com média de 88 vacas) foram avaliados por meio de questionários com perguntas abertas, para melhor se expressarem, relacionadas à mastite bovina, ao tratamento ministrado e grupos sociais (referências positivas e negativas).
Nos dois países onde o estudo foi realizado, a duração do tratamento indicada nos rótulos da maioria dos medicamentos mais vendidos era de 1,5 a 2 dias. Assim, os produtores responderam sobre a média dos dias de tratamento utilizada por eles e também se a terapia estendida era utilizada rotineiramente (protocolo padrão) ou ocasionalmente (em algumas exceções).
Quanto ao uso da terapia estendida, 37 fazendas confirmaram praticá-la, sendo que em 30 destas a prática era rotineira e, em 7 fazendas, apenas utilizada em casos clínicos mais graves. Apenas uma fazenda negou o uso deste tipo de terapia. O fato de ser bastante utilizada sugere que a terapia estendida é uma prática socialmente aceita e independente de outras variáveis e as principais razões para seu uso são relacionadas à continuidade dos sinais clínicos após o término do tratamento, receio de recorrências, uso por outros produtores e recomendações feitas por veterinários.
Diversos estudos tem mostrado que os produtores têm insegurança em relação ao tratamento da mastite. Para muitos deles, a cura da mastite ocorre quando há desaparecimento da sintomatologia inflamatória e quando não há recorrência dos casos clínicos. Entretanto, alguns estudos apontam que a cura bacteriológica é o critério de referência para detectar se o caso foi realmente resolvido. Mas, mesmo cientificamente, o melhor critério para avaliar a necessidade de terapia estendida ainda não está definido.
Muitos produtores utilizam e julgam a sua experiência como base na tomada de decisão do tratamento a ser empregado. Foi notado que oferecer o melhor tratamento possível às vacas fazia os produtores mais seguros e com a sensação de serem bons produtores, tanto que não foram constatadas preocupações com os custos de medicamentos mais elevados da terapia estendida e nem os custos com o leite descartado pelo uso de antibióticos.
Uma divergência de opiniões foi verificada quanto à longevidade das vacas. Para um grupo, os produtores com vacas de maior longevidade são mais cuidadosos, já para o outro, para trabalhar de modo econômico, o descarte e o abate de animais com muitas recorrências é a melhor opção, pois assim são selecionados animais que não sofrem de mastite. Portanto, os proprietários que são mais preocupados com a longevidade dos animais, provavelmente utilizam mais antibióticos que os demais.
Quanto aos grupos de referências sociais, estes são heterogêneos e divididos em duas categorias. A referência social positiva é aquela que um determinado grupo aceita, tem afinidade. Como referências positivas foram apontadas, neste estudo, os produtores de gado de corte (os quais, na percepção da sociedade, utilizam muitos antibióticos), produtores de leite que afirmam ter problemas com a mastite, veterinários e outros assessores. Quanto às referências negativas, ou seja, aquelas que são rejeitadas foram citados os produtores de gado de corte (em relação à quantidade de antibiótico utilizada e do uso preventivo versus curativo), produtores de leite que negam problemas com mastite e a sociedade, os quais rejeitam o uso intensivo de antibióticos.
Para os produtores entrevistados, a terapia estendida é um instrumento para ausência de culpa, caso a mastite recorra. Eles afirmaram que esta terapia demonstra cuidados e é um sinal de preocupação com o bem estar dos animais. Eles ainda revelaram que itir os problemas enfrentados com a mastite pode levar os outros a pensarem que são “maus produtores”, portanto preferem não discutir este problema com outros produtores.
Veterinários foram considerados fontes confiáveis e verídicas de informações técnicas que reforçam o uso de terapia estendida, o que pode caracterizá-los como uma influência social normativa. Nesses dois países, no entanto, os veterinários ganham pelo que vendem dos medicamentos aos produtores, mas estes, em nenhum momento da entrevista, mencionaram o interesse financeiro dos veterinários na recomendação da terapia estendida.
Tanto na Holanda quanto na Alemanha, o uso preventivo de antibióticos já é proibido, mas pretende-se reduzir drasticamente a utilização de antibióticos nos dois países devido a segurança da saúde pública e à resistência bacteriana. Todos os entrevistados demonstraram contrariedade quanto a esta possibilidade. Assim, tanto a sociedade quanto os governos são vistos pelos produtores como referências negativas, uma vez que, para eles, a argumentação utilizada é incoerente, já que sustentabilidade e longevidade das vacas sem tratamento com antibióticos é inviável, pois os antibióticos ainda são a melhor ferramenta para cura de determinados casos. Portanto, neste cenário, é necessária uma conversa entre os dois lados, na qual haja compreensão e respeito mútuos para uma decisão.
O estudo concluiu que os entrevistados se esforçam para serem reconhecidos como bons produtores e que se preocupam com as normas sociais dos outros produtores (referências positivas). Por apresentarem insegurança quanto ao tratamento ideal para a mastite, preferem realizar a terapia estendida, a qual se tornou uma norma social, mesmo com os altos custos com o descarte do leite e a maior quantidade de antibióticos. Para que o pensamento sobre os tratamentos seja modificado, grupos positivos de referência precisam mostrar novas evidências. Portanto, estudos relacionados ao uso de antibióticos, a cura e a recorrência da mastite ainda são necessários.
Fonte: SWINKELS, J.M. et al., 2015. Journal of Dairy Science, 98:2369-2380, 2015.
*Médica Veterinária e Mestranda do Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP) – FMVZ/USP
Material escrito por:
Marcos Veiga Santos
Professor Associado da FMVZ-USP Qualileite/FMVZ-USP Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225 Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP Pirassununga-SP 13635-900 19 3565 4260
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Concordo plenamente com o Dr.Gabriel Esnaola.

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Caso contrário fica difícil até mesmo a credibilidade de infecções cruzadas na linha de oredenha quando o animal retorna ao lote de origem.
Acredito tambem que tratamento de mastite não é exclusivo o uso de antibiotico, mas atenção e segregação do animal, uso de antinflamatórios (junto a bisnaga intramamária ou parenteral). Excelente artigo para muitas reflexões. Parabens!

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