O manejo pré-ordenha e o período entre a estimulação e a colocação do conjunto de teteiras influenciam tanto a quantidade quanto a qualidade do leite produzido. Antes do início da ordenha é necessária a limpeza e higienização dos tetos (desinfecção e secagem) e teste da caneca de fundo preto para diagnóstico da mastite clínica. Esses procedimentos são importantes para otimizar o tempo de ordenha e a manutenção da saúde do úbere das vacas.
A correta desinfecção dos tetos diminui a população bacteriana na pele do teto, o que reduz a incidência de infecções intramamárias de origem ambiental em cerca de 50%. Além disso, a contagem bacteriana total (CBT) é elevada quando o úbere e os tetos são ordenhados sem que sejam desinfetados de forma adequada. O recomendável é que seja feita a limpeza apenas da região dos tetos que entra em contato com a teteira ou com as mãos do ordenhador, para que a água contaminada não escorra para os tetos e aumente o transporte de bactérias presentes na pele do úbere. Baixas contagens bacterianas podem ser obtidas com a limpeza dos tetos com um sanitizante (pre-dipping) e a secagem com papel toalha.
Fisiologicamente, a ordenha consiste em duas fases, a secreção e a ejeção do leite. Após a colocação do conjunto de teteiras, há o início da ordenha propriamente dita, com ejeção imediata da fração de leite presente nas cisternas da glândula e do teto (leite cisternal), que corresponde a cerca de 20% do volume total de leite contido no úbere. Os 80% restantes estão contidos nos alvéolos e não estão prontamente disponíveis antes da ativação do reflexo de ejeção do leite. Quando a vaca é estimulada pelo toque da mão do ordenhador ou da boca do bezerro no teto, ou pelo som do equipamento de ordenha, são desencadeados impulsos nervosos que estimulam a liberação de oxitocina, a qual é produzida na hipófise. Pela corrente sanguínea, esse hormônio chega às células mioepiteliais, que circundam os alvéolos. Sob a ação da oxitocina, essas células são contraídas, forçando a saída do leite para a cisterna da glândula mamária.
O tempo entre a primeira estimulação e a colocação do conjunto de teteiras deve ser cuidadosamente controlado. É necessário que seja desencadeada a liberação de oxitocina para que ocorra a ejeção do leite dos alvéolos para a cisterna do úbere. O tempo total da ordenha pode ser influenciado pela raça das vacas, pelo método e tempo de estimulação, estágio de lactação e pelo tempo entre a primeira estimulação e a colocação do conjunto de teteiras.
Diversos estudos realizados nos últimos trinta anos indicam que um período de 20 segundos de estimulação e até 60 segundos para a fixação do conjunto de teteiras reduz o tempo de ordenha, pois eleva a taxa de liberação do leite. Em um estudo realizado em 2005 por um grupo de pesquisadores alemães foi descoberto que é benéfica a diminuição do tempo de estimulação para vacas com alto grau de enchimento do úbere, e o aumento do tempo de estimulação para vacas com baixo grau de enchimento. O maior enchimento do úbere ocorre em vacas que são estimuladas mais facilmente (por exemplo, por estímulo visual ou auditivo), liberando o leite dos alvéolos para a cisterna do úbere mais rapidamente. A diminuição do tempo total de ordenha aumenta o número de vacas ordenhadas por unidade de tempo, o que resulta em aumento do retorno do investimento nas instalações de ordenha.
Recentemente, pesquisadores americanos utilizaram 786 vacas Holandesas de alta produção para avaliar o efeito da rotina pré-ordenha sobre a produção de leite, o tempo de ordenha e o fluxo de leite retirado da glândula mamária (kg de leite/minuto). As vacas foram divididas em dois grupos: a) vacas no início e meio de lactação (entre 17 e 167 dias em lactação) e b) vacas no final da lactação (entre 174 e 428 dias em lactação). Neste experimento foram analisadas duas formas de estimulação (pré-dipping + secagem dos tetos ou pré-dipping + teste da caneca de fundo preto + secagem dos tetos) e cinco tempos (0; 60; 90; 120 e 240 segundos) entre a estimulação do úbere e a colocação do conjunto de teteiras. Todos os resultados obtidos foram comparados com o manejo pré-ordenha padrão: pré-dipping + teste da caneca de fundo preto + secagem do tetos (período de 90 segundos entre a primeira estimulação e a colocação do conjunto de teteiras).
Os resultados indicaram que nas vacas em início de lactação, a produção de leite foi menor para os tempos de estimulação de 0 e 240 segundos. Já para as vacas em final de lactação, o tempo de estimulação não influenciou a produção de leite. Foi observado menor tempo total de ordenha nas vacas no final da lactação que foram submetidas ao manejo pré-ordenha padrão. No entanto, não houve diferença para tempos de estimulação de 120 e 240 segundos. Já para as vacas em início de lactação não houve diferença do período de estimulação sobre o tempo de ordenha.
De forma geral, vacas submetidas a um período maior de estimulação (pré-dipping + teste da caneca + secagem) apresentaram menor tempo de ordenha e maior fluxo de leite durante a ordenha. Períodos de estimulação pré-ordenha superiores a 60 segundos para vacas no final da lactação apresentaram efeito benéfico para a eficiência de ordenha, pois aumentaram o fluxo do leite e diminuíram o tempo total de ordenha.
Dessa forma, é importante que seja feito um adequado manejo pré-ordenha, o que inclui a higienização dos tetos (sanitização e secagem) e teste da caneca de fundo preto, para que ocorra boa estimulação da glândula mamária e maximização da produção de leite e aumento da eficiência da ordenha.
Fontes: Watters, et al. Journal of Dairy Science, v.95, n.3, p.1170-1176, 2012; Weiss, D.; Bruckmaier, R.M. Journal of Dairy Science, v.88, n.1, p.137-147, 2005.