Essa fase representa também uma excelente oportunidade para o tratamento das mastites subclínicas existentes e para a prevenção de novas infecções no período seco, que afetam direta e negativamente a produção leiteira da próxima lactação. Apesar da importância do período seco para a vaca leiteira, muitos produtores e técnicos, por desconhecimento, não aplicam nessa fase uma das principais estratégias para o controle de mastite, a terapia de vaca seca, que se baseia na infusão intramamária de antibiótico de longa ação específico para esse fim, em cada quarto do úbere, após a última ordenha do animal, geralmente, aos 60 dias antes do parto.
Recentemente, os benefícios já comprovados da terapia da vaca seca em animais de aptidão leiteira também foram avaliados em vacas destinadas ao corte. Em um experimento conduzido nos EUA, pesquisadores demonstraram os efeitos do uso da terapia da vaca seca no momento da secagem de vacas de corte sobre a cura das infecções intramamárias existentes, e o impacto desse tratamento sobre o desenvolvimento dos bezerros na lactação subseqüente.
Para isso, a equipe selecionou 196 vacas multíparas das raças Angus e Angus X Hereford, submetidas à mesma alimentação, e mantidas com seus bezerros, da parição ao desmame. Aleatoriamente, 99 animais receberam tratamento intramamário com antibiótico para vaca seca a base de penicilina G procaína e novobiocina (grupo "tratamento") e 97 não foram tratadas (grupo "controle") e, para efeito de cálculo, VACAS e QUARTOS individualmente, foram considerados como unidade de avaliação.
Na última ordenha, a equipe coletou amostras de leite dos quartos de todos animais para determinar a CCS e a ocorrência ou não de infecção intramamária, sendo que após isto, as vacas do grupo "tratamento" receberam a infusão intramamária. Posteriormente, 8 a 14 dias após a parição, mais amostras de leite dos quartos foram coletadas, e seus bezerros pesados mensalmente, do nascimento ao desmame.
Foi observado que 28,8% das vacas e 10,9% dos quartos estavam com mastite subclínica no momento da secagem. De acordo com os pesquisadores, o status sanitário da glândula mamária à secagem não influenciou a resposta ao tratamento, e o uso de antibiótico de longa ação, de forma geral, reduziu significativamente o número de vacas infectadas na parição subseqüente, conforme se observa no Quadro 1.
Quadro 1: Número de vacas e quartos mamários que apresentavam mastite no momento da secagem e que apresentaram cura ou desenvolveram nova infecção após o parto. (Adaptado de Lents et al., 2008)

Médias de uma mesma unidade considerada (Vacas ou Quartos), que possuam letras sobrescritas diferentes (a ou b) são estatisticamente diferentes umas das outras.
²Curadas: Número de vacas ou quartos que, ao parto, não tiveram mastite e, na data da secagem, apresentavam mastite.
²Desenvolvidas: Número de novas infecções desenvolvidas durante o período seco.
Das vacas e dos quartos com mastite, respectivamente, 20,6% e 7,0% estavam infectados com Staphylococcus sp. coagulase-negativo no momento da secagem, 8,1% e 2,7% com Staphylococcus aureus e, 7,1% e 2,7% infectados com Corynebacterium bovis. Em função da bactéria isolada no momento da secagem, os pesquisadores observaram efeitos diferentes do tratamento da vaca seca sobre os animais e quartos mamários no início da lactação subseqüente.
O tratamento da vaca seca reduziu o número de vacas e quartos infectados com Staphylococcus sp. coagulase-negativo, mas não aqueles animais e tetos acometidos por S. aureus. Já os animais e quartos mamários em que foram identificados C. bovis no momento da secagem, retornaram à lactação sem a bactéria. Devido a tal fato, pôde-se concluir que o sucesso da terapia da vaca seca esteve na dependência direta da bactéria que causava a mastite na ocasião da secagem.
Relacionando as bactérias encontradas com a quantidade de células somáticas produzidas pelos animais, os pesquisadores verificaram que a terapia da vaca seca não foi efetiva em diminuir a CCS média dos animais recém-paridos infectados com S. aureus. Já na avaliação de quartos individuais, a terapia de vaca seca reduziu a CCS em quartos infectados por outros patógenos, especificamente C. bovis e Staphylococcus sp. coagulase-negativo.
Além disso, considerando que os efeitos deletérios da mastite sobre a produção de leite é conhecido em vacas leiteiras, foi avaliado o impacto do tratamento da vaca seca sobre o ganho de peso dos bezerros. Os resultados indicaram uma interação significativa entre a terapia de vaca seca, o status sanitário da glândula mamária e o ganho de peso do bezerro durante a lactação subseqüente. O peso dos bezerros aos 110 dias de idade foi similar entre os animais do grupo "tratamento" e "controle". Entretanto, o peso dos bezerros foi maior para vacas diagnosticadas com mastite e que foram tratadas com antibiótico na secagem.
Por fim, os pesquisadores observaram que vacas que haviam sido tratadas, mas que secaram sem mastite subclínica, criaram bezerros mais pesados na lactação posterior, o que possibilitou dar e à hipótese de que a terapia de vaca seca diminui a incidência de mastite e permite aumentar o peso dos bezerros ao desmame, uma vez que as vacas não têm a produção de leite afetada pela infecção, conforme pode-se observar no Quadro 2.
Quadro 2: Médias de peso de bezerros (ajustadas para 205 dias de idade) na lactação subseqüente de mães do grupo "controle" e "tratamento" que apresentaram mastite à secagem. (Adaptado de Lents et al., 2008)

Médias de um mesmo grupo considerado (Controle ou Tratadas), que possuam letras sobrescritas diferentes (a ou b) são estatisticamente diferentes umas das outras.
Sendo assim, a estratégia de istração do antibiótico intramamário de longa ação em vacas de corte no momento da secagem reduziu a incidência de infecções intramamárias na lactação subseqüente, além de possibilitar maior peso aos bezerros.
Fonte: Lents et al. Journal of Animal Science, 2008. Santos & Fonseca. Estratégias para o controle de mastite e melhoria da qualidade do leite, 2006.