tite-e-os-modos-de-transmissao-233822/" />

Qual a duração da mastite e os modos de transmissão?

Com os avanços de técnicas de biologia molecular, atualmente, é possível definir com maior precisão qual o mecanismo de transmissão da mastite. Leia!

Publicado em: - 4 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 1
Ícone para curtir artigo 28

A tomada de decisão sobre as principais medidas de controle e de monitoramento da mastite nas fazendas depende de:

  1. Quantificar o problema (quantas e quais vacas estão com mastite),
  2. Identificar as causas da mastite, o que permite ao produtor e consultor, localizar as possíveis deficiências que aumentam o risco de mastite (manejo de ordenha, secagem, ambiente) e mecanismo predominante de transmissão (contagioso e ambiental).

Classicamente, Staph. aureus é considerado um agente causador de mastite contagiosa, enquanto Strep. uberis tem sido considerando como de transmissão predominantemente ambiental. No entanto, alguns outros agentes causadores de mastite, como o grupo dos estafilococos não-aureus (também conhecidos como estafilococos coagulase negativa) e Strep. dysgalactiae ainda não tem o modo de transmissão completamente esclarecido.

Com os avanços de técnicas de biologia molecular, atualmente, é possível definir com maior precisão qual o mecanismo de transmissão da mastite e a duração dos casos.
 

Quando a mastite é contagiosa e quando é ambiental? 

Considera-se que a transmissão é contagiosa quando uma mesma cepa bacteriana é transmitida de vacas doentes para as vacas sadias durante a ordenha, o que significa que as vacas doentes são o principal reservatório. Por outro lado, a mastite ambiental tem como principal reservatório dos agentes causadores o próprio ambiente que as vacas ficam em contato (p.ex., cama) e a transmissão ocorre de forma oportunista, quando há contaminação dos tetos.

Continua depois da publicidade

Com o uso de técnicas moleculares de diagnóstico é possível analisar a diversidade de cepas que causam mastite dentro de um mesmo rebanho. Quando há baixa diversidade (baixo número de cepas diferentes) há um forte indício de transmissão contagiosa, pois uma cepa que causa infecção a partir de uma origem comum, neste caso as vacas doentes. Por outro lado, quando uma espécie de bactéria causadora de mastite tem alta diversidade de cepas, a transmissão deve ocorrer a partir de diferentes fontes, o que indica uma transmissão ambiental.

As técnicas moleculares não são normalmente usadas como rotina em fazendas leiteiras, mas podem auxiliar no entendimento sobre os modos transmissão de bactérias causadoras de mastite e na duração das infecções em estudos científicos.

Por exemplo, um estudo recente realizado na Suécia avaliou a diversidade das cepas causadoras de mastite subclínica em um rebanho leiteiro, por 18 semanas, cujas vacas foram monitoradas e tiveram amostras de leite coletadas de todos os quartos mamários a cada 2 semanas. Assim, quando as vacas foram identificadas com infecção intramamária, foi possível acompanhar a duração da infecção e a diversidade das cepas causadoras de mastite ao longo do tempo.

Os principais grupos de agentes causadores de mastite que foram monitorados neste estudo foram Staphylococcus (S. aureus, S. epidermimidis, S. haemolyticus) e Streptococcus (S. uberis e S. dysgalactiae).


Figura 1 – Média de CCS de amostras de quartos mamários de vacas com mastite, de acordo com o tipo de agente causador (Fonte: adaptado de Woudstra et al. J. Dairy Sci. 2023.)

tipos de mastite

Nos casos de mastite por Staph. aureus, somente 5 cepas foram identificadas, sendo que uma única cepa foi a causa de >80% dos casos. Este resultado indica claramente que o modo de transmissão de Staph. aureus é contagioso, pois uma mesma cepa foi transmitida entre as vacas, possivelmente a partir de uma origem comum. Além disso, as vacas infectadas por Staph. aureus tiveram mediana de duração de cerca de 80 dias, o que significa que 50% das vacas tiveram mastite causada por esta bactéria por pelo menos 80 dias.

Para efeito de comparação, quando foram avaliados a mastite causada por outras espécies de Staphylococcus, Staph. epidermidis teve 45 diferentes cepas e Staph. haemolyticus 69 cepas no mesmo rebanho, o que sugere um modo de transmissão ambiental, pois cepas de origens diferentes são causadoras da mastite. Da mesma forma, o tempo de duração das infecções de Staph. epidermidis e Staph. haemolyticus variou de 22 a 28 dias, respectivamente, também sugerindo um modo de transmissão ambiental.

Para as mastites causadas por Strep. dysgalactiae, 50% teve como causa apenas um tipo de cepa e apenas 7 cepas causaram >80% das infecções, indicando modo de transmissão contagioso. A duração das infecções causadas Strep. dysgalactiae também foi longa, sendo que 60% dos casos tiveram duração de 140 dias, enquanto 30% teve duração de cerca de 28 dias.

Quando foram analisados os casos de mastite por Strep. uberis foi observada maior diversidade de cepas do que nos casos de Strep. dysgalactiae e S. aureus, com cerca de 18 diferentes cepas como causa de 50% das infecções. Estes resultados de diversidade de Strep. uberis foi indicam que ocorre tanto transmissão contagiosa quanto ambiental deste agente. Em relação ao Strep. uberis, as infecções tiveram duração mais curta, sendo que 30% duraram <28 dias e 46% até 70 dias.

Quando considerados em conjunto, os resultados deste estudo sugerem que S. aureus, Strep. dysgalactiae e, em menor grau, Strep. uberis, podem ser transmitidos de forma contagiosa, o que implica que medidas de controle focadas na redução da transmissão entre vacas tem papel relevante no controle destes agentes, pois resultam em infecções de longa duração. Por outro lado, Staph. epidermidis e Staph. haemolyticus causam infecções mais curtas e com modo de transmissão ambiental.
 

Gostou do conteúdo? Deixe seu like e seu comentário, isso nos ajuda a saber que conteúdos são mais interessantes para você.
 

Fonte: Woudstra et al. J. Dairy Sci. 2023. Artigo completo: https://doi.org/10.3168/jds.2022-22942

QUER AR O CONTEÚDO? É GRATUITO!

Para continuar lendo o conteúdo entre com sua conta ou cadastre-se no MilkPoint.

Tenha o a conteúdos exclusivos gratuitamente!

Ícone para ver comentários 1
Ícone para curtir artigo 28

Material escrito por:

Marcos Veiga Santos

Marcos Veiga Santos

Professor Associado da FMVZ-USP Qualileite/FMVZ-USP Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225 Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP Pirassununga-SP 13635-900 19 3565 4260

ar todos os materiais

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

Vania Maria de Oliveira
VANIA MARIA DE OLIVEIRA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 13/01/2025

Excelente! Explicou de forma clara e objetiva! Parabéns!

Obs. Acompanho seus artigos.Eles têm me ajudado muito a esclarecer as dúvidas de produtores e técnicos que nos procuram.
Qual a sua dúvida hoje?

Qual a duração da mastite e os modos de transmissão?

Com os avanços de técnicas de biologia molecular, atualmente, é possível definir com maior precisão qual o mecanismo de transmissão da mastite. Leia!

Publicado em: - 4 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 1
Ícone para curtir artigo 28

A tomada de decisão sobre as principais medidas de controle e de monitoramento da mastite nas fazendas depende de:

  1. Quantificar o problema (quantas e quais vacas estão com mastite),
  2. Identificar as causas da mastite, o que permite ao produtor e consultor, localizar as possíveis deficiências que aumentam o risco de mastite (manejo de ordenha, secagem, ambiente) e mecanismo predominante de transmissão (contagioso e ambiental).

Classicamente, Staph. aureus é considerado um agente causador de mastite contagiosa, enquanto Strep. uberis tem sido considerando como de transmissão predominantemente ambiental. No entanto, alguns outros agentes causadores de mastite, como o grupo dos estafilococos não-aureus (também conhecidos como estafilococos coagulase negativa) e Strep. dysgalactiae ainda não tem o modo de transmissão completamente esclarecido.

Com os avanços de técnicas de biologia molecular, atualmente, é possível definir com maior precisão qual o mecanismo de transmissão da mastite e a duração dos casos.
 

Quando a mastite é contagiosa e quando é ambiental? 

Considera-se que a transmissão é contagiosa quando uma mesma cepa bacteriana é transmitida de vacas doentes para as vacas sadias durante a ordenha, o que significa que as vacas doentes são o principal reservatório. Por outro lado, a mastite ambiental tem como principal reservatório dos agentes causadores o próprio ambiente que as vacas ficam em contato (p.ex., cama) e a transmissão ocorre de forma oportunista, quando há contaminação dos tetos.

Continua depois da publicidade

Com o uso de técnicas moleculares de diagnóstico é possível analisar a diversidade de cepas que causam mastite dentro de um mesmo rebanho. Quando há baixa diversidade (baixo número de cepas diferentes) há um forte indício de transmissão contagiosa, pois uma cepa que causa infecção a partir de uma origem comum, neste caso as vacas doentes. Por outro lado, quando uma espécie de bactéria causadora de mastite tem alta diversidade de cepas, a transmissão deve ocorrer a partir de diferentes fontes, o que indica uma transmissão ambiental.

As técnicas moleculares não são normalmente usadas como rotina em fazendas leiteiras, mas podem auxiliar no entendimento sobre os modos transmissão de bactérias causadoras de mastite e na duração das infecções em estudos científicos.

Por exemplo, um estudo recente realizado na Suécia avaliou a diversidade das cepas causadoras de mastite subclínica em um rebanho leiteiro, por 18 semanas, cujas vacas foram monitoradas e tiveram amostras de leite coletadas de todos os quartos mamários a cada 2 semanas. Assim, quando as vacas foram identificadas com infecção intramamária, foi possível acompanhar a duração da infecção e a diversidade das cepas causadoras de mastite ao longo do tempo.

Os principais grupos de agentes causadores de mastite que foram monitorados neste estudo foram Staphylococcus (S. aureus, S. epidermimidis, S. haemolyticus) e Streptococcus (S. uberis e S. dysgalactiae).


Figura 1 – Média de CCS de amostras de quartos mamários de vacas com mastite, de acordo com o tipo de agente causador (Fonte: adaptado de Woudstra et al. J. Dairy Sci. 2023.)

tipos de mastite

Nos casos de mastite por Staph. aureus, somente 5 cepas foram identificadas, sendo que uma única cepa foi a causa de >80% dos casos. Este resultado indica claramente que o modo de transmissão de Staph. aureus é contagioso, pois uma mesma cepa foi transmitida entre as vacas, possivelmente a partir de uma origem comum. Além disso, as vacas infectadas por Staph. aureus tiveram mediana de duração de cerca de 80 dias, o que significa que 50% das vacas tiveram mastite causada por esta bactéria por pelo menos 80 dias.

Para efeito de comparação, quando foram avaliados a mastite causada por outras espécies de Staphylococcus, Staph. epidermidis teve 45 diferentes cepas e Staph. haemolyticus 69 cepas no mesmo rebanho, o que sugere um modo de transmissão ambiental, pois cepas de origens diferentes são causadoras da mastite. Da mesma forma, o tempo de duração das infecções de Staph. epidermidis e Staph. haemolyticus variou de 22 a 28 dias, respectivamente, também sugerindo um modo de transmissão ambiental.

Para as mastites causadas por Strep. dysgalactiae, 50% teve como causa apenas um tipo de cepa e apenas 7 cepas causaram >80% das infecções, indicando modo de transmissão contagioso. A duração das infecções causadas Strep. dysgalactiae também foi longa, sendo que 60% dos casos tiveram duração de 140 dias, enquanto 30% teve duração de cerca de 28 dias.

Quando foram analisados os casos de mastite por Strep. uberis foi observada maior diversidade de cepas do que nos casos de Strep. dysgalactiae e S. aureus, com cerca de 18 diferentes cepas como causa de 50% das infecções. Estes resultados de diversidade de Strep. uberis foi indicam que ocorre tanto transmissão contagiosa quanto ambiental deste agente. Em relação ao Strep. uberis, as infecções tiveram duração mais curta, sendo que 30% duraram <28 dias e 46% até 70 dias.

Quando considerados em conjunto, os resultados deste estudo sugerem que S. aureus, Strep. dysgalactiae e, em menor grau, Strep. uberis, podem ser transmitidos de forma contagiosa, o que implica que medidas de controle focadas na redução da transmissão entre vacas tem papel relevante no controle destes agentes, pois resultam em infecções de longa duração. Por outro lado, Staph. epidermidis e Staph. haemolyticus causam infecções mais curtas e com modo de transmissão ambiental.
 

Gostou do conteúdo? Deixe seu like e seu comentário, isso nos ajuda a saber que conteúdos são mais interessantes para você.
 

Fonte: Woudstra et al. J. Dairy Sci. 2023. Artigo completo: https://doi.org/10.3168/jds.2022-22942

QUER AR O CONTEÚDO? É GRATUITO!

Para continuar lendo o conteúdo entre com sua conta ou cadastre-se no MilkPoint.

Tenha o a conteúdos exclusivos gratuitamente!

Ícone para ver comentários 1
Ícone para curtir artigo 28

Material escrito por:

Marcos Veiga Santos

Marcos Veiga Santos

Professor Associado da FMVZ-USP Qualileite/FMVZ-USP Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225 Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP Pirassununga-SP 13635-900 19 3565 4260

ar todos os materiais

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

Vania Maria de Oliveira
VANIA MARIA DE OLIVEIRA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 13/01/2025

Excelente! Explicou de forma clara e objetiva! Parabéns!

Obs. Acompanho seus artigos.Eles têm me ajudado muito a esclarecer as dúvidas de produtores e técnicos que nos procuram.
Qual a sua dúvida hoje?