Pelo fato do PS ser uma fase não produtiva, a terapia de vaca seca permite o uso de uma maior concentração de antibiótico, sem a necessidade de descarte de leite com resíduos. No entanto, além do uso de antibióticos na secagem das vacas, outros fatores podem influenciar o risco da vaca ter mastite durante o período seco e início de lactação.
O uso de antimicrobianos em animais de produção, especialmente para fins profiláticos, vêm sendo criticado devido à crescente preocupação com o desenvolvimento de resistência antimicrobiana e seus efeitos sobre a saúde humana.
Um dos fatores que influencia a sanidade do úbere na lactação subsequente é o manejo de secagem. Dois métodos são comumente usados para secagem de vacas leiteiras: o abrupto e o intermitente (ou gradual).
Vacas submetidas ao método de secagem intermitente são ordenhadas uma única vez ao dia, por um período inferior a uma semana. Alguns estudos indicam que o uso do método intermitente de secagem permite a redução gradativa da produção de leite da vaca antes da completa interrupção do período de lactação, o que traz benefícios à sanidade da glândula mamária.
A maioria dos estudos que avaliaram o efeito do método de secagem sobre a produção e qualidade do leite foram realizados antes da década de 1950, quando os índices de produtividade eram menores que os atuais. Recentemente, um estudo comparou os dois métodos de secagem (abrupta e intermitente) sobre a produção de leite e CCS de 428 vacas distribuídas em oito rebanhos do estado de Ohio, EUA.
As vacas submetidas à secagem abrupta foram mantidas no regime regular de ordenha da fazenda (2 ou 3 vezes ao dia) até o último dia de lactação; enquanto as vacas do grupo de secagem intermitente foram ordenhadas uma vez ao dia durante a última semana de lactação.
Não houve diferença significativa entre os métodos de secagem sobre a frequência de mastite na na secagem e pós-parto. Um total de 39% (76 de 197) das vacas submetidas ao método de secagem intermitente, e 35% (81 de 231) das vacas submetidas ao método abrupto, tiveram ao menos um quarto mamário infectado na secagem. Em relação à avaliação realizada após o parto, 22% (n=43) das vacas do grupo de secagem intermitente, e 23% (n=53) das vacas do grupo de secagem abrupta apresentaram IIM (Figura 1).
Figura 1 – Distribuição da frequência de infecção intramamária (IIM) entre os métodos de secagem (abrupto e intermitente), considerando as culturas microbiológicas realizadas na secagem e logo após o parto. Fonte: Adaptado de Gott et al. (2016).
De forma geral, não houve associação do método de secagem com a produção de leite na lactação subsequente. No entanto, houve um efeito de interação entre o rebanho e o método de secagem, o que sugere que os resultados do método de secagem podem variar de rebanho para rebanho.
Vacas que foram secadas pelo método abrupto e que aram por períodos secos mais curtos (<45 dias) também produziram menos leite nos primeiros 120 dias de lactação que vacas submetidas ao mesmo método de secagem, porém com >55 dias de período seco. Da mesma forma, vacas secadas abruptamente e com <45 dias de período seco produziram menos leite que vacas do grupo de secagem intermitente e que tiveram a mesma duração de período seco (Figura 2).
Figura 2 – Produção de leite nos primeiros 120 dias de lactação de vacas previamente submetidas à secagem pelos métodos intermitente (linha sólida) e abrupto (linha tracejada), considerando diferentes categorias de duração de período seco. Fonte: Adaptado de Gott et al. (2016).
Da mesma forma que para a produção de leite, não houve diferença entre os métodos de secagem quanto à CCS nos primeiros 120 dias de lactação. No entanto, a produção de leite na secagem foi positivamente associada com o aumento da CCS na lactação subsequente.
Atualmente, o método de secagem abrupta ainda é o mais utilizado em rebanhos leiteiros de alta produção. Nos Estados Unidos, dados recentes demonstraram que 90% dos rebanhos utilizam o método abrupto de secagem, enquanto que apenas 10% utilizam o método intermitente.
A incerteza sobre os efeitos do uso de novas práticas de manejo pode dissuadir os produtores de leite de tentar métodos diferentes de secagem, como por exemplo, o uso do método intermitente. Vacas leiteiras modernas, bem manejadas e de alto valor genético, normalmente apresentam altos índices de produtividade até o final da lactação, o que pode ser um fator de risco para IIM durante o PS e estágios iniciais da lactação futura.
Fonte: Gott, et al. J. Dairy Sci. 100:2080–2089. 2016.