va-pode-ser-usada-em-vacas-de-alta-producao-na-secagem-232895/" />

Secagem seletiva pode ser usada em vacas de alta produção?

O uso de terapia seletiva de vaca seca tem sido amplamente utilizado em muitos países. Confira resultados de estudos que identificam a possibilidade de uso.

Publicado em: - Atualizado em: - 3 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 2
Ícone para curtir artigo 12

Com o avanço de programas de controle de mastite nas fazendas leiteiras e em razão de restrições de legislação, o uso de terapia seletiva de vaca seca tem sido amplamente utilizado em muitos países.

Nas fazendas com baixa CCS do tanque (<250.000 céls/ml), a proporção de vacas sadias no momento da secagem pode ser de até 70%, o que significa que nestas vacas sadias poder-se-ia utilizar o conceito de terapia seletiva na secagem, que nada mais é do que tratar com antibiótico (tratamento de vaca seca) somente as vacas com alto risco de infecções intramamárias (IIM), enquanto as vacas sadias poderiam ser tratadas somente com o uso de selantes de tetos, sem o uso de tratamento de vaca seca.

A implantação de protocolos de tratamento seletivo de vacas secas tem sido bastante estudada ultimamente, pois tem potencial de trazer dois impactos positivos: redução (de 20 a 60%) do uso desnecessário de antibióticos na secagem, pois as vacas sadias não têm benefícios do tratamento de vacas secas e, adicionalmente, diminuir o risco de resistência bacteriana, que têm impactos negativos na saúde humana e animal.

Além destes benefícios, a redução de uso de antibióticos na secagem também representa redução de custos de produção de leite, sem trazer impactos negativos na saúde do úbere no pós-parto.

Continua depois da publicidade

Para a implantação da secagem seletiva, é essencial que a fazenda tenha um bom programa de controle e prevenção de mastite, baixa CCS de tanque e bom sistema de registro de indicadores de mastite clínica e subclínica (CCS individual).

Os principais critérios para seleção de vacas sadias que podem ser tratadas somente com selante de tetos incluem: CCS <200.000 cels/ml nos últimos 3 meses de lactação antes da secagem e sem histórico de mastite clínica. Além destes critérios, alguns estudos avaliaram o uso de testes de cultura microbiológica antes da secagem com resultados similares.

No entanto para fazendas de alta produção, uma das preocupações é se em vacas com alta produção antes da secagem a secagem seletiva poderia levar a alguma piora dos indicadores de mastite no pós-parto.

Para responder esta questão, um estudo recente desenvolvido com dados de rebanhos do Canadá e EUA teve como objetivo avaliar vacas de acordo com o nível de produção na secagem, as quais foram tratadas com dois protocolos de seleção das vacas (em nível de quarto mamário ou com base nos dados de CCS/mastite clínica).

O estudo analisou dados de 1485 vacas e cerca de 5000 quartos mamários, que foram monitorados antes da secagem e após o parto, o que permitiu analisar a frequência de uso de antibióticos, taxa de cura na secagem, risco de novas infecções após o parto e incidência de mastite clínica nos primeiros meses de lactação, produção de leite e CCS.

No momento da secagem as vacas foram classificadas de acordo com a produção de leite em baixa (<23,7 kg/d), média (23,7 a 30.4 kg/d) e alta (>30,4 kg/d) e o status de saúde do úbere foi avaliado pelo histórico de CCS/mastite clínica antes da secagem ou por meio de cultura microbiológica dos quartos mamários.

Vacas com alta CCS ou com cultura positiva foram tratadas com antibióticos e selantes, enquanto as vacas sadias foram tratadas somente com selante interno de tetos.

Nas vacas selecionadas pelo protocolo da cultura antes da secagem, o uso de antibióticos variou de acordo com o nível de produção das vacas: 41% dos quartos nas de baixa produção, 42% nas de média e 47% nas de alta produção. Nas vacas selecionadas com base nos resultados de CCS/histórico de mastite clínica, 61% dos quartos foram tratados nas vacas de baixa produção, 39% nas de média e 35% nas vacas de alta produção.

Quando foram comparados os resultados de saúde do úbere das vacas no pós-parto, não houve efeito do nível de produção antes da secagem, o que significa que o critério de produção não afeta a seleção das vacas para a secagem seletiva, sendo que mesmo vacas de alta produção não têm risco aumentado de novos casos de mastite clínica ou de aumento de CCS no pós-parto, quando tratadas somente com o uso de selante de tetos.
 

Gostou do conteúdo? Deixe seu like e seu comentário, isso nos ajuda a saber que conteúdos são mais interessantes para você.
 

Referências

Rowe, et al. J. Dairy Sci, 2023 (https://doi.org/10.3168/jds.2022-22547)

Ícone para ver comentários 2
Ícone para curtir artigo 12

Material escrito por:

Marcos Veiga Santos

Marcos Veiga Santos

Professor Associado da FMVZ-USP Qualileite/FMVZ-USP Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225 Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP Pirassununga-SP 13635-900 19 3565 4260

ar todos os materiais

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

Joedson Silva Scherrer
JOEDSON SILVA SCHERRER

CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 10/03/2023

Artigo com embasamento e foco bem atual e que nos leva a uma reflexão. Realmente precisamos ser mais conscientes no uso de Antibióticos. O momento exige tomadas de decisões racionais.
Marcos Veiga Santos
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 10/03/2023

Obrigado, Joedson
Qual a sua dúvida hoje?
HTTP/1.1 200 Connection established HTTP/1.1 200 OK Cache-Control: no-cache, no-store Pragma: no-cache Content-Length: 90532 Content-Type: text/html; charset=utf-8 Vary: Accept-Encoding Server: MilkPoint Ventures Strict-Transport-Security: max-age=7776000; includeSubDomains; preload Alt-Svc: h3=":443" referrer-policy: strict-origin-when-cross-origin X-Content-Type-Options: nosniff X-Permitted-Cross-Domain-Policies: none X-XSS-Protection: 1; mode=block Content-Security-Policy: frame-ancestors 'self' https://wm.agripoint.com.br https://lookerstudio.google.com blazor-enhanced-nav: allow X-Servidor: Novo Date: Sat, 24 May 2025 15:28:00 GMT Secagem seletiva pode ser usada em vacas de alta produção? | MilkPoint

Secagem seletiva pode ser usada em vacas de alta produção?

O uso de terapia seletiva de vaca seca tem sido amplamente utilizado em muitos países. Confira resultados de estudos que identificam a possibilidade de uso.

Publicado em: - Atualizado em: - 3 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 2
Ícone para curtir artigo 12

Com o avanço de programas de controle de mastite nas fazendas leiteiras e em razão de restrições de legislação, o uso de terapia seletiva de vaca seca tem sido amplamente utilizado em muitos países.

Nas fazendas com baixa CCS do tanque (<250.000 céls/ml), a proporção de vacas sadias no momento da secagem pode ser de até 70%, o que significa que nestas vacas sadias poder-se-ia utilizar o conceito de terapia seletiva na secagem, que nada mais é do que tratar com antibiótico (tratamento de vaca seca) somente as vacas com alto risco de infecções intramamárias (IIM), enquanto as vacas sadias poderiam ser tratadas somente com o uso de selantes de tetos, sem o uso de tratamento de vaca seca.

A implantação de protocolos de tratamento seletivo de vacas secas tem sido bastante estudada ultimamente, pois tem potencial de trazer dois impactos positivos: redução (de 20 a 60%) do uso desnecessário de antibióticos na secagem, pois as vacas sadias não têm benefícios do tratamento de vacas secas e, adicionalmente, diminuir o risco de resistência bacteriana, que têm impactos negativos na saúde humana e animal.

Além destes benefícios, a redução de uso de antibióticos na secagem também representa redução de custos de produção de leite, sem trazer impactos negativos na saúde do úbere no pós-parto.

Continua depois da publicidade

Para a implantação da secagem seletiva, é essencial que a fazenda tenha um bom programa de controle e prevenção de mastite, baixa CCS de tanque e bom sistema de registro de indicadores de mastite clínica e subclínica (CCS individual).

Os principais critérios para seleção de vacas sadias que podem ser tratadas somente com selante de tetos incluem: CCS <200.000 cels/ml nos últimos 3 meses de lactação antes da secagem e sem histórico de mastite clínica. Além destes critérios, alguns estudos avaliaram o uso de testes de cultura microbiológica antes da secagem com resultados similares.

No entanto para fazendas de alta produção, uma das preocupações é se em vacas com alta produção antes da secagem a secagem seletiva poderia levar a alguma piora dos indicadores de mastite no pós-parto.

Para responder esta questão, um estudo recente desenvolvido com dados de rebanhos do Canadá e EUA teve como objetivo avaliar vacas de acordo com o nível de produção na secagem, as quais foram tratadas com dois protocolos de seleção das vacas (em nível de quarto mamário ou com base nos dados de CCS/mastite clínica).

O estudo analisou dados de 1485 vacas e cerca de 5000 quartos mamários, que foram monitorados antes da secagem e após o parto, o que permitiu analisar a frequência de uso de antibióticos, taxa de cura na secagem, risco de novas infecções após o parto e incidência de mastite clínica nos primeiros meses de lactação, produção de leite e CCS.

No momento da secagem as vacas foram classificadas de acordo com a produção de leite em baixa (<23,7 kg/d), média (23,7 a 30.4 kg/d) e alta (>30,4 kg/d) e o status de saúde do úbere foi avaliado pelo histórico de CCS/mastite clínica antes da secagem ou por meio de cultura microbiológica dos quartos mamários.

Vacas com alta CCS ou com cultura positiva foram tratadas com antibióticos e selantes, enquanto as vacas sadias foram tratadas somente com selante interno de tetos.

Nas vacas selecionadas pelo protocolo da cultura antes da secagem, o uso de antibióticos variou de acordo com o nível de produção das vacas: 41% dos quartos nas de baixa produção, 42% nas de média e 47% nas de alta produção. Nas vacas selecionadas com base nos resultados de CCS/histórico de mastite clínica, 61% dos quartos foram tratados nas vacas de baixa produção, 39% nas de média e 35% nas vacas de alta produção.

Quando foram comparados os resultados de saúde do úbere das vacas no pós-parto, não houve efeito do nível de produção antes da secagem, o que significa que o critério de produção não afeta a seleção das vacas para a secagem seletiva, sendo que mesmo vacas de alta produção não têm risco aumentado de novos casos de mastite clínica ou de aumento de CCS no pós-parto, quando tratadas somente com o uso de selante de tetos.
 

Gostou do conteúdo? Deixe seu like e seu comentário, isso nos ajuda a saber que conteúdos são mais interessantes para você.
 

Referências

Rowe, et al. J. Dairy Sci, 2023 (https://doi.org/10.3168/jds.2022-22547)

Ícone para ver comentários 2
Ícone para curtir artigo 12

Material escrito por:

Marcos Veiga Santos

Marcos Veiga Santos

Professor Associado da FMVZ-USP Qualileite/FMVZ-USP Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225 Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP Pirassununga-SP 13635-900 19 3565 4260

ar todos os materiais

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

Joedson Silva Scherrer
JOEDSON SILVA SCHERRER

CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 10/03/2023

Artigo com embasamento e foco bem atual e que nos leva a uma reflexão. Realmente precisamos ser mais conscientes no uso de Antibióticos. O momento exige tomadas de decisões racionais.
Marcos Veiga Santos
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 10/03/2023

Obrigado, Joedson
Qual a sua dúvida hoje?