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Tratamento da mastite clínica: local ou sistêmico?

O tratamento da mastite é a principal causa de uso de antibióticos. Além do custo, há questões de resistência. Como reduzir o uso sem reduzir a eficácia? Leia!

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O tratamento da mastite clínica é a principal causa de uso de antibióticos nas fazendas leiteiras, podendo representar cerca de 70 a 80% do consumo total. Além de representar um custo direto dos tratamentos, o uso de antibióticos de forma não responsável afeta negativamente a produção animal, uma vez que há evidências de que o uso excessivo de antibióticos nos animais aumenta o risco de resistência bacteriana, que é um dos grandes desafios de saúde pública em todo o mundo.

Os atuais protocolos de tratamento de mastite devem levar em conta os fatores que mais afetam a chance de cura da mastite clínica, o que inclui as características da vaca (como o histórico de mastite clínica e a idade), a presença/ausência de agente causador (Gram-negativo ou Gram-positivo) e o tipo de antibiótico utilizado (duração do tratamento e via de istração).

Um estudo do nosso grupo de pesquisa, desenvolvido em 2020 em 19 fazendas leiteiras, revelou que do total de protocolos de tratamento de mastite clínica cerca de 65% foram realizados utilizando-se o tratamento combinado (intramamário + injetável), o que resulta em elevada quantidade de antibióticos utilizados nesse tipo de protocolo. Ainda que seja muito utilizado em condições de campo, o tratamento combinado (intramamário + injetável) tem limitado embasamento científico, pois o resultado depende das características do antibiótico injetável utilizado, principalmente em relação a sua capacidade de difusão para a glândula mamária quando istrado de forma sistêmica.

Para jogar luz sobre esta questão, um estudo recente comparou o tratamento intramamário com penicilina em comparação com o tratamento combinado intramamário e sistêmico de casos de mastite clínica leve e moderada. Neste tipo de protocolo, busca-se aumentar a chance do antibiótico atingir as concentrações inibitórias mínimas na glândula mamária.

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O estudo foi desenvolvido em 12 fazendas comerciais com rotina de tratamento seletivo de mastite clínica leve e moderada, baseada nos resultados da cultura na fazenda (negativo, Gram-negativo e Gram-positivo). De acordo com os resultados da cultura na fazenda, somente as vacas com isolamento de bactérias Gram-positivas foram selecionadas para tratamento com antibiótico. As vacas selecionadas para o tratamento foram divididas em dois grupos: um que recebeu a terapia intramamária com penicilina por 3 dias, enquanto o outro grupo recebeu a terapia combinada intramamária e sistêmica por 3 dias.

Os resultados de cura microbiológica foram comparados entre os dois grupos (total de 345 casos tratados, sendo 168 do tratamento intramamário e 177 do tratamento combinado), usando teste de não-inferioridade, uma vez que o objetivo foi avaliar se um dos dois protocolos era inferior ao outro. Não houve diferença estatística em relação à cura microbiológica entre as vacas tratadas somente com intramamário (76,8%) ou de forma combinada (83,1%). Strep. uberis foi a bactéria mais frequentemente isolada dos casos clínicos (40%), seguido por Staphylococcus não-aureus (14%).

Casos de cura de mastite de acordo com tipo de tratamento

Vacas com contagem de células somáticas (CCS) > 200.000 células/mL tiveram menor chance de cura do que as vacas com CCS < 200.000 células/mL, o que destaca a importância de considerar fatores individuais ao tomar decisões de tratamento.

O estudo demonstrou que o uso de terapia intramamária apresentou resultados não inferiores ao do tratamento combinado para bactérias Gram-positivas, o que traz uma importante implicação quanto ao potencial de reduzir o uso de antibióticos nos tratamentos, sem reduzir a eficácia do tratamento. Foi estimado uma redução potencial de cerca de 16 vezes no uso de antibiótico quando usado somente o tratamento intramamário em comparação com o tratamento combinado, considerando uma vaca adulta de 600 kg de peso corporal.

Em resumo, os resultados destacaram a importância de identificar o patógeno causador da mastite e considerar características individuais da vaca ao decidir sobre o protocolo de tratamento. Além disso, o uso de protocolo de tratamento combinado deve ser reavaliado, considerando a ausência de evidência de maior eficiência com o uso combinado de antibióticos intramamário + injetável, usando-se o modelo de tratamento com penicilina.

 

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Fonte: Svennesen, et al, 2023.

                       

                                   

                       

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Material escrito por:

Marcos Veiga Santos

Marcos Veiga Santos

Professor Associado da FMVZ-USP Qualileite/FMVZ-USP Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225 Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP Pirassununga-SP 13635-900 19 3565 4260

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Iara Nunes de Siqueira
IARA NUNES DE SIQUEIRA

SÃO JOSÉ DO EGITO - PERNAMBUCO - PESQUISA/ENSINO

EM 21/05/2024

Professor, um show de ciência.
Parabéns pelo material
Giovani da Cunha Guedes
GIOVANI DA CUNHA GUEDES

JACAREÍ - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/12/2023

Professor valioso artigo, para nós pequenos produtores é um desafio continuo o controle dessa doença com recursos reduzidos. Precisamos de mais conteúdos com esse valor. Obrigado
Marcos Veiga Santos
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 19/12/2023

Obrigado, Giovani
Qual a sua dúvida hoje?

Tratamento da mastite clínica: local ou sistêmico?

O tratamento da mastite é a principal causa de uso de antibióticos. Além do custo, há questões de resistência. Como reduzir o uso sem reduzir a eficácia? Leia!

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O tratamento da mastite clínica é a principal causa de uso de antibióticos nas fazendas leiteiras, podendo representar cerca de 70 a 80% do consumo total. Além de representar um custo direto dos tratamentos, o uso de antibióticos de forma não responsável afeta negativamente a produção animal, uma vez que há evidências de que o uso excessivo de antibióticos nos animais aumenta o risco de resistência bacteriana, que é um dos grandes desafios de saúde pública em todo o mundo.

Os atuais protocolos de tratamento de mastite devem levar em conta os fatores que mais afetam a chance de cura da mastite clínica, o que inclui as características da vaca (como o histórico de mastite clínica e a idade), a presença/ausência de agente causador (Gram-negativo ou Gram-positivo) e o tipo de antibiótico utilizado (duração do tratamento e via de istração).

Um estudo do nosso grupo de pesquisa, desenvolvido em 2020 em 19 fazendas leiteiras, revelou que do total de protocolos de tratamento de mastite clínica cerca de 65% foram realizados utilizando-se o tratamento combinado (intramamário + injetável), o que resulta em elevada quantidade de antibióticos utilizados nesse tipo de protocolo. Ainda que seja muito utilizado em condições de campo, o tratamento combinado (intramamário + injetável) tem limitado embasamento científico, pois o resultado depende das características do antibiótico injetável utilizado, principalmente em relação a sua capacidade de difusão para a glândula mamária quando istrado de forma sistêmica.

Para jogar luz sobre esta questão, um estudo recente comparou o tratamento intramamário com penicilina em comparação com o tratamento combinado intramamário e sistêmico de casos de mastite clínica leve e moderada. Neste tipo de protocolo, busca-se aumentar a chance do antibiótico atingir as concentrações inibitórias mínimas na glândula mamária.

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O estudo foi desenvolvido em 12 fazendas comerciais com rotina de tratamento seletivo de mastite clínica leve e moderada, baseada nos resultados da cultura na fazenda (negativo, Gram-negativo e Gram-positivo). De acordo com os resultados da cultura na fazenda, somente as vacas com isolamento de bactérias Gram-positivas foram selecionadas para tratamento com antibiótico. As vacas selecionadas para o tratamento foram divididas em dois grupos: um que recebeu a terapia intramamária com penicilina por 3 dias, enquanto o outro grupo recebeu a terapia combinada intramamária e sistêmica por 3 dias.

Os resultados de cura microbiológica foram comparados entre os dois grupos (total de 345 casos tratados, sendo 168 do tratamento intramamário e 177 do tratamento combinado), usando teste de não-inferioridade, uma vez que o objetivo foi avaliar se um dos dois protocolos era inferior ao outro. Não houve diferença estatística em relação à cura microbiológica entre as vacas tratadas somente com intramamário (76,8%) ou de forma combinada (83,1%). Strep. uberis foi a bactéria mais frequentemente isolada dos casos clínicos (40%), seguido por Staphylococcus não-aureus (14%).

Casos de cura de mastite de acordo com tipo de tratamento

Vacas com contagem de células somáticas (CCS) > 200.000 células/mL tiveram menor chance de cura do que as vacas com CCS < 200.000 células/mL, o que destaca a importância de considerar fatores individuais ao tomar decisões de tratamento.

O estudo demonstrou que o uso de terapia intramamária apresentou resultados não inferiores ao do tratamento combinado para bactérias Gram-positivas, o que traz uma importante implicação quanto ao potencial de reduzir o uso de antibióticos nos tratamentos, sem reduzir a eficácia do tratamento. Foi estimado uma redução potencial de cerca de 16 vezes no uso de antibiótico quando usado somente o tratamento intramamário em comparação com o tratamento combinado, considerando uma vaca adulta de 600 kg de peso corporal.

Em resumo, os resultados destacaram a importância de identificar o patógeno causador da mastite e considerar características individuais da vaca ao decidir sobre o protocolo de tratamento. Além disso, o uso de protocolo de tratamento combinado deve ser reavaliado, considerando a ausência de evidência de maior eficiência com o uso combinado de antibióticos intramamário + injetável, usando-se o modelo de tratamento com penicilina.

 

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Fonte: Svennesen, et al, 2023.

                       

                                   

                       

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Professor Associado da FMVZ-USP Qualileite/FMVZ-USP Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225 Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP Pirassununga-SP 13635-900 19 3565 4260

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SÃO JOSÉ DO EGITO - PERNAMBUCO - PESQUISA/ENSINO

EM 21/05/2024

Professor, um show de ciência.
Parabéns pelo material
Giovani da Cunha Guedes
GIOVANI DA CUNHA GUEDES

JACAREÍ - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/12/2023

Professor valioso artigo, para nós pequenos produtores é um desafio continuo o controle dessa doença com recursos reduzidos. Precisamos de mais conteúdos com esse valor. Obrigado
Marcos Veiga Santos
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 19/12/2023

Obrigado, Giovani
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