Em um trabalho realizado por pesquisadores da Ohio State University, Dr. St-Pierre e Dr. Bill Weiss (que já foi abordado em outro artigo desse Radar Técnico “Fontes de variação na composição nutricional dos alimentos”), foi verificado que a amostragem dentro de uma única fazenda, pode ser responsável por até 37% da variação no teor de FDN da silagem de milho. Portanto, utilizar o resultado de uma única amostra é arriscado. O ideal é construir uma série temporal de análises do mesmo alimento, calcular a média e o desvio padrão (medida de variabilidade) e utilizar esses dados para formular a dieta.
Para avaliar o efeito da amostragem na composição dos alimentos, realizamos um ensaio no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras, no qual testamos o efeito do amostrador e do protocolo de amostragem na composição da silagem de milho. Foram testados três amostradores e três protocolos de amostragem que chamamos de rápido, correto e carreta. Ao todo foram 9 tratamentos, coletados em triplicatas, somando 27 amostras.
No protocolo rápido, cada amostrador coletou 10 pontos distribuídos ao longo do do silo, misturou bem as amostras em um balde, e coletou dele a subamostra de tamanho necessário para envio ao laboratório.
O protocolo correto foi muito semelhante, mas as amostras foram misturadas em uma lona no chão e quartejadas na diagonal até que a subamostra remanescente contivesse o peso adequado de envio.
No protocolo carreta, 10 pontos foram coletados da carreta após o descarregamento do , misturados em uma lona no chão, e quartejados até atingir a quantidade necessária para envio ao laboratório. Todas as amostras foram coletadas no mesmo dia a fim de eliminar a variação dos componentes nutricionais de um dia para outro. Além disso, cada amostrador fez sua coleta sozinho para evitar que ocorresse influência cruzada nos procedimentos de coleta.
Após a coleta, as 27 amostras foram enviadas para o 3R Lab, que foi nosso parceiro neste projeto, para análise da composição nutricional pelo método do NIRS. A tabela 1 apresenta a estatística descritiva desses resultados, com valores médios, desvio padrão, coeficiente de variação, mínimo e máximo para teores de proteína bruta (PB), fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) e amido.
Tabela 1. Composição da silagem de milho analisada de 27 amostras coletadas por três amostradores com três protocolos de amostragem.
O que imediatamente chama atenção nesses dados é a enorme variação entre os valores mínimos e máximos observados entre as 27 amostras. Isso deixa bastante claro o perigo de se utilizar uma única amostra para formulação da dieta. Por exemplo, se a dieta é formulada com base na amostra com 21% de amido quando na verdade a que as vacas estão consumindo apresenta 16%, o desempenho será aquém do esperado. Mais arriscado ainda é a situação oposta, caso a dieta seja formulada considerando a amostra que resultou em 12% de amido. Se o amido da dieta já estiver maximizado com outros ingredientes, a silagem de 16% de amido pode aumentar o risco de acidose.
O teor de MS foi o que demonstrou menor coeficiente de variação entre todas as amostras individuais, o que demonstra uma menor sensibilidade dessa variável ao processo de amostragem. Isso é bastante importante tendo em vista que o teor de MS de alimentos úmidos deve ser mensurado várias vezes por semana (com auxílio de um forno micro-ondas) para ajuste da composição da dieta em matéria natural, garantindo a consistência no fornecimento de nutrientes aos animais.
A tabela 2 apresenta os resultados da análise estatística comparando os amostradores e os protocolos de amostragem.
Tabela 2. Efeito de amostrador e protocolo de amostragem na composição da silagem de milho (teores de PB, FDN e amido em % MS).
O amostrador não afetou significativamente o teor dos nutrientes analisados. Esse resultado já era esperado, uma vez que os três amostradores receberam instruções bastante claras sobre como realizar cada protocolo. Dessa forma, fica evidente a importância da adoção de protocolos de amostragem e treinamento dos amostradores nas propriedades. Esses procedimentos eliminam uma das potenciais fontes de variação, que é o amostrador.
No entanto, um ponto muito importante que deve ser levado em consideração na interpretação destes resultados é que cada amostrador coletou 3 amostras em cada protocolo. O coeficiente de variação entre essas três amostras variou de 2 a 23%, dependendo do nutriente, evidenciando a importância de mais de uma amostragem por ingrediente.
Por outro lado, o protocolo de amostragem afetou significativamente os teores de MS, FDN e PB das amostras, sendo a composição das amostras retiradas da carreta diferente da das coletadas no do silo (rápido e correto). Essa diferença pode ser decorrente da segregação de material ao longo do carregamento da silagem na carreta. Quando a silagem é carregada em um vagão misturador, ele pode ser utilizado para misturar o material e a amostra pode ser retirada após essa mistura. Essa é, inclusive, a recomendação de amostragem para fazendas que utilizam esse tipo de manejo alimentar. No entanto, a carreta não mistura o material e pode haver segregação, já que é um ingrediente bastante heterogêneo.
Os protocolos rápido e correto geraram composições nutricionais semelhantes (tabela 2), o que, em parte, se deve ao fato de que a única diferença entre eles foi a mistura e coleta da subamostra enviada ao laboratório. Outro fator que pode ter contribuído para isso foi a baixa participação de grãos nessa silagem (estimada pelo baixíssimo teor de amido).
Caso o material tivesse mais grãos chance de segregação dos mesmos na mistura no balde seria maior. Como no balde a coleta da subamostra é vertical e feita com as mãos, existe a chance de que grãos escapem e fiquem no balde, reduzindo a concentração de amido no material enviado ao laboratório. A mistura e quartejamento do material em uma lona no chão impede essa segregação vertical dos componentes.
O que muitas vezes ocorre nas fazendas é a retirada de menos pontos no do silo, apenas o suficiente para se atingir o peso necessário de amostra para envio ao laboratório. Apesar deste protocolo não ter sido medido neste experimento, é de se esperar que ele influencie o resultado da análise, devido à baixa representatividade da amostragem em relação ao material oferecido ao animal. Em nosso próximo ensaio, este protocolo também será avaliado.
A precisão na formulação das dietas tem como objetivo a redução das margens de segurança e, com isso, menor desperdício de nutrientes, que aumenta a receita menos o custo com alimentação (RMCA). Dietas mais precisas dependem de análises mais frequentes dos alimentos, o que, por sua vez, implica em custo. A tecnologia pode nos ajudar neste sentido e equipamentos de NIRS portáteis estão aparecendo cada vez mais nas realidades das fazendas, possibilitando análises rápidas e frequentes a menor custo.
E você, como coleta suas amostras de alimentos? Como utiliza os resultados das análises? Compartilhe com a gente quem são seus amostradores, quais protocolos utiliza, qual a frequência de coleta das amostras, quais as dificuldades encontradas, etc. Vamos utilizar os comentários abaixo para discutir esse importante tópico?