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Poder de compra no campo: leite, milho e soja

Nos últimos anos, o setor de grãos seguiu em expansão, mas conviveu com secas severas. Já a pecuária leiteira registrou certa estagnação na produção. Saiba mais

Publicado por: MilkPoint

Publicado em: - 4 minutos de leitura

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Nos últimos anos, os preços relativos na agropecuária brasileira tiveram mudanças importantes. O setor de grãos seguiu em expansão, mas conviveu com secas severas. Por outro lado, a pecuária leiteira registrou uma certa estagnação na produção a partir de 2015.

A competição por terra vem aumentando, sendo a rentabilidade um fator primordial neste contexto. Um bom indicador para avaliar comparativamente as atividades é o Poder de Compra (IPC), que leva em consideração a Relação de Troca (IRT) e a Produtividade (IPD).

O índice de relação de troca considera a relação entre o preço do produto produzido e de uma composição de insumos utilizados na sua produção. Quanto maior o índice, mais lucrativa é a atividade. Já o índice de produtividade, mede a eficiência com que os recursos são utilizados. Quanto mais tecnológico, mais produtivo. Por fim, o índice de poder de compra, obtido pela combinação dos dois primeiros, revela a capacidade de aquisição de insumos, de investimentos e da adoção de novas tecnologias.

A evolução do índice de poder de compra ajuda a entender a competitividade relativas das rurais, inclusive para explicar mudanças no custo de oportunidade da terra e expansão de determinadas atividades em relação a outras. Para este estudo, optou-se por analisar o período dos últimos 17 anos, considerando leite, milho e soja. No caso do indicador de produtividade, utilizou-se a produção por hectare para os grãos e a produção por vaca para o leite.

A Figura 1 ilustra uma evolução dos três indicadores para o leite, sendo possível observar certa estabilidade média no índice de relação de troca (IRT). Isso pode indicar um relativo equilíbrio de preços de venda da produção e dos insumos utilizados no processo produtivo. Todavia, pode-se observar uma deterioração da relação de troca entre 2006 e 2015, com pequena recuperação nos anos seguintes. Pode-se notar também um aumento da produtividade por vaca no período analisado (IPD), sobretudo após 2015. Essa melhor produtividade contribuiu para um crescimento importante no poder de compra da pecuária de leite (IPC), que subiu 140% no período.

Figura 1 - Produção de Leite: evolução dos índices de relação de troca, produtividade e poder de compra (2006=100)

Produção de Leite: evolução dos índices de relação de troca, produtividade e poder de compra

Fonte: Banco de Dados da Embrapa Gado de Leite

 

Analisando a produção de leite comparativamente com as culturas de milho e soja, o que se observa é um poder de compra do leite relativamente pior até 2016 e uma recuperação das três atividades em seguida, com boa evolução até 2021 (Figura 2). Em 2022 e 2023, até o momento, o poder de compra do leite está relativamente melhor, devido à queda acentuada nos preços do milho e da soja nos mercados internacional e brasileiro. Mas vale ressaltar que essa evolução do poder de compra da soja gerou forte pressão de competitividade no campo.

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Neste sentido, a intensificação tecnológica foi fundamental para manter a rentabilidade comparativa do leite com as demais lavouras. Em outras palavras, aqueles produtores mais especializados, com boa eficiência e bons níveis de produtividade conseguiram crescer e competir na atividade. Por outro lado, aqueles menos preparados tiveram maior dificuldade em se manter produzindo leite. Isso porque a produção de leite ficou praticamente estável desde 2014, o número de vacas recuou 30%, enquanto a área plantada de soja registrou expansão de 45% e a de milho 39%.

Figura 2 - Leite, milho e soja: índice de poder de compra (2006=100)

Leite, milho e soja: índice de poder de compra

Fonte: Banco de Dados da Embrapa Gado de Leite

 

Um incentivo para a expansão da área de soja pode ser explicado pelo índice de relação de troca, que registrou bons resultados durante todo período, até 2021. Em todos estes anos, o índice se manteve acima de 100, mostrando que o IRT foi melhor que o ano base (Figura 3). Em 2022 e 2023, o cenário se alterou com a queda no preço da oleaginosa.

Quando se compara com o leite, verifica-se que a soja foi melhor em quase todos os anos. Já no caso do milho, o IRT apresentou um comportamento bem volátil, alternando períodos superiores ao leite e inferiores. Mas vale lembrar que o milho é um produto que tem seu foco em segunda safra, consorciando com a soja no verão. Isso acaba dando mais resiliência aos produtores, que seguiram aumentando a área de semeadura. Mas é importante notar também os bons números de relação de troca em 2020 e 2021, proporcionando boa rentabilidade aos grãos comparativamente a pecuária de leite.

Figura 3 - Leite, milho e soja: índice de relação de troca (2006=100)

Leite, milho e soja: índice de relação de troca (2006=100)

Fonte: Banco de Dados da Embrapa Gado de Leite

 

Já em 2022 e 2023, a redução nos preços da soja e do milho possibilitou um maior equilíbrio relativo na rentabilidade quando comparado com outras atividades agropecuárias. O cenário para o leite, por exemplo, foi bem melhor.

Contudo, ressalta-se que o agronegócio segue crescendo bem acima da média brasileira e o campo vem exigindo elevado nível tecnológico, independente da atividade. O leite tem a característica de gerar alta renda bruta e líquida por hectare, mas é preciso focar na tecnologia e na escala de produção. O custo de oportunidade da terra no Brasil vem subindo e a competição pelo seu uso será cada dia mais acirrada. Gestão e tecnologia serão fundamentais neste ambiente.

 

Autores

Glauco Carvalho – Pesquisador Embrapa Gado de Leite 
Luiz Aguiar – Analista Embrapa Gado de Leite

 

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Nos últimos anos, o setor de grãos seguiu em expansão, mas conviveu com secas severas. Já a pecuária leiteira registrou certa estagnação na produção. Saiba mais

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A competição por terra vem aumentando, sendo a rentabilidade um fator primordial neste contexto. Um bom indicador para avaliar comparativamente as atividades é o Poder de Compra (IPC), que leva em consideração a Relação de Troca (IRT) e a Produtividade (IPD).

O índice de relação de troca considera a relação entre o preço do produto produzido e de uma composição de insumos utilizados na sua produção. Quanto maior o índice, mais lucrativa é a atividade. Já o índice de produtividade, mede a eficiência com que os recursos são utilizados. Quanto mais tecnológico, mais produtivo. Por fim, o índice de poder de compra, obtido pela combinação dos dois primeiros, revela a capacidade de aquisição de insumos, de investimentos e da adoção de novas tecnologias.

A evolução do índice de poder de compra ajuda a entender a competitividade relativas das rurais, inclusive para explicar mudanças no custo de oportunidade da terra e expansão de determinadas atividades em relação a outras. Para este estudo, optou-se por analisar o período dos últimos 17 anos, considerando leite, milho e soja. No caso do indicador de produtividade, utilizou-se a produção por hectare para os grãos e a produção por vaca para o leite.

A Figura 1 ilustra uma evolução dos três indicadores para o leite, sendo possível observar certa estabilidade média no índice de relação de troca (IRT). Isso pode indicar um relativo equilíbrio de preços de venda da produção e dos insumos utilizados no processo produtivo. Todavia, pode-se observar uma deterioração da relação de troca entre 2006 e 2015, com pequena recuperação nos anos seguintes. Pode-se notar também um aumento da produtividade por vaca no período analisado (IPD), sobretudo após 2015. Essa melhor produtividade contribuiu para um crescimento importante no poder de compra da pecuária de leite (IPC), que subiu 140% no período.

Figura 1 - Produção de Leite: evolução dos índices de relação de troca, produtividade e poder de compra (2006=100)

Produção de Leite: evolução dos índices de relação de troca, produtividade e poder de compra

Fonte: Banco de Dados da Embrapa Gado de Leite

 

Analisando a produção de leite comparativamente com as culturas de milho e soja, o que se observa é um poder de compra do leite relativamente pior até 2016 e uma recuperação das três atividades em seguida, com boa evolução até 2021 (Figura 2). Em 2022 e 2023, até o momento, o poder de compra do leite está relativamente melhor, devido à queda acentuada nos preços do milho e da soja nos mercados internacional e brasileiro. Mas vale ressaltar que essa evolução do poder de compra da soja gerou forte pressão de competitividade no campo.

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Neste sentido, a intensificação tecnológica foi fundamental para manter a rentabilidade comparativa do leite com as demais lavouras. Em outras palavras, aqueles produtores mais especializados, com boa eficiência e bons níveis de produtividade conseguiram crescer e competir na atividade. Por outro lado, aqueles menos preparados tiveram maior dificuldade em se manter produzindo leite. Isso porque a produção de leite ficou praticamente estável desde 2014, o número de vacas recuou 30%, enquanto a área plantada de soja registrou expansão de 45% e a de milho 39%.

Figura 2 - Leite, milho e soja: índice de poder de compra (2006=100)

Leite, milho e soja: índice de poder de compra

Fonte: Banco de Dados da Embrapa Gado de Leite

 

Um incentivo para a expansão da área de soja pode ser explicado pelo índice de relação de troca, que registrou bons resultados durante todo período, até 2021. Em todos estes anos, o índice se manteve acima de 100, mostrando que o IRT foi melhor que o ano base (Figura 3). Em 2022 e 2023, o cenário se alterou com a queda no preço da oleaginosa.

Quando se compara com o leite, verifica-se que a soja foi melhor em quase todos os anos. Já no caso do milho, o IRT apresentou um comportamento bem volátil, alternando períodos superiores ao leite e inferiores. Mas vale lembrar que o milho é um produto que tem seu foco em segunda safra, consorciando com a soja no verão. Isso acaba dando mais resiliência aos produtores, que seguiram aumentando a área de semeadura. Mas é importante notar também os bons números de relação de troca em 2020 e 2021, proporcionando boa rentabilidade aos grãos comparativamente a pecuária de leite.

Figura 3 - Leite, milho e soja: índice de relação de troca (2006=100)

Leite, milho e soja: índice de relação de troca (2006=100)

Fonte: Banco de Dados da Embrapa Gado de Leite

 

Já em 2022 e 2023, a redução nos preços da soja e do milho possibilitou um maior equilíbrio relativo na rentabilidade quando comparado com outras atividades agropecuárias. O cenário para o leite, por exemplo, foi bem melhor.

Contudo, ressalta-se que o agronegócio segue crescendo bem acima da média brasileira e o campo vem exigindo elevado nível tecnológico, independente da atividade. O leite tem a característica de gerar alta renda bruta e líquida por hectare, mas é preciso focar na tecnologia e na escala de produção. O custo de oportunidade da terra no Brasil vem subindo e a competição pelo seu uso será cada dia mais acirrada. Gestão e tecnologia serão fundamentais neste ambiente.

 

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Glauco Carvalho – Pesquisador Embrapa Gado de Leite 
Luiz Aguiar – Analista Embrapa Gado de Leite

 

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