Antes de plantar, ele sobrevivia da caça e era nômade por natureza. Com a conquista da prática de semear grãos e cultivar o solo, os animais (como o gado) aram a contribuir também com sua força para a tração de arados primitivos, possibilitando um grande progresso (LEMOS, 2006; ASSIS, 2007; SANTOS, 2013). Já Felius (1985), relata que os primeiros animais a serem domesticados foram bovinos, ovinos, caprinos, suínos e caninos.
Para Santos (2013) o homem inicia a domesticação dos animais 11.000 anos a.C., o que daria um formidável impulso na civilização. Felius (1985) concorda ao evidenciar que esta foi uma grande revolução que gerou um considerável avanço, permitindo a formação das civilizações. A utilização de pedras no período Neolítico (há 50.000 anos) também proporcionou aos homens o enriquecimento da dieta alimentar, possibilitando o domínio da caça de animais perigosos a longa distância (SANTOS, 2013).
De acordo com este mesmo autor, em terrenos de caça farta, os homens se fixavam por longo tempo. Por outro lado, a vida sedentária levava as pessoas a capturar animais ainda novos, para uso futuro. Esses animais mostraram a possibilidade de manter uma criação própria ao invés da necessidade de realização de numerosas caçadas. O autor destaca em sua obra, que os homens que progrediram foram os que deixaram de ser caçadores-coletores de alimento para se tornar agricultores e domesticadores de animais. Porém, o aumento da população humana, levou à extinção da maioria dos grandes mamíferos.
Conforme Felius (1985), alguns especialistas afirmam que os primeiros bovinos não foram domesticados visando à realização de trabalhos de tração ou a produção de carne ou leite, mas sim para serem utilizados em rituais e práticas religiosas. Santos (2013), afirma que na antiguidade a domesticação possibilitou rebanhos de pequenos animais, principalmente ovinos e caprinos. O bovino era muito precioso, sendo utilizado na agricultura. De acordo com Embrapa (2006) todo o gado doméstico foi originado do Bos primigenius, que foi extinto em 1627 na Polônia.
Assis (2007) relata que diferentes autores divergem quanto à data das primeiras domesticações de Bos primigenius. No entanto, a maioria dos trabalhos baseados em achados arqueológicos sugere que tenha ocorrido em dois centros diferentes, há cerca de cinco a dez mil anos, sendo situado um na região que engloba os atuais Iraque, Líbano, Palestina e Síria e o outro, ao sudoeste do Paquistão, do Afeganistão e sudeste do Irã (FELIUS, 1985). Já outro trabalho baseado em análise de DNA mitocondrial, citado por Assis (2007) indica que essas domesticações teriam iniciado há pelo menos 200 mil anos.
Houve uma grande aceleração evolutiva devido à introdução de produtos animais na dieta humana. A ovelha era um “estoque de carne ambulante” e a cabra um “laticínio ambulante”. Logo ou de cabras e ovelhas para o gado maior (SANTOS, 2013). Por serem mamíferos, os humanos possuem no leite a primeira referência no quesito alimentação, sendo primeiramente o materno e depois, o de animais que os homens e mulheres aprenderam a domesticar e a utilizarem das suas características de produzir leite em quantidade, ou seja, além das necessidades de suas crias e com qualidade nutricional (LEMOS, 2006).
O leite como um alimento essencial ao organismo por seu caráter construtor é muito útil enquanto não se soldam as epífises ósseas. Até esse momento, é fundamental a ingestão de leite, porque os ossos precisam de cálcio e vitamina D, sendo esta, a melhor fonte de cálcio, mineral responsável pelo crescimento, desenvolvimento e manutenção de ossos e dentes. Além disso, o leite possui proteína de alto valor biológico que propicia a formação e manutenção dos tecidos do organismo (SANTOS, 2013). Lemos (2006) concorda ao citar que o leite tem componentes primordiais para formação, crescimento e manutenção do corpo. Tais fatores corroboram na relevância do leite bovino para a nutrição dos humanos desde o princípio. Entre diferentes espécimes domésticas, conforme Assis (2007) o bovino é o animal de grande porte mais abundante da Terra, estando presente em todos os continentes, sendo responsável pela produção de grande parcela da proteína animal consumida no mundo. Para Lemos (2006), dentre todos os animais criados pelo homem, os bovinos são os que mais contribuem para fornecimento de leite.
Ao longo do tempo o homem ou a exercer processos empíricos de seleção de animais conforme a utilização destes para seus fins de interesse, o que acarretou em diversas modificações fenotípicas nos bovinos. Pereira (2012) confirma essa teorização ao afirmar que a seleção para fenótipos desejáveis tem sido praticada em bovinos desde sua domesticação, ocorrida há, aproximadamente, 7.500-10.000 anos, sendo realizada até o início do século ado somente com base na avaliação visual. Características que seriam prejudiciais a um animal selvagem aram a ser ignoradas ou até mesmo selecionadas artificialmente pelos homens, como presença, forma e tamanho de chifres ou pelagem (ASSIS, 2007).
O interesse pela produção de leite também culminou em um processo de seleção. Diversos grupos raciais formados na Europa foram inicialmente selecionados para a dupla aptidão e posteriormente, especializados para a produção da carne ou de leite. Em termos de especialização, os Estados Unidos ancorou o melhoramento genético de várias raças para a especialização leiteira, como é o caso das raças Holandesa, Jersey e Pardo Suíça, entre outras. Em concordância com esta colocação, Almeida (2007) reforça que a raça Holandesa originariamente era uma raça de dupla aptidão (Frísia), e ou a ser selecionada exclusivamente para aptidão leiteira na América do Norte, a partir do fim do século XIX.
Lemos (2006) salienta que são várias as raças bovinas europeias que se tornaram conhecidas por suas performances na atividade pecuária de leite, embora a Holandesa, sem dúvida, seja a mais reconhecida. Para Madalena (2009) esta raça constitui o principal recurso genético global para produção de leite. Por ser a raça bovina de maiores produções, foi e tem sido a raça de escolha em diversas regiões, tanto no Brasil como em outros países (ALMEIDA, 2007). Heins et al. (2012) afirmaram que a raça Holandesa tem dominado a produção global de leite durante os últimos 25 anos e o sucesso da seleção para produção de leite tem contribuído para esta dominância. Interessante destacar, que até 2005, mais de 90% da população de vacas leiteiras dos Estados Unidos era de gado Holandês (ALMEIDA, 2007). De acordo com levantamento dos 100 maiores produtores de leite do Brasil em 2016, produzido e publicado pelo portal MilkPoint (2016), a raça Holandesa é a mais utilizada nas propriedades, estando presente em 76 fazendas.
Segundo Pereira (2012), a produção de leite é a característica de maior valor econômico, razão pela qual comumente é a primeira a ser considerada em um programa de seleção. No entanto, conforme observações de Madalena (2009), a seleção para maior produção (especialização), tem levado a um tipo de animal que tem apresentado o surgimento de uma série de limitações observadas em vacas leiteiras por produtores de distintas localidades do mundo. Estas limitações apresentadas pelos rebanhos de alta produção, bem como estratégias e uma discussão mais profunda quanto aos critérios de seleção que possam vir a ser adotados, serão abordadas nos próximos artigos.
Referências bibliográficas
ALMEIDA R. Raça Holandesa: pontos fortes, limitações de hoje e oportunidades no futuro. Piracicaba: Milk Point, 2007. Disponível em:
ASSIS, R. E. F. Evolução da espécie Bos taurus e formação das Raças Zebuínas (Bos taurus indicus) com ênfase na Raça Nelore. 2007. 101 f. Monografia (Especialização em julgamento das raças zebuínas)–Faculdades Associadas de Uberaba, Uberaba, 2007.
EMBRAPA GADO DE LEITE. Sistema de Produção. Juiz de Fora, 2005. Disponível em:
FELIUS, M. Genus Bos: Cattle Breeds of the World. Rahway: Merk, 1985. 234 p.
HEINS, B. J.; HANSEN, L. B.; DE VRIES, A. Survival, lifetime production, and profitability of Normande × Holstein, Montbéliarde × Holstein, and Scandinavian Red × Holstein crossbreds versus pure Holsteins. Journal of Dairy Science, v. 95, n. 2, p. 1011–1021, 2012.
LEMOS, J. O. Zebu para beber. Uberaba: Museu do Zebu, 2006. 176 p.
MADALENA, F. E. Comparações entre o Friesian da Nova Zelândia e o Holstein internacional - Revisão bibliográfica. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2009. 18 p.
MILKPOINT. Levantamento TOP 100 2016: Os 100 maiores produtores de leite do Brasil. Piracicaba, 2016. Disponível em < http://milkpoint-br.informativomineiro.com/top100/2016/EBOOK-TOP100.pdf>. o em: 02 ago. 2016.
PEREIRA, J. C. C. Melhoramento Genético Aplicado à Produção Animal. 6. ed. Belo Horizonte: FEPMVZ Editora, 2012. 758p.
SANTOS, R. Zebu: A pecuária sustentável – Edição comemorativa dos 75 anos de Registro Genealógico e 80 anos da ABCZ. Uberaba: Agropecuária Tropical, 2013. 856 p.