A região sul do Brasil está situada majoritariamente sob influência do clima subtropical, com verões quentes ou amenos dependendo da região (Cfa e Cfb, respectivamente). Esta condição climática implica em uma ausência de estação seca e permite o cultivo de forrageiras de verão e de inverno.
Dadas estas opções, é preciso considerar que as gramíneas de verão são espécies do ciclo fotossintético C4, e por isso possuem como principal característica a alta produção de forragem, embora seu valor nutricional seja inferior comparado as plantas de inverno. Por outro lado, as gramíneas de inverno são melhores nutricionalmente (FDN, PB, digestibilidade etc.), mas apresentam menor potencial de crescimento.
Até aqui falamos de fatos que não podem ser alterados, são aspectos relacionados ao clima e a fisiologia das plantas. Isso implica que os sistemas de produção de leite à base de pasto exijam tamanhos de área de pastagem distintos entre o verão e o inverno. Isso normalmente ocorre, pois parte da área é utilizada para o cultivo de lavoura/silagem durante o verão. Entretanto, ainda se encontra no campo situações de déficit de pastagem em algumas épocas do período frio, especialmente no início e final da estação fria, leia-se abril/maio e setembro/outubro. Essa situação pode ser atenuada! Como?
Utilizando estratégias simples como o escalonamento de semeadura e a combinação de mais de uma cultivar.
Em geral, o ano de 2024 apresentou uma elevação no preço das sementes de forrageiras no sul do Brasil, cultivares de aveia aram a chegar aos produtores acima de 3 ou 4 R$/kg enquanto os azevéns superam os 10 R$/kg. Deste modo, otimizar o seu uso é fundamental para a saúde financeira do sistema.
Se o produtor optar pelo cultivo da aveia preta e realizar toda a semeadura em uma única data (abril), possivelmente a oferta de forragem seja alta nos meses de junho e julho, enquanto a partir de agosto estas plantas estarão no final do ciclo, principalmente se durante os meses de maior oferta o produtor acabou por transpor/exceder a altura de manejo (25 – 30 cm) o que estimula a emissão da inflorescência (floração) da cultura. Entretanto, o plantio escalonado das áreas, com intervalos de 15 a 20 dias pode dar fôlego ao produtor e distribuir melhor a curva de produção de forragem.
Um o a diante seria o cultivo de azevéns, especialmente os de ciclo médio para regiões mais quentes e os de ciclo longo para regiões mais frias. Esta espécie tem por característica apresentar um desenvolvimento mais tardio, com maior produção normalmente a partir de julho, e com encerramento do ciclo nos meses de setembro/outubro - nos locais com verão quente e outubro/novembro - em regiões mais frias.
Outra estratégia para aumentar a utilização dos pastos de inverno é utilizar espécies precoces. O centeio e o trigo são exemplos de plantas que am plantios mais “cedo” e que apresentam desenvolvimento precoce. É importante salientar que, nestes casos, recomenda-se que seja realizada a semeadura apenas em parte da área, pois estas cultivares quando implantadas ainda no final do período de verão tendem a apresentar um ciclo de pastejo mais curto (Essas informações são conhecidas desde Postiglioni, 1982).
Se o problema ainda é a “entrada do inverno” (abril/maio), trabalhos recentes têm demonstrado a possibilidade de sobressemear espécies de inverno no mês de março ainda sob a cultura da soja (sobressemeadura a lanço com a soja em estádio R6) com relativo sucesso (Manfron et al., 2022), ou ainda a sobressemeadura de espécies anuais de verão, como o sorgo e o milheto, tanto a lanço no estádio R6 da soja como também logo após a colheita da oleaginosa. Este último sistema tem permitido uma relevante produção de forragem no mês de abril na região sudoeste do Paraná (Missio et al., 2024).
É importante ressaltar que este método “alternativo” de semeadura requer uma maior quantidade de sementes (kg/ha), o que pode inviabilizar o uso em toda a área, logo, novamente a sugestão é construir um mosaico na propriedade. As condições climáticas são variáveis, todos os anos o produtor é desafiado, mas podemos atenuar as épocas de vazio forrageiro. Todo ano tem inverno no sul do Brasil, mas não precisa ter vazio forrageiro.
Prezados leitores, esta linha de raciocínio não é uma “receita” nem a garantia de ausência de vazio forrageiro, construa o “mosaico de pastagens” na sua propriedade respeitando as condições do clima e compartilhe suas experiências nos comentários.
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Manfron, A. C A. et al., Sobressemeadura de forrageiras na entressafra de grãos no Brasil. Research, Society and Development, v. 11, n. 5, e10111527914, 2022. DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i5.27914
Missio, R. L. et al., Overseeding annual summer pastures on soybean crops to overcome the autumnal forage shortage. Ciência Rural, Santa Maria, v.54:01, e20220588, 2024 https://doi.org/10.1590/0103-8478cr20220588
Postiglioni, S. R. Comportamento da aveia, azevém e centeio na região dos Campos Gerais, PR. Londrina: IAPAR, 1982. 18 p. (IAPAR, Boletim técnico, 14).