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Uso da cerca virtual na pecuária leiteira

A cerca virtual pode reduzir mão de obra e facilitar o manejo no leite, mas ainda há dúvidas sobre bem-estar animal e eficiência. Confira o que dizem as pesquisas.

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O arame farpado surgiu nos anos de 1870 nos EUA, esta “invenção” teve um impacto enorme na história da agropecuária, ao permitir a delimitação de propriedades rurais em regiões onde a madeira era escassa. 

ados mais de 150 anos, novas tecnologias vêm se popularizando na agropecuária, como o uso de drones, sensores, robôs etc. Entre estas inovações, um exemplo adicional é a cerca virtual. Esta tecnologia começou a ser desenvolvida ainda na década de 1970, mas apenas nos últimos anos é que se tornou comercialmente disponível.

O sistema de manejo do gado por meio da cerca virtual compreende basicamente uma coleira com GPS integrado que continuamente monitora a posição, direção e movimento das vacas e transmite essas informações para uma estação base por meio de uma conexão sem fio via radiofrequência. 

Em relação a funcionalidade, o usuário, por meio de um app, pode definir os limites das cercas virtuais diretamente no aplicativo, delimitando as "zonas" onde as vacas devem permanecer. Ao ultraar a cerca virtual, os animais recebem (via coleira) um alerta sonoro contínuo e não aversivo, que pode ser direcionado (lado esquerdo ou direito) para guiar o retorno do animal. Se os animais retornarem à área permitida, o som cessa, caso continuem a sair da zona, o som aumenta até 2.700 Hz , seguido de um leve estímulo elétrico.

Figura 1

Fonte: Ilustração gerada por IA

Além do cercamento virtual, as empresas que trabalham com a tecnologia tem conduzido esforços para que o sistema seja capaz de conduzir remotamente as vacas para a sala de ordenha. Nesse caso, os mesmos princípios de estímulo sonoro e elétrico são aplicados, com o acréscimo de uma vibração. A vibração tem três funções principais:

  • alertar o animal sobre uma mudança iminente (por exemplo, a transição para outro piquete ou a ordenha),
  • indicar que ela está seguindo a direção correta (quando combinada com o som),
  • estimular a retomada do movimento caso a vaca pare durante a condução.

Se o animal continuar parado, a vibração aumenta gradualmente por até 30 segundos. Persistindo a inércia, aplica-se o pulso elétrico.

 

Cerca virtual no manejo leiteiro: inovação promissora ou tendência prematura?

Concebida para facilitar o manejo em grandes áreas, há poucos trabalhos que avaliaram o uso da cerca virtual em sistemas de produção de leite. Nesse escopo, um trabalho recente realizado na Austrália (Verdon et al., 2024) avaliou o uso da cerca virtual na contenção dos animais no piquete e na condução dos animais para a ordenha.

Os autores avaliaram dois grupos de 40 vacas em lactação e qualificaram o período de avaliação em duas etapas: período de treinamento/adaptação dos animais ao sistema (1o ao 10o dia) e período de manejo (11o ao 38o dia). De maneira geral, o número de pulsos elétricos decaiu à medida que se aram os dias de treinamento. Durante o período de manejo, cerca de 90% das vacas aram menos de dois minutos por dia além do limite virtual e 50% das vacas não receberam nenhum pulso elétrico/semana. Em relação a transição do piquete para a sala de ordenha, por se tratar de uma tarefa mais complexa, apenas 35% das vacas realizaram a atividade sem receber nenhum pulso/semana

De maneira geral, os animais apresentaram uma rápida aprendizagem e evitaram os pulsos elétricos, ou seja, os estímulos não aversivos (sons) foram eficientes para orientar os animais. Apesar destes aspectos positivos, os autores destacam a necessidade de avaliar ainda os aspectos de bem-estar das vacas, impactos na produtividade e a viabilidade do uso da tecnologia do ponto de vista dos produtores, para garantir que sua aplicação seja ética, eficiente e sustentável.

Essa tecnologia poderá se popularizar no Brasil? Só o tempo poderá responder essa questão, entretanto, já há empresas brasileiras que possuem esta tecnologia disponível em seu portfólio para comercialização, o que sinaliza um potencial de mercado.

Por fim, destaco que a cerca virtual é uma ferramenta que pode facilitar o manejo, diminuir a mão de obra etc. Entretanto, o fato de os animais serem contidos por uma cerca virtual ao invés de uma cerca física, por si só, não melhora o desempenho do sistema, esta tecnologia está na ponta da pirâmide de prioridades em sistema de produção à base de pasto

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Material escrito por:

Daniel Augusto Barreta

Daniel Augusto Barreta

Zootecnista, Núcleo de Pesquisa em Pastagem - UDESC/CAV

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Uso da cerca virtual na pecuária leiteira

A cerca virtual pode reduzir mão de obra e facilitar o manejo no leite, mas ainda há dúvidas sobre bem-estar animal e eficiência. Confira o que dizem as pesquisas.

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O arame farpado surgiu nos anos de 1870 nos EUA, esta “invenção” teve um impacto enorme na história da agropecuária, ao permitir a delimitação de propriedades rurais em regiões onde a madeira era escassa. 

ados mais de 150 anos, novas tecnologias vêm se popularizando na agropecuária, como o uso de drones, sensores, robôs etc. Entre estas inovações, um exemplo adicional é a cerca virtual. Esta tecnologia começou a ser desenvolvida ainda na década de 1970, mas apenas nos últimos anos é que se tornou comercialmente disponível.

O sistema de manejo do gado por meio da cerca virtual compreende basicamente uma coleira com GPS integrado que continuamente monitora a posição, direção e movimento das vacas e transmite essas informações para uma estação base por meio de uma conexão sem fio via radiofrequência. 

Em relação a funcionalidade, o usuário, por meio de um app, pode definir os limites das cercas virtuais diretamente no aplicativo, delimitando as "zonas" onde as vacas devem permanecer. Ao ultraar a cerca virtual, os animais recebem (via coleira) um alerta sonoro contínuo e não aversivo, que pode ser direcionado (lado esquerdo ou direito) para guiar o retorno do animal. Se os animais retornarem à área permitida, o som cessa, caso continuem a sair da zona, o som aumenta até 2.700 Hz , seguido de um leve estímulo elétrico.

Figura 1

Fonte: Ilustração gerada por IA

Além do cercamento virtual, as empresas que trabalham com a tecnologia tem conduzido esforços para que o sistema seja capaz de conduzir remotamente as vacas para a sala de ordenha. Nesse caso, os mesmos princípios de estímulo sonoro e elétrico são aplicados, com o acréscimo de uma vibração. A vibração tem três funções principais:

  • alertar o animal sobre uma mudança iminente (por exemplo, a transição para outro piquete ou a ordenha),
  • indicar que ela está seguindo a direção correta (quando combinada com o som),
  • estimular a retomada do movimento caso a vaca pare durante a condução.

Se o animal continuar parado, a vibração aumenta gradualmente por até 30 segundos. Persistindo a inércia, aplica-se o pulso elétrico.

 

Cerca virtual no manejo leiteiro: inovação promissora ou tendência prematura?

Concebida para facilitar o manejo em grandes áreas, há poucos trabalhos que avaliaram o uso da cerca virtual em sistemas de produção de leite. Nesse escopo, um trabalho recente realizado na Austrália (Verdon et al., 2024) avaliou o uso da cerca virtual na contenção dos animais no piquete e na condução dos animais para a ordenha.

Os autores avaliaram dois grupos de 40 vacas em lactação e qualificaram o período de avaliação em duas etapas: período de treinamento/adaptação dos animais ao sistema (1o ao 10o dia) e período de manejo (11o ao 38o dia). De maneira geral, o número de pulsos elétricos decaiu à medida que se aram os dias de treinamento. Durante o período de manejo, cerca de 90% das vacas aram menos de dois minutos por dia além do limite virtual e 50% das vacas não receberam nenhum pulso elétrico/semana. Em relação a transição do piquete para a sala de ordenha, por se tratar de uma tarefa mais complexa, apenas 35% das vacas realizaram a atividade sem receber nenhum pulso/semana

De maneira geral, os animais apresentaram uma rápida aprendizagem e evitaram os pulsos elétricos, ou seja, os estímulos não aversivos (sons) foram eficientes para orientar os animais. Apesar destes aspectos positivos, os autores destacam a necessidade de avaliar ainda os aspectos de bem-estar das vacas, impactos na produtividade e a viabilidade do uso da tecnologia do ponto de vista dos produtores, para garantir que sua aplicação seja ética, eficiente e sustentável.

Essa tecnologia poderá se popularizar no Brasil? Só o tempo poderá responder essa questão, entretanto, já há empresas brasileiras que possuem esta tecnologia disponível em seu portfólio para comercialização, o que sinaliza um potencial de mercado.

Por fim, destaco que a cerca virtual é uma ferramenta que pode facilitar o manejo, diminuir a mão de obra etc. Entretanto, o fato de os animais serem contidos por uma cerca virtual ao invés de uma cerca física, por si só, não melhora o desempenho do sistema, esta tecnologia está na ponta da pirâmide de prioridades em sistema de produção à base de pasto

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