Que a reprodução exerce um papel fundamental nos resultados financeiros em uma propriedade leiteira todos nós já sabemos, não é mesmo? Agora, você sabe qual a importância da estrutura de rebanho para o sucesso da atividade?
Vamos exemplificar de uma forma diferente. Imagine uma família com 4 pessoas, o pai, a mãe e 2 filhos, na qual apenas uma delas trabalha e gera renda para o sustento da casa. Agora imagine 2 pessoas trabalhando nessa mesma casa para sustentar as mesmas 4 pessoas. Com uma renda maior a “saúde financeira” deste lar estará melhor, concorda?
Pois, em uma propriedade leiteira, a variação na estrutura de rebanho gera um efeito semelhante à essa história acima. Quem gera a maior parte da renda são as vacas em lactação! Quanto maior o número de vacas em produção maior é a receita dessa empresa rural para sustentar o mesmo número de animais no rebanho. É claro, sabemos que os custos de uma vaca em lactação são maiores do que em qualquer outra categoria (alimentação, energia elétrica, material de ordenha, medicamentos, mão de obra, etc.), mas que certamente não superam o aumento da receita com a maior produção de leite.
Um excelente indicador para monitorar a estrutura de rebanho é a relação Vacas em lactação/Vacas Totais (VL/VT). Dois importantes fatores podem interferir diretamente nesse indicador: Intervalo de Partos (IP) e Persistência de Lactação (PL), sendo que, quanto maior o IP e menor a PL, menor tende a ser a relação VL/VT. Altos intervalos entre os partos normalmente aumentam o período em que as vacas am secas, principalmente as com baixa persistência de lactação. Por exemplo, esperamos que vacas sem alta PL e com IP de 12 meses fiquem 10 meses em produção e 2 meses secas. Porém se esse intervalo aumentar para 15 meses, elas produzirão durante os mesmos 10 meses e ficarão 5 meses secas, sem gerar renda.
Já vacas com altas PL tendem a compensar o aumento no IP produzindo por mais tempo, por exemplo, ficando 15 meses em produção e os mesmos 2 meses seca (em um IP de 17 meses). Sendo assim, o número ideal da relação VL/VT irá variar de acordo com o IP. Se o intervalo de partos médio em uma fazenda está em 12 meses, para eu saber qual a relação ideal basta eu dividir o 10 meses esperados em produção pelo IP: 10/12 = 83,33%. Neste caso então a propriedade deveria ter no mínimo 83,33% das vacas produzindo leite! Se o IP for maior, 17 meses por exemplo, o esperado é que elas produzam por 15 meses: 15/17 = 88,2%, sendo este, o valor esperado. Porém, se elas produzirem somente por 10 meses, ficarão 7 meses secas, derrubando significativamente a relação VL/VT projetada: 10/17 = 58,8%.
Em um estudo realizado pela equipe do Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira (PDPL) em Viçosa-MG, foi realizado uma correlação estatística em 27 fazendas na zona da mata mineira entre diversos indicadores reprodutivos e de estrutura de rebanho com a taxa de remuneração do capital investido, incluindo a terra e sem a terra (TRC-CT e TRC-ST respectivamente). O indicador que teve maior correlação com o retorno econômico foi justamente a relação VL/VT, conforme demonstrado na figura abaixo.
Adaptado de Lobato et al. (2012)
E onde entra a reprodução nessa história? Quanto menor for o período de serviço, ou seja, menor o intervalo entre parto e concepção, menor será o intervalo de partos e consequentemente maior será a relação VL/VT. Sim! Mais vacas produzindo renda!
Nesse mesmo estudo do PDPL, foi obtida também a elasticidade entre o indicador econômico TRC-ST e alguns indicadores reprodutivos e de estrutura de rebanho, ou seja, o quanto uma variação percentual em um desses indicadores reprodutivos interfere no indicador econômico em questão. E o resultado mais significativo foi justamente com VL/TV! Para cada aumento de 1% na relação VL/TV houve uma elevação de 3,69% na TRCST.
Lembrando que para evitar interpretações errôneas, os indicadores citados foram e devem ser calculados como média ano, já que variações mensais nos valores podem ocorrer por diversos motivos como estação mais quente do ano, concentração de partos, etc.
Concluindo, um bom programa de manejo reprodutivo, bem como a seleção de animais com boa persistência de lactação são de fundamental importância para um satisfatório retorno econômico na atividade leiteira.
O indicador VL/VT (média ano) abaixo do ideal é um sinal de que alguma coisa está errada e que deve ser corrigida imediatamente, seja com a baixa persistência de lactação ou com a reprodução, que envolve não só o manejo reprodutivo em si, mas também vários outros pontos como boas práticas no pré e pós-parto das vacas, nutrição adequada, conforto e bem-estar animal.