2009, o número de pessoas ocupadas em atividades agrícolas no Brasil reduziu de 16.906.000 para 14.838.000, ou seja, dois milhões, segundo dados apresentados pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA).[...]" />

Uma questão de sobrevivência

Presente em quase todos os municípios brasileiros, o agronegócio do leite pode ser considerado ainda um setor estratégico pela geração de trabalho e renda no campo, e movimenta a economia de muitas regiões. No entanto, o setor a por profundas transformações. Entre os anos de 2005 e 2009, o número de pessoas ocupadas em atividades agrícolas no Brasil reduziu de 16.906.000 para 14.838.000, ou seja, dois milhões, segundo dados apresentados pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA).[...]

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Presente em quase todos os municípios brasileiros, o agronegócio do leite pode ser considerado ainda um setor estratégico pela geração de trabalho e renda no campo, e movimenta a economia de muitas regiões. No entanto, o setor a por profundas transformações. Entre os anos de 2005 e 2009, o número de pessoas ocupadas em atividades agrícolas no Brasil reduziu de 16.906.000 para 14.838.000, ou seja, dois milhões, segundo dados apresentados pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA). Em 2006 o Brasil contava com 1.340.897 estabelecimentos produtores de leite, e comparado com os resultados do Censo Agropecuário de 1995/1996, este número representa uma redução no número de estabelecimentos na ordem de 25,92%, o que corresponde a 469.144 estabelecimentos, enquanto a produção no mesmo período aumentou 3.502.499 litros (19,53%). Mesmo havendo uma redução no número de produtores de leite no Brasil, a produção nacional aumenta a cada ano, o que consequentemente aumenta a média de produção diária entre as fazendas.

Tais números evidenciam que muitos produtores deixaram a atividade leiteira, porém, os que permaneceram aumentaram suas produções. Este fenômeno não é uma particularidade brasileira, mas sim mundial. Nos Estados Unidos, maior produtor de leite mundial, o número de produtores de leite reduziu de 5.514.000 em 1910 para 68.500 fazendas em 2010. Uma reflexão a ser feita é, se muitos deixaram a atividade, porque outros permanecem produzindo e quais as razões para o sucesso ou insucesso na atividade?

Nas últimas décadas, as fazendas leiteiras têm aumentado em tamanho e o foco da gestão mudou de curativa para preventiva. Embora seja um aspecto multifatorial, o aumento da competitividade dos sistemas de produção de leite pode depender do aumento da escala de produção e do sistema de produção utilizado.

Pesquisas mostram que há uma diferença significativa entre as percepções de técnicos e produtores de leite, quanto ao processo istrativo nas áreas de produção, finanças, comercialização e recursos humanos dos sistemas de produção de leite. Esta diferença de percepção, a começar pelos objetivos que os produtores vislumbram para seus sistemas de produção, podem levar à distorções na atuação dos técnicos nos sistemas assistidos por eles, e consequentemente o comprometimento dos resultados possíveis de serem alcançados.

Avaliando resultados de propriedades leiteiras nos estados de Minas Gerais e São Paulo, os números mostram que a alta produtividade não significa sempre maior benefício econômico, que a produção de escala de leite tem influência no custo total do litro de leite, e que as análises de viabilidade produtiva de sistemas de produção, necessariamente, devem compor análises de custos e receitas. Há ainda trabalhos que mostram que a rentabilidade do capital imobilizado foi menor que o rendimento da caderneta de poupança, demonstrando que o retorno de investimento está abaixo do desejado.

Outras pesquisas realizadas com o objetivo de avaliar diferentes sistemas de produção e níveis tecnológicos, apresentam em comum a conclusão preocupante de que a atividade leiteira tem condições de produzir a médio prazo, mas a longo prazo constatou-se que os produtores se descapitalizam.

De modo geral, pode-se afirmar que a baixa produtividade da pecuária leiteira e os elevados custos de produção, evidenciam a necessidade de se modernizar e profissionalizar a istração do empreendimento, com vistas à melhor alocação e combinação dos recursos produtivos. É preciso , que os produtores de leite adotem práticas de gestão fundamentadas no planejamento da produção, organização rural e controle de atividades e processos, notadamente controles zootécnicos e istrativos. Além disso, é necessário que a tecnologia disponível seja plenamente compreendida e utilizada de forma eficiente, garantindo a alimentação e o manejo adequado do rebanho, assim como o uso da capacidade máxima instalada e obtenção de uma melhor rentabilidade na atividade leiteira.

O sucesso da atividade leiteira não está associado ao tamanho da propriedade ou volume de produção, embora estes aspectos influenciem nos resultados, mas o mais importante é "como" a propriedade é conduzida. istrar é decidir o que fazer e o que não fazer, tomar as decisões adequadas quanto à tecnologia a ser adotada, mudanças no sistema produtivo, correr riscos.

Como regra, pode-se afirmar que o caminho para viabilizar a atividade no campo é a qualidade gerencial. Com ela, o empreendimento se profissionaliza, moderniza e começa a ser encarado como empresa de fato, que busca obter conhecimentos acerca dos mercados em que opera e procura estreitar seus relacionamentos. Antes a preocupação era apenas com o que acontecia dentro dos limites de sua propriedade, mas hoje se tornou uma questão de sobrevivência obter informações sobre a dinâmica mercadológica e utilizá-las na gestão da propriedade.

A melhoria na gestão se efetiva por meio de um processo educacional contínuo e principalmente de querer. Isso demanda tempo, energia, esforço, paciência, perseverança e novas competências por parte de todos, em especial do proprietário, do e da assistência técnica. O êxito ou o fracasso deste processo de mudança em busca de uma nova forma de se ver e fazer as coisas está intimamente ligado ao maior ou menor esforço do produtor e , além do comprometimento, em fazer as coisas acontecerem na propriedade rural.

O êxito na atividade no ado, não garante o mesmo resultado agora ou no futuro, basta olhar a sua volta e em sua rede de contatos para constatar a saída de muitos produtores da atividade leiteira. Aos produtores, es e técnicos de campo, cabem a reflexão sobre esta mudança com foco na gestão por resultados, pois ela pode ser decisiva para a sobrevivência ou não na atividade.

No próximo artigo abordaremos o conceito de gestão, suas limitações no meio rural, e a importância do empresário enquanto líder.

Referências

DERKS, M.; WERVEN, T. van; HOGEVEEN H.; KREMER, W.D.J. Associations between farmer participation in veterinary herd health management programs and farm performance. Journal of Dairy Science, V. 97, n. 3, p. 1336-1347, (DOI: 10.3168/jds.2013-6781), 2014.

FASSIO, L.H.; REIS, R. P. e GERALDO, L. G.. Desempenho técnico e econômico da atividade leiteira em Minas Gerais. Ciênc. Agrotec., Lavras, v. 30, n. 6, p. 1154-1161, nov./dez., 2006.

IBGE, Censo Agropecuário 2006 - Resultados Preliminares. Rio de Janeiro, 2006. 146p, ISSN 0103-6157.

LOPES, M. A.; LIMA, A. L. R.; CARVALHO, F. M.; REIS, R. P.; SANTOS, I.C.; SARAIVA, F. H. Efeitos do tipo de sistema de criação nos resultados econômicos de produção de leite na região de Lavras (MG). Ciência Agrotécnica, v.28, n.5, p.1177-1189, 2004.

LOPES, M.A.; DIAS, A.S.; CARVALHO, F.M.; LIMA, A.L.R.; CARDOSO, M.G.; CARMO, E.A.. Resultados econômicos de sistemas de produção de leite com diferentes níveis tecnológicos na região de Lavras MG nos anos 2004 e 2005. Ciência Agrotécnica, Lavras, v. 33, n. 1, p. 252-260, jan./fev., 2009

MDA. Estatísticas do Meio Rural 2010-2011, 4.ed., 2011.

SCHIAVON, R.; GONÇALVES, A.O.; SILVA, H.A.; BIANCHI, I.. Análise econômica de diferentes sistema de produção leiteira. XIX CIC/XII ENPOS/II Mostra Científica. Universidade Federal de Pelotas/RS, 2010. Disponível em , o 14/03/2013.

SCHIFFLER, E. A., MÂNCIO, A. B., GOMES, S. T., QUEIROZ, A. C. Efeito da Escala de Produção nos Resultados Econômicos da Produção de Leite B no Estado de São Paulo. Rev. bras. zootec., v.28, n.2, p.425-431, 1999.

Ricardo Ferreira Godinho é Zootecnista, Mestre em Produção Animal, e fez Especializações em istração Rural, Consultoria Organizacional, Gestão Empresarial.

Iniciou sua atividade profissional como técnico de campo da Casmil/os, onde atuou por 9 anos. Experiência como consultor por 16 anos pelo SEBRAE Minas e de outros estados em programas de capacitação em gestão empresarial, liderança, empreendedorismo, Programa de Gestão da Qualidade (urbana e rural), atuando na capacitação de consultores e desenvolvimento de metodologias. Já atuou também para o Centro CAPE, Rehagro e como autônomo.

Experiência de 10 anos como Professor Universitário (UEMG Unidade de os) em cursos de graduação e pós graduação.

Produtor Rural, sócio da Agropecuária Tucaninha, a qual destaca-se pelo Prêmio de Excelência Empresarial (2007) e participação no TOP 100 desde 2003.
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Ricardo Ferreira Godinho

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Vanessa Braz Cassoli
VANESSA BRAZ CASSOLI

EM 23/05/2015

Excelente texto, parabéns Ricardo! Desejo sucesso na série de artigos a ser publicados, que sem dúvida contribuirão muito para as discussões acerca do setor produtivo leiteiro.
Adailton M Silva
ADAILTON M SILVA

JI-PARANÁ - RONDÔNIA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/05/2015

Parabéns Ricardo. Excelente artigo.
Paulo Mauricio B Basto da Silva
PAULO MAURICIO B BASTO DA SILVA

CASTRO - PARANÁ - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 22/05/2015

O artigo é muito bom e chega a uma conclusão que já constato tem 20 anos: falta de postura de gestor e avaliar a propriedade rural como um negócio e falta de qualificação, vontade e de "tesão" de muitos técnicos e indústrias em cuidar do apoio técnico e de gestão junto a estes mesmos produtores.
Ricardo Ferreira Godinho
RICARDO FERREIRA GODINHO

SÃO JOÃO BATISTA DO GLÓRIA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/05/2015

Olá Pessoal, obrigado a todos pelos comentários, os quais estão mostrando que o objetivo do artigo está sendo alcançado.

Juvenal, é uma honra saber que o artigo lhe será útil com seus associados.

Atenciosamente,

Ricardo
MARCIO LOPES CAMPOS
MARCIO LOPES CAMPOS

MACHADO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/05/2015

EXCELENTE ARTIGO,PARABÉNS...
Epitácio Dias Torres
EPITÁCIO DIAS TORRES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - ESTUDANTE

EM 21/05/2015

Muito rica a sua colocação,

Sou estudante do curso técnico em agropecuária na UFMG e sempre levantamos questões sobre a produção agropecuária. Entre tantas questões levantadas, está a gestão na produção rural sempre em foco.O seu artigo Sr. Ricardo veio me trazer um alento no caminho a continuar, que é o da reciclagem absorção de novas ideias, novas propostas para as atividades agrícolas.

obrigado pelos seus esclarecimentos.

ATT,

Epitácio.
luciana grilo ricardino
LUCIANA GRILO RICARDINO

MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 21/05/2015

Parabéns, Ricardo, excelente explicação.  Tenho certeza de que "qualidade gerencial" é o caminho para todas as atividades. Vou indicar seu texto.
Juvenal Borges da Silveira
JUVENAL BORGES DA SILVEIRA

RIOLÂNDIA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/05/2015

Bom dia Ricardo,

Com a sua permissão, pretendo apresentar seu artigo na próxima reunião dos produtores de leite na Associação de Produtores rurais de Riolândia. Sua inserção foi perfeita e vai ajudar em muito a despertar novas visões ao produtores de leite e de outros setores, que se estende aos demais proprietários, ligados ao Sindicato Rural de Riolândia.

Att,

Juvenal.
James Cisnandes Jr
JAMES CISNANDES JR

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 21/05/2015

Olá Ricardo, estava ontem batendo papo com um amigo que é empresário, no setor de SERVIÇOS. Disse a ele que o sucesso de um empreendimento, sobretudo, sua longevidade, depende de GESTÃO. Aqui, a palavra gestão no sentido amplo, traduzido por você assim:

"O sucesso da atividade leiteira não está associado ao tamanho da propriedade ou volume de produção, embora estes aspectos influenciem nos resultados, mas o mais importante é "como" a propriedade é conduzida. istrar é decidir o que fazer e o que não fazer, tomar as decisões adequadas quanto à tecnologia a ser adotada, mudanças no sistema produtivo, correr riscos". O meu avô foi um produtor de LEITE, CAFÉ e CACAU na região sul da Bahia. Aquele princípio básico da ISTRAÇÃO que é separar as contas da empresa das contas pessoais, ele não fazia. Acredito que a maioria dos produtores também não fazem. Parabéns pela consistência do artigo elaborado por você.
Eduardo Hara
EDUARDO HARA

GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 21/05/2015

Parabéns, artigo com boas ponderações sobre a produção de leite.

Aguardo os próximos....

Eduardo
Edson Freire da Silva
EDSON FREIRE DA SILVA

CERES - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/05/2015

Preciso. Uma materia muito interesante
fabiel rodrigues alves
FABIEL RODRIGUES ALVES

OS - MINAS GERAIS - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 20/05/2015

Parabéns Ricardo...

sempre trazendo informações para nos do meio...estamos sempre aprendendo mais com você...
Rita de Cássia Ribeiro Carvalho
RITA DE CÁSSIA RIBEIRO CARVALHO

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 20/05/2015

Parabéns Ricardo,

Você fez comentários que nos faz refletir e a entender a situação do "avanço" no setor pecuário. Sua opinião baseado em informações oriundas de pesquisa e sua visão como  empresário nos faz crer que a condução do negócio vai muito além da paixão, tradição, etc. Esse é  o  primeiro de muitos artigos que virão contribuir àqueles que lidam diariamente com o negócio leite. Parabenizo também a Milkpoint por ter aberto esse espaço para um grande empresário e zootecnista de profundo conhecimento. Aguardamos a próxima reportagem.

Rita Carvalho - Zootecnista
FAZENDA DO RIACHO
FAZENDA DO RIACHO

MATOZINHOS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/05/2015

Parabéns Ricardo,



Belo enfoque de questão tão preponderante em qualquer negócio atual, ainda mais nos sistemas de produção de leite, de tantas variáveis a serem istradas.

A condução do negócio leite requer decisões acertadas, apontando sempre na direção do objetivo proposto.

Lúcio Machado

Zootecnista
Alex Moreira
ALEX MOREIRA

NOVA INDEPENDÊNCIA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/05/2015

Muito bom!!!! principalmente no trecho "diferença significativa entre as percepções de técnicos e produtores de leite"...
Qual a sua dúvida hoje?

Uma questão de sobrevivência

Presente em quase todos os municípios brasileiros, o agronegócio do leite pode ser considerado ainda um setor estratégico pela geração de trabalho e renda no campo, e movimenta a economia de muitas regiões. No entanto, o setor a por profundas transformações. Entre os anos de 2005 e 2009, o número de pessoas ocupadas em atividades agrícolas no Brasil reduziu de 16.906.000 para 14.838.000, ou seja, dois milhões, segundo dados apresentados pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA).[...]

Publicado em: - 6 minutos de leitura

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Presente em quase todos os municípios brasileiros, o agronegócio do leite pode ser considerado ainda um setor estratégico pela geração de trabalho e renda no campo, e movimenta a economia de muitas regiões. No entanto, o setor a por profundas transformações. Entre os anos de 2005 e 2009, o número de pessoas ocupadas em atividades agrícolas no Brasil reduziu de 16.906.000 para 14.838.000, ou seja, dois milhões, segundo dados apresentados pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA). Em 2006 o Brasil contava com 1.340.897 estabelecimentos produtores de leite, e comparado com os resultados do Censo Agropecuário de 1995/1996, este número representa uma redução no número de estabelecimentos na ordem de 25,92%, o que corresponde a 469.144 estabelecimentos, enquanto a produção no mesmo período aumentou 3.502.499 litros (19,53%). Mesmo havendo uma redução no número de produtores de leite no Brasil, a produção nacional aumenta a cada ano, o que consequentemente aumenta a média de produção diária entre as fazendas.

Tais números evidenciam que muitos produtores deixaram a atividade leiteira, porém, os que permaneceram aumentaram suas produções. Este fenômeno não é uma particularidade brasileira, mas sim mundial. Nos Estados Unidos, maior produtor de leite mundial, o número de produtores de leite reduziu de 5.514.000 em 1910 para 68.500 fazendas em 2010. Uma reflexão a ser feita é, se muitos deixaram a atividade, porque outros permanecem produzindo e quais as razões para o sucesso ou insucesso na atividade?

Nas últimas décadas, as fazendas leiteiras têm aumentado em tamanho e o foco da gestão mudou de curativa para preventiva. Embora seja um aspecto multifatorial, o aumento da competitividade dos sistemas de produção de leite pode depender do aumento da escala de produção e do sistema de produção utilizado.

Pesquisas mostram que há uma diferença significativa entre as percepções de técnicos e produtores de leite, quanto ao processo istrativo nas áreas de produção, finanças, comercialização e recursos humanos dos sistemas de produção de leite. Esta diferença de percepção, a começar pelos objetivos que os produtores vislumbram para seus sistemas de produção, podem levar à distorções na atuação dos técnicos nos sistemas assistidos por eles, e consequentemente o comprometimento dos resultados possíveis de serem alcançados.

Avaliando resultados de propriedades leiteiras nos estados de Minas Gerais e São Paulo, os números mostram que a alta produtividade não significa sempre maior benefício econômico, que a produção de escala de leite tem influência no custo total do litro de leite, e que as análises de viabilidade produtiva de sistemas de produção, necessariamente, devem compor análises de custos e receitas. Há ainda trabalhos que mostram que a rentabilidade do capital imobilizado foi menor que o rendimento da caderneta de poupança, demonstrando que o retorno de investimento está abaixo do desejado.

Outras pesquisas realizadas com o objetivo de avaliar diferentes sistemas de produção e níveis tecnológicos, apresentam em comum a conclusão preocupante de que a atividade leiteira tem condições de produzir a médio prazo, mas a longo prazo constatou-se que os produtores se descapitalizam.

De modo geral, pode-se afirmar que a baixa produtividade da pecuária leiteira e os elevados custos de produção, evidenciam a necessidade de se modernizar e profissionalizar a istração do empreendimento, com vistas à melhor alocação e combinação dos recursos produtivos. É preciso , que os produtores de leite adotem práticas de gestão fundamentadas no planejamento da produção, organização rural e controle de atividades e processos, notadamente controles zootécnicos e istrativos. Além disso, é necessário que a tecnologia disponível seja plenamente compreendida e utilizada de forma eficiente, garantindo a alimentação e o manejo adequado do rebanho, assim como o uso da capacidade máxima instalada e obtenção de uma melhor rentabilidade na atividade leiteira.

O sucesso da atividade leiteira não está associado ao tamanho da propriedade ou volume de produção, embora estes aspectos influenciem nos resultados, mas o mais importante é "como" a propriedade é conduzida. istrar é decidir o que fazer e o que não fazer, tomar as decisões adequadas quanto à tecnologia a ser adotada, mudanças no sistema produtivo, correr riscos.

Como regra, pode-se afirmar que o caminho para viabilizar a atividade no campo é a qualidade gerencial. Com ela, o empreendimento se profissionaliza, moderniza e começa a ser encarado como empresa de fato, que busca obter conhecimentos acerca dos mercados em que opera e procura estreitar seus relacionamentos. Antes a preocupação era apenas com o que acontecia dentro dos limites de sua propriedade, mas hoje se tornou uma questão de sobrevivência obter informações sobre a dinâmica mercadológica e utilizá-las na gestão da propriedade.

A melhoria na gestão se efetiva por meio de um processo educacional contínuo e principalmente de querer. Isso demanda tempo, energia, esforço, paciência, perseverança e novas competências por parte de todos, em especial do proprietário, do e da assistência técnica. O êxito ou o fracasso deste processo de mudança em busca de uma nova forma de se ver e fazer as coisas está intimamente ligado ao maior ou menor esforço do produtor e , além do comprometimento, em fazer as coisas acontecerem na propriedade rural.

O êxito na atividade no ado, não garante o mesmo resultado agora ou no futuro, basta olhar a sua volta e em sua rede de contatos para constatar a saída de muitos produtores da atividade leiteira. Aos produtores, es e técnicos de campo, cabem a reflexão sobre esta mudança com foco na gestão por resultados, pois ela pode ser decisiva para a sobrevivência ou não na atividade.

No próximo artigo abordaremos o conceito de gestão, suas limitações no meio rural, e a importância do empresário enquanto líder.

Referências

DERKS, M.; WERVEN, T. van; HOGEVEEN H.; KREMER, W.D.J. Associations between farmer participation in veterinary herd health management programs and farm performance. Journal of Dairy Science, V. 97, n. 3, p. 1336-1347, (DOI: 10.3168/jds.2013-6781), 2014.

FASSIO, L.H.; REIS, R. P. e GERALDO, L. G.. Desempenho técnico e econômico da atividade leiteira em Minas Gerais. Ciênc. Agrotec., Lavras, v. 30, n. 6, p. 1154-1161, nov./dez., 2006.

IBGE, Censo Agropecuário 2006 - Resultados Preliminares. Rio de Janeiro, 2006. 146p, ISSN 0103-6157.

LOPES, M. A.; LIMA, A. L. R.; CARVALHO, F. M.; REIS, R. P.; SANTOS, I.C.; SARAIVA, F. H. Efeitos do tipo de sistema de criação nos resultados econômicos de produção de leite na região de Lavras (MG). Ciência Agrotécnica, v.28, n.5, p.1177-1189, 2004.

LOPES, M.A.; DIAS, A.S.; CARVALHO, F.M.; LIMA, A.L.R.; CARDOSO, M.G.; CARMO, E.A.. Resultados econômicos de sistemas de produção de leite com diferentes níveis tecnológicos na região de Lavras MG nos anos 2004 e 2005. Ciência Agrotécnica, Lavras, v. 33, n. 1, p. 252-260, jan./fev., 2009

MDA. Estatísticas do Meio Rural 2010-2011, 4.ed., 2011.

SCHIAVON, R.; GONÇALVES, A.O.; SILVA, H.A.; BIANCHI, I.. Análise econômica de diferentes sistema de produção leiteira. XIX CIC/XII ENPOS/II Mostra Científica. Universidade Federal de Pelotas/RS, 2010. Disponível em , o 14/03/2013.

SCHIFFLER, E. A., MÂNCIO, A. B., GOMES, S. T., QUEIROZ, A. C. Efeito da Escala de Produção nos Resultados Econômicos da Produção de Leite B no Estado de São Paulo. Rev. bras. zootec., v.28, n.2, p.425-431, 1999.

Ricardo Ferreira Godinho é Zootecnista, Mestre em Produção Animal, e fez Especializações em istração Rural, Consultoria Organizacional, Gestão Empresarial.

Iniciou sua atividade profissional como técnico de campo da Casmil/os, onde atuou por 9 anos. Experiência como consultor por 16 anos pelo SEBRAE Minas e de outros estados em programas de capacitação em gestão empresarial, liderança, empreendedorismo, Programa de Gestão da Qualidade (urbana e rural), atuando na capacitação de consultores e desenvolvimento de metodologias. Já atuou também para o Centro CAPE, Rehagro e como autônomo.

Experiência de 10 anos como Professor Universitário (UEMG Unidade de os) em cursos de graduação e pós graduação.

Produtor Rural, sócio da Agropecuária Tucaninha, a qual destaca-se pelo Prêmio de Excelência Empresarial (2007) e participação no TOP 100 desde 2003.
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Vanessa Braz Cassoli
VANESSA BRAZ CASSOLI

EM 23/05/2015

Excelente texto, parabéns Ricardo! Desejo sucesso na série de artigos a ser publicados, que sem dúvida contribuirão muito para as discussões acerca do setor produtivo leiteiro.
Adailton M Silva
ADAILTON M SILVA

JI-PARANÁ - RONDÔNIA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/05/2015

Parabéns Ricardo. Excelente artigo.
Paulo Mauricio B Basto da Silva
PAULO MAURICIO B BASTO DA SILVA

CASTRO - PARANÁ - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 22/05/2015

O artigo é muito bom e chega a uma conclusão que já constato tem 20 anos: falta de postura de gestor e avaliar a propriedade rural como um negócio e falta de qualificação, vontade e de "tesão" de muitos técnicos e indústrias em cuidar do apoio técnico e de gestão junto a estes mesmos produtores.
Ricardo Ferreira Godinho
RICARDO FERREIRA GODINHO

SÃO JOÃO BATISTA DO GLÓRIA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/05/2015

Olá Pessoal, obrigado a todos pelos comentários, os quais estão mostrando que o objetivo do artigo está sendo alcançado.

Juvenal, é uma honra saber que o artigo lhe será útil com seus associados.

Atenciosamente,

Ricardo
MARCIO LOPES CAMPOS
MARCIO LOPES CAMPOS

MACHADO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/05/2015

EXCELENTE ARTIGO,PARABÉNS...
Epitácio Dias Torres
EPITÁCIO DIAS TORRES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - ESTUDANTE

EM 21/05/2015

Muito rica a sua colocação,

Sou estudante do curso técnico em agropecuária na UFMG e sempre levantamos questões sobre a produção agropecuária. Entre tantas questões levantadas, está a gestão na produção rural sempre em foco.O seu artigo Sr. Ricardo veio me trazer um alento no caminho a continuar, que é o da reciclagem absorção de novas ideias, novas propostas para as atividades agrícolas.

obrigado pelos seus esclarecimentos.

ATT,

Epitácio.
luciana grilo ricardino
LUCIANA GRILO RICARDINO

MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 21/05/2015

Parabéns, Ricardo, excelente explicação.  Tenho certeza de que "qualidade gerencial" é o caminho para todas as atividades. Vou indicar seu texto.
Juvenal Borges da Silveira
JUVENAL BORGES DA SILVEIRA

RIOLÂNDIA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/05/2015

Bom dia Ricardo,

Com a sua permissão, pretendo apresentar seu artigo na próxima reunião dos produtores de leite na Associação de Produtores rurais de Riolândia. Sua inserção foi perfeita e vai ajudar em muito a despertar novas visões ao produtores de leite e de outros setores, que se estende aos demais proprietários, ligados ao Sindicato Rural de Riolândia.

Att,

Juvenal.
James Cisnandes Jr
JAMES CISNANDES JR

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 21/05/2015

Olá Ricardo, estava ontem batendo papo com um amigo que é empresário, no setor de SERVIÇOS. Disse a ele que o sucesso de um empreendimento, sobretudo, sua longevidade, depende de GESTÃO. Aqui, a palavra gestão no sentido amplo, traduzido por você assim:

"O sucesso da atividade leiteira não está associado ao tamanho da propriedade ou volume de produção, embora estes aspectos influenciem nos resultados, mas o mais importante é "como" a propriedade é conduzida. istrar é decidir o que fazer e o que não fazer, tomar as decisões adequadas quanto à tecnologia a ser adotada, mudanças no sistema produtivo, correr riscos". O meu avô foi um produtor de LEITE, CAFÉ e CACAU na região sul da Bahia. Aquele princípio básico da ISTRAÇÃO que é separar as contas da empresa das contas pessoais, ele não fazia. Acredito que a maioria dos produtores também não fazem. Parabéns pela consistência do artigo elaborado por você.
Eduardo Hara
EDUARDO HARA

GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 21/05/2015

Parabéns, artigo com boas ponderações sobre a produção de leite.

Aguardo os próximos....

Eduardo
Edson Freire da Silva
EDSON FREIRE DA SILVA

CERES - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/05/2015

Preciso. Uma materia muito interesante
fabiel rodrigues alves
FABIEL RODRIGUES ALVES

OS - MINAS GERAIS - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 20/05/2015

Parabéns Ricardo...

sempre trazendo informações para nos do meio...estamos sempre aprendendo mais com você...
Rita de Cássia Ribeiro Carvalho
RITA DE CÁSSIA RIBEIRO CARVALHO

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 20/05/2015

Parabéns Ricardo,

Você fez comentários que nos faz refletir e a entender a situação do "avanço" no setor pecuário. Sua opinião baseado em informações oriundas de pesquisa e sua visão como  empresário nos faz crer que a condução do negócio vai muito além da paixão, tradição, etc. Esse é  o  primeiro de muitos artigos que virão contribuir àqueles que lidam diariamente com o negócio leite. Parabenizo também a Milkpoint por ter aberto esse espaço para um grande empresário e zootecnista de profundo conhecimento. Aguardamos a próxima reportagem.

Rita Carvalho - Zootecnista
FAZENDA DO RIACHO
FAZENDA DO RIACHO

MATOZINHOS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/05/2015

Parabéns Ricardo,



Belo enfoque de questão tão preponderante em qualquer negócio atual, ainda mais nos sistemas de produção de leite, de tantas variáveis a serem istradas.

A condução do negócio leite requer decisões acertadas, apontando sempre na direção do objetivo proposto.

Lúcio Machado

Zootecnista
Alex Moreira
ALEX MOREIRA

NOVA INDEPENDÊNCIA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/05/2015

Muito bom!!!! principalmente no trecho "diferença significativa entre as percepções de técnicos e produtores de leite"...
Qual a sua dúvida hoje?