Ensilagem: reflexão sobre o uso de aditivos
Seção Conservação de Forragens: "A primeira frase que eu gostaria de inserir neste artigo é a seguinte: ´não sou contra o uso de aditivos na produção de silagens´. Até mesmo porque eu já publiquei e publico artigos sobre este assunto e também recomendo a utilização deles. Escrevo isso para me proteger daqueles que erroneamente interpretam o conteúdo desta publicação. Lembro também que esta é somente uma reflexão para que toda a cadeia produtiva possa crescer: classe produtora, indústrias e governo", por Thiago Fernandes Bernardes, Professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras (UFLA).
Publicado em: - 3 minutos de leitura
Mas vamos ao que interessa! Semana ada estive participando da conferência americana sobre ciência animal. Reunião esta que ocorre anualmente e que pesquisadores de muitos paÃses participam, não só os americanos. Como a minha área de atuação é conservação de forragens eu frequentei as apresentações de trabalhos desse campo para ver o que a comunidade cientÃfica estava fazendo em prol das cadeias de produção de alimentos de origem animal (carne e leite). Foi então que notei mais uma vez que uma âavalancheâ de pesquisas foram conduzidas sobre o uso de aditivos. E rarÃssimos trabalhos foram apresentados sobre manejo.
Portanto, podemos concluir algo sobre este cenário: estamos gerando muita informação sobre o uso de aditivos e quase nada sobre manejo. Façamos uma pergunta aos leitores: vocês imaginam quantos trabalhos foram até hoje publicados sobre os fatores que afetam densidade em silos trincheira? (Lembrando que alta densidade é fundamental). Resposta: Não temos meia-dúzia. Atualmente, a tendência da indústria é criar um aditivo para qualquer tipo de situação. Porém, ela não está errada, pois o comércio fala mais alto nesse ramo. Parece-nos que as mensagens no futuro serão mais ou menos assim: "Use aditivo e durma tranquilo"; "Use aditivo e os teus animais irão produzir"; "Use aditivo e esqueça-se de compactar a tua silagem".
Um dos pesquisadores que mais realiza estudos sobre uso de aditivos em silagens em todo o mundo, o Prof. Limin Kung da Universidade de Delaware (Estados Unidos) escreveu a sábia frase em um dos seus artigos: âHigh quality silage can be made without the use of silage additives assuming that producers have control over the many management aspects that can affect the processâ. Ou seja, silagem de alta qualidade pode ser produzida sem o uso de aditivos, desde que o produtor tenha conhecimentos sobre manejo.
Mas o que é manejo? Manejo é investir no dia-a-dia, é praticar o simples! à olhar diante do que existe na propriedade e pensar: O que eu posso melhorar? No caso da produção de silagens é acompanhar ponto de colheita da cultura, afiar as facas da colhedora, compactar bem a massa, vedar o silo e retirar silagem para que não ocorra entrada de ar.
Por fim, nos parece que técnicos e produtores estão sendo "contaminados com a doença dos aditivos". Aditivos podem e devem ser utilizados na produção animal, mas com cautela, ou seja, em situações estratégicas. Aditivos não curam erros provocados por um manejo deficiente. Aditivos podem potencializar a qualidade de uma silagem ou de uma dieta, mas desde que o âentornoâ esteja indo bem.
Muitos dos meus colegas pesquisadores tem 100% das linhas de pesquisa sobre aplicação de aditivos na nutrição animal. Será que não há nada de manejo para ser estudado? O Brasil carece de muitas informações básicas, as quais ainda não foram geradas pelas Universidades e Institutos de Pesquisa em prol dos produtores. O Brasil não é América do Norte ou Europa! Nós somos um paÃs em desenvolvimento do ponto de vista econômico, polÃtico e social e que isso se reflete também na pecuária - do produtor mais tecnificado ao menos tecnificado. Até os mais tecnificados sofrem com os problemas internos.
Vou dar dois exemplos, mas existem muitos outros:
i) Recentemente, um produtor me perguntou sobre qual é critério utilizado para os intervalos entre os cortes de uma capineira de capim elefante. São dias? à altura? E eu não sabia responder a ele! Por que? Porque as recomendações vão de 35 à 60 dias e de 1,40 à 2,20 m de altura. Ou seja, longos intervalos porque ninguém efetivamente pesquisou sobre isso!
ii) Muitos me perguntam: Qual é a taxa de retirada durante o desabastecimento para que a silagem não se deteriore? Nós citamos de 30-40 cm/dia, pois um trabalho alemão da década de 70 reportou esta informação. Mas efetivamente ninguém mediu isso aqui para analisar se esta taxa é adequada ou não para nós com o objetivo de se evitar perdas por deterioração.
Eu poderia descrever aqui âNâ exemplos da área de nutrição animal que ainda carecem de resposta, mas que infelizmente não são priorizados para se dar lugar ao uso de aditivos. Pensem nisso!
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Material escrito por:
Thiago Bernardes
Professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras (UFLA) - MG. www.tfbernardes.com
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PROFISSIONAIS DE CIÃNCIAS AGRÃRIAS
EM 03/08/2016

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO
EM 03/08/2016
Abordagens sobre esse tema nunca deixarão de ser necessárias, pois o componente comercial é forte e, consequentemente, a pressão sobre os produtores.
Costumo sempre dizer, assim como você, que aditivos não são necessários principalmente quando a ensilagem é feita da maneira correta. Mas, digo também, que o produtor, se desejar, pode usa-los. É uma decisão dele.
Mesmo os aditivos direcionados para dar maior estabilidade à silagem após a abertura do silo tornam-se desnecessários quando a ensilagem e manejo do silo são bem feitos.
Realmente, o marketing faz o produtor pensar que com o uso do aditivo os erros cometidos durante o processo de ensilagem serão solucionados.
Algo semelhante vem acontecendo com os híbridos produzidos pelas empresas de semente. Os resultados bromatológicos mostram silagens com participação de grãos cada vez maior, fazendo a alegria dos produtores. Ao mesmo tempo, a perda de grãos nas fezes vem também aumentando. Para alívio das empresas de semente, surgiu a ensiladeira com craker que ameniza o problema, mas quantos produtores têm o a esse tipo de equipamento? Há alguns anos vem sendo difundida a inclusão de amilase nas dietas para vacas. Talvez seja mais uma muleta para compensar as limitações de nossos híbridos.
Mais uma vez, parabéns pelas colocações.

MONTES CLAROS - MINAS GERAIS - ESTUDANTE
EM 03/08/2016
Muito Obrigado.
PROFISSIONAIS DE CIÃNCIAS AGRÃRIAS
EM 02/08/2016
LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO
EM 01/08/2016
Infelizmente, muitos pesquisadores da área zootécnica não fazem ideia da rotina do campo; outros até conhecem, mas mesmo assim preferem desenvolver estudos sobre algo que não terá aplicabilidade. São os pesquisadores de currículo lattes... Ou seja, satisfazem os órgãos de fomento a pesquisa, mas não dão nenhuma informação para a sociedade.
Muitos deveriam refletir que recurso de pesquisa é fruto dos impostos pagos pelo cidadão. Desse modo, o pesquisador que recebe financiamento do governo tem por 'obrigação' dar um retorno para a sociedade.
Att,
Thiago Bernardes

ITAGI - BAHIA - ESTUDANTE
EM 01/08/2016

TERESINA - PIAUÃ - ESTUDANTE
EM 01/08/2016
Parabéns pelo artigo. Sou professor de curso técnico do Instituto Federal do Piauí, e também desenvolvo algumas atividades de pesquisa extensão com agricultura familiar. Sobre os aditivos em silagem gostei muito dos comentários, mais o que mais gostei foi dos comentários em torno das pesquisas brasileiras. Temos o mesmo ponto de vista a respeito do tema, onde os pesquisadores brasileiros desenvolvem muitos trabalhos que chamam "pesquisa de ponta", com "profundas avaliações", e esquecem o básico, o mais fácil, o que realmente é necessário. Creio que o grande problema disso é a política de pesquisa que temos, onde o pesquisador é estimulado publicar em revistas de internacionais, de maior qualis, esses periódicos só querem assuntos modernos e que tenha usado métodos complexos de análise. Existe muito pesquisadores que tem currículos gigantes, com dezenas de artigos publicados em grandes periódicos e nada do que ele publicou foi aplicado. Os pesquisadores devem pensar no princípio básico da pesquisa: "pesquisar para resolver um problema, ou melhorar a forma de fazer", sempre pensando em aplicabilidade e economia.
Grato pelo espaço.
LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO
EM 01/08/2016
Eu entendo que os importantes jornais científicos da área aceitam e estão aguardando ansiosamente artigos sobre manejo. Ocorre que a rejeição de um manuscrito não está focada somente no assunto, mas em outros critérios de qualidade, principalmente como os métodos foram adotados no momento da coleta dos dados. Muitos grupos de pesquisa precisam se capacitar em termos de métodos e qualidade da escrita de trabalho científico.
Att,
Thiago Bernardes

PEDREIRA - SÃO PAULO
EM 31/07/2016
Estou prestes a fazer um investimento em um embutidor de silagem, que parece que a perda é menor.Desanimei quando abri minha silagem com a quantidade perdida, foi silo de superfície. Me parece que na Austrália não cobrem e só tiram a perda de cima, é isso?
Obrigado
Hamilton
RIO VERDE - GOIÃS - PROFISSIONAIS DE CIÃNCIAS AGRÃRIAS
EM 31/07/2016

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - ESTUDANTE
EM 30/07/2016
Desde já, agradeço
Att,
Pedro Michel

SEARA - SANTA CATARINA - PRODUÃÃO DE LEITE
EM 30/07/2016
Muitas reportagens são feitas sobre atividade leiteira na maioria das vezes com intenção comercial e o produtor fica inseguro na sua interpretação porque as vezes não é somente a utilização de produtos que resolvem determinados problemas e sim um manejo adequado.
Penso também que o investimento em pesquisas na maioria das vezes é feito pelas empresas e elas querem o retorno , o governo tem que investir mais em pesquisas!
PESQUISA/ENSINO
EM 29/07/2016
Que buena reflexión.
Obrigado pelo artigo.
LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO
EM 29/07/2016
Agradeço pelos comentários. Há a necessidade de refletirmos mais sobre o que queremos como futuro sobre as cadeias produtivas. Precisamos dividir mais os esforços, ou seja, cada grupo atua no seu ramo. Tem muita gente concentrada num só campo de atuação (neste caso a aplicação de aditivos).
Att,
Thiago Bernardes

TRÃS CORAÃÃES - MINAS GERAIS - PRODUÃÃO DE LEITE
EM 29/07/2016
GUARATINGUETÃ - SÃO PAULO
EM 29/07/2016
Muito boa a reflexão que fez sobre aditivos e manejo.
Tocou o dedo na ferida, concordo plenamente que nós somos Brasil e não outros países.
Com o as pesquisas, de modo geral, dependem da vontade de alguém pesquisar, e como disse há um grande interesse pelas indústria de aditivos em que se façam pesquisas sobre o uso dos mesmo.
Talvez deveria a Embrapa e outros organismos de pesquisa e extensão, realizar estas pesquisas.
Reforço que realmente o manejo é o mais importante em tudo que se faz na vida.
Saudações