Historicamente, o Brasil complementa parte de sua oferta total de lácteos via importações, provenientes principal de seus vizinhos: Argentina e Uruguai. A forte relação com esses 2 países fornecedores é fortalecida dada a proximidade geográfica, mas principalmente em virtude de os países participarem do mesmo bloco econômico (Mercosul), que impõe tarifas elevadas sobre importações fora do bloco, a Tarifa Externa Comum (TEC) que são próximas a 30% para as principais categorias de lácteos. Todavia, apesar de ser um dos principais compradores de lácteos da Argentina e do Uruguai, esses países também atendem outros importantes mercados consumidores ao redor do momento, podendo restringir a disponibilidade para vendas ao Brasil.
Nos últimos meses, a recuperação nos preços globais dos produtos lácteos, evidenciada pelos leilões mais recentes do GDT, tem aproximado os preços dos lácteos do Mercosul aos do mercado internacional – como preços praticados por importantes mercados exportadores, como: Oceania, União Europeia e Estados Unidos. Dessa forma, parte dos compradores tem visto os preços praticados pelo Mercosul de forma mais atrativa.
Para além da questão de preços, outros fatores, como desafios logístico, conforme abordado neste artigo “Como a crise no mar vermelho pode impactar os lácteos no Brasil“, aqui no MilkPoint, também colaboram para esse rearranjo das fontes de abastecimento dos países compradores. Nesse cenário, o Brasil tem enfrentado uma competição maior com outros mercados compradores pelos lácteos do Mercosul. No último trimestre, por exemplo, o Brasil deixou de ser o principal destino das exportações uruguaias pela 1º vez desde o 2º trimestre de 2022.
Gráfico 1. Participação das exportações de lácteos do Uruguai.
O gráfico 1 ilustra essa mudança, especialmente a partir do terceiro trimestre de 2023, quando as importações provenientes de outros países aumentam, ao o que a participação do Brasil vem se retraindo. Esse redirecionamento de exportações para outros países tem implicações importantes para o Brasil. Com a redução da oferta de lácteos da Argentina e Uruguai, a disponibilidade de produtos para o Brasil pode diminuir, refletindo em diminuição do volume importado e limitando o crescimento total da oferta brasileira.
A conjuntura atual ainda é incerta para cravar se essa tendência se solidificará e será a realidade para os próximos trimestres. Todavia, fato é que os importadores brasileiros neste momento têm enfrentado uma competição mais dura com outros mercados, como não se via nos últimos, o que pode gerar efeitos no nosso volume de importações. A conferir!
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