Este artigo abordará protocolos para a detecção precoce, assim como protocolos de tratamento e prevenção das principais doenças que ocorrem durante e/ou após o desmame: coccidiose, verminose, clostridioses e ceratoconjuntivite infecciosa bovina.
Coccidiose
A coccdiose é uma infecção do trato intestinal dos bovinos causada pela Eimeria zurnii e Eimeria bovis, adquirida pela ingestão de água e alimentos contaminados com fezes.
A intensidade da coccidiose pode variar de intensa a branda. As manifestações clínicas são diarreia fétida e sanguinolenta (com destruição do tecido intestinal e alteração na absorção do alimento) desidratação, perda de peso, febre e pode levar a morte. O método de diagnóstico mais utilizado é a contagem de oocistos por grama de fezes (OOPG).
A prevenção deve ser realizada durante e/ou imediatamente após a desmama, pois, os animais apresentam o sistema imune enfraquecido devido ao elevado grau de estresse oriundo da transição entre o leite e alimento sólido, além do reagrupamento, socialização e mudanças ambientais observadas neste período.
A doença também pode ser observada precocemente na fase de aleitamento, caso sejam criadas em contato direto com o solo. Por este motivo, algumas rações comerciais utilizadas na fase de aleitamento já possuem ionóforos (agentes coccidiostáticos) para a prevenção da coccidiose. Os produtos utilizados para o tratamento e prevenção da coccidiose estão apresentados na tabela 1.
Quadro 1 - Produtos indicados para o tratamento e prevenção da coccidiose.
Ressalta-se que não adianta investir em produtos comerciais se medidas básicas de manejo e higiene não forem consideradas: gerenciamento do manejo de colostro, higiene ambiental, fornecimento de água e alimentos de boa qualidade, evitar umidade excessiva nos bezerreiros assim como a superlotação, realização da segregação e tratamento dos casos clínicos quando houver necessidade.
Verminoses
As principais manifestações clínicas da verminose são baixo desenvolvimento, perda de peso, fraqueza, anemia, desidratação, tosse, pelos ressecados e arrepiados, edema na parte submandibular dependendo do grau da infecção, lesões intestinais, fezes pastosas e posteriormente diarreia.
Figura 1 - Lote de bezerras desmamadas com pelos arrepiados, subdesenvolvidas (baixas), abdome distendido e baixo escore de condição corporal. Este lote deveria ser investigado para verminose e coccidiose.
O método de diagnóstico mais utilizado para a detecção da verminose é a contagem de ovos nas fezes (OPG). Para este exame, as fezes devem ser colhidas diretamente do reto (utilizando luva) e armazenadas em coletor universal estéril, as amostras devem ser identificadas com o número dos animais, refrigerada (+2°C a +8°C) e deve ser enviada para o laboratório em uma caixa de isopor lacrada, contendo gelo reciclável. A identificação da propriedade, endereço, pedido de exame, o prazo da coleta até a chegada ao laboratório não deve ultraar 48 horas.
A contagem de ovos por grama de fezes pode ser realizada por amostragem (10 a 20% do grupo) para a avaliação da real necessidade em desverminar os animais. Não recomendamos o uso indiscriminado de vermífugos como o rodízio de medicamentos pela ampla resistência que os parasitas têm desenvolvido nas últimas décadas. Após a escolha e aplicação do produto, de preferência com o auxílio do médico veterinário, deve-se aguardar 7 dias e repetir o OPG nos animais amostrados inicialmente para verificar se o mesmo foi eficiente na eliminação dos parasitas. Apenas no caso de resistência deve-se trocar o princípio ativo.
A Clínica de Bovinos e Pequenos Ruminantes da FMVZ-USP realiza a contagem de oocistos e ovos por grama de fezes para os produtores do estado de São Paulo e região. Maiores informações no telefone (11) 3091-7652
Clostridiose
Quadro 2 - O quadro apresenta as principais formas das clostridioses, etiologia e sistemas/órgão afetados.
As principais manifestações clínicas são:
Botulismo: inquietação, incoordenação (andar cambaleante), paralisia dos músculos dos membros, mandíbula, língua e garganta (mastigação).
Tétano: tremores musculares, rigidez muscular e da cauda, orelhas eretas, convulsão, o animal adota uma postura de cavalete, dependendo da intensidade o animal permanecerá em decúbito lateral com a cabeça e pernas em completa esticados, parada respiratória.
Carbúnculos: mucosas congestas e hemorrágicas, respiração profunda e rápida, frequência cardíaca elevada, depressão e apatia, febre alta (41 a 42°C), intensa claudicação, sente dor a palpação, edema e crepitação dos músculos dos membros em consequência a formação de gás, aumento de volume, mucosas secas e congestas.
Hemoglobinúria bacilar: em modo geral os animais são encontrados mortos sem observação de manifestações clínicas, porém, ocasionalmente observa-se dor abdominal, anorexia, depressão, dificuldade ao andar, tremores musculares, urina de cor vermelho escura e fezes com sangue.
Enterotoxemias: dor abdominal aguda, diarreia intensa e toxemia. Para o isolamento e identificação da clostridiose é necessário fazer a necropsia e enviar fragmentos de tecidos de 1x1x3cm de cada órgão afetado em frascos estéril (coletor universal vendido em farmácia humana), armazenado em isopor refrigerado ou congelado. Devido a sua rápida evolução, o tratamento dos animais acometidos dificilmente funciona e consequentemente ocorrem elevados índices de mortalidade.
A prevenção deve ser realizada a partir de vacinações como o esquema a seguir:
- Vacinação de novilhas e vacas (60 e 30 dias antes do parto previsto) para que o colostro produzido tenha anticorpos contra as clostridioses;
- Nas bezerras (filhas de vacas vacinadas) recomenda-se a aplicação inicial de 2 doses de vacina aos 4 e 5 meses de idade. Devem ser realizados reforços anuais.
A carcaça de animais acometidos com clostridiose devem ser enterradas em covas de 3 metros de profundidade, de largura e de comprimento a pelo menos 500 metros de distância de mananciais, para que não ocorra contaminação da água. A carcaça deverá ser coberta por 20 centímetros de terra, seguida de 10 centímetros de cal virgem e fechada posteriormente com terra.
Ceratoconjuntivite
As principais manifestações clínicas observadas são lacrimejamento, sensibilidade à luz, e posteriormente o olho fica com uma mancha esbranquiçada na córnea. Se o animal não for tratado precocemente pode ocorrer à formação de múltiplas úlceras e cegueira.
Figura 2 - Bezerras com lacrimejamento e secreção ocular purulenta na fase inicial da ceratoconjuntivite infecciosa.
Figura 3 - Bezerras com opacidade de córnea que confere um aspecto azulado à esbranquiçado para o olho.
Figura 4 - Bezerra com opacidade de córnea que confere um aspecto rosado à esbranquiçado para o olho. Este é o motivo pelo qual os americanos chamam a doença de PINK EYE (olho rosa).
O tratamento recomendado é a limpeza diária do local com algodão e solução fisiológica, aplicação de pomadas oftálmicas ou colírios a base oxitetraciclinas associado à istração de oxitetraciclina por via intramuscular na dose de 20 mg/Kg.
As injeções subconjuntivais com penicilina ou gentamicina também são indicadas, porém devem ser aplicadas com cuidado apenas pelos médicos veterinários. A prevenção e o controle devem ser realizados através da vacinação das bezerras desmamadas, com reforço após 30 dias da primo-vacinação.
Por fim, gostaríamos de ressaltar que o método de desmame e nutrição das bezerras no período de transição são fundamentais para garantir o desenvolvimento e saúde dos animais em fase de desafios múltiplos - que pode resultar em um conjunto de doenças que com certeza comprometerão o desempenho futuro dos animais.