As mudanças trazem ameaças, mas muitas oportunidades. “Para onde olho no setor lácteo, vejo oportunidades”, resumiu Egon Barbosa, diretor da unidade de negócios emergentes da Coca-Cola, hoje uma participante do setor lácteo com a empresa Verde Campo, adquirida no final de 2015.
Egon Barbosa, diretor da unidade de negócios emergentes da Coca-Cola
Várias apresentações mostraram a importância crescente da origem do leite como forma de agregar valor. Um dos “cases” mais interessantes foi o da Terra Nostra, que produz nos Açores um leite produzido a pasto. “Perdíamos dinheiro com o leite, mas agora não só temos lucro, como remuneramos o produtor com um prêmio de 10%”, explicou Eduardo Vasconcelos, gerente de compras de matéria-prima da empresa, que pertence à sa Bel.
Eduardo Vasconcelos, gerente de compras de matéria-prima da empresa, que pertence à sa Bel
Os Açores, localizados no Atlântico, a 1.500 km do Continente, possuem um clima favorável para a produção de leite a pasto, e agregar valor em cima do conceito de “vacas felizes” é uma maneira de viabilizar a produção a partir de um produto com valores que estão alinhados ao que o consumidor deseja. Veja o vídeo:
Como e por quem o leite é produzido importa cada vez mais, explicou André Lopes, diretor da rede de sorvetes Ben & Jerry’s, que apresentou o projeto Caring Dairy, de relacionamento com seus fornecedores de leite. “Hoje, importamos 100% do nosso sorvete, mas temos interesse de desenvolver uma rede de fornecedores aqui, sendo esta também a razão de estarmos nesse evento”, informou.
A complexidade e a fragmentação do ambiente de negócios foi também muito abordada. “As coisas não são mais ‘preto e branco’, como no ado. As pessoas veganas, por exemplo, são uma pequena parcela daqueles consumidores que alavancam o consumo de bebidas não lácteas. A maior parte é formada pelos chamados “flexitarians”, isto é, que possuem flexibilidade em relação ao que consomem, muitas vezes optando por uma dieta detox após extrapolar no final de semana”, explica Luiz Augusto Silva, diretor da unidade de bebidas não lácteas da Danone.
Carine Mahler, gerente executiva de lácteos e cereais da Nestlé, trouxe detalhes do projeto de leite orgânico da empresa, sendo mais uma a reforçar que há diversos mercados potenciais nos lácteos e que, dentro deles, o orgânico praticamente não tem oferta no Brasil, ainda que exista mercado. “Para os consumidores, orgânico é sinônimo de natural”, explicou.
O Dairy Vision proporcionou diversos momentos para networking, como os espaços empresariais, jantar de confraternização, almoços e diversos breaks
Tendências de mercado
Além dos tópicos relacionados à inovação e agregação de valor, o evento teve várias palestras sobre tendências para 2018. No mercado internacional, Andres Padilla, analista sênior do Rabobank no Brasil, apontou que o aumento da oferta em vários países e a presença de cerca de 450.000 toneladas de leite em pó no mercado mundial fazem com que a expectativa para 2018 seja de preços entre US$ 2700-3000 por tonelada de leite em pó.
“O comportamento dessa variável é muito relevante para o mercado brasileiro em 2018, já que há uma tendência de elevação dos preços no mercado interno em função da retomada do consumo e de uma esperada acomodação na oferta de leite”, diz Valter Galan, sócio da AgriPoint Consultoria, que possui o serviço de inteligência MilkPoint Mercado. “Caso os preços externos fiquem realmente na casa dos US$ 2.700, o potencial de elevação de preços ao produtor no mercado doméstico fica limitado”, avalia.
A boa notícia veio da apresentação de Ricardo Alvarenga, líder de desenvolvimento de negócios da Nielsen no Brasil. Ele mostrou que cerca de 26% da população não foi afetada pela crise e que 22,2% já saíram da crise. “A recuperação será lenta, porém, nos últimos 2 anos, 14,4% entraram na crise e 37,4% continuam impactados por ela”, alerta ele. Segundo Alvarenga, algumas mudanças vieram para ficar, como a participação do segmento Cash & Carry, opinião semelhante à de João Nery, da DP investimentos. “O Cash & Carry alcançou as classes A e B, operando com custos operacionais significativamente mais baixos do que os hiper e os supermercados”, explica.
“É preciso ter uma estratégia para cada canal”, ensina Marcelo Ermini, consultor de empresas e fundador da Titanium Consultoria. Na visão dele, a chegada da Amazon ao varejo de alimentos (a empresa comprou a varejista Whole Foods neste ano) poderá trazer uma série de mudanças neste canal. Ermini questionou ainda sobre o digital: “que empresa tem uma estratégia definida para explorar os canais digitais?”, provocou.
Enzo Donna, da ECD Consultoria, e Roberto Denuzzo, da RDC Consultoria, abordaram as oportunidades no Food Service, que, segundo Denuzzo, começa a sair da crise. As mudanças, porém, também virão. Segundo ele, em 2025 mais de 25% das vendas do food service de lácteos deverão ser feitas por canais digitais, possivelmente sem interação com vendedores.
“Ficamos muito satisfeitos com o Dairy Vision 2017. Se pensarmos que a economia brasileira está há 3 anos em retração e que o setor lácteo foi muito afetado, o fato de termos mais de 250 líderes empresariais e número recorde de empresas expositoras mostram que nossa proposta foi acertada”, comemora Marcelo Pereira de Carvalho, CEO da AgriPoint e idealizador do evento. “Mais do que isso, foi muito bom ver um evento voltado para o futuro, para as oportunidades, para as mudanças e não para os problemas de sempre. Isso nos faz acreditar no setor”, finaliza.
Na linha das mudanças, o Dairy Vision não poderia deixar de abordar o empreendedorismo e os novos negócios em produção e industrialização de leite. Diego Salvanha, da Umilk, que lançou o primerio iogurte Skyr no Brasil, Renata Rappa, do leite e iogurtes Atilatte, Fernando Gavaia, da Fazenda Bistrô Casa de Leite, e Osvaldo Filho, dos Queijos D’Alagoa, ganharam a plateia com suas trajetórias e sonhos.
O evento
O Dairy Vision 2017 é uma realização da AgriPoint e da Zenith Global. A iniciativa deste ano contou com patrocínio Gold da Beneo, ICL, Plastipak, PolyOne e Sealed Air. Participação das empresas ADI, Auto Analítica, BERICAP, Biomérieux, Dupont, Ecolean, Geiger, OLAM, Quintiq e RMBPack. Apoio da ABIQ, ABLV, ABIS, Embrapa Gado de Leite, FEPALE e OCLA. Apoio de mídia da Revista Indústria de Laticínios e da Revista Mais Leite.