Nos dias 6 e 7 de maio, a equipe do MilkPoint acompanhou de perto o Dairy Science International Network, evento promovido pela Cargill Nutrição Animal, que trouxe um enfoque em inovação, dados e eficiência na produção leiteira. Realizado em Campinas (SP), o encontro reuniu um grupo seleto de técnicos e clientes de todo o Brasil para discutir soluções práticas e tecnológicas voltadas ao aumento da produtividade e à sustentabilidade das fazendas.
A Cargill, com seu compromisso em otimizar a cadeia do leite, estruturou a programação como uma verdadeira "máquina da eficiência", onde cada palestra representava uma engrenagem fundamental para o sucesso no campo. Temas como nutrição, ferramentas digitais, uso de dados, reprodução, saúde intestinal, risco de micotoxinas e muito mais foram abordados, com foco em melhorar a vida e saúde no campo. Com isso, a empresa reforçou sua missão de oferecer soluções que não apenas trazem mais retorno para o produtor de leite, mas também facilitam a sua rotina diária, destacando o impacto positivo dessas tecnologias no setor.
Imagem 1. O evento contou com um grupo seleto de participantes e palestrantes
A utopia da eficiência
A abertura do evento ficou por conta de Marcelo Dalmagro, diretor sr de Marketing, Inovação e Tecnologia da Cargill, que destacou a eficiência como um objetivo em constante evolução. “Eficiência é uma utopia desejável”, afirmou, explicando que ela impulsiona a inovação contínua e estabelece novos marcos para a cadeia produtiva. Segundo ele, a inovação precisa ser coletiva: “ninguém tem que ganhar ou perder, ela representa algo onde a cadeia tem uma oportunidade de trabalhar verdadeiramente junta”.
Para ilustrar a diferença entre inovação estruturada e o uso indiscriminado da tecnologia, apresentou a “teoria das duas lâmpadas”. A primeira - voltada para cima - representa a ideia e a inovação com disciplina e propósito. A outra, voltada para baixo, simboliza o fascínio por soluções superficiais, que atrai alguns como insetos atraídos pela luz. “A tecnologia não deve ser um fim em si mesma, e sim um meio para alcançarmos resultados consistentes e sustentáveis”, completou.
Em entrevista exclusiva para o MilkPoint, Marcelo disse: “O evento foi pensado como um fórum para transformar as dores do campo em soluções práticas. Ao longo dos dois dias de evento, a proposta foi mostrar como a Cargill conduz inovação, desde a identificação dos problemas até a aplicação nas fazendas”, revelando a importância da atualização constante como um dos pilares da empresa.
Eficiência na pecuária leiteira nasce da soma de várias frentes
A jornada rumo a uma pecuária leiteira mais eficiente a pela integração entre tecnologia, manejo reprodutivo e segurança alimentar. Foi esse o recado transmitido por alguns dos especialistas durante o evento.
Gilson Regadas, Líder Global de Data Insights e Analytics da Cargill, abriu as apresentações alertando que muitas decisões nas fazendas ainda são baseadas na intuição, o que limita os resultados. “O produtor acaba tomando decisões vendado”, afirmou. Para mudar esse cenário, ele defendeu a união entre experiência prática e análise de dados, destacando o Dairy Enteligen Insights, ferramenta da Cargill que transforma dados operacionais em recomendações práticas de manejo. Ele também ressaltou o papel crescente da inteligência artificial na criação de cenários preditivos e planos de ação personalizados.
Imagem 2. Gilson Regadas revelou a importância dos dados para a produção
Em sua vez, a professora Ricarda Maria dos Santos, da Universidade Federal de Uberlândia, trouxe foco à eficiência reprodutiva, ponto-chave para produtividade e rentabilidade no leite. Segundo ela, o sucesso depende de cuidados contínuos ao longo do ciclo: na secagem, o ideal é manter bom escore corporal, controlar mastite e oferecer dieta balanceada; no pré-parto, o foco está em vacinação e nutrição preventiva; no parto, é essencial uma equipe capacitada e intervenções mínimas; e no pós-parto, o monitoramento da saúde e a ingestão adequada de matéria seca são prioridades.
Fechando as palestras, a professora Rosimeri Venâncio Redivo, chamou atenção para o risco invisível das micotoxinas, presentes em 97% das matérias-primas analisadas — muitas vezes em formas modificadas ou mascaradas, que dificultam a detecção e aumentam o perigo para a saúde animal e humana. Um dos exemplos mais preocupantes é a aflatoxina M1, com alto potencial carcinogênico e capaz de contaminar o leite. Para reduzir esse risco, é essencial aplicar boas práticas de amostragem, utilizar análises como ELISA e HPLC, manter um monitoramento constante e garantir a rastreabilidade dos insumos.
Juntas, essas três abordagens — gestão baseada em dados, excelência no manejo reprodutivo e blindagem contra micotoxinas — formam o alicerce para uma produção de leite moderna, segura e rentável.
A importância da nutrição como chave da eficiência
A eficiência alimentar também foi tema de destaque no evento, com a palestra do professor Rodrigo de Almeida, da Universidade Federal do Paraná. Ele ressaltou que, diante do alto custo da alimentação — principal despesa na produção leiteira —, buscar alternativas nutricionais mais inteligentes é essencial para aumentar a rentabilidade das fazendas. Entre as estratégias apresentadas, Rodrigo destacou a seleção genética para o critério Feed Saved, que prioriza vacas menores, capazes de produzir mais leite comendo menos. Essa abordagem é especialmente relevante para sistemas de alta produtividade que já atingiram o limite da diluição da mantença e buscam novas formas de otimizar recursos.
Na mesma linha de preocupação com a eficiência dos animais, Laura Valadão Vieira, doutoranda da UFPel, trouxe à tona um dos maiores desafios na fase inicial da lactação: a acidose ruminal. Segundo ela, mais de 25% das vacas nos primeiros 100 dias pós-parto são afetadas por esse distúrbio, que compromete a digestão, reduz a ingestão de matéria seca, diminui a produção e pode desencadear diversas outras doenças. Para combater esse problema, Laura defendeu o uso de estratégias nutricionais como a inclusão de tamponantes, fitogênicos e, principalmente, o fornecimento de volumosos de alta qualidade. Essas ações, além de promoverem o equilíbrio ruminal, contribuem diretamente para o aumento da produtividade e da saúde dos rebanhos.
Inovação vinda do exterior
O evento contou com palestrantes internacionais que trouxeram inovações aplicadas em seus países. Guillermo Schroeder, PhD e diretor sr de P&D em ruminantes da Cargill, apresentou duas palestras sobre eficiência nos sistemas leiteiros. Na primeira, destacou o papel dos aditivos nutricionais, como o NutriTek, na melhora da digestão de fibras e no aumento da ingestão de matéria seca, o que se traduz em maior produção e eficiência alimentar. Em sua segunda palestra, abordou os grandes desafios que moldarão a pecuária do futuro — como mudanças climáticas, envelhecimento populacional e escassez de mão de obra — e defendeu o uso estratégico de tecnologias como genética, nutrição de precisão e inteligência artificial para tornar as fazendas mais resilientes e competitivas.
Imagem 2. Guillermo Schroeder em sua palestra sobre aditivos alimentares
Complementando essa visão integrada da produção, a Dra. Jill Davidson, Líder Global de Tecnologia da Cargill, ressaltou a importância da saúde intestinal como um dos pilares do bem-estar e do desempenho das vacas leiteiras. Ela explicou que a integridade intestinal está diretamente ligada à saúde ruminal, que influencia a microbiota intestinal de forma decisiva. No entanto, o intestino é uma estrutura mais frágil e sensível, vulnerável a desequilíbrios provocados por alterações na dieta. Esses impactos podem comprometer a microbiota, desencadear processos inflamatórios e até resultar em inflamação sistêmica, afetando negativamente a produção e a saúde dos animais. Para a especialista, preservar o equilíbrio da microbiota intestinal é essencial para garantir digestão eficiente, boa imunidade e máximo aproveitamento dos nutrientes.
Rumo à máxima eficiência:
Encerrando o evento, Ronald Coulter, Líder do Negócio de Bovinos de Leite da Cargill, sintetizou o propósito por trás de todas as palestras e discussões: transformar a forma como se produz leite no Brasil, com base em ciência, dados e eficiência. “Queremos trazer dados científicos para os técnicos que estão no campo, ampliando o repertório de quem está lado a lado com o produtor”, afirmou. Segundo ele, em um cenário cada vez mais desafiador em termos de margens, rentabilidade e longevidade dos animais, é preciso usar ferramentas que ajudem a tornar o ciclo produtivo mais rápido, saudável e sustentável. “O mundo inteiro busca eficiência — e aqui no Brasil não é diferente. A Cargill está totalmente alinhada com o desejo do produtor brasileiro por essa máxima eficiência”, concluiu, deixando claro que o futuro da pecuária leiteira a, necessariamente, por decisões mais inteligentes e conectadas com a realidade do campo.