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Consumo de leite com alta CCS afeta a saúde da bezerra?

Conheça os riscos do fornecimento de leite com alta CCS para bezerras.

Publicado por: MilkPoint

Publicado em: - 4 minutos de leitura

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Os custos para manutenção de bezerras e novilhas representam em torno de 20% das despesas gerais da propriedade, sendo o período de aleitamento a fase mais onerosa (Boulton, Rushton e Wathes, 2017). Devido a esses altos custos, os produtores buscam formas mais baratas para alimentar as bezerras, sendo o leite de descarte uma das opções disponíveis mais utilizada nas fazendas.

O leite de descarte é oriundo de vacas recém-paridas, o qual se inclui colostro de baixa qualidade e leite de transição, ou leite de vacas que estão recebendo tratamento com antibióticos, principalmente em função do acometimento por mastite clínica. Em ambas as situações a contagem de células somáticas (CCS) está elevada e o uso desse leite pode trazer diversos problemas sanitários e de desempenho para as bezerras.

As células somáticas são células de descamação do epitélio da glândula mamária e leucócitos do sangue, as quais tem seu número aumentando mediante a infecção causada por microrganismos diversos, que inclui bactérias, fungos e algas. De maneira geral, o fornecimento de leite com alta CCS prejudica os animais em função da variação na sua composição nutricional, riscos de contaminação por microrganismos, presença de endotoxinas e antibióticos, além de elevar os riscos de resistência de bactérias do trato gastrointestinal.

Os problemas sanitários, quando o leite com alta CCS é fornecido às bezerras, estão associados à contaminação por Stafilococcus aureus, Streptococcus agalactiae, Mycobacterium, Salmonella spp, Mycoplasma spp e Escherichia coli., entre outros. Esses microrganismos são responsáveis pelo aumento da incidência de diarreias, doenças respiratórias, e é um dos principais fatores de risco para mastite em novilhas. Abaixo segue um resumo dos problemas causados pela ingestão dessas bactérias via leite, sobre a saúde das bezerras.

Contagem de Células Somáticas

É importante ressaltar que animais recém-nascidos são ainda mais susceptíveis a essas doenças, uma vez que a permeabilidade do intestino é maior que a de animais mais velhos. O que acontece é que neonatos têm enterócitos (células intestinais com função de absorção de nutrientes e macromoléculas) em diferentes estágios de maturação. Isso significa que enquanto o processo de amadurecimento dessas células intestinais não ocorrer por completo, as bezerras serão capazes de absorver essas bactérias e suas toxinas.

Uma das estratégias utilizadas pelos produtores para diminuir os riscos de transmissão dessas bactérias pela dieta líquida é a pasteurização. Quando o processo é realizado de forma adequada, observa-se diminuição drástica na contagem bacteriana e em problemas de diarreia e pneumonia.  Apesar de tudo, seu uso não imediato leva ao aumento na contaminação bacteriana, a números semelhantes ao leite não pasteurizado (Elizondo-Salazar, Jones e Heinrichs, 2010). Além disso, não elimina problemas causados pela presença de antibióticos, toxinas bacterianas e composição nutricional.

O trabalho publicado por Fechner et al., (2019) avaliando os efeitos da pasteurização em amostras de leite coletadas em fazendas na Alemanha, sobre a contagem de Mycobacterium avium ssp.paratuberculosis, causadora de paratuberculose em bezerras, mostrou que mesmo após o adequado e moderno processo de pasteurização, ainda foi possível identificar crescimento dessas bactérias, sugerindo que a contaminação bacteriana em leite de descarte pasteurizado não pode ser excluída.

Outro problema que não pode ser contornado com a pasteurização é a ingestão de antibióticos vindo do tratamento das vacas para mastite e outras infecções. Embora as quantidades de antibióticos sejam baixas e variáveis no leite com alta CCS, não é incomum encontrar situações em bezerreiros, nos quais os animais são alimentados com esse tipo de leite, levam à resistência das bezerras aos tratamentos com antibioticoterapia.

Diversos estudos publicados na literatura investigaram os efeitos da resistência de drogas antimicrobianas aos principais microrganismos causadores de doenças intestinais e respiratórias em bezerras. Maynou, Bach e Terré (2017), a partir da coleta de amostras fecais, encontraram resistência de cepas de Escherichia coli (bactéria causadora de mastite ambiental) a princípios ativos como enrofloxacina, florfenicol e estreptomicina.

Nesse sentido, os estudos sugerem que alimentar bezerras com leite de descarte leva ao aumento de bactérias resistentes a antibióticos no trato digestivo inferior (porção final do intestino delgado e intestino grosso) e à diminuição da sua resposta no combate as doenças causadas por esses microrganismos.

Por fim, o consumo de leite com alta CCS oferece a oportunidade da ingestão de alta quantidade de endotoxinas. Essas toxinas servem como uma barreira de proteção e são originadas a partir da morte e rompimento da célula de bactérias gram-negativas, como a Escherichia coli. A parede do intestino da bezerra, em condições normais, age como uma barreira física que impede a agem dessas toxinas para a corrente sanguínea. No entanto, quando a carga bacteriana excede a capacidade de proteção intestinal, se observa o início de um processo inflamatório que pode levar a bezerra a quadros de febre, diminuição de apetite, desidratação, perda de peso e, em casos extremos, infecção generalizada (septicemia) e morte.

O produtor não pode esquecer que além de todos os problemas que podem ser causados às bezerras pelo fornecimento de leite com alta CCS, também está transferindo esse problema da sala de ordenha para o bezerreiro. Ou seja, diminuir a quantidade de vacas acometidas por mastite no rebanho, melhorar aspectos de rotina de ordenha e a imunidade das vacas é uma oportunidade de criar bezerras saudáveis e, no futuro, vacas mais produtivas.

De maneira geral, os riscos à saúde das bezerras, quando alimentadas com leite de descarte, são bastante elevados e, por isso, sempre que possível é recomendado fornecer dieta líquida, com o uso de leite integral ou sucedâneos lácteos de qualidade para que, junto com um plano nutricional adequado, se garanta a saúde e o adequado desempenho dos animais.

Para saber mais clique aqui.

 

Maximiliano PasettiMaximiliano Pasetti

Maximiliano Henrique Pasetti é consultor de serviços técnicos de bovinos de leite na Agroceres Multimix.

 

Este é um conteúdo de Agroceres Multimix.

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O leite de descarte é oriundo de vacas recém-paridas, o qual se inclui colostro de baixa qualidade e leite de transição, ou leite de vacas que estão recebendo tratamento com antibióticos, principalmente em função do acometimento por mastite clínica. Em ambas as situações a contagem de células somáticas (CCS) está elevada e o uso desse leite pode trazer diversos problemas sanitários e de desempenho para as bezerras.

As células somáticas são células de descamação do epitélio da glândula mamária e leucócitos do sangue, as quais tem seu número aumentando mediante a infecção causada por microrganismos diversos, que inclui bactérias, fungos e algas. De maneira geral, o fornecimento de leite com alta CCS prejudica os animais em função da variação na sua composição nutricional, riscos de contaminação por microrganismos, presença de endotoxinas e antibióticos, além de elevar os riscos de resistência de bactérias do trato gastrointestinal.

Os problemas sanitários, quando o leite com alta CCS é fornecido às bezerras, estão associados à contaminação por Stafilococcus aureus, Streptococcus agalactiae, Mycobacterium, Salmonella spp, Mycoplasma spp e Escherichia coli., entre outros. Esses microrganismos são responsáveis pelo aumento da incidência de diarreias, doenças respiratórias, e é um dos principais fatores de risco para mastite em novilhas. Abaixo segue um resumo dos problemas causados pela ingestão dessas bactérias via leite, sobre a saúde das bezerras.

Contagem de Células Somáticas

É importante ressaltar que animais recém-nascidos são ainda mais susceptíveis a essas doenças, uma vez que a permeabilidade do intestino é maior que a de animais mais velhos. O que acontece é que neonatos têm enterócitos (células intestinais com função de absorção de nutrientes e macromoléculas) em diferentes estágios de maturação. Isso significa que enquanto o processo de amadurecimento dessas células intestinais não ocorrer por completo, as bezerras serão capazes de absorver essas bactérias e suas toxinas.

Uma das estratégias utilizadas pelos produtores para diminuir os riscos de transmissão dessas bactérias pela dieta líquida é a pasteurização. Quando o processo é realizado de forma adequada, observa-se diminuição drástica na contagem bacteriana e em problemas de diarreia e pneumonia.  Apesar de tudo, seu uso não imediato leva ao aumento na contaminação bacteriana, a números semelhantes ao leite não pasteurizado (Elizondo-Salazar, Jones e Heinrichs, 2010). Além disso, não elimina problemas causados pela presença de antibióticos, toxinas bacterianas e composição nutricional.

O trabalho publicado por Fechner et al., (2019) avaliando os efeitos da pasteurização em amostras de leite coletadas em fazendas na Alemanha, sobre a contagem de Mycobacterium avium ssp.paratuberculosis, causadora de paratuberculose em bezerras, mostrou que mesmo após o adequado e moderno processo de pasteurização, ainda foi possível identificar crescimento dessas bactérias, sugerindo que a contaminação bacteriana em leite de descarte pasteurizado não pode ser excluída.

Outro problema que não pode ser contornado com a pasteurização é a ingestão de antibióticos vindo do tratamento das vacas para mastite e outras infecções. Embora as quantidades de antibióticos sejam baixas e variáveis no leite com alta CCS, não é incomum encontrar situações em bezerreiros, nos quais os animais são alimentados com esse tipo de leite, levam à resistência das bezerras aos tratamentos com antibioticoterapia.

Diversos estudos publicados na literatura investigaram os efeitos da resistência de drogas antimicrobianas aos principais microrganismos causadores de doenças intestinais e respiratórias em bezerras. Maynou, Bach e Terré (2017), a partir da coleta de amostras fecais, encontraram resistência de cepas de Escherichia coli (bactéria causadora de mastite ambiental) a princípios ativos como enrofloxacina, florfenicol e estreptomicina.

Nesse sentido, os estudos sugerem que alimentar bezerras com leite de descarte leva ao aumento de bactérias resistentes a antibióticos no trato digestivo inferior (porção final do intestino delgado e intestino grosso) e à diminuição da sua resposta no combate as doenças causadas por esses microrganismos.

Por fim, o consumo de leite com alta CCS oferece a oportunidade da ingestão de alta quantidade de endotoxinas. Essas toxinas servem como uma barreira de proteção e são originadas a partir da morte e rompimento da célula de bactérias gram-negativas, como a Escherichia coli. A parede do intestino da bezerra, em condições normais, age como uma barreira física que impede a agem dessas toxinas para a corrente sanguínea. No entanto, quando a carga bacteriana excede a capacidade de proteção intestinal, se observa o início de um processo inflamatório que pode levar a bezerra a quadros de febre, diminuição de apetite, desidratação, perda de peso e, em casos extremos, infecção generalizada (septicemia) e morte.

O produtor não pode esquecer que além de todos os problemas que podem ser causados às bezerras pelo fornecimento de leite com alta CCS, também está transferindo esse problema da sala de ordenha para o bezerreiro. Ou seja, diminuir a quantidade de vacas acometidas por mastite no rebanho, melhorar aspectos de rotina de ordenha e a imunidade das vacas é uma oportunidade de criar bezerras saudáveis e, no futuro, vacas mais produtivas.

De maneira geral, os riscos à saúde das bezerras, quando alimentadas com leite de descarte, são bastante elevados e, por isso, sempre que possível é recomendado fornecer dieta líquida, com o uso de leite integral ou sucedâneos lácteos de qualidade para que, junto com um plano nutricional adequado, se garanta a saúde e o adequado desempenho dos animais.

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Maximiliano Henrique Pasetti é consultor de serviços técnicos de bovinos de leite na Agroceres Multimix.

 

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