Oito de março, Dia Internacional das Mulheres. Entre todas as faces que elas assumem — de mães a profissionais – historicamente, sua presença é menor nas atividades do setor lácteo, desde a produção de leite até as indústrias. Esse cenário pode ser atrelado ao fato das rotinas das fazendas e fábricas exigirem, por muito tempo, mão de obra pesada.
Mas, com o ar do tempo e com o advento de diversas tecnologias que diminuem a necessidade de “força bruta”, podemos observar avanços na inserção feminina no mercado de trabalho lácteo, que vêm se destacando por diversas habilidades que diferenciam homens e mulheres. Pensando nisso, levantamos o seguinte questionamento: atualmente, como está a presença de mulheres nos laticínios?
Para responder essa pergunta e falar um pouco mais sobre essa questão, conversamos com Danila Santos — Gerente de Qualidade Corporativa da Laticínios Catupiry. Confira abaixo como foi esse bate-papo:
1. MilkPoint – Você enxerga que mais mulheres estão mais presentes nas indústrias de laticínios tanto no chão de fábrica quanto em posições de supervisão, gerenciamento etc.?
Danila – Atuo em indústrias de laticínios há alguns anos e, conhecendo e estudando um pouco desta atividade, percebi que a chegada da mulher nesse segmento ainda é recente e um tabu a ser quebrado.
Nos últimos 10 anos, iniciou-se nos laticínios brasileiros uma maior introdução de mão de obra feminina, seja no chão de fábrica e até em níveis de maior posição. Mas ainda existem muitos laticínios que ainda não possuem mulheres atuando na produção e são raras as mulheres queijeiras no país.
2. MilkPoint – Considera que esse cenário ainda é desigual e conservador? Por quais razões?
Danila – Ainda percebo um cenário bem desigual e acredito ser cultural dos laticínios a presença e a dominância masculina nas atividades. Antigamente, grande parte das atividades nos laticínios exigiam um grande esforço físico, pois todo o processo era manual.
Brincamos, dentro dos laticínios, “que o pessoal não precisava de academia, bastava filar uma muçarela ou virar latões de leite”. Devido a isso, criou-se a necessidade maior da força masculina nas atividades.
Ao longo dos anos, a tecnologia começou a melhorar as condições dentro dos laticínios e, então, começou-se a abrir as portas para a força feminina na atividade.
3. MilkPoint –Muitas vezes, durante os cursos na área de alimentos, laticínios etc., temos mais alunas do que alunos. Por que você acha que no mercado de trabalho essa proporção se inverte?
Danila – Isso falo por mim e tenho certeza de que outras mulheres se identificarão. Primeiro, porque somos mais curiosas, interessadas e gostamos de conhecer mais profundamente as coisas.
Segundo, porque nós precisamos nos destacar, principalmente em uma área que ainda precisa ser mais bem dividida entre o homem e a mulher. Então, buscamos nos aperfeiçoar para estarmos preparadas para competir e vencermos pelo nosso potencial e competência.
4. MilkPoint – Muito se fala em comunicação não violenta nas indústrias. Como você acredita que as profissionais podem usufruir dela para conquistar e abrir mais caminhos e oportunidades?
Danila – A comunicação não violenta pode e deve ser usada tanto por homens como por mulheres, porém eu acredito que nós mulheres temos mais facilidade na comunicação, somos mais objetivas e claras e conseguimos criar um clima mais harmonioso no ambiente de trabalho que favorece muito a comunicação com o time.
5. MilkPoint – Na sua visão, como essa questão vem sendo abordada e trabalhada pelos Recursos Humanos? Tanto externamente (entrevistas) quanto internamente?
Danila – Percebo um movimento muito bacana das áreas de Recursos Humanos de modo a equilibrar seu quadro nas organizações. Acredito que estão percebendo as vantagens e a necessidade da força feminina à frente das empresas, seja no chão de fábrica ou em posições estratégicas.
No meu trabalho anterior, no qual eu era Gerente Industrial em 3 laticínios (a primeira e única gerente mulher na época) e contava com mais de 450 pessoas no meu time, tive o prestígio de fazer parte de grandes revoluções, aumentando a porcentagem de mulheres nas fábricas e em posições de liderança.
Com isso, posso dizer com experiência que foi incrível nossa atuação e o nível das entregas realizado pela equipe, sendo o RH parte fundamental desse movimento.
6. MilkPoint – Você enxerga que existem diferenças no modo de trabalhar e abordagem com a equipe etc. entre os profissionais homens e mulheres? Quais?
Danila – O bom profissional será bom, sendo homem ou mulher, mas particularmente vejo nós mulheres com maiores vantagens em algumas atividades.
Percebo mais cuidado no chão de fábrica em atividades de organização, limpeza, cooperação e disciplina. Nas posições de liderança tem grande destaque a forma de se comunicar, resiliência, flexibilidade e predisposição às mudanças.
Além disso, enxergo nós mulheres com mais paixão pelo que fazemos, maior entrega e dedicação em qualquer que seja nossa atividade. Por fim, a desigualdade nos laticínios ainda existe, mas percebo um movimento das indústrias em equilibrar sua força de trabalho.
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