O sistema de comercialização de produtos lácteos do Canadá é bastante organizado, com o objetivo de estimular a produção de volumes suficientes de leite industrial e cremes para suprir a demanda doméstica para produtos lácteos, bem como os volumes de exportação. A Comissão Canadense de Lácteos (CDC), em seu papel facilitador, ajuda a construir um consenso com a indústria, o que caracteriza todo o processo de comercialização ordenada na indústria de lácteos do Canadá.
Os rebanhos leiteiros do Canadá, reconhecidos por seu status de livre de doenças e por sua habilidade de produzir altas quantidades de leite em muitas lactações, são exportados para mais de 50 países. As exportações de material genético dos animais leiteiros canadenses atingem um valor de mais de Cdn $ 151 milhões anualmente. Em 2001, os maiores mercados de exportação desta genética foram os Estados Unidos, a Espanha, o Reino Unido, o Japão, a Alemanha, o México, o Brasil, a Austrália e o Irã.
2. Panorama
2.1. Produção mundial de leite
Em 2000, a produção mundial total de leite estimada foi de 571 milhões de toneladas, das quais 68% foram destinadas às indústrias de lácteos para a produção de produtos lácteos. O resultado de 2000 representa um crescimento de 1,4% comparado com o ano anterior (isto é, 8 milhões de toneladas). O leite bovino representa 85,3% do total de leite produzido mundialmente. A produção de outros animais incluída nestas estatísticas é a de búfalos (não existe no Canadá), ovinos, caprinos e outros animais leiteiros.

e - estimado
Fonte: International Dairy Federation (IDF); The World Dairy Situation 2000 Publication # 368/2001
A União Européia (UE), como bloco, liderou a produção de leite em 2000, com 25% do total, seguida da América do Norte, com 19%, da Ásia, com 13% e da Comunidade dos Estados Independentes (CEI - antiga União Soviética), com 11%.

Fonte: World Dairy Situation 2000, Bulletin of the International Dairy Federation, 355/2000
Apesar da produção de leite no Canadá ser significativa, ela é responsável por uma pequena porcentagem (menos de 2%) da produção mundial total de leite.

Com relação às indústrias de lácteos, o processo de concentração está ocorrendo em todas as partes do mundo. Este processo de concentração está sendo feito através de fusões, aquisições e formação de alianças estratégicas. As grandes companhias estão se tornando maiores e a expansão para os mercados externos está aumentando.
O maior consumo per capita de produtos lácteos foi registrado nos países europeus. Por exemplo, o maior consumo de leite fluido ocorre na Irlanda, com 152,5 quilos, enquanto o maior consumo de manteiga e queijos ocorre na França, com 8,3 quilos e 24,1 quilos, respectivamente.
2. Sistema regulador
2.1. A Política Nacional de Lácteos
Há dois mercados de leite no Canadá. O mercado de leite fluido, que inclui o creme de leite, e é responsável por 40% de todo o leite produzido no país, e os restantes 60%, que se referem ao leite destinado à fabricação de produtos lácteos, como manteiga, queijos, sorvete e iogurte.
Cada Província no Canadá é responsável pela produção de seu próprio leite fluido e utiliza suas próprias fórmulas de fixação de preços, políticas de cotas, bem como outras regulamentações. O governo federal tem jurisdição sobre o mercado de leite industrial, que é istrado através de um acordo federal-provincial, conhecido como Plano Nacional de Comercialização de Leite. O Canadá adotou um sistema de gerenciamento da oferta do leite industrial no início dos anos setenta. A proposta do gerenciamento da oferta era de fornecer um equilíbrio entre a demanda por produtos lácteos e o fornecimento de leite industrial.
O mercado doméstico do Canadá é suprido primariamente por leite produzido no próprio país, exceto no caso de volumes fixos de queijos importados e uma pequena quantidade de outros produtos. O Comitê Canadense de Gerenciamento da Oferta de Leite istra a aplicação deste Plano nacional. O comitê é dirigido pela Comissão Canadense de Lácteos e tem representantes entre os produtores e os governantes de todas as províncias do país, exceto Newfoundland, que não faz parte do Plano Nacional de Comercialização de Leite.
A política nacional do leite no Canadá contém os seguintes elementos-chave:
* Gerenciamento da oferta de leite através de um sistema chamado Divisão do Mercado de Cotas (MSQ) ;
* Controle das importações de produtos lácteos;
* Estabelecimento de um preço pretendido (preço alvo) para o leite industrial baseado no custo de produção;
* e do governo federal para o preço pretendido através de um pagamento direto aos produtores de leite, o qual foi eliminado em 1 de fevereiro de 2002; e
* e aos preços de manteiga e leite em pó desnatado.

BC = British Columbia
NB = New Brunswick
NS = Nova Scotia
PEI = Prince Edward Island
2.2. Classes de leite e arranjos de grupos
2.2.1. Definições das classes de leite

2.2.2. Arranjos de grupos
As condições de desenvolvimento nos mercados doméstico e internacional nos últimos anos resultaram em mudanças significativas no sistema de distribuição do leite em todo o Canadá; conhecido como arranjos de grupos. Em seu papel como um facilitador da indústria de lácteos nacional, a Comissão Canadense de Lácteos istra estas distribuições de grupos em nome da indústria de lácteos. Há três importantes acordos de união:
Fixação de preços e união do leite classe 5 (P9)
Pelo sistema de fixação de preços e união de produtos classe cinco, implementado em agosto de 1995, o leite industrial é classificado e disponibilizado para uso em produtos lácteos e produtos contendo ingredientes lácteos a preços que variam de acordo com seu uso final. Este contrato de consórcio, comumente conhecido como "P9", fornece meios para que os rendimentos sejam divididos entre todas as nove províncias signatárias do Plano Nacional de Comercialização de Leite. Desta forma, o os retornos do mercado oriundos da venda de leite para processadores, com propostas especiais da classe, são divididos entre todos os produtores de lácteos (com exceção da Província de Newfoundland, que não participa do plano nacional dada a sua baixa produção de leite industrial).
Fusão de todo o leite do leste do país (P6)
Desde agosto de 1996, os retornos - rendimentos de todo o leite vendido - têm sido divididos entre os produtores de leite de Manitoba, Ontário, Quebec, New Brunswick, Nova Scotia e Prince Edward Island.
O acordo "P6" também fornece vários elementos de harmonização, incluindo múltiplos componentes de preços, um sistema de cota diário e uma troca de cotas, e a fixação de preços baseado no uso final dos componentes. A Comissão continua prestando assistência à indústria nos ajustes finos do sistema e na resolução de assuntos levantados nos anos anteriores.
União do leite do Oeste do país (P4)
Em março de 1997, as quatro províncias do oeste do Canadá - Manitoba, Saskatchewan, Alberta e British Columbia - também implementaram um sistema de união do leite. Apesar de Manitoba fazer parte do P4, também participa da divisão de rendimentos no P6.
2.3. Responsabilidades federais
A Comissão Canadense de Lácteos (CDC), corporação criada em 1966, tem tido um papel chave na evolução e implementação da política nacional do setor de lácteos do país. Trabalhando intimamente com os conselhos de comercialização de leite das províncias, bem como com produtores, processadores e exportadores, a Comissão aconselha os ministros da Agricultura e Alimentos Agrícolas do Canadá nas questões referentes aos lácteos e a políticas de desenvolvimentos e programas a fim de satisfazer as necessidades da indústria ao mesmo tempo em que fornece aos canadenses um adequado fornecimento de produtos lácteos de alta qualidade.
Vários departamentos governamentais federais também têm responsabilidades no setor de lácteos. O Agriculture and Agri-Food Canada tem como responsabilidades a pesquisa no setor de lácteos, o desenvolvimento animal, a saúde animal, as políticas de desenvolvimento, bem como questões de mercado e promoção do setor rural. A entidade também istra uma série de programas, que têm impacto direto nos produtores de leite do país.
A Agência Canadense de Inspeção de Alimentos é responsável pelo estabelecimento de padrões em produtos lácteos, classificação de produtos, inspeção de fábricas, regulamentação de embalagens, rotulagem de fatores nutricionais, saúde animal e monitoramento da segurança dos produtos lácteos.
A importação da maioria dos produtos lácteos pelo Canadá está sujeita à taxa de cotas sujeitas a tarifas (TQRs), istradas pelo Departamento de Comércio Internacional e Assuntos Externos. As tarifas pertencentes aos TQRs e as tarifas de importações acima das cotas são istradas pela Agência de Alfândega e Receita do Canadá. O Health Canada continua desenvolvendo padrões e políticas para a segurança dos produtos lácteos, que são aplicadas pela Agência Canadense de Inspeção dos Alimentos.
2.4. Responsabilidades das províncias
Comissões de comercialização e agências das províncias governam a produção e a comercialização de leite dentro de suas próprias fronteiras. Atividades de comercialização relacionadas ao leite industrial são executadas sob as legislações concomitantes federal e provincial. Com o objetivo de gerenciar a comercialização do leite, os governos das províncias delegaram poderes legais para as agências provinciais ou às comissões de comercialização.
Apesar das responsabilidades variarem de província para província, as comissões e as agências geralmente dão licença aos produtores, estabelecem preços pagos aos produtores de leite e, no caso do leite fluido, determinam a demanda provincial e alocam cotas aos produtores.
Assim como o gerenciamento de cotas de leite fluido, as autoridades de comercialização das províncias designadas istram as decisões do Comitê Canadense de Gerenciamento da Oferta de Leite (CMSMC) que fiscalizam o Plano Nacional de Comercialização de Leite. Eles distribuem as porções provinciais no sistema nacional de divisão de cotas do mercado (MSQ) para produtores de leite industrial.
Várias autoridades de comercialização das províncias canadenses são eleitas pelas comissões de produtores. Elas são financiadas pelos produtores e funcionam relativamente de forma independente das estruturas do governo, apesar de estarem sujeitas à supervisão governamental. Em cerca de metade das províncias, a comercialização é regulamentada pelas agências do governo. Nestas províncias, as cooperativas pertencentes aos produtores de leite, que são operações de processamento, adquirem uma agregada importância política, promovendo os interesses de seus membros.
Muitas das agências provinciais estabelecem taxas de embarque através das negociações com representantes de firmas de transporte de leite. Departamentos de Agricultura de todas as províncias gerenciam e controlam os programas de qualidade e estabelecem padrões sanitários para a produção e níveis de processamento. Além disso, políticas e programas em nível federal, como os es aos preços oferecidos para manteiga e leite em pó desnatado pela Comissão Canadense de Lácteos, tem algum efeito nos mercados de lácteos das províncias.
Em Ontário e Quebec, a alocação de cotas para fábricas ou os acordos de oferta são usados, principalmente para leite destinado à fabricação de queijos, mas também para manteiga, leite em pó, leite condensado e evaporado e em casos em que o leite fresco ou o creme de leite são requeridos para a produção de sorvete. Em algumas províncias, como em Ontário e em Quebec, as plantas de fabricação destes produtos não podem operar sem ter adquirido cotas. As determinações da istração sobre as cotas das plantas são negociadas entre as autoridades de comercialização de leite das províncias e os processadores.
O impacto da alocação de cotas para plantas ou dos acordos de fornecimento ocorre mais em períodos de ocasional escassez, quando as fábricas não conseguem cobrir a necessidade de oferta. Uma vez que as fábricas de leite fluido têm maior prioridade no caso dos fornecimentos de leite fresco disponíveis, uma inesperada demanda forte para leite fluido pode resultar em menos leite disponível para as fábricas industriais.
2.5. Padrões de qualidade e inspeção
Estritos padrões de qualidade, tanto na propriedade rural como no nível de processamento, contribuem com a forte reputação do Canadá pela alta qualidade de seus produtos.
A inspeção da segurança dos alimentos para leite fluido e produtos lácteos vendidos dentro da província caem sob a jurisdição da província, enquanto o mandato federal é destinado à inspeção de produtos lácteos vendidos entre províncias ou internacionalmente. A maioria das fábricas de leite fluido do país e algumas das menores fábricas de queijos concentradas no mercado local ou provincial tende a ser inspecionada pelas províncias, enquanto a maioria das outras fábricas de lácteos é inspecionada pelo governo federal para garantir o cumprimento com o Ato de Produtos Agrícolas do Canadá e com as Regulamentações de Produtos Lácteos, bem como com seções apropriadas do Ato e Regulamentações de Alimentos e Drogas e com o Ato e Regulamentações de Embalagens ao Consumidor.
A Agência Canadense de Inspeção de Alimentos está concentrada na aplicação de requerimentos federais de vários departamentos. As Regulamentações e Códigos Nacionais de Lácteos foram desenvolvidas em colaboração com processadores, produtores e províncias canadenses. O Código Nacional de Lácteos foi estabelecido com o objetivo de determinar um modelo de padrões fixos de segurança dos alimentos, que será incorporado à legislação do país. O Código, quando aprovado, fornecerá uma gama de padrões incluindo todos os aspectos da produção e processamento de leite fluido e manufaturado.
Os objetivos do Código são:
* Garantir segurança e alta qualidade dos produtos lácteos;
* Introduzir padrões para eliminar barreiras comerciais interprovinciais;
* Melhorar a competitividade das indústrias entre as províncias e internacionalmente;
* Fornecer proteção aos consumidores de fraudes econômicas.
2.5.1. Padrões de qualidade na propriedade rural
Os padrões de qualidade do leite na propriedade rural são legislados provincialmente. Entretanto, nos últimos anos tem havido esforços para que sejam mantidos os mesmos padrões em todas as províncias, e para que seja incluído no Código Nacional de Lácteos.
A porção do Código Nacional de Lácteos que se aplica às propriedades rurais determina padrões e regras que devem ser aplicadas na construção, disposição e operação de produção de estabelecimentos como estábulos, sala de ordenha, casas do leite e equipamentos. Ela engloba saúde animal, manejo e transporte de leite e creme, bem como veículos de transporte. Além disso, ela também fornece padrões de qualidade do leite.
De forma geral, os padrões requerem que as boas condições sanitárias precisam ser alcançadas nas proximidades e nas construções onde o leite é produzido e estocado. Há também requerimentos máximos para qualidade química e microbiológica do leite. Os padrões precisam ser seguidos pelos produtores que vendem ou compram leite ou para fazendas de produção de creme.

2.5.2. Padrões de qualidade para fábricas processadoras
Os padrões de qualidade para fábricas processadoras presentes no Código Nacional de Lácteos englobam construção, layout e operação das fábricas processadoras; processamento térmico de produtos lácteos; origem de leite; ingredientes e fornecimento; amostragem, testes e padrões de produtos lácteos, etc.
De forma geral, o leite e os produtos lácteos precisam ser manejados e processados sob estritas condições sanitárias de forma que este leite e estes produtos sejam adequados ao consumo humano.
3. A produção de leite no Canadá
3.1. Introdução
O Canadá está entre os 20 maiores países do mundo em termos de produção de rebanhos leiteiros, produção de leite fluido e produtos lácteos, consumo e exportações de material genético leiteiro. O setor de produção vem apresentando mudanças dramáticas no Canadá nos últimos 30 anos.

1 hectolitro = 100 litros
Fonte: Estatísticas da Canada and Canadian Dairy Commission
O número de vacas leiteiras vem caindo significativamente nos últimos 30 anos no Canadá. Durante o mesmo período, o rebanho nacional de lácteos do país caiu pela metade, enquanto a produção total permaneceu no mesmo nível. Em 1970, a produção total no Canadá era de 77,05 milhões de hectolitros (7,705 bilhões de litros), enquanto em 2000/2001, esta produção era de 75,1 milhões de hectolitros (7,51 bilhões de litros - com 3,6 quilos de gordura por 100 litros). Estes ajustes resultaram em uma maior reestruturação das propriedades leiteiras. Há menos fazendas, mas estas são maiores e têm mais vacas. Desde a década de setenta, o número de vacas leiteiras por propriedade aumentou cerca de 195% e a média por fazenda leiteira canadense hoje é de 59 vacas. Melhor nutrição dos animais, controle de doenças e melhoramento genético também contribuíram com o aumento do volume de leite produzido por vaca.
O setor de lácteos do Canadá também desenvolveu uma população de vacas leiteiras com os mais altos níveis genéticos do mundo. Isto se baseia nos fortes registros de leite e em programas de avaliação genética, que foram colocados em prática no Canadá desde 1905. O Canadá também é livre das principais doenças animais, principalmente devido a seus estritos padrões de controle de doenças. A encefalopatia espongiforme bovina (EEB) ou doença da 'vaca louca' não existe no Canadá.
3.2. Propriedades leiteiras
Uma típica propriedade leiteira canadense é completamente especializada, com a maioria de seu rendimento sendo proveniente da produção de leite e da venda de vacas leiteiras. Em média trata-se de uma operação familiar, com um rebanho de cerca de 59 vacas leiteiras da raça holandesa. Os proprietários rurais canadenses atuais em média já construíram uma considerável equidade em suas operações (possuem efetivamente a maior parte dos ativos que utilizam).
As vendas de produtos lácteos e bovinos leiteiros geram, em média, Cdn $ 216.091 por ano. Além disso, o impacto das modernas pesquisas e tecnologias nas indústrias de lácteos do Canadá é facilmente observado. Culturas agrícolas mais desenvolvidas, suplementos nutricionais aos animais e melhoramento genético são alguns dos benefícios que a pesquisa fornece. Uma típica propriedade rural familiar no Canadá está acostumada com avançadas tecnologias, como práticas de inseminação artificial, seleção de raças e sistemas de ordenha que facilitem e economizem trabalho. Além disso, sistemas computadorizados de gerenciamento da nutrição e dos rebanhos leiteiros, avanços biotecnológicos e inovações de equipamentos estão também rapidamente mudando a forma como as coisas são feitas nas fazendas leiteiras do Canadá.
3.3. Preço do leite
Os produtores de leite do Canadá geralmente recebem uma grande variedade de preços pelo seu leite. As vendas são classificadas de acordo com a forma como o leite será utilizado. O maior preço pago pelo leite produzido é aquele destinado ao mercado doméstico de leite fluido, e o menor preço geralmente é pago ao leite e aos componentes lácteos utilizados em produtos industriais, como manteiga e leite em pó desnatado.
O preço alvo do leite industrial está fixado em Cdn$ 58,87/100 litros (para leite contendo 3,6% de gordura) após a eliminação do subsídio ao setor, ocorrida em primeiro de fevereiro de 2002.

3.4. Preço da cota
É possível comprar ou vender cotas em uma base mensal. A troca de cotas é uma jurisdição provincial e é governada pelos conselhos e agências de comercialização das províncias. O preço das cotas é determinado de acordo com a oferta e a demanda. Os preços das cotas para 2000 e 2001 podem ser vistos em: http://www.dairyinfo.agr.ca/aquota.pdf.
3.5. Produção de leite por vaca
Em 2001, as vacas leiteiras canadenses pertencentes aos programas oficiais de registro produziram uma média de 9,242 mil quilos de leite, dado comparativamente favorável com relação aos demais países. Este volume de produção vem aumentando de forma estável. De forma geral a produção de leite por vaca no Canadá aumentou quase 100% nos últimos 40 anos.

5. Indústria processadora de produtos lácteos
5.1. Introdução
A indústria processadora de lácteos é vital para a economia canadense, ficando em segundo lugar no setor de produtos agrícolas e alimentação, depois da indústria de carnes. A indústria emprega aproximadamente 20,5 mil pessoas e gera milhares de empregos em setores relacionados, como transporte, empacotamento, manejo e comercialização de produtos lácteos. O leite produzido na fazenda é vendido a vários estabelecimentos leiteiros ou fábricas processadoras.
O leite é processado em dois tipos de leite. Leite fluido, que inclui leite homogeneizado (3,25% de gordura), parcialmente desnatado (2% de gordura), com baixo teor de gordura (1% de gordura), desnatado, leite ultrafiltrado, leites especiais, leite achocolatado, óleo de manteiga e outros tipos de cremes. O outro tipo é o leite ou o creme industrial, utilizados na produção de outros produtos lácteos, como manteiga, queijos, iogurtes, sorvetes. Em 2001, o leite industrial foi responsável por 62,6% de todo o leite produzido, enquanto 37,4% foi destinado à manufatura de leite fluido e creme.
5.2. Tamanho da indústria
A indústria de lácteos do Canadá tem visto uma significativa racionalização nas últimas décadas. Algumas companhias fecharam e outras se uniram para se tornar mais competitivas e produtivas. Esta tendência de baixa tem sido contínua por muitos anos, mas foi acelerada desde 1990. Em 1965, havia 1413 fábricas processadoras de lácteos do Canadá. Em 2001, o número das fábricas processadoras com licença federal era de 281, incluindo 56 fábricas de leite fluido e 219 fábricas de leite industrial (algumas delas processam ambos os tipos de leite, fluido e industrial).
As fábricas processadoras de produtos lácteos existem em todas as regiões do Canadá e estão geralmente localizadas em áreas onde a produção de leite está concentrada. As fábricas processadoras de leite fluido tendem a estar localizadas nas margens dos centros urbanos para servir ao mercado consumidor. As fábricas que processam produtos lácteos com longo prazo de validade, como manteiga, leite em pó, queijos e soro de leite em pó, estão localizadas em áreas rurais, próximas aos fornecedores de leite cru. Em 2000-2001, aproximadamente 7,51 bilhões de litros de leite foram produzidos para venda no Canadá para estes dois mercados.
Partindo de uma perspectiva regional, a indústria está bastante concentrada na região central do país. Ontário e Quebec são responsáveis por mais de 60% de todas as fábricas e cerca de 75% de toda a produção industrial. Ontário é líder na produção de leite fluido e sorvetes, enquanto Quebec lidera a produção de manteiga, queijos e iogurtes.
5.3. Estrutura e investimentos
Há três principais estruturas organizacionais na indústria processadora de lácteos do Canadá. As mais dominantes são as cooperativas de propriedade dos produtores de leite, que são responsáveis por cerca de 60% de toda a produção industrial. O balanço é dividido entre as multinacionais estrangeiras proeminentes, que tendem a ser companhias de alimentos diversificados e fabricantes de produtos ao consumidor, e as companhias canadenses, que são de vários tamanhos.
Os maiores processadores são multi-fábricas que operam em duas ou mais províncias e geralmente oferecem uma grande variação de linhas de produtos, como leite fluido, creme, manteiga, queijos, sorvetes, iogurtes, etc, para venda no varejo e mercados de foodservice. Produtos lácteos como queijos, manteiga, leite em pó desnatado, leite condensado, proteína concentrada do leite, estão cada vez mais sendo vendidos como ingredientes para processadores para serem usados na incorporação de uma série de alimentos e itens não alimentícios.
Outros processadores tendem a se especializar em áreas de poucos produtos (queijos, sorvetes, iogurtes, ingredientes especializados, tecnologia) ou em certos mercados (local ou de exportação).
5.3.1. Consolidação
há alguns anos a indústria de lácteos do Canadá vem ando por um processo de racionalização. Várias indústrias são responsáveis por esta tendência, que parece ter começado, de fato, na década de setenta.
Em primeiro lugar, a especialização das propriedades leiteiras e a redução dos custos de transporte (obtidos através de economia de escala e ganhos tecnológicos) possibilitam a consolidação de companhias processadoras de lácteos. Além disso, os programas de governo das províncias estimulam a consolidação pagando aos pequenos processadores para que fechem suas portas . Além disso, mudanças na política leiteira de certas províncias e a política nacional de lácteos ajudaram na manutenção desta tendência maior de racionalização.
A estagnação ou o declínio da produção têm também fornecido outro incentivo significativo aos processadores para a consolidação, uma vez que esta significa aumento da participação no mercado. Com as fusões as firmas descobriram que podem reduzir a supercapacidade das fábricas, combinar recursos e habilidades, e reduzir custos através de operação de um número menor de fábricas, mas maiores e mais eficientes. Apesar do número de fábricas ter se reduzido pela metade desde 1975, a taxa de desaparecimento destas fábricas se acelerou entre 1988-1995, quando o número de estabelecimentos caiu 25,8%. A queda no número de fábricas foi similar tanto nas de leite fluido como nas de leite industrial.
Outro fator adicional é a consolidação de empresas no setor de varejo. Os varejistas agora estão requerendo de seus fornecedores quantidades maiores do produto do que no ado. Para satisfazer esta demanda, os processadores precisam aumentar a produção. Além disso, como os varejistas têm atualmente estabelecimentos em mais de uma província, os processadores precisam também seguir esta tendência e expandir seu mercado para várias províncias.
Finalmente, a globalização do mercado também afeta esta tendência de racionalização, uma vez que as companhias do Canadá precisam competir fortemente com companhias estrangeiras, tanto localmente como nos mercados externos.
Vale destacar que as fusões de companhias, bem como as aquisições, foram grandemente responsáveis pelo declínio no número de companhias e fábricas processadoras de produtos lácteos do Canadá. Na racionalização da indústria de lácteos do Canadá um importante segmento de mercado foi deixado vago pelas grandes companhias. Estes segmentos incluem nichos de mercado para os queijos ultra-especializados. Estes nichos são ocupados por um grande número de pequenas companhias, freqüentemente estabelecimentos de produção de queijos artesanais. Excluindo-se as grandes companhias, há mais de 160 fábricas processadoras de lácteos registradas em nível federal. Estes estabelecimentos fornecem produto geralmente aos mercados locais.
Também no ado as companhias processadoras do Canadá operavam principalmente em mercados regionais. Com a racionalização, eles expandiram seu território de mercado a nível de província. Nos últimos anos, muitas companhias do Canadá adquiriram outras companhias e/ou entraram em alianças estratégicas com companhias localizadas em outras províncias ou até mesmo fora do Canadá para obter uma exposição nacional ou internacional. A chegada de multinacionais no início da década de noventa também parece ter tido um impacto nas companhias canadenses no processo de racionalização.
Sendo assim, as indústrias de lácteos aram a se concentrar cada vez mais nas mãos de poucos. Atualmente, três organizações têm vendas anuais de produtos lácteos de mais de Cdn $ 1 bilhão cada e cinco organizações controlam 50% de toda a indústria de lácteos do país, sendo que são responsáveis por 60% da produção. Além disso, algumas firmas têm desenvolvido parcerias ou ligações corporativas para processamento, distribuição e comercialização de produtos específicos.
A presença da Parmalat no mercado do Canadá é bastante recente, uma vez que ela se estabeleceu no país em 1997, através da compra das companhias Beatrice e Ault. Desde então, a Parmalat comprou outras várias companhias ou suas divisões. A Parmalat era a maior companhia de lácteos do Canadá até o final de 2000. Com as aquisições ocorridas em 2001 (Agropur/Lactel, Saputo/Dairyworld) ainda não foram divulgados dados oficiais sobre qual destas companhias ficará com o primeiro lugar. A tabela seguinte mostra a lista das principais companhias de lácteos do Canadá (com as respectivas datas dos dados apresentados).

Fontes: Les Affaires newspaper, 2000 edição especial
Notas:
1) Faturamento total inclui todas as vendas da companhia (não somente as vendas no Canadá)
2) Os números de 1999 não estavam disponíveis para todas as companhias
5.3.2. Investimentos
A racionalização nos números de companhias e fábricas processadoras tem sido acompanhada por um novo investimento desde o início da década de noventa que não tem comparação com nenhum outro dos principais setores da indústria de processamento de alimentos. Entre 1990 e 1998, o investimento de capital em novas construções e equipamentos modernos de produção, bem como os gastos com consertos, está estimado em Cdn $ 1,8 bilhão. Os estabelecimentos agora são maiores em tamanho, operam com maior eficiência e exibem maior automação no processamento e nos equipamentos de embalagem.
(em Cdn $ bilhões)

Fonte: Indústrias do Canadá - Previsões das Indústrias - Indústria de Leite Fluido (SIC 1041) e Indústrias de Outros Produtos Lácteos (SIC 1049)
5.3.4. Cooperativas
As cooperativas de lácteos do Canadá são negócios que pertencem aos produtores de leite que processam e comercializam produtos e são gerenciados por equipes profissionais. Estas organizações permitem que os produtores se envolvam mais nos processos de comercialização, uma vez que seu leite sai direto da fazenda para os consumidores. Em províncias onde as agências de comercialização de leite não existem, as cooperativas servem como uma agem para o leite produzido por seus membros. Elas são uma parte importante da indústria de lácteos canadense em todas as províncias.
Em 1999, as cooperativas de lácteos do Canadá processaram 66% da produção total de leite do país e registraram mais de Cnd $ 4 bilhões em vendas totais de produtos lácteos. Dados de 1999 indicavam 24 cooperativas de lácteos no país. Apesar do grande número localizado em Quebec (12), as cooperativas leiteiras também são muito importantes nas províncias centrais (Prairies), British Columbia e províncias do leste (Maritimes) em termos de volume de leite industrial processado.
Até o inicio dos anos noventa as cooperativas canadenses operavam principalmente nos mercados locais. Nos últimos anos, elas começaram a participar ativamente do processo de racionalização através da aquisição de outras companhias, freqüentemente localizada fora de sua província de origem, ou se unindo a elas. Isso ocorrendo, as cooperativas de lácteos aumentaram sua participação no mercado para 66% em 1999, quando comparado com os 46% de 1990. Por exemplo, a Agropur, uma das maiores companhias de lácteos do Canadá, adquiriu várias fábricas processadoras desde 1997. A Agropur, que operava quase que exclusivamente em Quebec antes destas aquisições, agora tem fábricas em Quebec, Ontário, British Columbia e Alberta. A Agropur também comprou as propriedades da Lactel, outra cooperativa de Quebec no final de 2000.
A cooperativa Dairyworld, que era a terceira maior companhia de lácteos do Canadá em 2000, é resultado da fusão de quatro cooperativas em British Columbia, Alberta e Saskatchewan. Nos últimos anos, a cooperativa adquiriu várias companhias, o que permitiu a presença desta cooperativa em 8 províncias do Canadá (todas as províncias, exceto Newfoundland e Prince Edward Island). Esta cooperativa foi vendida para a Saputo no começo de 2001. Sendo assim, a participação de mercado das cooperativas de lácteos do Canadá poderá declinar significativamente.
5.4. Lucratividade
Os lucros no setor de processamento de lácteos do Canadá variam regionalmente e por linha de produto. A competição parece ser maior nos mercados centrais do Canadá, particularmente em Ontário, onde um grande número de firmas participa. Em Ontário, as linhas de produtos de leite fluido e sorvetes parecem ser as áreas mais difíceis de gerar lucros. Assim como ocorre em outras partes das indústrias de alimentos e bebidas, as estratégias das indústrias privadas de produzirem marcas com baixa margem, que competem com marcas mais comuns no mercado, pode causar um impacto nos lucros.
Estudos de benchmarking no setor de sorvetes, completados em 1995, e de queijos, em 1996, indicaram que os custos de produção de ingredientes não-lácteos (taxas, custos com mão-de-obra, taxas de juros, custos com energia) no Canadá são comparáveis com os custos dos EUA para estabelecimentos de tamanho similar. Estes estudos mostraram que o Canadá é, em média, um local atrativo, com relação aos EUA, para se investir em fábricas modernas de processamento de lácteos. Quedas similares nos empregos estão ocorrendo na indústria de lácteos dos EUA onde as mesmas tendências estão ocorrendo, com menos pessoas trabalhando em menos mas maiores fábricas.
5.5. Tecnologia e inovação
No mercado canadense, o desenvolvimento de produtos, a inovação nas embalagens e a melhoria dos métodos de processamento estão sendo vistos como elementos críticos no aumento das vendas e na redução dos custos de produção. São comuns t ventures entre os processadores e as universidades, ou com as estações de pesquisa do Agriculture and Agri-Food Canada, como por exemplo, o Centro de Desenvolvimento de Pesquisas, em St-Hyacinthe, Quebec. A maioria das pesquisas desenvolvidas no Canadá é direcionada a atividades de desenvolvimento de produtos e melhoria das técnicas de processamento, mas uma grande atenção também é dada ao desenvolvimento de atividades de pesquisas em outros países.
O estabelecimento de uma categoria de leite microfiltrado que recebe um preço prêmio é o principal exemplo de esforços inovadores da indústria de lácteos canadense. Assim como ocorre em outras partes da indústria de alimentos do país, o desenvolvimento de produtos é direcionado pelas considerações relacionadas a saúde, preço, qualidade e sabor. O desejo dos consumidores por produtos com baixo teor de gordura, mas que mantivesse as mesmas características de sabor, é a maior preocupação do desenvolvimento de produtos lácteos na América do Norte e na Europa Ocidental.
A exploração e a caracterização das propriedades dos componentes do leite para aplicações nos alimentos são também prioridades da pesquisa canadense, uma vez que estes compostos estão sendo analisados do ponto de vista de potenciais de produção de "alimentos funcionais".
A indústria está seguindo outros processadores de alimentos no trabalho com firmas de embalagens, visando o desenvolvimento de embalagens mais criativas, exibindo designs de alta qualidade, como uma ferramenta de se obter participação no mercado. Porém, tanto os requerimentos para as embalagens feitos pelas indústrias de lácteos, como as considerações sobre reciclagem e meio-ambiente estão direcionando as inovações no setor de embalagens de lácteos no Canadá.
5.6. Desafios e oportunidades
Em sua relação com o setor primário, a indústria processadora de lácteos do Canadá precisa também se preocupar com a competitividade em nível internacional, particularmente no que se refere ao custo e disponibilidade de matéria-prima.
A maturidade da demanda no mercado doméstico está forçando as companhias a serem mais ativas no desenvolvimento de novos produtos. Significativamente, um forte crescimento é observado em segmentos onde as atividades de desenvolvimento de novos produtos têm sido maiores, como em iogurtes, bebidas lácteas e sobremesas geladas.
As mudanças nos hábitos dos consumidores também estão criando novas oportunidades. Em resposta ao aumento da freqüência de refeições feitas fora de casa e dada a natureza dos produtos consumidos, companhias de lácteos do Canadá estão achando necessário renovar os produtos oferecidos, particularmente com o objetivo de melhor servir o mercado institucional. O crescente espaço ocupado pelas marcas privadas e o aumento do poder dos varejistas de alimentos estão forçando as companhias do Canadá a tentar entender melhor e atingir as necessidades especificas dos varejistas em termos de requerimentos de produtos, custos e logísticas de oferta.
O desenvolvimento de produtos lácteos com um enfoque para a saúde também representa um grande desafio, dadas as expectativas dos consumidores e a complexidade e/ou imprecisão da estrutura de regulamentação. Para a indústria de lácteos, o uso de soro de leite representa um dos caminhos mais promissores. Em Quebec, a presença de vários centros de pesquisa estimula a inovação nesta área. Além disso, desde 1995 a Novalait Inc. tem demonstrado sua capacidade de orientar pesquisas cientificas e tecnológicas baseadas nos benefícios para a indústria. Estes esforços podem promover o desenvolvimento e as vendas dos ingredientes lácteos especificamente para o desenvolvimento de alimentos funcionais. Alguns observadores inclusive sugeriram que este tema poderá afetar o desenvolvimento de novos produtos durante os próximos cinco anos.
Finalmente, sem desconsiderar a competição com as bebidas carbonatadas ou gaseificadas, os fabricantes de bebidas e sucos continuarão a influenciar o consumo de populações jovens em detrimento do leite. Entre os novos nichos de mercado a serem explorados, os produtos orgânicos e os produtos derivados da soja merecem atenção especial. Por exemplo, os produtos lácteos lideram o segmento de alimentos orgânicos e estão apresentando um rápido crescimento. Nos EUA, este segmento foi estimado em Cdn$ 300 milhões em 1998, 50% a mais do que no ano anterior. Estimativas indicam um potencial de mercado de Cnd$ 2 bilhões em 2005 .
Em 17/10/02
Cdn $ 1 = US$ 0,63151
Cdn$ 1,5835 = US$ 1 (Fonte: Oanda.com)
Fonte: Agriculture and Agri-Food Canada