Buscando fomentar as dúvidas quanto ao tipo de silo e silagem, o MilkPoint entrou em contato com diversos profissionais da área, coletando relatos e opiniões.
Segundo o autor da foto, Fernando Afonso Machado, a reidratação foi feita em julho de 2015 e dentre as vantagens do método têm-se o preço de compra na safra, o baixo investimento para estocar grandes volumes e uma melhor absorção pelos bovinos.
Segundo Fernando Afonso, com a máquina da foto foi possível moer 5 ton/ hora, colocando 1.500 litros de água/hora (milho com 12% unidade sendo acrescido para em torno de 40 % umidade) e inoculante. “[O silo] foi aberto com 10 dias após o término da moagem. Guardei 140 ton de milho comprado a 24,00 Sc de 60 kg. Deu um total de 180 ton (milho e água). Na formulação da dieta conta tudo como milho, ganhando essa diferença”.
O produtor ressaltou em comentário na foto que “é só calcular a capacidade do moinho, dosar a água (30%), compactar, inocular para não haver perdas, vedar com lona e esquecer que a existe alta de grão no segundo semestre”.
De acordo com João Luiz Pratti Daniel, do departamento de zootecnia da ESALQ/USP, silagem de milho reidratado é sim uma boa opção para melhorar a digestibilidade do amido, quando o produtor não consegue produzir silagem de grão úmido ‘verdadeiro’ em sua propriedade. No fundo esta é uma estratégia de processamento de grãos.
“Entretanto, o fato da silagem ser um alimento úmido, há risco de perdas de nutrientes durante a conservação e durante a utilização deste tipo de material, especialmente no que se refere a deterioração aeróbia. Portanto, cuidados com o processo de produção e utilização devem ser considerados (moagem, reidratação, uso de inoculantes, compactação, vedação, descarregamento)”, disse. “Na prática tenho recomendado moagem do milho em peneira No. 2 (moagem fina, ligeiramente mais grossa que fubá), reidratação para que o material atinja 35% de umidade (considerando grão com 12% de umidade. O cálculo resultaria na combinação de 740 kg de milho + 260 litros de água)”.
“Para atenuar a deterioração aeróbia, além de recomendar designs de silos que permitam taxas elevadas de remoção diária de silagem, pode-se utilizar algum aditivo (ex. benzoato de sódio 0,15% ou Lactobacillus buchneri)”, finalizou o especialista.
Patrick Schmidt, zootecnista e professor da Universidade Federal do Paraná, ressaltou ainda um detalhe dentro das afirmações do produtor: “O material deve ser avaliado com base em matéria seca e há perdas no processo, em torno de 5%. Assim, se foram colocadas 140 t de milho, com 88% de MS, deve ser retirado do silo (se o manejo for bom!) cerca de 117 t MS. O resto é água”.
Quando questionado sobre o tipo de silo, Patrick afirmou que o processo é interessante: “permite armazenamento do grão na própria fazenda, e eleva consistentemente a digestibilidade do grão. Nossos estudos mostram aumento de até 9 unidades percentuais nessa digestibilidade”. Entretanto, segundo ele “dá trabalho” - o processo é simples, porém não é fácil. “E é necessário cuidado para não perder muito”.
“É um assunto um pouco polêmico a reidratação total de milho”, relatou João Ricardo Alves Pereira, professor da UEPG-PR e consultor em produção e conservação de forragens. “Só existe no Brasil. O comum é a reconstituição, onde na produção de silagem de grão úmido reconstitui-se a umidade quando ela cai de 30% ‘durante a colheita’ do milho, ou seja, dois ou três pontos percentuais”, continua.
Explicando o processo ele diz: “Na questão da reidratação pega-se milho com 13 ou 14% de umidade (que foi seco em secador, por isso tem custo) ou que ficou na lavoura até secar (ao tempo) e por isso tem perdas, e coloca-se mais 30% de água. Se considerarmos os custos operacionais mais as perdas da ensilagem (CO2, etc) a questão de lucratividade fica questionável”.
João Ricardo mostra também que o produtor esqueceu do fator diluição: “Veja também que o produtor afirma que na hora do uso da dieta a substituição é ‘total’, ou seja, ele tira um milho com 13% de umidade e coloca um com 30%”
O professor Marcos Neves Pereira, responsável pelo desenvolvimento da técnica explica que o uso está crescendo no Brasil. “A tecnologia começou aqui na UFLA há alguns anos, em especial em teses do Rafael Andrade e da Luciene Bitencourt, mas já fizemos vários outros trabalhos depois destes. Para o começo recebemos auxílio da FAPEMIG. Tenho dado muitas palestras sobre isto - o uso tem sido promovido em gado de corte e leite, e também em suínos, tanto aos grandes quanto aos pequenos produtores. Essa é uma forma de aumentar a digestibilidade do amido e armazenar milho de forma simples na fazenda, dentre outras vantagens. É possível também fazer o processo com sorgo”.
No seu artigo “Silagem de milho reidratado na alimentação do gado leiteiro ”, publicado no Informe Agropecuário, v.34, n.277, p.7-18, nov./dez. 2013. é mencionado que os híbridos de milho brasileiros têm baixa digestibilidade, por ter endosperma de alta vitreosidade. A reidratação pode aumentar a eficiência alimentar dos rebanhos leiteiros.
O processo simplificado pode ser explicado da seguinte maneira: durante a ensilagem do grão, ocorre a degradação de prolaminas que envolvem os grânulos de amido no endosperma, aumentando o o enzimático ao amido no trato digestivo, consequentemente a proporção da digestão que ocorre no rúmen. A maior digestão ruminal do amido pode aumentar a síntese de proteína microbiana, a eficiência de utilização do nitrogênio dietético, o consumo de matéria orgânica (MO) digestível e a relação entre o leite produzido e o alimento consumido.
Os especialistas recomendam a hidratação do milho maduro para obter teor de umidade do ensilado superior a 30% da matéria natural (MN), por mistura vigorosa da água ao milho finamente moído. A técnica pode aumentar a eficiência de uso da mão de obra e induzir ganho financeiro pela possibilidade de armazenamento do milho na fazenda e pela obtenção de ganho em digestibilidade do amido, o que é capaz de reduzir o uso de alimentos concentrados por unidade de leite produzido.
E você leitor, tem usado esta tecnologia? Já conhecia? Dê sua opinião.
As imagens da matéria foram fornecidas pelo produtor Fernando Afonso Machado.
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