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Vacas morrem após comerem massa de pão

Saiba mais sobre o caso das vacas que consumiram massa de pão e vieram a óbito. Entenda os motivos e o porque do cuidado com a alimentação do rebanho.

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No céu tem pão? E morreu! 

Figura 1

Em uma fazenda leiteira no sul de Minas Gerais, cinco vacas morreram após ingerirem grande quantidade de massa de pão, e outras 2 vacas tiveram sinais de timpanismo agudo. O episódio aconteceu no dia 21 de abril.

O produtor relatou que uma padaria da cidade havia feito limpeza em seus freezers e descartou grande quantidade de massas de pães e bolos que não serviam mais para uso na padaria, em um terreno ao lado de sua propriedade. Sete vacas do rebanho desse produtor, arrebentaram a cerca da propriedade e foram até as massas que estavam descartadas e ingeriram rapidamente uma grande quantidade, resultando na tragédia vivida pela fazenda.

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Após a ingestão das massas, as vacas ficaram apáticas, apresentaram inchaço abdominal, pararam de ruminar e tiveram diarreia. A primeira morreu antes das 24 horas após a ingestão das massas e as outras nos dois dias subsequentes. Apenas duas vacas se recuperaram e am bem.
 

Por que a ingestão das massas levou os animais ao óbito?

Tecnicamente, as hipóteses para o incidente são duas: a primeira é de causa nutricional propriamente dita, já que uma quantidade muito grande de carboidratos prontamente disponíveis foi inserida sem prévia adaptação. A segunda é a possibilidade de presença de fungo na massa, lembrando que a quantidade ingerida foi muito grande e o animal não refugaria pela presença de mofo, especialmente por ser um produto tão palatável.

Pensando no timpanismo por alta ingestão de carboidratos simples, vale lembrar que o farelo de trigo, assim como o milho, é uma fonte excelente de energia para dietas de animais leiteiros, porém, uma alteração na dieta, assim como qualquer outra, deve ser feita ao longo de alguns dias, com adaptação e ainda assim, se a quantidade de fibra da nova dieta for muito baixa, a chance de desenvolvimento de timpanismo ainda é alta.

Ruminantes são exigentes nesse sentido, pois o rúmen abriga uma microbiota enorme e muito rica, e que, além de digerir os alimentos que têm contato, pode produzir gases em quantidade muito grande, gerando grande pressão intra-ruminal e trazendo complicações clínicas,levando até à morte, como observado no caso.

A possível presença de fungo e consequentemente de toxinas fúngicas na massa fornecida não pode ser descartada (apesar de não ter sido investigada,) e em caso positivo, agravaria o quadro, trazendo sinais para além do timpanismo ruminal, como intoxicação hepática, sinais neurológicos, etc. O incidente se deu no meio de um feriado e infelizmente não foi possível ter atendimento de nenhum técnico da região.
 

Pode ofertar pão para as vacas? 

O fornecimento de massas de pães e bolos e outros produtos como macarrão, bolachas e qualquer tipo de subprodutos de indústrias alimentícias locais e mesmo de produção da própria fazenda, não são uma ameaça.

Pelo contrário, podem ser uma oportunidade de usar ingredientes com preço interessante e de altíssima qualidade, basta que o nutricionista da fazenda se atente à qualidade do subproduto, à forma de uso e quando possível, ao padrão do ingrediente (já que muitas vezes a indústria não tem essa preocupação, a cevada é um bom exemplo disso!).

Nesta fazenda as vacas estavam com produção entre 15 a 20 litros, e mesmo se todas se recuperassem, haveria uma queda expressiva na produção de leite.

Em conclusão, é preciso ter sempre atenção redobrada ao o dos animais a qualquer tipo de alimento estranho à dieta, não só pelo risco de contágio ou ingestão de toxinas, mas por problemas vindos da não adaptação a uma ingestão diferente da usual.

Ruminantes tem uma grande câmara de fermentação (rúmen), muito sensível a todo tipo de mudança nutricional, por essa razão, mesmo que o preço de qualquer ingrediente seja extremamente atrativo, é importantíssimo que se avalie com o técnico como realizar a adaptação e os limites de uso de qualquer item.

Lamentamos muito pela perda deste produtor, que esse caso sirva de alerta para você leitor!

Você também tem um relato de caso de alguma situação anormal na sua fazenda ou na fazenda de algum conhecido? Envie pra gente através do email stephanie@milkpointventures.com.br ou pelas nossas redes sociais @milkpoint (instagram) e MilkPoint (Facebook)

Clique aqui e e nossa página dedicada a temas nutricionais e fique bem informado!

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Material escrito por:

Núbia Ribeiro

Núbia Ribeiro

Zootecnista formada pela Universidade Federal de Lavras - UFLA. Marketing MilkPoint.

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Hayla Fernandes

Hayla Fernandes

Médica veterinária pela UFG, mestre em sustentabilidade e pecuária e consultora técnica. Proprietária do perfil @vaca_feliz_oficial no Instagram.

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Sandro charopen machado
SANDRO CHAROPEN MACHADO

CHAPECÓ - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/05/2023

Bom dia. Tive o mesmo relato no RS com um tio meu, que perdeu 1 animal e outro ficou doente mas conseguimos recuperar e sim, tb considerei a questão dos carboidratos prontamente fermentáveis. Um artigo simples mas que traz uma imensa lição. Podemos sim buscar novas formas de alimentar os animais, ainda mais em tempos de alto custos e escassez, sim, mas temos que ter atenção, conhecimento ou apoio de quem sabe para fazer da melhor forma possível. Parabéns.
Jacob Leonardo Voorsluys
JACOB LEONARDO VOORSLUYS

CARAMBEÍ - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/05/2023

Li sobre um caso semelhante na Holanda. Inclusive eles teem um ditado que traduzido livremente significa: O pão (renda, receita) de um é a morte do outro!
Qual a sua dúvida hoje?

Vacas morrem após comerem massa de pão

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No céu tem pão? E morreu! 

Figura 1

Em uma fazenda leiteira no sul de Minas Gerais, cinco vacas morreram após ingerirem grande quantidade de massa de pão, e outras 2 vacas tiveram sinais de timpanismo agudo. O episódio aconteceu no dia 21 de abril.

O produtor relatou que uma padaria da cidade havia feito limpeza em seus freezers e descartou grande quantidade de massas de pães e bolos que não serviam mais para uso na padaria, em um terreno ao lado de sua propriedade. Sete vacas do rebanho desse produtor, arrebentaram a cerca da propriedade e foram até as massas que estavam descartadas e ingeriram rapidamente uma grande quantidade, resultando na tragédia vivida pela fazenda.

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Por que a ingestão das massas levou os animais ao óbito?

Tecnicamente, as hipóteses para o incidente são duas: a primeira é de causa nutricional propriamente dita, já que uma quantidade muito grande de carboidratos prontamente disponíveis foi inserida sem prévia adaptação. A segunda é a possibilidade de presença de fungo na massa, lembrando que a quantidade ingerida foi muito grande e o animal não refugaria pela presença de mofo, especialmente por ser um produto tão palatável.

Pensando no timpanismo por alta ingestão de carboidratos simples, vale lembrar que o farelo de trigo, assim como o milho, é uma fonte excelente de energia para dietas de animais leiteiros, porém, uma alteração na dieta, assim como qualquer outra, deve ser feita ao longo de alguns dias, com adaptação e ainda assim, se a quantidade de fibra da nova dieta for muito baixa, a chance de desenvolvimento de timpanismo ainda é alta.

Ruminantes são exigentes nesse sentido, pois o rúmen abriga uma microbiota enorme e muito rica, e que, além de digerir os alimentos que têm contato, pode produzir gases em quantidade muito grande, gerando grande pressão intra-ruminal e trazendo complicações clínicas,levando até à morte, como observado no caso.

A possível presença de fungo e consequentemente de toxinas fúngicas na massa fornecida não pode ser descartada (apesar de não ter sido investigada,) e em caso positivo, agravaria o quadro, trazendo sinais para além do timpanismo ruminal, como intoxicação hepática, sinais neurológicos, etc. O incidente se deu no meio de um feriado e infelizmente não foi possível ter atendimento de nenhum técnico da região.
 

Pode ofertar pão para as vacas? 

O fornecimento de massas de pães e bolos e outros produtos como macarrão, bolachas e qualquer tipo de subprodutos de indústrias alimentícias locais e mesmo de produção da própria fazenda, não são uma ameaça.

Pelo contrário, podem ser uma oportunidade de usar ingredientes com preço interessante e de altíssima qualidade, basta que o nutricionista da fazenda se atente à qualidade do subproduto, à forma de uso e quando possível, ao padrão do ingrediente (já que muitas vezes a indústria não tem essa preocupação, a cevada é um bom exemplo disso!).

Nesta fazenda as vacas estavam com produção entre 15 a 20 litros, e mesmo se todas se recuperassem, haveria uma queda expressiva na produção de leite.

Em conclusão, é preciso ter sempre atenção redobrada ao o dos animais a qualquer tipo de alimento estranho à dieta, não só pelo risco de contágio ou ingestão de toxinas, mas por problemas vindos da não adaptação a uma ingestão diferente da usual.

Ruminantes tem uma grande câmara de fermentação (rúmen), muito sensível a todo tipo de mudança nutricional, por essa razão, mesmo que o preço de qualquer ingrediente seja extremamente atrativo, é importantíssimo que se avalie com o técnico como realizar a adaptação e os limites de uso de qualquer item.

Lamentamos muito pela perda deste produtor, que esse caso sirva de alerta para você leitor!

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EM 20/05/2023

Bom dia. Tive o mesmo relato no RS com um tio meu, que perdeu 1 animal e outro ficou doente mas conseguimos recuperar e sim, tb considerei a questão dos carboidratos prontamente fermentáveis. Um artigo simples mas que traz uma imensa lição. Podemos sim buscar novas formas de alimentar os animais, ainda mais em tempos de alto custos e escassez, sim, mas temos que ter atenção, conhecimento ou apoio de quem sabe para fazer da melhor forma possível. Parabéns.
Jacob Leonardo Voorsluys
JACOB LEONARDO VOORSLUYS

CARAMBEÍ - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/05/2023

Li sobre um caso semelhante na Holanda. Inclusive eles teem um ditado que traduzido livremente significa: O pão (renda, receita) de um é a morte do outro!
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