ngelado-opcao-para-producao-de-queijos-226186/" />

Leite de cabra congelado: opção para produção de queijos

De maneira geral, é possível congelar o leite de cabra para processamento em períodos de baixa oferta da matéria-prima. Entenda melhor sobre o assunto!

Publicado por: vários autores

Publicado em: - 8 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 2
Ícone para curtir artigo 16

O leite de cabra vem conquistando consumidores por se tratar de alimento rico em vitaminas A, D e fósforo, maior quantidade de cálcio e menores valores de colesterol, além de apresentar glóbulos de gordura menores que o leite de vaca, propiciando melhor digestibilidade.

Outro fator importante é a indicação do consumo a pessoas alérgicas ao leite de vaca, por ter pequenas quantidades de caseína (CHAPAVAL, 2010). Vargas et al. (2008) ressaltaram que as principais diferenças entre o leite caprino e bovino estão relacionadas às variações na proporção das diferentes frações de caseína, na estrutura e tamanho dos glóbulos de gordura, além das micelas proteicas.

A boa digestibilidade e aceitabilidade do leite de cabra são importantes no momento de formular dietas para crianças e pessoas convalescentes. Em muitos casos, o leite de cabra pode, com êxito substituir, o leite de vaca na alimentação de indivíduos alérgicos ao leite bovino, sendo recomendada orientação médica neste sentido (RIBEIRO & RIBEIRO, 2001).

A caseína do leite de cabra tem maior quantidade de β-caseína, αs-2 caseína, apresentando quantidade inferior de αs-1 caseína. Tomotake et al. (2006) relataram 3,9% e 33,7% de αs1-caseína em leite caprino e em leite bovino, respectivamente.

As características do leite de cabra, tanto do ponto de vista nutricional quanto social, são importantes e motivam pesquisas para avaliação da produção e composição nutricional. No Brasil, as pesquisas ainda são insuficientes, principalmente envolvendo animais nativos, sendo necessário, portanto, o desenvolvimento de projetos que possibilitem elucidar a composição e a ação nutracêutica (QUEIROGA & COSTA, 2004).

Boa parte do leite caprino brasileiro é produzido em pequena escala, caracterizando-se por ser processado em condições artesanais na própria propriedade. Nessas condições, o leite geralmente é pasteurizado, podendo ser congelado em seguida com o intuito de facilitar a distribuição e armazenamento durante a entressafra (ANDRADE et al., 2008).

O consumo de leite de pequenos ruminantes no Brasil ainda é incipiente, devido especialmente a questões culturais, no entanto, Yu et al. (2021) afirmaram que o leite congelado pode ajudar os produtores a superar a sazonalidade da produção de leite de cabra, a baixa produção das cabras e os curtos períodos de lactação, além de evitar o descarte do leite. Proporcionando desta forma, a oferta do leite de cabra e derivados em períodos de entressafra.

Para Katili et al. (2006) o congelamento do leite durante a entressafra pode ser uma alternativa para produção de queijos. No entanto, a velocidade do congelamento pode afetar a qualidade do produto final, sendo que, no congelamento lento, ocorre degradação de proteínas, acarretando problemas na formação da coalhada (BERGER, 2001).

Outro fator importante é que o processo de congelamento apenas retarda a multiplicação de microrganismos (PORCIONATO et al., 2008), sendo de extrema importância a qualidade da matéria-prima para evitar defeitos nos queijos produzidos.

Segundo Gomes et al. (1997) o congelamento não altera as características microbiológicas do leite, e o produto, logo após o descongelamento, apresenta qualidade semelhante ao leite que o originou. Esse processamento também não provoca grandes modificações no sabor e odor do leite (BENEDET & CARVALHO, 1996), mas pode ocorrer floculação de proteínas, prejudicando a aparência do produto e sua aceitação.

Os microrganismos de maturação do queijo sofrem alterações pelo efeito dos tipos de congelamento. No processo, ocorre a formação de cristais de gelo dentro das células, sendo a destruição do tipo mecânica (destruição de organelas e membranas celulares).

O congelamento rápido pode ocasionar choque térmico, causando danos aos microrganismos, sendo mais influente para termófilos e mesófilos do que para psicrotróficos, gram-negativos do que gram-positivos e mais para lactobacilos do que para estreptococos (PELAEZ, 1983).

Pricop & Popa (2012) verificaram que as características físico-químicas do queijo de leite de cabra não foram fortemente influenciadas pelos processos de congelamento utilizados na pesquisa. Já Curi & Bonassi (2007) em avaliação de queijo análogo ao pecorino romano produzido com leite de cabra e coalhada congelados, verificaram que as médias mais altas nas análises sensoriais de aroma; sabor e escala hedônica foram obtidos nos tratamentos sem congelamento do leite e da coalhada.

Continua depois da publicidade

Nos queijos processados após o congelamento rápido do leite, utilizando se nitrogênio líquido e queijos processados após o congelamento lento do leite. Os autores recomendaram o uso do leite de cabra in natura nas épocas de pico da produção e usar o congelamento lento do leite, que seria realizado na época de pico da produção, na entressafra. 

Em relação a estocagem da matéria-prima, o congelamento do leite de cabra por até 30 dias não influencia nas características sensoriais e intenção de compra. Logo, é uma alternativa viável para a comercialização em diferentes épocas do ano (CRUZ et al., 2018).

O congelamento da matéria-prima por 60 dias não afetou a aceitabilidade na análise sensorial dos queijos tipo minas frescal. Para a intenção de compra, a opção provavelmente compraria para os dois queijos foi a mais escolhida, visto que hábito de consumo e o preço dos produtos caprinos ainda configuram obstáculos para difusão desse mercado.

Dessa forma, o congelamento de leite de cabra por até 60 dias é uma alternativa viável para a comercialização desse produto em diferentes períodos do ano, visto que uma das dificuldades da caprinocultura leiteira brasileira é a pequena produção por animal e a sazonalidade da produção (SOARES, 2014).

Gomes et al. (1997) mostraram resultados satisfatórios no congelamento do leite do ponto de vista químico e microbiológico, de forma que apenas a acidez apresentou decréscimo nas amostras de leite de cabra congeladas por até 90 dias.O congelamento do leite de cabra não influenciou a composição do extrato seco total, proteína e gordura no extrato seco do queijo coalho, porém, influenciou o teor de gordura do mesmo (CRUZ, 2019).

Quando avaliada a influência do leite de cabra congelado na qualidade do queijo Minas Frescal foi observado que o leite proveniente das diferentes fases de lactação estudadas mantidas até 120 dias de congelamento não comprometeu a qualidade do produto final e as propriedades físicas (pH, textura e cor) e de composição química (acidez, umidade, cinzas, gordura e proteína) dos queijos.

Entretanto, avaliando o rendimento industrial de produção do queijo Minas frescal os resultados revelaram que o processamento do queijo com leite congelado a partir de 40 dias provoca perda de rendimento que são relevantes para a indústria (PINTO JÚNIOR, 2012).

De maneira geral, é possível congelar o leite de cabra para processamento em períodos de baixa oferta da matéria-prima. Deve-se, portanto, se analisar a relação custo benefício, levando em consideração que são produtos altamente promissores e que permitem ao pequeno produtor a agregação de valor à produção.

 

Referências

ANDRADE, P. V. D.; SOUZA, M. R.; PENNA, C. F. A. M.; FERREIRA, J. M. Características microbiológicas e físico-químicas do leite de cabra submetido à pasteurização lenta pós-envase e ao congelamento. Ciência Rural, v. 38, n. 5, p. 1424-1430, 2008.

BENEDET, H. D.; CARVALHO, M. W. Caracterização do leite de cabra no Estado de Santa Catarina, Brasil. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 16, n. 2, p. 116-119, 1996.

BERGER, Y. M. Milking equipment for dairy ewes. In: Proc. 7th Great Lakes Dairy Sheep Symposium, Eau Claire, Wisconsin. 2001, p. 9-16.

CHAPAVAL, L. Qualidade do leite de cabra: uma questão de bom gosto. 2010. Disponível em: o em: 29 de jun. de 2021.

CRUZ, A. F. (2019). Caracterização físico-química e microbiológica do queijo coalho fabricado a partir de leite de cabra pasteurizado e congelado por diferentes períodos. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal da Paraíba, Areia, Brasil. Disponível em: o em: 29 de jun. 2021.

CRUZ, A. F.; SILVA JÚNIOR, R. G.; SANTOS, M. A.; BORGES, J. L. C.; MACÊDO, J. T. M.; SEIXAS, F. N.; SARAIVA, C. A. S. Análise sensorial do queijo coalho fabricado a partir de leite de cabra pasteurizado e pasteurizado e congelado. 2018. Disponível em: o em: 29 de jun. 2021.

CURI, R. A.; BONASSI, I. A. Elaboração de um queijo análogo ao pecorino romano produzido com leite de cabra e coalhada congelados. Ciência e Agrotecnologia, v. 31, n. 1, p. 171-176, 2007.

GOMES, M. I. F. V.; BONASSI. I. A.; ROÇA, R. O. Características químicas, microbiológicas e sensoriais de leite de cabra congelado. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 17, n. 2, p. 111-114, 1997.

KATILI, L. M.; BONASSI, I. A.; ROÇA, R. O. Aspectos físico-químicos e microbianos do queijo maturado por mofo obtido da coagulação mista com leite de cabra congelado e coalhada congelada. Food Science and Technology, v. 26, n. 4, p. 740-743, 2006.

PELAEZ, C. Congelación de cuajadas. Alimentaria. julho-agosto. n. 144, p. 19-22, 1983.

PINTO JÚNIOR, W. R. (2012). Efeito do congelamento do leite de cabra obtido em diferentes estágios de lactação sobre a qualidade de queijo minas frescal. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga, Brasil. Disponível em: o em: 29 de jun. 2021.

PORCIONATO, M. A. F.; REIS, C. B. M.; BARREIRO, J. R.; MORENO, J. F. G.; MESTIERI, L. Efeito da fervura, resfriamento ou congelamento na qualidade do leite cru. Revista Acadêmica Ciência Animal, v. 6, n. 4, p. 511-517, 2008.

PRICOP, E. M.; POPA, M. E. Effect of different refrigeration treatments on the physicochemical characteristics of raw goat milk curd-style. Journal of Agroalimentary Processes and Technologies, v. 18, n. 2, p. 175-180, 2012.

QUEIROGA, R. C. R. E.; COSTA, R. G. Qualidade do leite caprino. In: Simpósio Internacional de Conservação de Recursos Genéticos. Raças Nativas Para o Semi-Árido, v. 1. 2004, Recife. Anais... Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2004. p. 161-171.

RIBEIRO, E. L. A.; RIBEIRO, H. J. S. S. Uso nutricional e terapêutico do leite de cabra. Semina: Ciências Agrárias, v. 22, n. 2, p. 229-235, 2001.

SOARES, C. D. M. (2014). Avaliação do leite de cabra cru, cru congelado, queijo minas frescal e do soro por diferentes períodos e tempo. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil. Disponível em: o em: 29 de jun. 2021.

TOMOTAKE, H.; OKUYAMA, R.; KATAGIRI, M.; FUZITA, M.; YAMATO, M.; OTA, F. Comparison between Holstein cow’s milk and Japanese-Saanen goat’s milk in fatty acid composition, lipid digestibility and protein profile. Bioscience, Biotechnology & Biochemistry, v. 70, n. 11, p. 2771-2774, 2006.

VARGAS, M.; CHÁFER, M.; ALBORS, A.; CHIRALT, A.; GONZÁLEZ-MARTÍNEZ, C. Physicochemical and sensory characteristics of yogurt produced from mixtures of cow’s and goat’s milk. International Dairy Journal, v.18, n. 12, p.1146-1152, 2008.

YU, Z.; QIAO, C.; ZHANG, X.; YAN, L.; LI, L.; & LIU, Y. Screening of frozen-thawed conditions for keeping nutritive compositions and physicochemical characteristics of goat milk. Journal of Dairy Science, v. 104, n. 4, p. 4108-4118, 2021.

*Fonte da foto: Freepik

 
Ícone para ver comentários 2
Ícone para curtir artigo 16

Material escrito por:

Luiz Eduardo Nascimento

Luiz Eduardo Nascimento

Zootecnista pelo IF Goiano - Campus Rio Verde, Mestre em Zootecnia pelo IF Goiano - Campus Rio Verde, Doutorando em Zootecnia pela Universidade Federal de Goiás.

ar todos os materiais
João Antônio

João Antônio

Engenheiro Agrônomo pela UEG Campus Ipameri, Mestre em Zootecnia pelo IF Goiano Campus Rio Verde, Doutorando em Ciências Agrárias- Agronomia pelo IF Goiano Campus Rio Verde.

ar todos os materiais
Givanildo de Oliveira Santos

Givanildo de Oliveira Santos

Educador Físico e Mestre em Tecnologia de Alimentos pelo Instituto Federal Goiano - Campus Rio Verde

ar todos os materiais
Juan Carlos Roberto Saavedra More

Juan Carlos Roberto Saavedra More

Ingeniero Agroindustrial e Industrias Alimentarias, Universidad Nacional de Piura - Peru, Mestre em Ciência Animal pela Universidade Federal de Goiás - Campus Samambaia, Goiânia, GO.

ar todos os materiais
Thamara Venâncio de Almeida

Thamara Venâncio de Almeida

Médica Veterinária, Doutora em Ciência Animal pela Universidade Federal de Goiás - Campus Samambaia, Goiânia, GO.

ar todos os materiais
William R. Miranda-Zamora

William R. Miranda-Zamora

Ingeniero Agroindustrial e Industrias Alimentarias, Profesor da Universidad Nacional de Frontera, Peru.

ar todos os materiais
ROGERIO FAVARETO

ROGERIO FAVARETO

Engenheiro Químico. Doutor em Ciências Agrárias-Agronomia e Professor do IF Goiano - Campus Rio verde

ar todos os materiais
Marco Antônio Pereira da Silva

Marco Antônio Pereira da Silva

Doutor em Ciência Animal pela Universidade Federal de Goiás, Professor do IF Goiano - Campus Rio Verde, GO

ar todos os materiais

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

ABNER ALVES MESQUITA
ABNER ALVES MESQUITA

RIO VERDE - GOIÁS

EM 28/12/2021

Abordagem de qualidade sobre o tema proposto!!!
Bianca Vieira
BIANCA VIEIRA

EM 01/07/2021

Excelente!
Qual a sua dúvida hoje?

Leite de cabra congelado: opção para produção de queijos

De maneira geral, é possível congelar o leite de cabra para processamento em períodos de baixa oferta da matéria-prima. Entenda melhor sobre o assunto!

Publicado por: vários autores

Publicado em: - 8 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 2
Ícone para curtir artigo 16

O leite de cabra vem conquistando consumidores por se tratar de alimento rico em vitaminas A, D e fósforo, maior quantidade de cálcio e menores valores de colesterol, além de apresentar glóbulos de gordura menores que o leite de vaca, propiciando melhor digestibilidade.

Outro fator importante é a indicação do consumo a pessoas alérgicas ao leite de vaca, por ter pequenas quantidades de caseína (CHAPAVAL, 2010). Vargas et al. (2008) ressaltaram que as principais diferenças entre o leite caprino e bovino estão relacionadas às variações na proporção das diferentes frações de caseína, na estrutura e tamanho dos glóbulos de gordura, além das micelas proteicas.

A boa digestibilidade e aceitabilidade do leite de cabra são importantes no momento de formular dietas para crianças e pessoas convalescentes. Em muitos casos, o leite de cabra pode, com êxito substituir, o leite de vaca na alimentação de indivíduos alérgicos ao leite bovino, sendo recomendada orientação médica neste sentido (RIBEIRO & RIBEIRO, 2001).

A caseína do leite de cabra tem maior quantidade de β-caseína, αs-2 caseína, apresentando quantidade inferior de αs-1 caseína. Tomotake et al. (2006) relataram 3,9% e 33,7% de αs1-caseína em leite caprino e em leite bovino, respectivamente.

As características do leite de cabra, tanto do ponto de vista nutricional quanto social, são importantes e motivam pesquisas para avaliação da produção e composição nutricional. No Brasil, as pesquisas ainda são insuficientes, principalmente envolvendo animais nativos, sendo necessário, portanto, o desenvolvimento de projetos que possibilitem elucidar a composição e a ação nutracêutica (QUEIROGA & COSTA, 2004).

Boa parte do leite caprino brasileiro é produzido em pequena escala, caracterizando-se por ser processado em condições artesanais na própria propriedade. Nessas condições, o leite geralmente é pasteurizado, podendo ser congelado em seguida com o intuito de facilitar a distribuição e armazenamento durante a entressafra (ANDRADE et al., 2008).

O consumo de leite de pequenos ruminantes no Brasil ainda é incipiente, devido especialmente a questões culturais, no entanto, Yu et al. (2021) afirmaram que o leite congelado pode ajudar os produtores a superar a sazonalidade da produção de leite de cabra, a baixa produção das cabras e os curtos períodos de lactação, além de evitar o descarte do leite. Proporcionando desta forma, a oferta do leite de cabra e derivados em períodos de entressafra.

Para Katili et al. (2006) o congelamento do leite durante a entressafra pode ser uma alternativa para produção de queijos. No entanto, a velocidade do congelamento pode afetar a qualidade do produto final, sendo que, no congelamento lento, ocorre degradação de proteínas, acarretando problemas na formação da coalhada (BERGER, 2001).

Outro fator importante é que o processo de congelamento apenas retarda a multiplicação de microrganismos (PORCIONATO et al., 2008), sendo de extrema importância a qualidade da matéria-prima para evitar defeitos nos queijos produzidos.

Segundo Gomes et al. (1997) o congelamento não altera as características microbiológicas do leite, e o produto, logo após o descongelamento, apresenta qualidade semelhante ao leite que o originou. Esse processamento também não provoca grandes modificações no sabor e odor do leite (BENEDET & CARVALHO, 1996), mas pode ocorrer floculação de proteínas, prejudicando a aparência do produto e sua aceitação.

Os microrganismos de maturação do queijo sofrem alterações pelo efeito dos tipos de congelamento. No processo, ocorre a formação de cristais de gelo dentro das células, sendo a destruição do tipo mecânica (destruição de organelas e membranas celulares).

O congelamento rápido pode ocasionar choque térmico, causando danos aos microrganismos, sendo mais influente para termófilos e mesófilos do que para psicrotróficos, gram-negativos do que gram-positivos e mais para lactobacilos do que para estreptococos (PELAEZ, 1983).

Pricop & Popa (2012) verificaram que as características físico-químicas do queijo de leite de cabra não foram fortemente influenciadas pelos processos de congelamento utilizados na pesquisa. Já Curi & Bonassi (2007) em avaliação de queijo análogo ao pecorino romano produzido com leite de cabra e coalhada congelados, verificaram que as médias mais altas nas análises sensoriais de aroma; sabor e escala hedônica foram obtidos nos tratamentos sem congelamento do leite e da coalhada.

Continua depois da publicidade

Nos queijos processados após o congelamento rápido do leite, utilizando se nitrogênio líquido e queijos processados após o congelamento lento do leite. Os autores recomendaram o uso do leite de cabra in natura nas épocas de pico da produção e usar o congelamento lento do leite, que seria realizado na época de pico da produção, na entressafra. 

Em relação a estocagem da matéria-prima, o congelamento do leite de cabra por até 30 dias não influencia nas características sensoriais e intenção de compra. Logo, é uma alternativa viável para a comercialização em diferentes épocas do ano (CRUZ et al., 2018).

O congelamento da matéria-prima por 60 dias não afetou a aceitabilidade na análise sensorial dos queijos tipo minas frescal. Para a intenção de compra, a opção provavelmente compraria para os dois queijos foi a mais escolhida, visto que hábito de consumo e o preço dos produtos caprinos ainda configuram obstáculos para difusão desse mercado.

Dessa forma, o congelamento de leite de cabra por até 60 dias é uma alternativa viável para a comercialização desse produto em diferentes períodos do ano, visto que uma das dificuldades da caprinocultura leiteira brasileira é a pequena produção por animal e a sazonalidade da produção (SOARES, 2014).

Gomes et al. (1997) mostraram resultados satisfatórios no congelamento do leite do ponto de vista químico e microbiológico, de forma que apenas a acidez apresentou decréscimo nas amostras de leite de cabra congeladas por até 90 dias.O congelamento do leite de cabra não influenciou a composição do extrato seco total, proteína e gordura no extrato seco do queijo coalho, porém, influenciou o teor de gordura do mesmo (CRUZ, 2019).

Quando avaliada a influência do leite de cabra congelado na qualidade do queijo Minas Frescal foi observado que o leite proveniente das diferentes fases de lactação estudadas mantidas até 120 dias de congelamento não comprometeu a qualidade do produto final e as propriedades físicas (pH, textura e cor) e de composição química (acidez, umidade, cinzas, gordura e proteína) dos queijos.

Entretanto, avaliando o rendimento industrial de produção do queijo Minas frescal os resultados revelaram que o processamento do queijo com leite congelado a partir de 40 dias provoca perda de rendimento que são relevantes para a indústria (PINTO JÚNIOR, 2012).

De maneira geral, é possível congelar o leite de cabra para processamento em períodos de baixa oferta da matéria-prima. Deve-se, portanto, se analisar a relação custo benefício, levando em consideração que são produtos altamente promissores e que permitem ao pequeno produtor a agregação de valor à produção.

 

Referências

ANDRADE, P. V. D.; SOUZA, M. R.; PENNA, C. F. A. M.; FERREIRA, J. M. Características microbiológicas e físico-químicas do leite de cabra submetido à pasteurização lenta pós-envase e ao congelamento. Ciência Rural, v. 38, n. 5, p. 1424-1430, 2008.

BENEDET, H. D.; CARVALHO, M. W. Caracterização do leite de cabra no Estado de Santa Catarina, Brasil. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 16, n. 2, p. 116-119, 1996.

BERGER, Y. M. Milking equipment for dairy ewes. In: Proc. 7th Great Lakes Dairy Sheep Symposium, Eau Claire, Wisconsin. 2001, p. 9-16.

CHAPAVAL, L. Qualidade do leite de cabra: uma questão de bom gosto. 2010. Disponível em: o em: 29 de jun. de 2021.

CRUZ, A. F. (2019). Caracterização físico-química e microbiológica do queijo coalho fabricado a partir de leite de cabra pasteurizado e congelado por diferentes períodos. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal da Paraíba, Areia, Brasil. Disponível em: o em: 29 de jun. 2021.

CRUZ, A. F.; SILVA JÚNIOR, R. G.; SANTOS, M. A.; BORGES, J. L. C.; MACÊDO, J. T. M.; SEIXAS, F. N.; SARAIVA, C. A. S. Análise sensorial do queijo coalho fabricado a partir de leite de cabra pasteurizado e pasteurizado e congelado. 2018. Disponível em: o em: 29 de jun. 2021.

CURI, R. A.; BONASSI, I. A. Elaboração de um queijo análogo ao pecorino romano produzido com leite de cabra e coalhada congelados. Ciência e Agrotecnologia, v. 31, n. 1, p. 171-176, 2007.

GOMES, M. I. F. V.; BONASSI. I. A.; ROÇA, R. O. Características químicas, microbiológicas e sensoriais de leite de cabra congelado. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 17, n. 2, p. 111-114, 1997.

KATILI, L. M.; BONASSI, I. A.; ROÇA, R. O. Aspectos físico-químicos e microbianos do queijo maturado por mofo obtido da coagulação mista com leite de cabra congelado e coalhada congelada. Food Science and Technology, v. 26, n. 4, p. 740-743, 2006.

PELAEZ, C. Congelación de cuajadas. Alimentaria. julho-agosto. n. 144, p. 19-22, 1983.

PINTO JÚNIOR, W. R. (2012). Efeito do congelamento do leite de cabra obtido em diferentes estágios de lactação sobre a qualidade de queijo minas frescal. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga, Brasil. Disponível em: o em: 29 de jun. 2021.

PORCIONATO, M. A. F.; REIS, C. B. M.; BARREIRO, J. R.; MORENO, J. F. G.; MESTIERI, L. Efeito da fervura, resfriamento ou congelamento na qualidade do leite cru. Revista Acadêmica Ciência Animal, v. 6, n. 4, p. 511-517, 2008.

PRICOP, E. M.; POPA, M. E. Effect of different refrigeration treatments on the physicochemical characteristics of raw goat milk curd-style. Journal of Agroalimentary Processes and Technologies, v. 18, n. 2, p. 175-180, 2012.

QUEIROGA, R. C. R. E.; COSTA, R. G. Qualidade do leite caprino. In: Simpósio Internacional de Conservação de Recursos Genéticos. Raças Nativas Para o Semi-Árido, v. 1. 2004, Recife. Anais... Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2004. p. 161-171.

RIBEIRO, E. L. A.; RIBEIRO, H. J. S. S. Uso nutricional e terapêutico do leite de cabra. Semina: Ciências Agrárias, v. 22, n. 2, p. 229-235, 2001.

SOARES, C. D. M. (2014). Avaliação do leite de cabra cru, cru congelado, queijo minas frescal e do soro por diferentes períodos e tempo. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil. Disponível em: o em: 29 de jun. 2021.

TOMOTAKE, H.; OKUYAMA, R.; KATAGIRI, M.; FUZITA, M.; YAMATO, M.; OTA, F. Comparison between Holstein cow’s milk and Japanese-Saanen goat’s milk in fatty acid composition, lipid digestibility and protein profile. Bioscience, Biotechnology & Biochemistry, v. 70, n. 11, p. 2771-2774, 2006.

VARGAS, M.; CHÁFER, M.; ALBORS, A.; CHIRALT, A.; GONZÁLEZ-MARTÍNEZ, C. Physicochemical and sensory characteristics of yogurt produced from mixtures of cow’s and goat’s milk. International Dairy Journal, v.18, n. 12, p.1146-1152, 2008.

YU, Z.; QIAO, C.; ZHANG, X.; YAN, L.; LI, L.; & LIU, Y. Screening of frozen-thawed conditions for keeping nutritive compositions and physicochemical characteristics of goat milk. Journal of Dairy Science, v. 104, n. 4, p. 4108-4118, 2021.

*Fonte da foto: Freepik

 
Ícone para ver comentários 2
Ícone para curtir artigo 16

Material escrito por:

Luiz Eduardo Nascimento

Luiz Eduardo Nascimento

Zootecnista pelo IF Goiano - Campus Rio Verde, Mestre em Zootecnia pelo IF Goiano - Campus Rio Verde, Doutorando em Zootecnia pela Universidade Federal de Goiás.

ar todos os materiais
João Antônio

João Antônio

Engenheiro Agrônomo pela UEG Campus Ipameri, Mestre em Zootecnia pelo IF Goiano Campus Rio Verde, Doutorando em Ciências Agrárias- Agronomia pelo IF Goiano Campus Rio Verde.

ar todos os materiais
Givanildo de Oliveira Santos

Givanildo de Oliveira Santos

Educador Físico e Mestre em Tecnologia de Alimentos pelo Instituto Federal Goiano - Campus Rio Verde

ar todos os materiais
Juan Carlos Roberto Saavedra More

Juan Carlos Roberto Saavedra More

Ingeniero Agroindustrial e Industrias Alimentarias, Universidad Nacional de Piura - Peru, Mestre em Ciência Animal pela Universidade Federal de Goiás - Campus Samambaia, Goiânia, GO.

ar todos os materiais
Thamara Venâncio de Almeida

Thamara Venâncio de Almeida

Médica Veterinária, Doutora em Ciência Animal pela Universidade Federal de Goiás - Campus Samambaia, Goiânia, GO.

ar todos os materiais
William R. Miranda-Zamora

William R. Miranda-Zamora

Ingeniero Agroindustrial e Industrias Alimentarias, Profesor da Universidad Nacional de Frontera, Peru.

ar todos os materiais
ROGERIO FAVARETO

ROGERIO FAVARETO

Engenheiro Químico. Doutor em Ciências Agrárias-Agronomia e Professor do IF Goiano - Campus Rio verde

ar todos os materiais
Marco Antônio Pereira da Silva

Marco Antônio Pereira da Silva

Doutor em Ciência Animal pela Universidade Federal de Goiás, Professor do IF Goiano - Campus Rio Verde, GO

ar todos os materiais

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

ABNER ALVES MESQUITA
ABNER ALVES MESQUITA

RIO VERDE - GOIÁS

EM 28/12/2021

Abordagem de qualidade sobre o tema proposto!!!
Bianca Vieira
BIANCA VIEIRA

EM 01/07/2021

Excelente!
Qual a sua dúvida hoje?
<